quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ciclos

Um dia alguém escreveu que a vida se divide em ciclos.
Por mais que se vire as costas a tal afirmação ela sempre será verdadeira.
Talvez por conta disso há seis anos comecei um desses ciclos. Aceitei um desafio, tive coragem e determinação. Tive forças para lutar contra preconceitos, problemas na vida particular, enfim, tudo isso teve um peso e suas conseqüências.
Criar uma página na internet num gueto que reúne poucos admiradores não é tão simples. Concorrer com quem tem maiores condições tecnológicas e financeiras é mais um difícil degrau que fui obrigado a enfrentar. Mas era hora, nem sei se tardia, de dar um final ao que naquele dia, em 2008, era apenas um sonho.
Um sonho que se realizou, rendeu frutos, prêmios, algum sucesso, mas que agora como um filme chega ao epílogo.
A partir do dia 22 de Dezembro o site Bound Brazil encerra suas atividades.
Se fosse escrever aqui uma cronologia das lutas que tive que travar levaria laudas. Mas não é essa a minha intenção ao escrever esse texto. Na verdade gostaria de agradecer.
Em primeiro lugar aos que contribuíram para que esse sonho fosse possível. Seja assinando o portal ou até mesmo nos comentários a respeito do trabalho, tudo isso gerou a energia necessária para seguir. E por que não mencionar aqueles que votaram no site nos Awards 2010 e 2012 que nos levaram a receber os prêmios?
Pois é, o tempo vai passar, o ciclo termina, mas o nome do site está lá no tal hall da fama, e isso devo a todos que um dia num ato de amizade e simpatia decidiram colaborar.
Evidente que a idéia deixa um legado. Seria muito modesto a não aceitar tal afirmativa.
Alguém um dia vai contar essa história que começou há seis anos e agora se encerra. Esse é o legado. Como também a própria ousadia de estar no meio de feras da indústria expondo minhas idéias e conceitos.
Um empreendimento desse tipo é tão contundente que até na hora de ser encerrado deve ser pré-agendado. Porque aqueles que compraram os três meses de assinatura precisam ser respeitados. E, talvez, essa tamanha responsabilidade tenha contribuído para que eu tomasse essa decisão, a qual já vinha amadurecendo.
A guerra declarada do governo em me tomar o nome Brazil, problemas de ordem pessoal, exposição em demasia, tudo isso é um conjunto de fatores que me fez optar pelo encerramento das atividades.
Pra muitos esse é um momento de tristeza, mas pra mim de alegria.
Deixar uma marca é gratificante, mas inspirar pessoas é muito melhor. Saber que de alguma forma esse trabalho enriqueceu o cenário do bondage por essas bandas cria na alma o tal sentimento de dever cumprido.
Me desculpo junto aqueles que de alguma forma esperavam mais desse trabalho se não alcancei o patamar que se imaginava. Mas é complicado encenar desejos. Eles podem ser parecidos, mas jamais serão iguais, e num segmento onde o desejo está totalmente em primeiro plano, agradar se torna uma tarefa das mais complicadas.
As meninas que somaram e se desdobraram para interpretar a donzela em perigo eu aqui faço as minhas reverências. Seja em que período for sempre existiu a idéia e a realização. E nesse ponto elas conseguiram passar aquilo que eu tinha em mente em produzir. Aos colaboradores próximos, aos amigos do site, da comunidade BDSM, aqui fica um pedacinho do meu coração e gostaria que guardassem pra sempre. Foi um tempo bom...
Outro dia me perguntaram como seria minha vida sem o site. Não parei pra pensar nisso, mas se ela existiu antes do site, ela vai em frente.
Levo comigo as marcas, as boas e as ruins, mas é tudo que posso levar. O que o site me trouxe de bom e aquilo que me tirou. Tudo isso é parte da história.
Que novos “homens das cordas” sigam criando seus nós, tirando fotos e mantendo a chama acesa. Pra mim, é hora de voltar à vida.
Muito obrigado!

