terça-feira, 26 de junho de 2012

Toda Cama Deveria Ter Cabeceira


Engraçado que de um tempo pra cá os designers de móveis resolveram alterar o curso da história e acabaram com a diversão dos bondagistas. As cabeceiras das camas, tão úteis, estão em extinção.
Pra ter uma idéia, experimenta sair pelo mercado de móveis. Só se vende a tal da Cama Box. Uma completa falta de critério. Os sujeitos deveriam pensar que existem pessoas com fantasias de amarrar a parceira, ou o parceiro, nas eficientes e agora fora de moda cabeceiras de grades.
Bons tempos!
De Curitiba me chega uma noticia de que alguém tratou de colocar a cama entre dois armários embutidos. Tá certo que ela quando pensou na possibilidade não imaginava ficar prisioneira em sua própria cama, pelo menos de forma consensual, e optou por imprensar uma cama de casal entre dois armários. Que desperdício! Mas se os armários fossem furados se podia pensar em algo produtivo em se tratando de fetiches. Vou dar umas dicas.
Cada vez mais chego à conclusão de que um amigo americano está certo, ao afirmar que temos que fabricar nossos próprios móveis, principalmente se pensarmos que eles podem ser brinquedos fetichistas.
Porque criar em cima de coisa pronta complica.
Um amigo foi a um motel e inventou amarrar a namorada nas duas luminárias ao lado da cama. Não notou a fragilidade, arruinou a cena e ainda teve um prejuízo no bolso. E outros casos se repetem, porque não há rima perfeita pra casos fora do padrão normal do que os caras entendem como sexo. Até aquela famosa cama sexual, que nada mais é além de um cavalete com alças metido à besta, complica. Sim, tem alças, dá pra rolar umas cordas e coisa e tal, mas se a cena não for de SM a parceira reclama porque tudo incomoda.
Isso sem falar na nossa desconfortável posição. Ou arrasta uma cadeirinha junto ou as dores na coluna serão inevitáveis.
Evidente que as tais Camas Box não são de total desserviço. Se o sujeito for esperto, dá pra trazer as cordas dos pés que sustentam a cama. Mas cá pra nós, não é a mesma coisa.
Porque sempre se imagina o ato de amarrar na cama prendendo os braços na cabeceira e se o cidadão for um bondagista criativo, joelhos ou tornozelos podem fazer companhia aos pulsos numa cena irretocável. Tenho algumas fotos no site que contam esse enredo.
Alguém outro dia me falou que existem cabeceiras pra Cama Box, mas elas são aparafusadas na parede. De todas as lojas visitadas, as poucas que encontrei eram lisas, como um painel pra compor o ambiente. Deve ser uma questão de moda mesmo, modernismo, porque até bem pouco tempo ainda existiam as famosas camas de ferro com aquelas saborosas hastes na cabeceira. Duravam menos? Sim, mas eram eficientes como poucas.
E não vale apelar pra papo de suítes temáticas de BDSM que os motéis andam inventando por aí. Porque pra conseguir vaga é um perrengue. O povo fala mal do BDSM, acha que é coisa de um bando de doidos, mas na hora de procurar uma idéia pra esquentar a noite reserva a suíte e deixa quem gosta na mão. E depois, a onda é ter em casa, mesmo que sejam situações mais amenas e de fácil disfarce, mas que funcione quando é hora de rolar a fantasia.

Portanto, por mais que sua fantasia seja a moça num eficiente hogtied, com as mãos presas atrás e os pés colados nelas, sempre haverá espaço pra velha e conhecida cena da moça na cama, braços esticados e totalmente exposta à nossa mercê.
Afinal, todo o sentido de bondage está nesse contexto.
Então, se vale procurar a parceira perfeita para as noites sonhadas também é preciso garimpar o cenário ideal. Tudo bem que num primeiro momento tudo aconteça de forma espontânea, mas se engrenar nada melhor que seduzir de 

forma perfeita, com todos os complementos possíveis, pra ficar irretocável.
E sem cabeceira, não dá...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Marcas


