quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo


Fim de ano é sempre a mesma coisa. Tempo de refazer promessas e fincar pé em decisões.
É a dieta que começa, o cigarro abandonado e muitas, muitas simpatias pra que o novo ano chegue e traga as sonhadas mudanças.
Então, é hora de acreditar. Colocar o elefante de bunda virada pra porta, comer romã, encher o bolso de lentilha pra dar sorte e não comer bicho que cisca. A recente novidade vem de uma galera que resolveu comer peixe na virada porque o bicho anda em linha reta, sempre pra frente, totalmente cartesiana.
Se você assim como eu acredita ou não é um detalhe, entretanto, vale desejar e querer. Por que não?
E nós, fetichistas do hemisfério sul onde pouco se cultua desejos insanos? Como ficamos?
Nossa libertinagem também tem vez na famosa lista de desejos para os próximos anos que vêm por aí. Pensando nisso, não podia deixar de fazer minha lista e desejar aos correligionários de plantão os meus sinceros votos.
E começo pelas submissas, e porque não, pelos submissos. Talvez se algum desavisado der as caras por aqui certamente me chamará de doido varrido, mas como estou acostumado a esse tipo de elogio vamos lá. Portanto, que vossas nádegas sejam o bumbo mais concorrido até o próximo Carnaval, e nos dias seguintes, é claro. Que bordoadas ecoem nos seus traseiros e sejam causa e conseqüência de fotografias de nódoas arroxeadas que ao longo do ano irão inundar as redes sociais. Que velas pinguem nas vossas costas e tragam a ardência necessária para fazer sentido. Que os seios das moças virem os recantos dos sádicos de plantão transformando-se num verdadeiro travesseiro de agulhas como tanto desejam.
E muita chibatada pra esquentar os dias quentes de intenso calor, até porque os frios, neste caso, não têm graça...
Aos dominadores e dominadoras uma penca de masocas e subs aos vossos pés. E tudo que desejei a eles se realize sob a vossa batuta. Que saibam conduzir e cuidar, e que a plena consciência seja o mais importante.
E que os bons fluidos cheguem a todos os fetichistas indistintamente. Seja qual for à tendência o importante é estar de bem com a vida e com seus próprios desejos. Por isso, aos meus amigos podólatras desejo que se tornem uma verdadeira calçada por onde lindas damas de pés reluzentes façam suas caminhadas e que tenham saltos e pés ao alcance dos lábios e narinas. Que os exibicionistas se exibam e os voyeurs os observem, que os infantilistas sejam cada vez mais infantis e tudo termine numa grande brincadeira de adultos.
E por fim, como não poderia de deixar de ser, aos meus confrades bondagistas desejo metros e quilos de cordas acompanhados de muita imaginação. Que a paciência seja soberana, que os nós unam cada vez mais o fetiche e os praticantes. Antes de tudo, que a garota da porta ao lado seja receptiva, com sabor de pimenta ou baunilha, tanto faz, porque elas cabem certinho em nossos sonhos.
E a todos vocês que me aturam aqui em boa parte do ano meu desejo sincero de que todos tenham um novo ano Candido de Luz. Que todas as energias sejam positivas e cada um possa contribuir de certa forma com qualquer ato que considere justo e importante.
Progresso acima de tudo e muito amor no coração.

Aos que me acompanham a mais tempo a certeza da renovação e a vontade de seguir ignorando o cansaço, e aos recém chegados os desejos de que encontrem aqui uma luz que os leve a algum lugar dentro desse universo diferente, porém, cheio de magia e bons mistérios.
Que o que escrevo seja relevante.
Porque os que lêem pra mim são quem mais importa.
Feliz 2012, 2013, 2014...
Pra todo mundo!
Volto dia 2 de Janeiro. Até lá.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sobre Tijolos e Muros


Se existe um desafio na vida ele está intrínseco no significado de maturidade.
Não é fácil se achar maduro, quase completo. O ser humano está sempre em evolução e por mais que insista em se achar próximo a perfeição de si mesmo ainda existe caminhos a percorrer.
Ser fetichista e estar na plenitude do seu próprio desejo não é motivo de se achar intocável, pelo contrário, é razão de preocupação porque a responsabilidade se multiplica. Quando resolvi escrever e publicar um blog não tinha tanta certeza de que após mais de três anos ainda estaria desenhando linhas e idéias por aqui. A continuidade é algo inacessível quando se começa um projeto, isso é fato. Entretanto, a força de vontade de postar ainda é latente e não fujo a luta, por nada. Entregar pontos e encerrar disputas não faz parte dos meus planos.
É como uma construção. Tudo começa com tijolos e um muro.
Costumo dizer que o final do ano quando se aproxima exibe ares de reflexão. Daí me lembro de um desafio ainda maior que foi e tem sido o site Bound Brazil. Um sonho de muitos que gostam de bondage por aqui e que tomei a frente e decidi empreender. Muito se disse e muito se diz a esse respeito, mas nada é fácil. Competir é duro, porque lá fora isso existe faz muito tempo, a mentalidade é outra e os recursos tecnológicos estão sempre avançados.
E por que não tentar?
Essa semana algo estranho me surpreendeu. Na verdade, não foi tão surpreendente assim, pois o trabalho do site por mil razões andou comprometido nos últimos dois meses. Tive que fazer ginástica pra não sucumbir, por isso vale uma reflexão pública e divisível.
Foi complicado ficar sem algumas pessoas que sempre me ajudaram nessa luta. Porque você pode até ser o pai da idéia, mas jamais pode imaginar fazer tudo sozinho. Não fosse a determinação minha e do Ynno hoje o site seria uma lenda contada num bar escuro por dois caras bêbados num fim de noite fetichista.
Lá fora o baque não foi sentido. O site continuou estável, sem problemas aparentes. Mas aqui, onde a compreensão deveria ser regra pra quem sempre aspirou ter um portal que falasse seu idioma com meninas tão brasileiras quanto todas as nossas aspirações houve piração. Mensagens que chegaram de pessoas amigas, queridas de fato, reclamando com veemência e dedo em riste. Analisando um fato sem base, decretando um final de véspera e apregoando um caos evidente. Doeu fundo, mas a ferida tem cura.
E a cura está na continuidade, na renovação e na própria persistência. O site volta ao normal essa semana e encerra o ano com gana de vencer o próximo. Pessoas que fizeram falta estão de volta, entenderam o que passou e hoje me fizeram muito feliz por conta disso. Não tiro a razão dos amigos que me magoaram com críticas porque elas são legitimas, apenas a forma e a desconfiança soaram exageradas. A eles e a todos que assinam o site posto de forma clara e pública meu pedido de desculpas.
Entretanto, deixo registrado meu desapontamento pelo fato de não terem encampado o espírito que se fez necessário na hora de maior dificuldade desde que o site apareceu nas telas. Porque quando eu mais precisei de apoio ele não veio. Mas carreguei os tijolos e o muro não ruiu.

Então eu continuo pensando de forma positiva e acredito sempre que amanha será melhor do que hoje. Não fosse assim, o que foi construído até os dias de hoje seria em vão. Se o numero de assinantes brazucas nunca passou de dez por cento do total de vendas mensais do site não me queixo, é cultural, sabia que seria dessa forma. Porém, toda opinião é válida, não importa se ela vem de duas ou de três pessoas, desde que seja possível enxergar o grau de importância quando ela se manifesta.
E o melhor é ter a certeza de que tudo está de volta a normalidade.

Vamos em frente!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

La Cucaracha


Por essa ela não esperava.
Anos de experiência fetichista não foi o bastante.
Claro que ela se produziu. Ignorou o calor tropical e lançou um preto que misturava couro e vinil em toques harmoniosos. Uma bota com uns quinze centímetros de salto que chegava a cobrir parte dos joelhos. Mini saia, meias de seda pretas por baixo, um corselete e mil e uma armações na mente dominadora.
No carro do parceiro deu as ordens e mandou ele se enfiar no primeiro motel.
O inexperiente submisso atendeu na hora... Ai dele! E entrou. Pediram as chaves e se dirigiram aos aposentos. Fechou a porta da garagem e notou que a luz estava queimada. Péssimo sinal.
Tentou achar os degraus com o salto fino sem perder a pose. Distribuía ordens e falava firme. O coração do sujeito parecia de passarinho quando avista um gato. Saltava e quase dava pra ouvir as intermitentes batidas.
Ela o mandou ficar de joelhos e naquela posição ele viu uma venda lhe cobrir os olhos. A tensão aumentou, a adrenalina o tomava em doses cavalares. Ficou pelado no quarto enquanto ela procurava as luzes. Queria penumbra e nada... A luz era forte, daí deixou acesa a saleta e o banheiro. Ele não via nada...
Postou os pés em cima da cama e mandou que ele lhe beijasse as longas botas. Ele o fez.
Pegou o flogger na bolsa, seu companheiro fiel que segundo ela lhe dá apoio e prazer na mesma medida. As dominadoras em geral sempre têm seu próprio amuleto. Cena pronta.
Ela adora esses instantes de prelúdio. Confessa que nos minutos que antecedem o ato em que se concentra no que está por vir faz todas as medições possíveis do que tem planejado para seu parceiro. É infalível o bote felino da dominatrix no comando. Delira...
Procurou a imagem no espelho, desgastado com o tempo exibindo um zinabre que contrastava com a perfeição de seus trajes. O ambiente não era condizente com sua sessão. Mas como reclamar? Ela o havia ordenado a entrar no primeiro letreiro luminoso com a palavra Motel.
Seguiu.
Rodeou seu súdito com ares conscientes e o sentiu harmonizar a submissão com seus desejos.
Despretensiosamente num canto do quarto de piso branco uma barata assistia a cena. Antenas ligadas, assustada com o imenso salto da Senhora a barata tentou se esconder e correu em ziguezague completamente desorientada. Ato continuo a Madame entrou em transe.
Atônito o submisso não sabia o que fazer diante dos berros assustadores da dominadora em fuga. Resolveu desobedecer e tirou a venda. Refugiada em cima da cama, se equilibrando no salto em cima de um colchão macio a dominatrix entrou em pânico. Ordenava, gritava, e quase implorava que seu parceiro desse um fim a pobre barata em fuga. Procurou um chinelo, o predador destes insetos que aterrorizam as mulheres, mas não havia nenhum por perto.
Com um sapato em mão o submisso partiu em missão: esmagar a pobre barata abelhuda, acalmar sua Senhora e achar um jeito de retomar os trabalhos. E corre daqui e dali e nada, a bichinha era valente e dava um olé digno de um touro bravio na arena...