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Escravo


Faz tempo que navego pelo BDSM, e faz tempo que algumas coisas não me agradam.
E como não estou imune a passar em branco frente aos recém chegados, aqui vai uma pequena contribuição de um assunto em voga.
Atualmente, a internet exibe três tipos de mulheres com acento dominante em seus perfis. As verdadeiras Dommes, as Pro-dommes e as Rainhas.
Não sou eu quem criou essa nomenclatura, isso está nos perfis pra quem quiser ver.
E não raramente deparo com postagens em redes sociais em que algumas moças escrevem coisas do tipo: “necessito de um escravo motorista”. Apenas pra citar um exemplo.
Ora, nos comentários sempre aos borbotões, dezenas de pseudos escravos se habilitam a tal tarefa. Uns lamentam por morarem distante, outros alegam compromissos e outros pedem para marcar a hora.
Claro que ninguém vai aparecer pra isso. Porque essa moça não quer um Escravo, ela quer um Esparro. E aqui residem as diferenças básicas, gritantes e fundamentais.
Porque esta moça, que pode alegar ser uma pro-domme ou apenas uma dessas Rainhas de Podos que está em voga nos diversos grupos espalhados na rede, não tem a menor idéia do que significa ter um escravo. E se vale uma leitura atenta pode ser que essas palavras façam sentido, ou podem me chamar de idiota mesmo, porque eu não ligo. Ando evacuando um quilo exato pra esse tipo de mi-mi-mi.
Um sujeito que se presta a ir fazer um favor a alguém que escreve uma postagem desse tom na certa estará imaginando ter algo em troca pelo ato. E se tal fato realmente se confirmar será uma relação pro-domme de momento, com um valor estabelecido, ainda que não seja dinheiro, grana, cacau, mas uma pisada, um beijo no pé etc. Mas se nada rolar ele será um “esparro” por um dia.
Digo isso amparado em experiências de vida. Não tem nenhuma teoria de “chutágoras” aqui.
Uma relação “Master/Slave” denota muito mais que uma tarefa de levar uma moça a um shopping, ou a compra de um par de sapatos enviado pelos correios. Se fosse assim, estaríamos diante de um reducionismo absoluto do se resolveu chamar de BDSM.
Toda a responsabilidade que compreende a lisura do relacionamento de uma domme e seu escravo está muito além de uma dessas muitas conversas tolas que assisto todos os dias passando por minha timeline.
Uma verdadeira domme pode ter cinco escravos pendurados em sua corrente, desde que saiba ter atitude e conhecimento de causa para atender as responsabilidades que isto exige.
Então, se a onda é descolar um par de sapatos, uma lingerie, uma “carona” até o shopping mais próximo, ou distante, não use palavras das quais não tem o menor embasamento para proferir.
Fetichismo é muito bem vindo. Muita gente gosta de pés, pescoço, xereca fedida, o que for. Mas fetichismo não tem nada a ver com BDSM, com relação D/S. Fetichismo é fetichismo e pronto moças.
Seus pés podem ser lindos, seu sucesso incontestável. Eu mesmo curto muitas.
As fotos dos seus cabelos são magníficas, a bunda de parar uma partida de futebol. Você pode ser a gostosa da hora, a musa que deu certo. Pode ter um séquito de podólatras escrevendo palavras que te massageiem o ego, mas ser uma domme, uma rainha, ou até uma pro-domme exige muito mais que todos esses predicados relacionados aqui.
Ainda que o cidadão imbuído de sua autodeterminação alegue que ser um “esparro” é uma tarefa de humilhação condizente com os desejos de um escravo eu rebato, veementemente.
Porque para se humilhar diante de uma Senhora o cavalheiro disposto a tanto tem que pertencer a esta Mulher, de corpo e alma, não através de um avatar com foto falsa de uma rede social pautada pelo anonimato.
Fica a dica!