Os caminhos fetichistas muitas vezes se definem por meio de incertezas. É preciso acreditar, estar aberto a ouvir e refletir. Pois eu conheço uma história, um caso, uma dessas coincidências da vida que o acaso resolve não deixar impune.
Há muito tempo se conheciam. Tinham interesses fetichistas comuns, deixavam claro suas preferências que unia pensamentos e afastava os egos. E assim levaram por um bom tempo.
Um dia, por uma razão qualquer, rolou um clima.
E de repente começaram a falar em encontros, em fetiches comuns e ele, até então um apaixonado por bondage totalmente fissurado em mocinhas em perigo e nós alinhados, passou a colecionar vontades por fantasias que até aqueles dias não constavam de seu cardápio.
De repente, ela falou num final de semana na Serra.
Tempo frio, tudo a favor, e muita adrenalina através de papos na rede, armaram uma fantasia. Verdade que a vontade sobrepôs qualquer tendência fetichista e ele topou ir ate a casa na Serra com a obrigação de colocar uma mascara de esqui e uma venda negra nos olhos assim que batesse à porta.
Portando um set de cordas que havia recebido de presente de seu amigo e convidado, a moça tratou de fazer às vezes da bondagista. Seguiu seus ensinamentos e meticulosamente o imobilizou de forma correta. Ele tremeu. Sentiu o outro lado da moeda lhe apertar a pele e achou uma ereção de onde jamais imaginou partir. Ela o tinha por completo.
Deitado na cama e indefeso ouvia o salto rilhar no chão. Sentiu frio, ignorou.
Trajando uma lingerie negra contrastando com sua pele clara ela sabia o caminho que a levaria aos orgasmos programados. Ajeitou seu sexo nos lábios do sujeito e nem precisou dar ordens pra sentir a língua percorrendo sua intimidade. Ele sabia das preferências daquela mulher e tratou de fazer o dever de casa.
Ela sussurrou: - vou abusar e acabar com você!
Ele não sabia ao certo como se portar diante da dominação feminina e tratou de seguir com o jogo. Entendia que os limites seriam respeitados e as marcas daquele encontro ficariam mais nas mentes que nos corpos, ainda que as cordas deixassem um rastro. Mas não era o momento de cuidar disso, havia muitas coisas em jogo no encontro pra pensar em cartilhas.
A opção da dama de negro era clara. Tê-lo de todas as formas. Ele cooperou. Aceitou a fantasia sem muito acerto prévio e até mesmo quando ela desatou seus pulsos e lhe mandou beijar seus pés enquanto com um pequeno brinquedo lhe excitasse o clitóris, ele optou por não tirar a venda dos olhos.
Quando a sua parceira já arfava e não tinha mais de onde tirar tanto prazer ele pediu pra tomar as rédeas e foi atendido. Usou sua técnica e a manietou de forma segura, sem chances. Notou o medo nos olhos daquela dama ao mesmo tempo em que sabia que ela guardara um pouco da libido pra cena derradeira. Penetrou-lhe com os dedos e tirou-lhe o último orgasmo.
SDC é uma mulher sábia. Conhece as estradas do fetiche como poucas. Muito tempo de práticas e leitura a fizeram encontrar o tesão nas noites solitárias ou em encontros sorrateiros.
Tinha plena consciência de que aquele momento seria perfeito e afagaria com cuidado seu lado switcher de maneira segura e eficaz. Porque este é o principio básico de todas as relações fetichistas. Confiança.

Pois quando ele a mergulhou num banho de esperma ela sabia que aquela marca seria eterna, ainda que jamais repetissem a dose. O universo havia conspirado a favor e o tal encontro imaginário se tornara realidade naquela tarde de inverno na Serra.
Ambos garantem ter vivido uma fantasia perfeita, mesmo que ela não tenha saído de nenhum manual que eles levavam no bolso. Talvez um dia tudo se repita. Quem sabe no próximo inverno?

Um bom final de semana a todos!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Black Ribbon (2007)