De repente ela ouviu um som de sola de sapato batendo forte no chão vindo do banheiro. Orgulhoso, seu parceiro lhe pedia calma e totalmente pelado com um sapato na mão decretou a morte da invasora. A madame não se fez de rogada e falando baixinho pediu para ver o cadáver. Queria ter certeza do triste fim que foi dado ao inseto aterrorizante.
Amparada por ele ela chegou à porta do banheiro na ponta dos pés, pronta pra bater em retirada no primeiro sinal de sobrevivência da barata. Constatou o assassinato cruel. Quis ter certeza de que o inseto estava imóvel sem chances de revanche.

 Já sem qualquer sinal de soberania diante de seu súdito ainda restou forças para uma última ordem:
- Pede a conta,”por favor”.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Quase Mil


Pois é, o ano está com os dias contados. Falta pouco para começar um novo ciclo.
Nesses dias de luta seu amigo escriba aqui ultrapassa os oitocentos e sessenta artigos escritos neste blog. Tá legal, tirando umas 20 vezes em que re-postei assuntos, talvez por considerá-los relevantes em alguns casos e outros que mandei de volta porque gostei muito de escrever, a marca impressiona até a mim mesmo.
Foram fins de tardes ou noites de dias úteis em que gastei o dedo e o cérebro pensando em desvendar mistérios, incrementar paixões fetichistas e divulgar aos que chegam um pouco do que se passa desse lado do muro. Um muro que jamais separou a vergonha e o politicamente correto como querem muitos hipócritas que circundam pela rede. Gostar de fetiches é legítimo pra quem tem essa tendência e se para alguns parece estranho, paciência, aos olhos de quem percebe tudo fica belo.
Então, chegar perto de mil postagens é motivo de orgulho. Não só meu pessoal, mas me orgulho de todos que vêm aqui gastar um pouco do seu tempo com as matérias que insisto em escrever. Quantas vezes me disseram que é loucura tentar manter um blog atualizado diariamente sem obter lucro, quantos conselhos de não postar foram ultrapassados pela simples persistência, e o melhor de tudo isso é estar aqui ainda exercendo o direito de elaborar as palavras na certeza de que muitos vão ler.
São quase um milhão de páginas acessadas em pouco mais de três anos. Isso anima.
O glossário fetichista talvez não comporte tanto assunto, concordo e compreendo. Mas existem as histórias, os filmes, fotografias e dicas que são indispensáveis a quem quer se aventurar pela idéia.
E dentre tanta coisa bacana nesses três anos muitas vieram por mensagens. Gente que imaginou ter uma experiência dividida com os leitores ou até mesmo uma opinião, pouco importando se fosse contrária ou a favor. Algumas, confesso, que renderam até mais do que deveriam. Mas fetichista é assim mesmo. Costuma tirar leite de pedra, prazer de onde menos se espera e cativar pequenas palavras dentro da imaginação.
E haja imaginação brother, minha e do povo todo!
Se a meta era alcançar os tais mil artigos ainda em 2011 tal fato não será possível. Gosto de estar atento ao que me proponho. Pra mim não vale publicar duas ou mais matérias no mesmo dia. Poderia escrever e separar um clipe ou um set de fotos, mas decidi que assim seria lá atrás em 2008 e assim será.
Lembro bem de tempos idos. Uma época em que poucos se arriscavam a dar o ar de sua graça na Internet e ousar publicar alguma coisa. Dias difíceis, e alguns desses dinossauros que desde essa época ainda estão na estrada não me deixam mentir. Gente como VH, MrZ e tantos mais ainda guardam a essência dentro de seus espaços que até hoje sobrevivem impulsionados por uma mistura de combustível que reúne carinho e amor a causa.
Vamos em frente. Sempre contando com a colaboração dos amigos que me ajudam a manter essa chama acesa. Se falo pouco sobre algo que gostariam de ler manda o recado. Se estiver muito didático e pouco emocional picha o muro na parte de comentários. Aqui não há moderação. Vale tudo!
Quando chegar aos mil artigos a gente bola uma festa. Chama a galera que trata do assunto aqui pelas bandas do Rio e inventa algo de bom, nem que seja uma roda de amigos onde cada um possa descrever ao vivo o que se lê por aqui.

Idéias não faltam. De outro modo não seria esse um espaço fetichista.
Então Senhoras e Senhores, nestes dias de festas eu vou estar por aqui postando. Talvez perca um dia ou dois, mas o mais importante é que todos saibam que toda vez que houver uma idéia estarei digitando, ou cada vez que um assunto for importante pra essa comunidade debruçarei em cima dele e darei a minha opinião, porque a verdade não é minha, é de todos!

Valeu, muito...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A Penúltima Aventura


Ela nunca tinha experimentado algo além de uma trepada comportada.
Dizia que quando alcançou o primeiro orgasmo (depois de dois anos num casamento à beira da falência) foi como assistir a Disney Parade aos doze anos.
O novo namorado, a primeira relação pós-separação, que começou intensa e cercada de coisas estranhas. O cara não era formal. Não guardava os mesmos hábitos de seu antecessor, apresentava-se sem subterfúgios e não dava a mínima para métodos ou manias.
Ainda que disposta a viver uma segunda chance, ela trazia aos vinte e três anos muitos vícios adquiridos na relação anterior. Era natural que buscasse alguns traços do que um dia foi sua principal razão de existir.
Entretanto, a ousadia do novato a ajudava a vencer todo o medo que sentia diante de uma nova entrega. As mulheres são assim, jovens ou maduras, elas sempre deixam alguma reserva ao alcance pra ajudar na reconstrução em caso de perda.
O tempo foi passando, o tesão se multiplicando e ela se viu pensando sempre na próxima vez , como se as loucuras e fantasias vividas durante uma noite, significassem sempre a penúltima aventura.
A primeira discussão gerou seu momento inesquecível.
Em meio a doses de adrenalina, ele a jogou na cama, arrancou-lhe a roupa com força, segurou seus braços acima da cabeça e lhe sugou a vagina com vontade. Ela entrou em transe, sentiu a primeira mixagem de amor e ódio rompendo seus preceitos. Prestes a explodir num orgasmo cósmico o sentiu parar. Ele largou suas mãos, a agarrou pelos cabelos e a colocou entre as pernas como num estupro obrigando-a a engolir seu membro. Sua blusa fina serviu para que ele atasse suas mãos e a jogasse de volta na cama. Seguiu controlando seu orgasmo e a crueldade a excitava tanto que quase implorava para que o relógio parasse ali, naqueles intermináveis minutos. Enfiou-lhe um dedo na vagina, dois, até que ela se sentiu preenchida por alguma coisa enorme que a fez perder os sentidos, tamanho o volume do gozo.
Bondage e Fisting. Dois fetiches que a levaram ao paraíso.
Ela jamais imaginou que tais fantasias existissem na face da terra. E o que importava além de pensar em repetir, uma, duas, infinitas vezes?
Um ano e meio depois o sonho acabou.
As diferenças de pensamentos e algumas atitudes impensadas de ambos acabaram com a festa. Durante o tempo em que estiveram juntos muitas fantasias e aventuras preencheram uma relação de energia e cumplicidade.
Podiam ter apostado mais, segurado a barra e tentado mais uma vez.
Mas eram jovens demais para seguir empurrando um carro ladeira acima enfrentando o pavor de enterrarem anos de juventude por um ideal que no fundo sabiam que não daria certo.
Lamentaram a separação por longos meses, quase um ano.
Tentaram a sorte aqui e ali sem conseguir esquecer dias tão intensos que até hoje insistem em se manter vivos, ainda que num cantinho da memória. Como se fosse uma cicatriz tatuada no corpo essas coisas vira e mexe aparecem do nada pra lembrar o quanto foi bom viver aqueles dias.

