Faz tempo que navego pelo BDSM, e faz tempo que algumas coisas não me agradam.
E como não estou imune a passar em branco frente aos
recém chegados, aqui vai uma pequena contribuição de um assunto em voga.
Atualmente, a internet exibe três tipos de mulheres com
acento dominante em seus perfis. As verdadeiras Dommes, as Pro-dommes e as
Rainhas.
Não sou eu quem criou essa nomenclatura, isso está nos
perfis pra quem quiser ver.
E não raramente deparo com postagens em redes sociais em
que algumas moças escrevem coisas do tipo: “necessito de um escravo motorista”.
Apenas pra citar um exemplo.
Ora, nos comentários sempre aos borbotões, dezenas de
pseudos escravos se habilitam a tal tarefa. Uns lamentam por morarem distante,
outros alegam compromissos e outros pedem para marcar a hora.
Claro que ninguém vai aparecer pra isso. Porque essa moça
não quer um Escravo, ela quer um Esparro. E aqui residem as diferenças básicas,
gritantes e fundamentais.
Porque esta moça, que pode alegar ser uma pro-domme ou
apenas uma dessas Rainhas de Podos que está em voga nos diversos grupos
espalhados na rede, não tem a menor idéia do que significa ter um escravo. E se
vale uma leitura atenta pode ser que essas palavras façam sentido, ou podem me
chamar de idiota mesmo, porque eu não ligo. Ando evacuando um quilo exato pra
esse tipo de mi-mi-mi.
Um sujeito que se presta a ir fazer um favor a alguém que
escreve uma postagem desse tom na certa estará imaginando ter algo em troca
pelo ato. E se tal fato realmente se confirmar será uma relação pro-domme de
momento, com um valor estabelecido, ainda que não seja dinheiro, grana, cacau,
mas uma pisada, um beijo no pé etc. Mas se nada rolar ele será um “esparro” por
um dia.
Digo isso amparado em experiências de vida. Não tem
nenhuma teoria de “chutágoras” aqui.
Uma relação “Master/Slave” denota muito mais que uma
tarefa de levar uma moça a um shopping, ou a compra de um par de sapatos
enviado pelos correios. Se fosse assim, estaríamos diante de um reducionismo
absoluto do se resolveu chamar de BDSM.
Toda a responsabilidade que compreende a lisura do
relacionamento de uma domme e seu escravo está muito além de uma dessas muitas
conversas tolas que assisto todos os dias passando por minha timeline.
Uma verdadeira domme pode ter cinco escravos pendurados
em sua corrente, desde que saiba ter atitude e conhecimento de causa para
atender as responsabilidades que isto exige.
Então, se a onda é descolar um par de sapatos, uma
lingerie, uma “carona” até o shopping mais próximo, ou distante, não use
palavras das quais não tem o menor embasamento para proferir.
Fetichismo é muito bem vindo. Muita gente gosta de pés,
pescoço, xereca fedida, o que for. Mas fetichismo não tem nada a ver com BDSM,
com relação D/S. Fetichismo é fetichismo e pronto moças.
Seus pés podem ser lindos, seu sucesso incontestável. Eu
mesmo curto muitas.
As fotos dos seus cabelos são magníficas, a bunda de
parar uma partida de futebol. Você pode ser a gostosa da hora, a musa que deu
certo. Pode ter um séquito de podólatras escrevendo palavras que te massageiem
o ego, mas ser uma domme, uma rainha, ou até uma pro-domme exige muito mais que
todos esses predicados relacionados aqui.
Ainda que o cidadão imbuído de sua autodeterminação
alegue que ser um “esparro” é uma tarefa de humilhação condizente com os
desejos de um escravo eu rebato, veementemente.
Porque para se humilhar diante de uma Senhora o
cavalheiro disposto a tanto tem que pertencer a esta Mulher, de corpo e alma,
não através de um avatar com foto falsa de uma rede social pautada pelo anonimato.
Fica a dica!