O cinema de horror vez por outra aproximou enredos macabros de cenas de BDSM.
Os chamados filmes “B” da linha de terror exploraram a mulher em apuros levando-a a tomadas desesperadoras. Alguns diretores não pouparam as heroínas de finais horripilantes enquanto outros, por usa vez, arranjaram uma forma de um herói de plantão parar a serra elétrica ou um golpe de machado.
Por aqui José Mojica Marins, o Zé do Caixão, se notabilizou nessa linha e embora tenha colhido ótimos resultados longe de nossas fronteiras, muitas de suas produções se tornaram Cult por aqui e reapareceram em sessões pela madrugada.
Em Black Ribbon, o diretor John Orrichio apostou na união do suspense e do sobrenatural criando cenas violentas e um final que na metade da obra se faz previsível. O filme é uma produção independente, com poucos recursos financeiros e mostra um enredo de difícil absorção. Tudo que se relaciona com o sobrenatural se transforma em ficção, aceitável pra uns, mas pouco producente para outros.
O filme conta a historia de um famoso escritor, Kenneth Richardson (Tony Rugnetta), que recebe uma estranha inclinação para registrar seu próximo trabalho em uma máquina de escrever autêntica, antiga, daquelas em desuso.
Depois de garimpar para conseguir uma máquina fora de linha, ele começa a escrever febrilmente. Mal sabe ele que a tal máquina pertenceu a Jeffrey Blackwood, um sádico e adorador de Satanás, envolvido em práticas demoníacas que seqüestrou mulheres e as torturou brutalmente durante rituais satânicos.
A cada pancada nas teclas as portas do inferno se abrem mais e mais, e Kenneth passa a ser possuído pela alma de Jeffrey Blackwood. Com a ajuda de um homem com problemas mentais (Rudy Altenor), o demoníaco Kenneth Richardson seqüestra Emily Harrison (Debbie D) e a tortura no porão de sua casa, e enquanto se prepara para a Missa Negra ele pretende usar a bela moça para fazer seu pacto com o diabo.
A escolha das belas coadjuvantes que aparecem em cenas de capturas e presas com algemas é um ponto positivo do filme. John Orrichio não poupou esforços para ter lindas mulheres e explorou com sobriedade o nudismo. As cenas em que Debbie D aparece algemada numa cama de madeira é um convite ao fetichismo.
Não vou escrever que Black Ribbon é um bom filme com lugar cativo em sua coleção porque não é. As cenas parecem abstratas demais e totalmente fora da realidade. Assassinatos são banais, sem sentido ou lógica que faça o espectador compreender a razão da barbárie.
Alguns atores surgem incógnitos e você simplesmente não imagina como ele ou ela foram parar na cena.
Se houver um julgamento criterioso da linha de BDSM o filme é aceitável.
Claro que não estamos diante de um clássico, uma obra de Just Jaeckin ou algo do gênero. A recompensa para aficionados por donzelas em perigo é decente e vale a interpretação convincente de Debbie D nos momentos onde o suspense dá as cartas, afinal, ela é das muitas estrelas de filmes de bondage que foram parar em produções independentes nos EUA.
A galera do BDSM não fica a pé. O Porão é bem assustador e há instrumentos de tortura a disposição dos vilões como cangas e etc.

Por ser um filme considerado de linha “B”, Black Ribbon não tem distribuição de grandes produtoras e encontrar uma versão completa e decente não é tarefa fácil. A Amazon disponibiliza o filme, mas não o indica pra pronta entrega. É preciso fazer o pedido, pagar e esperar chegar.
Na Net dá pra garimpar uma boa versão para download tipo 0800, mas é legal procurar em arquivo torrent e depois correr atrás das legendas em português. Tarefa nada fácil.