Encontrei com ela muito tempo depois numa tarde de Outono. Uma praça cheia de árvores, talvez o lugar perfeito pra um passeio de fim de semana. Trazia consigo uma menina quase adolescente, linda como ela, fruto de um segundo casamento que terminou tão sem graça quanto o primeiro. Falamos pouco, sorrimos muito.
Tivemos destinos parecidos e nada a lamentar. A vida passou, ficamos mais velhos e guardamos lembranças. E foram tantos bons momentos que conseguiram apagar alguns dias que se perderam no vazio, os quais não vale nem à pena saber se existiram ou não.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Falta que faz


Ando com saudades de pessoas.
Principalmente aquelas que de alguma maneira marcaram minha vida quando o assunto é fetiche. Tá legal, que seja BDSM. Porque tem leitor(a) aqui exigente demais nesse aspecto. Dizem que falo muito em fetiches e pouco em BDSM.
E de algumas dessas pessoas que me fazem falta sempre é valido pegar alguma lição de vida, um exemplo.
Porque BDSM é igual à roda de capoeira. Tem muita gente pra dar banda e pouca pra cair.
Acha exagero? Faz uma reflexão, fim de ano chegando... Sempre é bom.
E essas pessoas as quais me referi sempre trouxeram algo a somar nos meus dias fetichistas. Desde comportamentos, teorias e outros exemplos mais, até o fato de assumir certas tendências. Porque não é fácil assumir algumas fantasias no universo BDSM. O fetichista nasce envergonhado. Desde cedo convive com diabinhos que o atormentam e o fazem dar um passo atrás toda vez que ele pensa seguir um rumo. Estou errado galera?
Daí o sujeito pra vir a público, ainda que no anonimato, e assumir que gosta de inversão, fio terra e algumas coisas bizarras é complicado. Da mesma forma que eu assumo que mulher amarrada pra mim não é paisagem e tão pouco uma cena de dar dó em novela de TV. É tesão na veia brother e não dá pra ficar de esconde-esconde.
Admiro o podólatra que gosta de pé imundo e assume. Qual o problema? Se as pessoas acham nojento, anti-higiênico é problema de quem pensa assim. Se o sujeito gosta, vamos respeitar. O tesão é dele, o problema é dele, o chulé quem vai cheirar é ele...
Voltamos, então, ao assunto da roda de capoeira. Começo a ter um pouco de razão.
Porque basta fuçar e sempre haverá uma historinha que condiz com o fato. Já está na hora de parar com essa babaquice bucólica de olhar pro fetiche alheio e torcer o nariz. E isso pega mais que gripe de inverno. Atravessa cidades e se funde numa imensa nuvem de fofocas. O jogo do dominó que um leva o outro até o destino final.
Porque fulano é isso, fulana é aquilo, e por aí vai. Antigamente um munch fetichista era um lugar de discussão de práticas, de cultura e até quando se marcava plays e festas. Hoje, salvo alguns casos, é lugar de meter o sarrafo na vida alheia na cara de pau.
Já ouvi pérolas tipo: “essa festa vai ser uma merda, só tem podolatria”. Ótimo, se não agrada não vá mesmo. Mas sentar o sarrafo em quem se esmera pra promover um evento é uma burrice cósmica, sem nexo.
O grande barato é que o fetichista não se rende. Vejo gente jovem chegando e metendo a cara sem medo. Os caras mandam ver, chegam a infestar sites de relacionamento com festas, leilões de pés de musas e isso me anima. Porque começo a vislumbrar uma nova fase no nicho.
Lembro de um tempo não tão remoto onde as coisas aconteciam numa surdina tremenda e até a divulgação era pouca ou quase nenhuma. Se resumia a um imenso boca a boca.
Está mais que na hora de dar uma bola pra essa galera que chegou com força e não desanima.
Gente que não tem medo de entrar na roda e levar banda. Gente que divulga o que gosta e dá o exemplo a quem não se identifica de criar seu próprio espaço e canal e sair por aí em cima de um caixote nas redes sociais, nos blogs, alardeando que tem uma festa tal acontecendo ali.
O universo fetichista não tem dono e as coisas acontecem pra quem chega na frente, já dizia Barbara Reine há muito tempo atrás.

Se não der pra juntar cinqüenta ou cem pessoas bola uma play que absorva todos os pares que comungam de uma mesma linha de pensamento. Como nos tempos da Mandic, em que uma galera se juntava em São Paulo e tudo acontecia pra poucos e éramos muitos.
Hora de sair da toca, colocar a roupa mais bonita e tentar a sorte onde seu fetiche fala mais alto deixando de lado essa postura imbecil de falar mal apenas pra se mostrar diferente.

Porque nós já somos diferentes.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Procura da Perfeição


Hello crazy people!
O papo hoje tem endereço. Vai direto para os amigos e amigas fetichistas que se arriscam em suas práticas por aí. E pra começar uma pergunta bem simples: vale capricho absoluto toda vez que se coloca em prática suas fantasias?
Vale esmiuçar. Portanto, nada de imaginar que tudo terminará numa composição de cenário e que um dia fará parte de seu acervo fotográfico ou de filmes. Tudo numa única noite. Você, a parceira ou o parceiro e seu fetiche. Noves fora todo mundo jure de pés juntos que capricha nos mínimos detalhes é fato que vez por outra tudo se passa na base do puro improviso.
Tá certo – e concordo – que os fetichistas procuram a perfeição toda vez que decidem exercer suas habilidades que os levam ao nirvana do prazer. Isso é fato.
Porém, algumas vezes (não importa se primeira ou não) o tesão fala mais alto e há a chamada falta de concentração justamente pela volúpia que se inicia. E como evitar isso? Ora, deixar sempre a mão um kit de primeiros socorros fetichista para o caso de surpresas. Ainda a pouco falava nisso. Quem não quer ter a mão arranja um lugar pra deixar guardado que você possa ter acesso imediato.
Claro que planejamento é tudo, mas a surpresa é um argumento muito forte quando se fala em fantasias. Aliás, muito mesmo. Quem não quer ser surpreendido quando é por uma boa causa? A surpresa neste caso é bem vinda e trará resultados totalmente positivos. E ainda que se saiba que dia será, por acaso, o fato de não saber onde e como será já é razão suficiente pra funcionar.
E nessas horas em que o inesperado aparece como evitar o mico de não ter em mãos os acessórios pertinentes a fantasia? Ou se deixa a perfeição de lado e toca o barco na base do improviso ou então tem que andar sempre preparado para uma eventual situação desse tipo.
E cá pra nós, por mais prevenido que seja o fetichista tem seus afazeres que o levam a abrir mão de certas coisas por causas nobres. Uma ocasião conversava com um parceiro fetichista que costumava guardar seus apetrechos no carro até o dia em que pegou o filho pequeno fuçando suas coisas e por muito pouco tudo não acabou em tragédia.
Deste dia em diante ele se tornou o rei da maloca...
O ideal é que já exista reciprocidade entre as partes. Parceria estabelecida e a divisão dos materiais seja homogênea, para no caso da surpresa surgir de qualquer um dos lados quem for o mentor da idéia traga aquilo que seja de uso comum.
Mas no caso de acontecer um improviso o ideal é que com o pouco se faça bem feito. Por que não? Muitas vezes as coisas simples saem melhor que as planejadas ao extremo. Todo mundo sabe que o fetichista aposta nos detalhes e numa hora dessas é bom procurar os detalhes onde não costumam estar.


É óbvio que esse artigo não visa criar confusão na cabeça das pessoas que agora se iniciam pelas esquinas do universo fetichista ou que aqui já habitam. No entanto, imprevistos acontecem e nessas horas é sempre bom lembrar que o velho jeitinho pode ser o ponto de equilíbrio. E assim tudo se processa. Quem não tem cão caça com gato, o ditado é velho, mas cabe como uma luva nessa história.
O importante é salientar que nada pode servir de desculpa pra acabar com a festa.
Se vale um conselho pode anotar: a surpresa é tão legal que sobrepõe qualquer falha técnica que venha a atrapalhar sua noite, sua tarde...
A fantasia pode beirar a perfeição mesmo com um roteiro totalmente fora de contexto para o qual o fetichista está despreparado. E vai depender muito da participação de quem comanda a festa.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Dia em que o Fetiche (quase) Morreu


Dizem que o que nasce conosco se manifesta na infância. Infelizmente, depois de meio século algumas dessas memórias se foram. O que lembro de fetiches remonta o tempo que os pelos cresciam no corpo, na inquietação adolescente.
E nessa época, cercada de medos e incertezas, tudo que se tem é a tentativa de fazer pulsar e viver algo que provoca as primeiras ereções autênticas através de simples brincadeiras que para os que estão em volta nada mais são que ecos infantis. O fetiche sobrevive no escuro.
O tempo passa e o fetichista como qualquer outro ser humano colhe as primeiras paixões. A timidez o esmaga por dentro e ele deixa de lado a própria essência por simples opção. Se entrega pela metade, dá o corpo e reserva a alma, e pela primeira vez tenta desesperadamente matar o que o acompanha desde que abriu os olhos na maternidade.
O fetiche morre pela primeira vez.
Entretanto, dentro de um contexto kardecista ele pode renascer. A eternidade conspira a favor e se consegue extrair pequenas doses de prazer quando o cinema ou a TV mostram que ainda existe sepultado dentro da própria consciência. Mais tempo passa, a maturidade chega e com ela vêm as lembranças. Amores partidos, relacionamentos pela metade e uma enorme vontade de assumir as diferenças. Invejas bondosas de quem dá a cara e vontade de ser livre.
Lentamente o fetiche começa a tomar forma e, finalmente, renasce. O fetichista já consegue controlar seus impulsos e aceita uma verdade imutável de que terá que conviver com ele pra sempre. Convive com dias de altos e baixos, com sonhos que se realizam em bordéis escuros e guarda todos os seus segredos dentro de um cofre inexpugnável. Já não sente vergonha diante do espelho, combate a timidez com bravura e se torna um guerreiro em prol de seus próprios sonhos.
Enfrenta tédios que duram dias intermináveis e luta pela vida arrastando sua própria razão de existir sem dividir. Consegue orientação por seus méritos e não desiste. O futuro é encarado sempre com bons olhos. Se reinventa, recria cenários perdidos e aposta sempre no que vem pela frente. Flerta com imagens que colhe e nelas vê traduzida sua própria semelhança.
Segue o instinto. Fareja parcerias e inventa casos que jamais e tornaram reais. Descobre nichos e guetos, transita em meio a pessoas de senso comum e desabrocha reescrevendo contos que alinhavou nos tempos idos.
Consegue enxergar o óbvio e passeia por caminhos distintos fazendo a separação exata das coisas como deve ser. Cria um personagem, dá vida a um ser que não tem identidade e faz dele sua imagem e semelhança. Ele é aquilo que o fetichista queria ser. Porque ninguém sonha com agonia, com angustia e desprazer.
O fetichista se fortalece. Consegue suplantar ironias, verbaliza suas virtudes e não somatiza decepções. Valoriza seu gosto apurado e começa a partir desta fase a se orgulhar com a própria sofisticação de suas fantasias. Vive dias de cumplicidade total.
Entretanto, um artista não pode se separar de sua obra e quando isso acontece ele se torna vazio. É preciso recomeçar pra não ver tudo murchar em morte lenta e agonizante. Entender as voltas da vida e, principalmente as pessoas que vêm e vão. Num planeta globalizado, totalmente diferente em que se viu nascer à harmonia de sentimentos, faz-se obrigatório compreender a chegada de novos habitantes nessa grande avenida chamada fetichismo.

