sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Cara de Pau


Conheço o André faz tempo, desde um tempo em que ele colecionava fotografias de mulheres nuas de revistas masculinas. Até então esse hábito era o único fetiche do André.
Mas o sujeito evoluiu. Porque diz o ditado que quem coleciona não vê limites e cada nova peça que por acaso lhe chame a atenção é o incentivo que falta para começar uma nova coleção.
O André pirou com o fetiche lá pelo final da década de noventa.
Primeiro flertou com as calcinhas das moças, as que ele saía e das que não saía também.
Um dia me mostrou uma caixa que parecia gaveta de loja de lingerie. Haja calcinha! De todas as cores e formas, até que ele escutou falar que no Japão existia um tal fetiche chamado de Burusera. O bicho endoidou de vez, porque o Burusera se caracteriza por colecionar a calcinha e um vídeo da dona da veste íntima portando o objeto.
Nessa época ele deu uma parada com os amigos.
Apareceu algum tempo depois meio desolado. Confessou que andava desestimulado porque havia fincado pé numa relação séria e por conta disso havia desfeito grande parte de seu acervo. Indaguei sobre o fato de esconder da nova namorada tudo o que havia juntado até então, e ele disse que lhe faltou cara de pau pra chegar na boa e confessar.
Foi aí que dobramos o cara. Convencido, o André abriu o jogo com a namorada. Chutou o pau da barraca e não quis saber de qualquer conseqüência desastrosa. Pra sorte do colecionador a moça nem ligou muito e o André seguiu seu rumo.
Anos mais tarde encontrei com o cidadão numa festa fetichista.
Achei estranho o cara passar a freqüentar este tipo de ambiente que tanto renegou tempos atrás. Mas ele estava na boa. Completamente enturmado e foi até complicado chamar o cara pra um papo, mas deu.
Disse que não havia desistido de colecionar. Simplesmente encontrou parceiros com quem trocava alguns artigos que o convenceram a freqüentar festas fetichistas em busca de objetos de desejo. Havia se tornado um especialista em colecionar peças do guarda roupa feminino e naquela época andava atrás de calcinhas, meias de seda e outros utensílios, e ao mesmo tempo, conseguia ver as mulheres usando as peças de roupa em cenas fetichistas, o que o deixava bem próximo daquilo que era seu sonho.
A história do André combina com muitas.
O universo fetichista está apinhado de colecionadores que não medem esforços pelo objeto de desejo. Já vi de tudo brother, coisa do arco da velha. Os sujeitos são acima de tudo caras de pau, pedem até encher a paciência alheia ou até que as moças acabem cedendo. Não há limites, e nem se importam com o que dizem, vale tudo mesmo.
Colecionar é um fetiche. Desde simples fotografias a vídeos e peças de roupa. É impressionante o repertório dos caras. Eles vão atrás mesmo. Tem assinante do site Bound Brazil que paga por meias usadas em vídeos, mordaças babadas e sapatos das modelos. E elas perderam a vergonha e hoje negociam com esses intrépidos colecionadores o preço justo.
Fora desse circuito virtual, há um batalhão a postos pronto pra na cara dura andar atrás de uma garota qualquer pra pegar uma peça de roupa ou até uma foto ousada. Não se contentam com o que conseguem na rede e partem para o mundo real em busca de objetos palpáveis.

Haja espaço pra guardar tanta coisa e ainda lembrar depois da história de como aquele objeto chegou até ali. Uns sujeitos que eu conheço apostam que lembram como conseguiram cada peça que tem guardada.
Não dá pra duvidar da astucia dessa galera.
Um colecionador de verdade não se contenta com armazenagem em HD ou com fotografias digitais. O tato é o gatilho que dispara a onda fetichista que lhe move até a próxima busca.

Um bom final de semana a todos!

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