Recomendável? Sim, vale ter e assistir.
Seguem algumas cenas


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Resquícios


Quando você faz uma reflexão e descobre que está há muito tempo lidando com alguma coisa, a tendência é que existam reminiscências, resquícios ou fragmentos de fatos e histórias.
Muitos desses pequenos traços estão inseridos aqui em meio as quase mil matérias que escrevi, entretanto, sempre há tempo e possibilidade pra remexer em guardados que possam servir de base ou até mesmo serem trazidos ao debate.
E uma das coisas que mais intriga no meio BDSM é a relação chamada de D/S. Porque supostamente há um desejo de entrega e outro de posse, e quando os dois se misturam a alquimia soa perfeita. No entanto, em casos raros, durante a negociação necessária que irá conduzir a relação aparecem percalços.
Claro que toda e qualquer negociação se faz baseada em conceitos e, porque não dizer, regras. Mas não são regras preestabelecidas, isso seria genérico demais e bastante impessoal. Evidente que há parâmetros sugeridos por experiências colhidas de literatura e casos ou até de vivências anteriores de ambos. É inegável que há influências. Mas nem toda influência é benéfica o que acaba por abalar os alicerces de uma boa convivência fetichista. Porque é assim: fetiches inseridos no contexto do BDSM são vias de mão dupla. O fato de existir um pólo dominante e um teoricamente submisso em meio à relação, não significa que venha a ocorrer uma anulação completa de quem se comove em se submeter.
Esse vínculo deve ser inserido no âmbito sexual e suas fantasias. Mas antes de se submeter aos caprichos de alguém como requer a fantasia, a alegação dos desejos de quem protagoniza tal ação deve estar em pauta. Porque seria pessimista demais entender a questão da dominação e a conseqüente submissão de alguém num ato, numa cena, mediante conceitos trazidos de épocas remotas quando o cunho social continha esses traços. E a regrinha é básica pra homens e mulheres.
Quem tem uma visão de fora do meio BDSM imagina que existiu algum dia uma meia dúzia de pessoas que já bêbadas e sem critério, se sentaram numa mesa de boteco pra escrever um monte de regras onde seres humanos são tratados como lixo. Os exemplos devem partir do próprio nicho e o comportamento do fetichista é fundamental. Essa imagem chula e pouco conclusiva que se assiste em reportagens de televisão dando um tratamento subalterno às questões fetichistas se dá em parte ao descaso que os participantes de comunidades fetichistas em rede sociais submetem aos demais.
Qualquer valorização deve partir de quem milita nas hostes do BDSM.
A relação D/S citada aqui serve apenas como base. Porque ela talvez seja complicada de digerir pra quem traz no pensamento idéias distorcidas do que se passa do lado de cá do muro. Abre aspas, definitivamente. “No BDSM ninguém se deixa acorrentar, amarrar ou açoitar contra a vontade”. Se isso parece ilógico ou doentio a olhares preconceituosos que se limitam a julgar os atos alheios, que vire as costas e ache isso uma perversão idiota e sem sentido.
Caso contrário, estude as razões que levam as pessoas a terem interesse nesses insights pra obter a libido. Porque fantasia só faz sentido mediante interesse de quem se dispõe a praticar.
Por isso, as regras citadas no começo do tópico são de exclusividade de quem decide por tentar uma relação dessa natureza. Nesse caso, eles serão os curadores e os juízes em caso de burla das suas próprias normas, num simples ato acolhem ou desistem do que é acordado.

É aquela velha história: no BDSM um tapa na cara pode ir de um desejo a um insulto.
O sujeito pode dizer assim: eu não curto sadismo ou masoquismo, portanto estou fora desse critério. Veja bem; se a festa rola num ambiente comum é normal que os pares se misturem e, por isso, o respeito aos que juntos dividem o mesmo espaço deve ser a regra de conduta numero um para todos, sem distinção. E ainda que escombros de pedras arremessadas lhe toquem o rosto, imagine que alguém levou a pedrada pra preservar a nossa casa.


Um bom final de semana a todos!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Quatro Anos