Nesta etapa é necessário ter a consciência de que toda a experiência faz com que o fetichista deixe de ser um recém chegado para se tornar um exemplo para quem se aproxima.
Compreender as misturas de elementos, o aroma que se acentua forte num insosso sabor baunilha quando há a conjugação de fatores que atraem quem está chegando.
O planeta fetiche é como uma estação de trem, aonde pessoas chegam e partem sem critério especifico. Uns marcam sua passagem outros simplesmente desaparecem sem deixar vestígios. Mas o verdadeiro fetichista que carrega

a chama acesa no peito há de perseverar por todos os meios para que não tenha que renascer outra vez.

Um bom final de semana a todos!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Rainha da Siririca


Reza a lenda que Carlota Joaquina (ela mesma, a Rainha de Portugal, depois Princesa do Brasil) era viciada em tocar siririca. Trepava três a quatro vezes por dia e quando por alguma desconhecida razão não achava o que desejava, se esbaldava em siriricas diante de serviçais sem a menor cerimônia.
Sexo era a sua primeira necessidade. E o que era pior, poderia ter sempre os homens que desejasse, mas sua compulsão tinha um exagero que ninguém na época podia explicar ou mesmo compreender. Para ela sexo era de uma importância tão crucial que ficava doente quando não tinha alguém para aplacar a fúria de seu apetite descomunal. Isso ela transferiu sem dúvida para o seu primogênito, Dom Pedro I. Não se importava com a quantidade de homens que poderia ter, mas a virilidade de alguém que pudesse contentar a sua tenebrosa ânsia sexual.
Quando se via obrigada a manter relações com alguns homens que escolhia a dedo, procurava sempre saber qual deles realmente tinha o poder de fazê-la chegar ao extremo prazer. Ninfomaníaca, tinha orgasmos sucessivos e apavorantes, chegando mesmo a morder violentamente seus parceiros, tirando sangue com suas dentadas bastante doloridas. Certa vez, no Rio, mordeu tanto um escravo diferenciado que este morreu dias depois de septicemia. Por causa disso procurou controlar os seus excessos convulsivos, tornando-se menos agressiva, ganhando sobremaneira com isso.
Certamente a dama mais importante da corte imperial não sabia, mas era portadora do chamado DSH (Desejo Sexual Hiperativo). Claro que os tempos eram outros, seu marido Dom João era broxa e ninguém se dava conta da exacerbada quantidade de orgias promovidas pela Princesa que tal qual uma lenhadora não podia ver um pau em pé!
Mas o que é o DSH?
Ocorre quando a pessoa espontaneamente apresenta um nível elevado de desejo e de fantasias sexuais, aumento de freqüência sexual com compulsividade ao ato, controle inadequado dos impulsos e grande sofrimento. Preocupa-se a tal ponto com seus pensamentos e sentimentos sexuais que acaba por prejudicar suas atividades diárias e relacionamentos afetivos. Em geral não apresenta disfunções sexuais (como ejaculação precoce ou impotência), funcionando relativamente bem como um todo. Engaja-se em atividade masturbatória ou no coito, mesmo sob risco de perder os seus relacionamentos amorosos (busca de alta rotatividade de parceiros) ou a própria saúde (Hepatite B e C, HIV). Quando tenta evitar e controlar o impulso para o sexo, a pessoa pode ficar tensa, ansiosa ou depressiva. A pressão para a expressão sexual retorna e a pessoa sente-se escrava de seus próprios desejos. A ansiedade pré-atividade sexual, a intensa gratificação após o orgasmo e a culpa após o ato não são raras.
Mas voltando à nossa primeira Princesa vale ressaltar também que Carlota Joaquina era fetichista. Tinha fetiche por sapatos. Gostaria também de podolatria? Não se sabe ao certo. Porém, sabe-se que os sapatos confeccionados em seda eram considerados eróticos nessa época e a compulsiva Princesa usava e abusava deste tipo de calçado.

O então amaldiçoado “Quinto dos Infernos” como era chamado o Brasil em Portugal, serviu de palco para as loucuras de Carlota Joaquina durante o tempo em que ficou por aqui. Vários são os historiadores que citam fatos e nomes em cada episódio que envolvia a Princesa e seus escândalos.
Morreu aos cinqüenta e cinco anos já em Portugal. Só, esquecida e amargurada sucumbiu aos seus próprios devaneios deixando um legado que deve servir de parâmetro para qualquer pessoa avaliar seus conceitos e conduta.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Secret Diary of a Call Girl (2008)


Secret Diary of a Call Girl, ou Diário Secreto de uma Garota de Programas, conta à história de Hannah e é baseada em um blog que depois virou livro de uma prostituta da vida real (quase uma Bruna Surfistinha), e mostra uma jovem que adora sexo e dinheiro e para juntar o útil ao agradável, resolve aderir à profissão mais antiga do mundo. Nasce à prostituta de luxo Belle.
Mesmo com um tema desses, a série consegue ser inteligente, intrigante e com um texto impecável sem se entregar à promiscuidade exagerada (deveria?). Nada de mais para quem já viu algum episódio de Californication, The Sopranos, Entourage, Tell Me You Love e etc.
A atuação de Billie Piper (Doctor Who) é o ponto forte da série. Ela está ótima na pele de Belle/Hannah e consegue transparecer toda a luta da personagem em tentar viver em harmonia em mundos diferentes. A forma como a câmera é usada como se fosse o diário pessoal dela, é um formato bem legal. O tempo todo ela olha para a câmera e faz comentários em tempo real como se estivesse escrevendo um diário e conversando com o telespectador ao mesmo tempo. Londres como pano de fundo é algo muito legal para quem só está acostumado a séries americanas. É tudo bem diferente. A trilha sonora é ótima e vai desde Madonna a Regina Spektor.
Até aqui, como drama, a coisa vai bem.
Os ingleses capricharam tanto na série que na época devido à greve dos roteiristas nos Estados Unidos, as grandes TV’s compraram o pacote. E em seguida ganhou o mundo. Porém, quando se fala nas experiências fetichistas e no desenrolar das tomadas eróticas o tempo fecha. A obra definitivamente não diz a que veio.
E dentre tantas cenas de “atendimento a clientes especiais” alguma coisa ligada ao BDSM tinha que dar o ar de sua graça. Mas, infelizmente, deixa a desejar. Alguns críticos não pouparam a direção de Yann DeMange e falam até em falta de testosterona na concepção de algumas cenas mais fortes. As cacetadas não param por aí e até as roupas utilizadas pela meretriz e sua pouca ousadia em lidar com a clientela endinheirada é motivo de revolta.
E cá pra nós, o tema tinha tudo pra abusar em ousadia se o diretor estivesse por dentro do assunto e não criasse histórias fantásticas que ouviu falar.
Com um orçamento de fazer inveja na época e com a visão totalmente voltada para o mercado americano em crise, a série merecia mais, muito mais. O que se tem é pouco comparado ao que se esperava. A versão em DVD dos episódios que foi lançada debaixo de um apelo apregoando uma exibição sem cortes é desnecessária.
Vale apenas pela beleza não muito convincente de Billie Piper e a lembrança de que fetichistas sempre procuram as prostitutas na ânsia de aplacarem a fúria de suas fantasias sem parceria.
Mas se você espera ver nos episódios experiências de BDSM convincentes não perca seu tempo e sua grana. O que se vê é uma prostituta despreparada para este tipo de atividade, sem qualquer noção básica de práticas de BDSM abusando do direito de se divertir às custas de um cidadão que estava pagando por seus serviços.
O excesso de risadas deve ter feito efeito junto ao povo que produziu as cenas, gente que nada tem a ver com fetiches e fantasias, mas o espectador que espera uma cena com seriedade e tesão fica no vácuo.

