segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A Vida, O Fetiche e a Moça


Nasci sob o signo de gêmeos, num Domingo de lua cheia dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo de cinqüenta e oito.
Claro que não me lembro quando abri os olhos, mas dentre as lembranças que trago da infância uma delas me remonta à primeira cena fetichista. E olha que estou no lucro já tendo cruzado a barreira da metade de um século.
Só agradeço não terem me levado na primeira rezadeira da esquina para tirar os demônios de dentro de mim, porque ninguém imagina um menino adorar os vilões e vibrar com eles em todas as cenas que me deixavam com os olhos vidrados.
Lembro vagamente de um dia com um cinto amarrar os braços da empregada de casa, Marly, imitando as cenas em que os índios amarravam as mocinhas nas séries em preto e branco da TV. E foi aí brother que tudo começou.
Portanto, o fetiche vem do útero jamais do berço e está dentro de nós desde que respiramos o primeiro sopro de ar poluído desse planeta.
Vieram os sonhos, delírios, até a adolescência quando já cansado das brincadeiras infantis de policia e ladrão, quando era inevitável tirar umas casquinhas das coleguinhas aprisionadas, é possível começar a articular idéias e por em prática os tais “pensamentos obscenos” que a ordem político-religiosa nos impõe.
As coisas começaram a ficar mais sérias e geralmente terminavam em gloriosas trepadas solitárias durante o banho onde era possível comer toda e qualquer garota bem amarrada, e detalhe, sem pedir nenhuma permissão para isso.
Nascem então às primeiras experiências de bondage através das gostosas brincadeiras a dois. Assim como bondage, qualquer outro fetiche segue a mesma regra tendo como ponto de partida e as primeiras ebulições esses contatos infanto-juvenis.
Por isso moça, podem sim existir fantasias de bondage sem necessariamente haver coito sexual, e claro, o aprimoramento dessas cenas que montamos como um grande teatro entre quatro paredes, vem com o tempo, passando pelos tabus da virgindade até a utilização de pequenos aparelhinhos estimulantes.
E como tirar proveito e prazer desses pequenos espasmos de fantasia?
Elementar minha cara, porque uma pequena gota de prazer para um fetichista é como time pequeno empatar com um grande, ou seja, festa na cidade e cerveja liberada.
Só existe a possibilidade de alcançar experiência se houver um desenvolvimento adequado e as barreiras forem rompidas em seu devido tempo, com confiança e astúcia. E isso é regra básica para evoluir, sem ansiedade, porque doses homeopáticas sempre foi um excelente remédio. Quem quer tudo ao mesmo tempo, quer abraçar o mundo com as pernas, acaba se perdendo num universo tão grande onde o conhecimento de cada passo se obtém com o tempo, e nada mais.
É preciso ter a noção que nascer com o fetiche na veia nos faz aproximar dessa atmosfera, mas se não houver conhecimento do terreno o qual se pisa, vira areia movediça, fácil de afundar.
Para começar toda e qualquer experiência de bondage em primeiro lugar há que existir confiança total a quem você está se submetendo, porque uma vez imobilizada a chance de dar merda é muito grande. Depois das primeiras sessões será plenamente possível perceber até onde caminhar e por qual lado seguir; carícias e estímulos, um pouco de podo, castigo com cordas, submissão, e tantos outros que vão aflorar na medida em que o rio siga seu curso sem nenhuma queda brusca que te faça afastar de um destino que você tanto deseja seguir.

O fetiche pode chegar antes do envolvimento sexual, sempre, desde que haja comprometimento consensual para que isso seja respeitado.
Nem sempre encontramos o fetiche ainda na infância, às vezes até o renegamos e nos sentimos como estranhos no ninho, mas um dia de tanto insistir ele aparece com força e nos toma de assalto, e é nessas horas que precisamos estar preparados para começar essa viagem maravilhosa.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Construindo Regras


Eu nasci com um desejo. Reneguei, cultivei, fui e sou feliz com ele.
Muitas vezes dialoguei sozinho. Num tempo de parcas saídas e pouquíssimas possibilidades de aproximação com esse desejo eu construí minhas próprias regras.
E nelas me baseei a vida inteira.
Certo dia, viajei e encontrei um mundo evoluído onde as pessoas que dividiam sonhos parecidos com os meus habitavam. Deparei com outras regras e nelas tive que me adaptar para poder lograr a simples e eficaz convivência. Procurei a conduta correta. Limitei meus muros para não ultrapassar limites e magoar pessoas e a mim mesmo.
De volta vi nascer um novo conjunto de regras muito semelhantes as que havia visto.
Pessoas comprometidas em levar a sério o ato de reunir recém chegados com uma mesma linha de raciocínio. Gente que abominava a exclusão e apostava numa inclusão cada vez mais sólida.
Participei efetivamente, apoiei e vivi cada ano como se fosse o ultimo.
E conclui...
Que a parte que me toca em tudo isso ainda é o desejo que nasceu comigo.
Se existem regras de conduta e comportamento condizente eu as sigo porque a educação e o bem viver social trago de berço, mas o BDSM pra mim sempre será uma mistura homogênea entre meu desejo e meus sonhos.
Por isso, não renego quem siga os dez mandamentos que a falada liturgia consagra de que a coleira é isso, a chibata é aquilo e que fulano não pode falar com beltrana e assim sucessivamente. Apenas tenho um entendimento meu de valorizar o sonho que me fez chegar a esse mundo.
O desejo que carrego tatuado na alma é meu e de quem quiser dividir comigo. Essa regra eu me imponho, as demais eu respeito, mas não tenho a santa obrigação de seguir. Assim construí minhas historia no BDSM e pude caminhar até aqui.
Nada me espanta e muito menos me salta os olhos.
Todos que conseguem atravessar a fronteira e chegar até aqui são maiores de idade, vacinados, sabem o que querem e que caminho escolheram. Portanto, não critico, apenas tenho a minha convicção como base e coexisto com quem tenho afinidade.
Escrevi mais de mil artigos neste blog por puro diletantismo.
Falei dos fetiches que tive noticias e dos que tive contato, ora através de amigos, outras por minhas experiências próprias. Pode não ter sido do agrado de todos, mas fiz e faço meu melhor ao tentar passar a quem chega uma pequena idéia do que existe de bom ou ruim no lugar onde depositarão suas esperanças.
E vou seguir escrevendo, vou seguir meus sonhos.
Porque tenho a plena convicção que o BDSM não muda as pessoas. Ele agrega.
Quem não tem postura no meio não tem na própria vida. Quem não segue as normas do mundo civilizado não as seguirá aqui. Não digo normas dos livros que os antigos delimitaram posições dentro do BDSM, digo normas de convívio social.

Para ser feliz no BDSM a pessoa tem que estar feliz com ela mesma.
Então eu gosto de música, adoro um papo, curto amar e adoro meus fetiches, sem eles nem saberia viver. E dou valor a isso tudo porque é daqui que consigo pequenas doses de felicidade que bem adiante vão valorizar cada passo que dei desde que imaginei um dia realizar meu sonho.
Acho que a minha noção de liberdade é sempre acreditar naquilo que trago comigo!