segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Sem Platéia


É gozado quando é necessário explicar a alguém um assunto o qual essa pessoa nunca foi apresentada. No início é complicado fazer fluir, mas se for adiante tudo sai com tanta naturalidade que até ajuda a quem se dedica a conversar a entender cada vez mais daquilo que fala.
Com o fetiche não é diferente.
Normalmente as pessoas de mente arejada têm maior capacidade de lidar com temas novos, adultos, de pouca divulgação, e isso facilita a tarefa. Agora a pouco conversava com a Beth sobre fetiches. Ela é dessas pessoas que a natureza esculpe a mão, daquelas que nascem a cada cinqüenta anos, por isso, gastaria a saliva que fosse e esfolaria a ponta dos dedos pra que ela pudesse entender como tudo se processa desse lado dos trilhos.
Portanto Beth, fetiches sexuais são as fantasias que se cria na hora do sexo e se intensificam tornando-se repetitivas. A necessidade de praticar essas fantasias torna-se um fetiche sexual.
Parece uma coisa fácil, mas tem seus aspetos complexos.
Em primeiro lugar está a aceitação de parte a parte do que decidem praticar. Uma vez chegado a esse acordo que alguns fetichistas chamam de negociação entre praticantes, haverá a execução da brincadeira, porque fantasia sexual nada mais é que um jogo de adultos que serve pra apimentar uma relação e evitar que o desgaste natural provocado pela rotina da convivência leve este relacionamento a limites inaceitáveis de convívio.
Portanto, aquilo que se apresenta como fato consumado, como um acordo bem costurado entre parceiros, se não primar por uma boa realização estará fadado ao descrédito deles mesmos. Porque a fantasia deve funcionar como um teatro sem platéia, aonde os próprios idealizadores vão se incumbir de qualificar o que produziram. O crivo não vem de fora, eles próprios levarão adiante se tudo o que foi pensado teve o propósito atendido.
Você poderia argüir da seguinte forma: “tudo que muito se combina vira robótico, sem adrenalina”. De fato, mas isto também é parte da fantasia, porque caberá a ambos estabelecer um limite o qual não poderá ser ultrapassado, deixando sempre uma reserva de emoção capaz de despertar a surpresa na cena.
Salvo em casos raros onde impera o exibicionismo, quando praticantes de fantasias necessitam do olhar de terceiros para saciarem seus desejos, mas num geral o teatrinho dentro do quarto ainda é a melhor receita.
E nessas horas a única brincadeira que deve ficar de fora chama-se esconde-esconde. Não deve haver vergonha ou timidez de confessar o mais íntimo segredo, até porque no momento em que há a revelação deixou de ser segredo. O ideal é combinar tudo antes com riqueza de detalhes, jamais se esquecendo que fetiches se apegam aos detalhes e não podem ficar de fora da festa.
Risadas fora de contexto, expressões de demérito na hora da cena podem arruinar de uma vez por todas qualquer tentativa de fazer ressurgir a fantasia mais adiante, porque o fetichista nato, aquele que tem o desejo pulsante tem por característica a inibição imposta por uma sociedade recheada de hipocrisia, e num momento desses, ele pode se voltar contra a parceira ou o parceiro, descontando nele anos de opressão e ostracismo.

Dizem que se conselho fosse bom não saía grátis, valeria pelo menos um Real.
Então eu classificaria esse artigo de hoje como um toque. Um tipo de recado pra galera que está começando a dar os primeiros passos num mundo onde a confiança e credibilidade são os primeiros degraus a serem vencidos. A seguir o fator consensual e os riscos que algumas atividades fetichistas representam, mas depois é só aproveitar de bons momentos que na certa virão se houver identificação com o que foi proposto.


Agora é escolher a fantasia que agrade em cheio e partir com confiança.
E Beth, uma última observação: sem cabeça boa e sem tesão a fantasia não serve pra nada.

4 comentários:

µrsiŋђα Ѽ  disse...

Bela postagem. parabens...

bjs de mel
ursinha

Anônimo disse...

Caro Sr. ACM
O senhor fala tanto de negociação entre ambas as partes, mas as vezes é complicado pq eu não sou fetichista mas conheci uma pessoa que se diz ser e chegou até haver uma negociação entre a gente mas infelizmente na hora H ele recuou. Então as vezes é melhor viver os nossas fantasias nos nossos sonhos.

ACM disse...

Oi Ursinha

Obrigado por vir e comentar.
Beijos pra você!

ACM disse...

Anônimo disse...

O nome já diz tudo: negociação.
E em se tratando disso há que levar em conta que umas dão resultado e outras não.

São fatos normais.
Vida que segue...

Obrigado por comentar
ACM