Portanto, não recomendo a série como obra ligada ao BDSM.
Se você gosta de drama, se você se solidariza com a vida difícil das mulheres que recorrem à prostituição como forma de ganhar a vida e passam por problemas acerta na mosca em assistir. Caso contrário, não ocupe espaço de sua prateleira para este DVD.
Confiram as cenas bizarras onde o BDSM é tratado com ironia.




terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Privação de Sentidos


Nesses dias de trabalho intenso em que minha paudurescência fetichista anda exilada num país qualquer da América Central o ideal é tentar passar a quem lê essas páginas alguma idéia de como o gatilho fetichista dispara em certos casos.
E um dos casos onde a veia fetichista faz a festa é a privação de sentidos.
Porque ela consegue agradar a quem tem os sentidos privados e a quem priva, uma vez que o ato pode restringir os sentidos em parte ou de forma completa. Falo de fala, movimentos e visão.
Diria que é um conceito de bondage, ou até de love bondage pra quem assim preferir. O que vem depois dessa privação de sentidos é que vai determinar a tendência que vem a seguir. Se ficar em provocação de orgasmo ou ejaculação estamos falando de love bondade, mas se a coisa tender pra castigos onde a dor é o instrumento de prazer o sadomasoquismo toma conta da cena.
Entretanto, o que entra em atividade após a privação de sentidos não é tão importante nesse artigo quanto ela própria. Porque em primeiro lugar há que saber se as duas partes interessam ao fetichista ou apenas uma delas. Aqui não existe capacitação, apenas desejo. Não adianta tentar obter prazer num lado quando ele só existe do outro. No entanto, em vários casos o prazer está na troca.
Noutro dia em conversas tentando explicar como o fetiche processa nas pessoas que têm tendência a gostar dessas fantasias, um detalhe me chamou a atenção. O nome que dei a matéria assusta os principiantes. E não é pra menos. A fobia de ter os sentidos privados é iminente, não há como negar. Lógico que sem confiança o sujeito sequer atravessa uma rua, porém, a simples idéia de ser manietado durante o ato sexual e ter a visão e fala interrompidas causa apreensão. O que se pode sugerir nestes casos é que haja cumplicidade entre quem se habilita a praticar e que a condução seja entregue a quem tem o medo em pauta.
Mas espera: e se quem tem está em duvidas for justamente quem deseja ter os sentidos privados como conduzir? É simples. Em fantasias nada se perde. Até mesmo a capacidade de comando de quem vai ser comandado. Explico melhor. A auto-imobilização, ou o self-bondage como é mais conhecido seria um caminho. Basta fazer com que um sentido de cada vez deixe de existir naquele momento, conduzido pelas próprias mãos e pronto. Aos poucos se logra êxito, garanto.
E depois que a coisa engrena fica aquele gostinho de quero mais. A entrega se dá, a parceria é estabelecida e com isso, a fantasia passa a ser parte da vida do casal sem medos e sem culpas.
Engana-se quem pensa que uma fantasia só provoca calafrios se realizada pela primeira vez. Os tremores seguem e toda vez que houver a possibilidade de realização eles se farão presentes. Pode anotar. A automatização da fantasia significa que a liga acabou.
Segundo os próprios fetichistas que experimentam a privação de sentidos em suas costumeiras fantasias é tiro e queda. Nada é capaz de provocar tanto frisson em quem se habilita a uma prática deste tipo. Porque a privação da visão provoca sensações incríveis até em fetichistas que necessitam dela pra disparar o próprio gatilho.
Ser privado de um desejo também é um fetiche. Experimente! Tem sempre uma dose de masoquismo num ser humano, por menor que seja. Que digam os sádicos...

Então agora é colocar em prática tudo que foi dito aqui. Ficar de olho no material a ser usado, sempre lembrando que coisas de aspecto mais agressivo como correntes, coleiras e afins, devem ser introduzidas aos poucos em quem chega pra festa.
Tente começar com coisas leves. Cordas macias em pequenos pedaços ou lenços. Fitas adesivas e Ball gags devem entrar no segundo ato. Algemas são bem vidas e se preferir use de cara as que tem a trava de segurança. Sempre dá confiança a quem pensa em se livrar rapidamente se nada der certo.
No mais, boa festa!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Universo Partido


Eu conheço tanta gente boa nesse universo fetichista que às vezes é complicado abordar um assunto do porte que vem a seguir. Talvez esses anos de militância nessas hostes tenham me deixado mais amargo, não sei muito bem, mas na verdade a ploriferação e a conseqüente banalização de práticas fetichistas tenham quebrado um pouco do encanto que esse mundo já me mostrou.
Hoje vejo pessoas novas, mal orientadas por fetichistas com certa experiência que as conduzem. Gente interessada em denegrir a imagem de pessoas que muitas vezes só conhecem de nome. Gente com inveja, usando pessoas inocentes no sentido de perturbar a vida alheia.
Perfis criados do nada, com fotos mutantes. Gente que usa e abusa de criar clones dos personagens que representam. Não fosse complicado identificar pessoas que somente se limitam ao mundo virtual, algumas delas, por simples falta do que fazer chegam a inventar seres imaginários que infestam blogs, mandam recados em páginas de redes sociais fetichistas no intuito de criar expectativa e desaparecem do nada.
Provocam respostas através de perguntas direcionadas por alguém com alguma capacidade, haja vista, o tempo que estas pessoas as quais me refiro, têm circulado entre quem faz uso do universo me beneficio próprio. Um circo que começa a ser montado sem critério, e essa gente que hoje usa esse artifício não imagina que uma imbecilidade deste porte pode atrapalhar seu próprio caminho. É fato que existem pessoas que por uma razão qualquer não gostam das outras. A vida é assim. Mas perder tempo com infantilidade é demais.
Todo mundo tem o direito de achar o que quiser de quem bem entender. Pode até comentar ou desdizer de quem seja, mas que faça isso de cara lavada. Seja na internet, em festas e eventos, pouco importa, o mundo é livre, democrático e cada um se expressa da forma que acha conveniente. Então que seja assim. Portanto, se fulano me acha um merda, um otário que perde tempo escrevendo um monte de asneiras aqui e que tem um site monótono, sem o que ele gostaria de ver que o diga, escreva, e pelo menos use o nome como é conhecido no meio pra se identificar. Porque até um personagem pode ter vida própria, desde que ele se faça presente e tenha uma história pra contar.
Se vejo este tipo de atitude partindo de pessoas que não pertencem a esse universo considero até certo ponto normal. Não há compromisso. Quem vem de fora não tem nenhuma obrigação de dizer a que vem, pelo menos enquanto não se envolver, não aparecer e mostrar quem é.
Daí vale postar comentário como anônimo e descer a lenha. Eu cago um quilo certo pra quem faz isso. Se quiser dizer que fetichista é maluco, que isso aqui é um lugar de demência plena e absoluta também pode. Quem vem de fora e não sabe o quanto custa pra quem vive dentro do circulo assumir o que quer e aturar as cortadas na cara desde a adolescência, não imagina o quanto não incomoda certos atos discriminatórios.
Mas de gente daqui é o fim do mundo... Mostra que entre quem convive há pessoas que não deveriam conviver, pelo simples fato de não respeitar a quem junto coabita.
Se meu fetiche não agrada deleta a pagina. Muda e me deixa em paz, mas sem essa de usar casca de banana pra me fazer escorregar. Tenho 53 anos de sereno e não vou levar banda de tartaruga brother.

Pra encerrar essa polemica é bom que um assunto fique bem claro: fetiche é pessoal e intransferível, portanto, cada qual sabe o que gosta e o que quer. Achar que um cara com o tempo de casa que tenho vai mudar de atitude diante de um corpinho de quem nem conheço ou nunca vi, é achar que no centro de São Paulo vão aparecer do nada cinco elefantes anões albinos caminhando na Paulista. Portanto, não percam seu tempo, porque eu não passo recibo.
Sou bondagista, por isso gosto de bondage. Respeito todos os fetiches, mas me reservo ao direito de tentar praticar o que gosto. Se faço ou

não é problema meu. De mais ninguém.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Reverência


O que é bom deve ser divulgado. Pensando nisso, peço licença a uma pessoa que admiro e reposto um artigo que ela escreveu há tempos. Pra ela, a minha reverência. Sempre.

By Lady Vulgata

Neste pequeno breviário vou me referir aos dominadores, sobretudo a alguns muitos famosos no nosso meio. Em conversas com alguns amigos do grupo SAT BDSM, e outros sem grupo e de outros grupos, percebi como a construção do imaginário é algo complexo dentro e fora do meio.
No meu estudo, onde recortei um grupo e uma classe de fetichistas, fica explícita, pelas próprias leituras de Sade, Masoch, Bataille, Morin, Millet, Pietroforte, Stanton, Grillet e tantos outros, a percepção de que tudo começa num sonho que pode ou não virar uma fantasia, bem ou mal resolvida na cabeça das pessoas. No geral, todos têm fantasias. Alguns sufocam e outros resolvem assumir.
Óbvio que não vou fazer apologia aqui. O mundo não é BDSM. Não acredito nisso. São tipos de fantasias muito específicas que podem se tornar realidade. Mas acredito sim que todos têm um lado B. Sempre falo isso porque observo o quanto isso sufoca e atrapalha a vida prática das pessoas que se podam.
E construir um perfil dominador coloca para fora os sonhos mais remotos, desde os super-heróis que habitaram a nossa infância; o pai que era o Máximo; uma paixão por mitologia e seres com muitos poderes; a sensação de ser adorado e venerado pelo clubinho do bairro; as brincadeiras com os colegas envolvendo as cordas, as vendas e as mordaças; as privações de sentidos envolvendo ar, água, terra, fogo; o polícia e ladrão; os comandados e os comandantes. E por aí vai. A psicologia está cheia de exemplos e links entre essas construções.
Conversando com um ex-sub muito querido, concluímos que pessoas como Sr. Verdugo, Sr. WZ, ACM, Metatron, Parallax, JonatanStrange, MistressBela, Mistress Belle, Rainha Laura e tantos outros dominadores – e me incluo na lista – nem sempre passam uma imagem fiel acerca de suas personalidades. Os motivos, francamente não sei. Mas tenho duas hipóteses: a primeira diz respeito ao imaginário dos submissos que se apegam às fotos, às descrições que estão em suas mentes sobre dominadores, sádicos e figuras do SM idealizadas; a segunda é a força das personagens criadas por cada um de nós propositalmente e, neste sentido, acho até saudável esse distanciamento porque aumenta o interesse e o tesão.
É freqüente ouvir de submissos, masocas e até de dominadores menos experientes uma certa idolatria para alguns desses nomes. Não que eles não mereçam; pelo contrário. Cada um nas suas especialidades merece toda fama e elogios que possam ser endereçados a eles. São pessoas que ajudaram a divulgar e desmistificar o BDSM em nível regional, nacional e até internacional.

Mas pensar que Verdugo andará pelas ruas da cidade com um machado ou que sua vida se resume a planejar cenas com sangue a agulhas é até engraçado. Ou imaginar que WZ e ACM vivem com metros e metros de cordas a punho o tempo inteiro. Ou ainda, que Mistress Bela e Mistress Belle não fazem mais nada da vida do que cuidar dos seus mundos fetichistas e seus discípulos. Mais ainda, pensar que Parallax e JonatanStrange – ou mesmo eu – são pessoas más, sórdidas, que vivem planejando meios de derrubar os pobres iniciantes sulistas em armadilhas é patético. Já ouvi a seguinte frase

sobre meu brother: “O Parallax deve ser muito malvado porque a cara dele é de poucos amigos”. Olha gente, se existe amizade real, ali está um belo exemplo! Claro que ele só é amigo de quem realmente sintoniza ou que enxerga verdade nas atitudes. E com ele faço meu coro, assim como garanto que a regra valha para todos do meio que tenham personalidade e caráter.
Há quem fique maravilhado porque vê em meu álbum as fotos com o ACM, assim como comentários carinhosos aqui no meu blog. Gente, ele é uma pessoa de carne e osso, tem sentimentos, simpatias e afinidades. Eu o amo e ele sabe disso. Logo, trata-se de uma relação normal de amizade. E ele nem é tão malvado assim...rs

Um bom final de semana a todos!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Calcinhas


Fetichistas têm por bem colecionar objetos. Fotos, vídeos, peças do vestuário, e nesse caso o feminino é o alvo. Sapatos, meias de sedas, mas quem puxa a fila são as calcinhas.
Dizem por aí que os objetos colecionáveis são a garantia da paudurescência toda vez que ele é revisitado por seu colecionador, com o que concordo, embora não seja um expert no assunto.
E o grande barato é que estes objetos guardem um histórico particular.
Eles devem manter as características de quem fez uso antes de serem doados. E não é tão bizarro assim, porque existem matérias de televisão falando nisso, principalmente sobre as histórias do cantor Wando, o obsceno, e sua imensa coleção de calcinhas que são atiradas no palco quando se apresenta.
E a mulherada se derrete quando ele cheira as calcinhas que recebe... Pois saiba que se algum dia você jogou uma calcinha usada no palco ou passou por baixo da mesa pra alguém, você tem a veia fetichista pulsante.
Se acha que não me desminta!
Vale citar o Burusera no Japão, um fetiche com regras próprias, porque além de existir o objeto do desejo, a calcinha, ainda vem um vídeo acompanhado da dona da calcinha fazendo uso. O que prova que o desejo por ter roupas intimas do sexo oposto é universal e mais antigo que muita coisa que se tem notícia.
Concordo que colecionar é uma questão de gosto. Absoluto.
E em se tratando de fetiche tem mesmo que despertar um algo mais. E como ando nessa estrada faz tempo já fui testemunha das coleções mais incríveis que vocês podem imaginar. Desde revistas fetichistas até sobras de utensílios usados em sessões de BDSM. Duvida? Vamos à lista: restos de velas, pontas de chibatas que partem em sessões de sadomasoquismo, mordaças babadas, sobras de cordas de bondade, e muito mais. Tem gente que guarda flyer de festa pra lembrar da cena que participou. Recordo de ter realizado um workshop de bondage há mais de dez anos e um sujeito me torrar a paciência no final pra levar um pedaço de corda de dois metros e meio porque eu tinha feito uma imobilização que passava pela genital da menina que serviu de modelo. E ele queria aquele pedaço, não servia outro e olha que a menina estava de short, ou seja, apesar de ter sido fixado por entre as pernas dela havia uma roupa de malha no meio...
Entretanto, tudo isso é perdoável quando se trata desses loucos e suas manias.
Claro que se for traçado um paralelo fora do universo fetichista conhecido, a ação de dar e receber calcinhas é uma febre. A mulher ao entregar uma roupa íntima a alguém num restaurante ou num local especial deixa uma mensagem clara de sensualidade explícita e quem recebe passa recibo. Há casos em que a reciprocidade não existe, mas são raros.
Mas ela na verdade não quer que o sujeito apenas guarde no bolso, ela anseia que ela sinta a sua presença quando meter o nariz e apertar contra a face a peça de roupa intima que ela o presenteou. Correto moças?
Existem fatores estranhos ao fetiche além do fator sexual de dar e receber a calcinha?

Lógico. O fetiche é extenso e muitas vezes não obedece a um critério o qual estamos acostumados a ter conhecimento. Existem fetichistas que gostam de mau cheiro vaginal e outros que vão além e colecionam calcinhas sujas de menstruarão. Chame-se menofilia.
No entanto, a calcinha é um objeto cobiçado, independente do contexto em que está inserido.
Existem controvérsias como em qualquer manifestação fetichista sexual. Enquanto algumas mulheres enxergam romantismo no ato de presentear uma calcinha outras acham que é luxúria demais cometer a ação.



Porém, é inegável que a calcinha desperta toda uma atmosfera singular e transfere a intimidade para o lugar secreto aonde um admirador vai guardar pra sempre os ecos de uma noite inesquecível.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Intolerância


Preferência sexual é coisa particular. O nome já diz: eu prefiro isto àquilo.
Daí, em certos casos, algumas dessas preferências se tornam práticas repetitivas e por conseqüência passam a ser consideradas um fetiche.
Alguns exteriorizam esses desejos outros não. Preferem o segredo.
Mas quando a preferência é pouco comum nem sempre a compreensão da sociedade é bem vinda. Porque é mais fácil admitir quem goste de bunda a quem goste de pés, por exemplo.
Muitas vezes o politicamente correto é preconceituoso.
E exclusão nesse modelo de sociedade latino infestado de dogmas e paradigmas é regra. Basta mencionar que você tem tendências a gostos diferentes dos considerados normais pelos gênios da intolerância e o tempo fecha. Porque todo mundo considera Freud um gênio, incontestável, e o que ele viu há cem anos atrás ainda é regra num lugar onde já existe luz elétrica.
E pior do que os especialistas são os entendidos. Pessoas que nunca flertaram com um assunto desses e quando batem de frente recorrem ao Google, a Wikipedia, na ânsia de achar um mísero significado sem saber que qualquer mortal pode postar o que quiser nesses lugares sem ao menos ter a noção básica exigida. E tome porrada!
As manifestações fetichistas não devem ser encaradas com desprezo, apenas com respeito.
Isso acontece invariavelmente quando alguém tenta convencer quem nunca experimentou uma fantasia a tentar. E por que não escolher pessoas do meio para esse tipo de jogo? Porque muitas vezes os encontros acontecem do lado de fora do circulo, justamente porque as pessoas que gostam de fetiches têm uma vida tão normal como de qualquer outro ser humano. Elas trabalham, estudam, se dedicam a projetos de vida nem sempre ligados a este tipo de atividade.
A sociedade impõe códigos de conduta em todos os sentidos. É midiático, moderno, cultural às vezes. As mulheres cheinhas hoje não têm vez diante da magreza assoberbada que preenche as páginas de revistas masculinas. Mulher pra ser gostosa e fatal nos tempos modernos tem que malhar seis horas por dia e tomar bomba. É a moda. E fodam-se as gostosas gordinhas porque elas têm uma barriguinha protuberante e estão fora de padrão.
Porém, acredita nisso quem quer. Os “maria-vai-com-as-outras”, os pobres de espírito, os que seguem as receitas da Ana Maria Braga e dão ouvidos as recalcadas do Saia Justa.
Meu desejo escolho eu, não a mídia.
Meu prazer é assunto pessoal e intransferível e nem tem na mão de cambista pra vender. Pra mim tanto faz, magra ou gordinha, se for mulher e gostar do que gosto é bem vinda. Mas não me venham com esse papo de perna dura ou perna mole, porque o que tem que estar duro é outra coisa, não as pernas.
Portanto, a intolerância social nos dias de hoje é algo a ser discutido. Não pode haver conformismo e ninguém deve fazer o papel de vaca de presépio a quem tenta impor o que é certo ou errado. Quem trepa sou eu, não esses críticos idiotas ou fotógrafos metidos a besta que criam esse tipo de banalização da mulher e do sexo. Porque alguns, nem de mulher gostam. Nada contra o homossexualismo, entretanto, há que haver reciprocidade do lado de lá com quem é hétero.

Por isso, eu sigo a minha receita que vem dando resultado faz mais de meio século. E pasmem, as fantasias sexuais têm tido boa penetração no universo baunilha. Cada vez mais é comum ver pessoas que não têm acesso a glossários fetichistas admitindo interesse em algumas práticas. O resultado disso é a divulgação, porque embora alijado da mídia que só se interessa quando uma celebridade lança mão de cenários fetichistas pra ganhar grana, o fetiche é atrativo pra quem quer mudar de ares, experimentar coisas novas e mandar a mesmice de vez pro espaço.



Então, dou as boas vindas aos novos habitantes desse universo que recebe quem chega sempre com os braços abertos e um sorriso no rosto. A intolerância aqui é assunto encerrado!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Minha Próxima Aventura Fetichista


Haverá na certa um teto acima da cabeça. Lá o exibicionismo não cola. Tem que ser intimista, ter sabores e cores, desejos e rimas no compasso perfeito.
Minha próxima aventura fetichista será cercada de fantasias. Nascerá de uma alquimia que irá mesclar o doce sabor baunilha com o ardor da pimenta e da mistura virão os contornos de uma noite iluminada por velas e energia.
Meia luz, vida pulsando o desejo intenso. Na parede a moldura vazia esperando pela fotografia que será dela prisioneira pra sempre. Retrato de um fetiche na medida certa. Sonhado, arquitetado e elaborado como uma taça de cristal.
Minha próxima aventura fetichista chegará de mansinho. Minhas cordas traçarão um paralelo entre o erotismo e a luxúria, entre a vontade e a razão. Com elas eu defino uma linha, uma conduta, e vejo um orgasmo do começo ao fim. E nesse rio de loucuras a ponta de um salto derrota a timidez. Sepulta medos e faz a fina flor reviver.
Dizem que todo mundo nasce fetichista. Uns desenvolvem e outros esperam ele vir sem aviso. O desejo não é obra do acaso, ele brota, prospera, vive e revive como uma dança de um balé russo. O desejo instiga e com ele vêm às fantasias que se tornam um vinculo entre o ser humano e seus sonhos. Quem dera pudéssemos viver sempre o que sonhamos...
Minha próxima aventura fetichista terá a companhia da Lua, ela não virá com o sol. Talvez ela termine quando ele apareça, quem sabe, ou então que as estrelas contem como tudo se passou na noite anterior. As únicas testemunhas do que se fez e fará outra vez.
Não me perguntem dos detalhes porque eles estarão todos lá. Em cada gesto, em cada gemido, na mordaça babada, na venda arrancada de olhos pequenos em busca de um pouco de luz. O bom fetichista traz consigo o poder de seduzir e nada melhor que olhar pro lado e assistir um corpo ofegante que naquele instante deve estar pensando o quanto deixou de viver ao não entender que o melhor da vida está sempre por vir.
E não tentem adivinhar o que quero ou o que tenho planejado, porque a emoção acaba com tudo que se costura ponto a ponto. Não se pode duvidar da força de uma mulher. Ela é sagaz e direta, complacente e divina. Muitas vezes rasga as regras e nós, simples machos mortais desabamos diante dos desejos que elas nos impõem, ainda que se tenha a audácia de imaginar que tudo foi construído por nossas intrépidas mentes perversas.
Minha próxima aventura fetichista não terá começo, meio ou fim. Ela será um inteiro, sem nenhuma fração que a torne divisível. Ela será sim, uma continuação de um desejo e a certeza de que jamais ficará pela metade. Será eterna, pois viverá na lembrança e mesmo que outras tantas tenham mais sabor, seu gosto será único como a flor de lótus de uma montanha de gelo.
Minha próxima aventura fetichista não será daqui a um dia, dois ou três. Ela não tem dia certo ou hora marcada e nem mesmo se sabe quanto tempo vai durar. Talvez siga os grãos de uma ampulheta imaginária que representa o destino que a fez estar suspensa no tempo e no espaço infinito. Ela terá cheiro próprio, do perfume ao sexo, das velas queimadas ao couro na pele, no odor da juta e na marca que deixa.

Minha próxima aventura fetichista tem como parceira um rosto estampado que vejo, que espero, que anseio. Tem a Inocência do improviso e a astúcia ardilosa planejada. Nos acessórios que dão forma ao cenário e nas vestes que somem na escuridão de um canto qualquer.
Tem o som do salto que rilha e no zumbido da laçada que prende.
Tem o silencio da boca amordaçada e o som estéreo do gozo sem fim.
Tem o sorriso de coisa bem tramada e a

harmonia de uma taça de vinho repartida.
Tem o adorno da fumaça do cigarro que relaxa e a complacência de um ombro que dá abrigo.
Minha próxima aventura fetichista só não tem o sabor do pecado, porque se o pecado nasce com o sonho eu não poderia pecar duas vezes.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Intrépidos Amantes


Foram quase vinte anos juntos e desse tempo sobraram histórias pra contar.
Descobriram o antídoto pra acabar com a rotina cedo e, por isso, os anos passaram e a cumplicidade sobreviveu.
Relações terminam por vários motivos, mas se quem sai leva consigo as lembranças de grandes momentos com certeza ele se torna pulsante, pronto pra viver uma nova história com o maior patrimônio que a vida nos permite ter: as nossas recordações.
E foram muitas, todos fatos reais. Fantasias que se permitiram sem medo, sem preconceito ou arraigado a dogmas sociais nocivos.
Ele queria uma noite com uma prostituta. Ela se vestiu como tal. Parou numa esquina da Lapa aqui no Rio de Janeiro e atendeu ao seu chamado quando o carro parou. Parece simples, mas o desconhecido traz aflição, angustia, principalmente quando a fantasia tem de ser realizada em via pública, e onde o exibicionismo não é o fator numero um. Dalí rolou um motel, o tratamento cliente prestadora de serviços, ou seja, a fantasia sem retoques e com um gosto único de quero mais.
E segundo ela hoje me conta outras tantas vieram. Como um dia que chegou dos Estados Unidos de sobretudo e apenas uma lingerie por baixo. Meias três quatros e espartilho, e melhor, de surpresa sem dizer nada ao ex-marido. Abriu o casaco no carro e com feições sérias disse a ele que não poderia trajar nada por baixo por conta da alfândega.
Sem saber nada a respeito de fetichismo extraiam essas aventuras a dois de uma imaginação fértil que vez por outra dava na telha. Desde uma roupa de empregada doméstica que ela bolou ao ver que ele andava de olho na funcionária que tinham casa até uma vez que se vestiu de preto e fez um incrível papel de assaltante surrupiando os objetos da própria casa.
Nesse dia rolou um bondage.
Ela usou as algemas como a suposta ladra invasora e fez questão de que rolasse uma luta onde ela o dominou. Uma vez algemado na cama ela o deixou o tempo que achou necessário e quando voltou já não estava no papel da meliante e sim representando ela mesma.
Engraçado é que ela confessa que depois das fantasias eles não tocavam no assunto. Nem um pequeno comentário onde fosse possível avaliar o desempenho dos personagens que criavam e uma possível melhora numa próxima vez. Talvez um misto de vergonha ou timidez a respeito do que eles mesmos criavam os impedia de tocar no assunto, ou fosse o desejo de ambos que tudo aquilo ficasse restrito aos dias em que resolveram escrever uma história diferente.
Na verdade, as pessoas de uma forma generalizada criam fantasias e não sabem que o fetichismo é apenas a conseqüência disso tudo. Já comentei por aqui que fetiche nada mais é que a repetição de certas práticas quando o assunto se relaciona com o sexo. A idéia de associar fetiches a relações sadomasoquistas onde é preciso a obtenção do prazer através da dor aplicada ou sentida ainda segue sendo um mistério.
É importante deixar claro também que aqui não cabe um julgamento ou uma crítica a quem se utiliza de métodos sadomasoquistas nas suas fantasias. É apenas necessário esclarecer que os fatos não convergem se não houver estimulo ou desejo de praticar.
O estudo do assunto deveria ser mais profundo por quem se dispõe a tecer opinião sobre isso. Existem profissionais que dão pareceres sobre casos em que as fantasias aparecem em relações sem ter um conhecimento profundo que os possa capacitar para perceber as inúmeras diferenças que convivem num universo cercado de respeito por quem se habilita a conviver

Muitas vezes as pessoas preferem guardar essas experiências e não dividi-las justamente com medo de preconceito contra inocentes casos criados entre adultos. Jogos que aumentam a libido de um casal criando uma cumplicidade capaz de tornar a relação o mais sólida possível.
O fetiche não é patológico. É uma delícia!
O assunto de hoje é dedicado a uma pessoa que conheço faz pouco tempo e com todo o carinho e inteligência que é sua marca, me brindou com histórias incríveis.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Estranha Coleção


Convivi com o Barry na virada do milênio. O conheci em Orlando na Florida e fizemos alguns negócios juntos exportando para os Estados Unidos. Eram só negócios.
O Barry é o típico Red Neck como dizem os americanos, ou um caipira como se fala por aqui. Um termo pejorativo, mas que alguns como ele mesmo, não dão muita bola.
A coisa evoluiu e um ano mais tarde resolvemos exportar de Buenos Aires e pra lá fomos.
Ele se hospedou próximo a Recoleta e eu fiquei pelos lados do Centro.
Não deu muito certo, ele sentia dificuldades com o idioma e mudei pra o mesmo hotel. Na primeira noite eu tinha compromissos com os muitos amigos que tenho por lá e mesmo diante de insistentes apelos do Barry não pude acompanhá-lo ao Black, um famoso puteiro da Capital Argentina.
Arranjei um motorista que o levou.
Cheguei tarde e fui descansar. Lá pelo meio da madrugada o telefone toca e acordo assustado. Barry queria que fosse ao seu quarto já que estava com duas lindas portenhas que não entendiam uma palavra de Inglês proferido por um sujeito já alcoolizado. Tentei ajudar e tive que traduzir que o Barry queria depilar as meninas. Talvez seja uma saga, sei lá, mas fato é que em meio a negócios o fetiche apareceu. Papo daqui e dali até que num amplo consenso as meninas resolveram aceitar a depilação a maquina de cortar cabelo em troca de uma módica ajuda financeira além do combinado.
Voltei pro quarto e dormi. Despertei de manhã e caminhando pelo quarto percebi que havia um envelope enfiado por debaixo da porta, coisa típica de hotel quanto às correspondências. No envelope estava a data escrita a caneta ao lado do nome Lila. A letra era do Barry.
Dentro, um pequeno bilhete em Inglês se misturava a um maço de pentelhos dizendo que eu havia perdido a festa. Me lembro da frase que balbuciei: “filho da puta!”
Desci para o café de envelope na mão doido pra encontrar o gringo e dizer umas boas. Ele tranqüilo e calmo tomava seu café e me viu chegar com o envelope apontando pra ele. Sorriu e pegou de volta alegando que lhe pertencia. Como não me interessava entreguei na hora e pensei nos negócios achando melhor deixar barato.
Mas a história deu uma guinada justamente quando ao terminarmos o café ele me chamou para ir ao seu quarto. Lá puxou uma caixa branca como de sapatos lotada de envelopes iguais, brancos, com um nome de mulher e uma data. Percebi que Barry era um fetichista e além de gostar de depilar nas mulheres ele colecionava os pentelhos que conseguia retirar.
Explicou que fazia com todo o cuidado, que era um especialista em depilar as meninas com máquina e que todos os nomes que apareciam nos envelopes eram de prostitutas que conhecia e as convencia a serem depiladas por ele.
Uma vasta, porém estranha coleção que jamais tinha visto na vida embora estivesse ligado ao meio fetichista há bastante tempo.
Claro que é preciso ter condições financeiras para realizar este tipo de desejo bizarro. E Barry era um cara bem sucedido, portanto, ele exibia com orgulho um troféu sem nem mesmo saber da minha vida e das minhas preferências fetichistas. Um cara descolado e bem resolvido com o próprio fetiche.

Lá se vão dez anos desde esses dias em Buenos Aires e não tive mais noticias do Barry. Sei de algumas passagens, que está bem e coisa e tal, mas nunca mais houve qualquer contato mais próximo em que eu pudesse perguntar sobre a tal coleção. Como um fetichista jamais abandona suas crenças acredito que nada mudou, ou se houve qualquer mudança espero que tenha sido pra melhor e que ele hoje em dia viva bem suas loucuras.
Por mais inusitado que possa parecer o fetiche é particular. Não cabe julgar ninguém.
Todos os atos e pensamentos pertencem a quem faz de suas próprias fantasias uma forma de obter prazer. Este fato real resume meu conceito

sobre fetiches: cada um sabe por onde seus sonhos caminham...

Um bom final de semana a todos!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Noite de Botas


Estou começando a achar que esse blog realmente desperta um algo mais nas leitoras.
Depois de três anos e meio escrevendo nessas páginas se multiplicam as histórias de pessoas que se esbaldaram nas entrelinhas e colocaram o fetiche vida adentro.
E com essa leitora especial não deu outra.
Ela pensou assim: “hoje ele não me escapa”. E foi o bastante pra perceber que fetiche e sedução andam de mãos dadas e que basta criar uma atmosfera favorável que um leva o outro e acaba tudo numa grande festa.
Preparou o vinho, deu luz e aroma ao ambiente através de velas e colocou uma bota marrom de cano bem alto. Por cima um vestido quase transparente, deixando a mostra todas as suas intenções, e cá pra nós, não havia mortal que pudesse resistir.
Tratou de esconder duas cordinhas que vieram embrulhando umas revistas, o que aqui tem toda uma identificação com o fato. Ela conta que quando viu as cordinhas em volta das revistas ficou excitada, principalmente quando lembrou de tanta coisa que faz parte do acervo do blog.
Por isso as guardou pra uma ocasião especial.
E naquela noite ela escondeu as cordinhas embaixo do travesseiro. Ela era um misto de más intenções, ou boas, pelo menos assim eu definiria.
E não deu outra. O cara vinha de longe. Pediu um banho pra tirar a poeira da estrada e ela concedeu. Estranhamente ela sabia que aquela era a única coisa que iria conceder.
Vieram os petiscos junto com o vinho. E mais vinho.
Ela conta que começou a deslizar a bota pelas pernas do sujeito que já estava entregue a todo aquele clima fetichista que tomava conta do ambiente. Esperta e sagaz, a música também combinava com tudo.
No primeiro beijo ela tratou de deixar claro quem iria comandar a festa. Quando ele tentou colocar sua mão sobre seus ombros ela o afastou com firmeza. Tirou-lhe a blusa, abaixou as calças e mandou que se deitasse. As cordinhas deram o ar de sua graça junto com uma tira de pano preto que lhe cobriu os olhos. Depois disso, ela teve a noite fetichista que tanto sonhou viver através das leituras aqui nas páginas do blog.
Infelizmente ela parou por aí. O final está reservado pra existir dentro de um diário que ela guarda a sete chaves num lugar qualquer. Pode ser em pensamento, pode estar escrito, e isso ninguém sabe e ela faz questão de manter em segredo.
Escrever contos nunca foi meu forte. Eu relato historias que me chegam.
A grande diferença desta que hoje é motivo de matéria está na própria experiência dos personagens quanto ao universo fetichista. Ela poderia ter este tipo de idéia pra uma noite quente dentre as tantas que viveu e ainda vai viver, mas acredito que a transformação se deve aos efeitos que a leitura causou em suas divagações. Ao saber que nada disso é politicamente incorreto ela tentou e se deu muito bem.
Garanto que haverá continuidade e que ela a partir de agora irá caprichar muito mais e realizar desejos que até outro dia faziam parte de um mundo imaginário que ela apenas acreditava existir.

A moral da história é simples e cabe na medida certa para todos nós: não adianta querer que o universo conspire a nosso favor se não fizermos a nossa parte. Qualquer relação bem elaborada fica marcada, foge da rotina que aniquila relações recentes e até duradouras. É preciso ousar na medida certa, realizar coisas que coincidam com os nossos próprios desejos. Não vale ousar e praticar fetiches porque se acha bonito ou visualmente atraente. As melhores fantasias são aquelas que nos fazem plenos, realizados e acima de tudo felizes.
Ela criou uma cena de bondage da cabeça dela.

Não saiu em busca de cordas perfeitas e tão pouco ousou nós elaborados. Ela seguiu o instinto da fêmea e usou o fetiche pra seduzir, afinal, essa é a melhor parte da história.
Pena que não foi comigo...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

E agora José?


José era um trabalhador. Um cara de fé que ganhava a vida com o suor na luta diária.
Mas um dia José resolveu acabar com a própria vida.
Escolheu uma tarde de Sábado e foi por jardim, um lugar calmo no final do condomínio onde morava com uma arma na mão.
Só que antes de tomar tal atitude resolveu conversar com o alto, falar das razões que o levaram a cometer esse ato. E quando se preparava pra puxar o gatilho ouve uma voz grave que lhe pergunta o porquê daquela cena. Era sua consciência.
José não titubeou e desandou a falar das coisas que via, de tudo de errado que havia num mundo injusto que o levou a decidir pelo seu fim.
- Não posso conviver num mundo de corrupção, de gente que rouba os outros e aparece de cara limpa na TV – falou.
A voz firme insistia:
“Calma José, você não é o responsável por isso e essa gente terá o que merece em breve.”
Mas José não estava satisfeito e seguia com suas lamúrias.
- Também não é justo que eu veja meus filhos crescerem num lugar onde o medo de acordar é maior que a própria esperança de viver. Onde a gente não saiba se quem a gente gosta não vai voltar pra casa da mesma forma como saiu.
A voz da consciência mais uma vez tratou de demover José de sua angustia.
“José, você é um lutador, e sabe que a vida é feita de desafios e o não saber o amanhã é o maior deles. Entretanto, a sua ausência será pior e sua covardia ficará pra sempre. Pense bem!”
E José estava decidido. Nada o faria mudar de idéia. Havia pensado muito antes de estar ali.
E soltou à última.
- Mas a razão principal de tudo isso é mais forte. Eu tenho um problema grave.
“E qual é?” Perguntou a voz da consciência atenta
José mandou assim
- Sabe, eu tenho um segredo que não posso dividir. Gosto de coisas que de uma forma geral guardo comigo há anos e não estou conseguindo mais viver com isso entalado.
“Mas o que é José? De que se trata?”
- Uma coisa simples, mas que me causa um drama que não sei conviver com ele. Penso nos prós e contras, nas conseqüências se tudo for revelado, na vida que virá e nos dias sombrios que passarão a ficar a minha volta...
“Desembucha homem”, insistiu a voz firme e direta.
- Até pra confessar aqui eu tenho vergonha. A timidez não me deixa nem falar com meu próprio pensamento e só de pensar eu me arrepio. Olha só!
“Fale agora ou cale-se pra sempre”, falou a voz da consciência já sem paciência.
- Esse mundo não foi feito pra mim. Eu sou fetichista.
A voz então foi sucinta.
“Te manda daí Zé!”

Bom, a história do José é mais ou menos como a de muita gente que vive e convive com o velho drama de se assumir fetichista diante do mundo. Claro que a solução não é essa do José e muito menos o conselho, pois tudo não passa de uma piada.
Mas vale refletir e de repente imaginar que a vida tem problemas gigantes a serem tratados, em todos os lados, e convivemos com todos, os justos e os injustos.
Porém, o que se guarda por dentro e não se pode expressar tem uma força tão grande que somente sabendo o que se passa nos corações e mentes de quem sente pra tentar entender.


Fica Zé, e encara de frente!