Toda vez que rola uma data e o calendário registra é inevitável que se faça uma releitura. E também uma comemoração. Nesse caso é dia de festa. Uma festa na aldeia, pois o bloguinho aqui acaba de fazer aniversário, quatro anos pra ser mais exato.
E como havia prometido lá no começo, estou próximo de completar mil artigos escritos.
Os quatorze que faltam em breve estarão aqui pra marcar um ciclo. Um ciclo de luta pela causa fetichista, pelos que por uma razão ou outra se sentem desprestigiados num mundo cada vez mais hipócrita.
Com esse número alcançado, fica aqui sem falsa modéstia um canal de consulta fetichista com domínio próprio onde cada qual através da ferramenta de pesquisa pode encontrar algo que lhe seja simpático ou essencial.
Não significa que abandonarei o espaço, de forma alguma. Essa briga é boa.
Mas como o tempo é cada vez mais escasso resolvi passar a postar espaçadamente. Os tópicos diários (de segunda a sexta) chegam ao fim. Hora de cuidar de mim e dar descanso aos dedos.
Uma vez por semana estarei escrevendo.
Penso que a contribuição de alguma forma foi efetiva. Algumas pessoas que tive o prazer de conhecer pessoalmente e outras virtualmente, me fazem acreditar que sempre é possível rever conceitos, achar normal o que numa primeira visão parece uma anomalia sem cura.
Seria muito mais simples falar apenas de Bondage, afinal, esse era o plano naquele Junho de 2010, mas a galera foi chegando e me senti no dever de acolher. Aliás, essa deveria ser uma palavra de ordem no meio fetichista ou BDSM como alguns preferem: acolher.
Daí rolou outros fetiches e o blog fez jus ao nome.
O diferencial está em não transmitir a quem te lê seu estado de humor, porque quando alguém se propõe a abrir um canal de opinião e consulta o papo tem que estar bem restrito ao tema principal. Nisso sempre me policiei.
Claro que vou sentir falta de chegar ao final de um dia de trabalho e procurar o que escrever. Porque por mais que ainda escreva não será igual. Diariamente é forte, significa comprometimento e entrega. Mas sempre que der vou rabiscar umas palavras por aqui. Na verdade, a veia fetichista não cessa, ela apenas se enquadra na nossa vida.
Amanha, por exemplo, vou postar um artigo que me chegou. Perfeito, veio com ilustração e tudo. Quem escreve enviou as fotos, enfim, esse tem de ser o espírito fetichista, a troca de energia e, principalmente, um canal de descobertas. Porque não estamos imunes a gostar do novo, de ter o fascínio por coisas que jamais nos demos conta de experimentar.
Isso é fetiche.
Deixo aberto, então, esse canal de comunicação com acessos que chegam a mais de um milhão nesses anos. Sem poses ousadas, sem trocas de favores ou apelação. Apenas fetiches e muita opinião com alguma diversão. Basta se habilitar. Mandar um email com seu artigo ou sugerir um assunto que eu mesmo desenrolo.
Como qualquer ser humano que se preza, tenho meus favoritos nesses quatro anos inseridos nos quase mil artigos e acredito que quem gosta do espaço deva ter os seus.

Às vezes releio e chego à conclusão de como foi legal ter criado esse espaço e caprichado pra fazer bem feito.
Falhas sempre existem e continuarão a existir, ninguém é perfeito.
Hora de soprar as velinhas. Já são quatro anos o que mostra que a vida segue e junto com ela escrevemos nossas melhores fantasias. As que vivemos e aquelas que ainda planejamos viver.
Um agradecimento especial a todos, sem distinção, que se deram ao trabalho de ler meus artigos e minha opinião. Na tentativa de engrandecer a cultura fetichista de cada um não pensei duas vezes quando dedilhei alguns assuntos que soaram polêmicos, porém, de suma importância para o nosso aprendizado constante.
E vida que segue.
E o blog com ela. Obrigado.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A Outra Face do Bondage


Legal, o cara pira com a donzela em perigo. Desde garoto, as mocinhas amarradas nos filmes despertavam o tesão, a libido. Sabia que um dia aquilo seria parte de suas fantasias, porque sempre sonhava com a cena toda vez que se permitia pensar em sexo.
Mas as diferenças não se resumiam apenas em sonhar com a mulher em perigo. O sujeito, nesse caso, quer ser a mulher em perigo, a damsel in distress.
Este fetichista vai aprender tudo sobre bondage. Recorrerá a todas as literaturas e mitos, saberá cada passo e conviverá com outros tantos que tenham o fetiche na veia. Porém, sua visão diferente, essa outra face do fetiche, ficará oculta e sobreviverá no escuro até que ele encontre abrigo em alguém que possa lhe escutar e entender.
Buscará outros fetichistas e descobrirá que através de algumas fantasias combinadas poderá se travestir de mulher e viver, enfim, o lado da vitima. Normalmente as mulheres têm um entendimento maior de algumas fantasias do que os homens. Porque conheço praticantes de bondage que negam veementemente a aceitar a homossexualidade ao se vestir de mulher e só admitem estar capturados pelo sexo oposto.
Nesse caso, a mulher assume o papel do bondagista.
Terá que desenvolver a técnica dos nós, deverá compreender os parâmetros que movem o fetichista e assumir de vez o controle dos atos no exercício da fantasia. Será uma dominadora sem chibatas aos olhos dos outros.
Mas na verdade será parceira e cúmplice de um sonho, uma fantasia.
Lógico que alguns fetiches às vezes se misturam ao bondage quando há essa característica. Não é incomum encontrar mulheres que ao procurarem conhecimento da fantasia do parceiro acabem introduzindo outras formas de domínio que terminam por descaracterizar o princípio básico do fetiche. A essência de bondage é modificada quando há a sodomização dos homens no papel de donzela em perigo. Não que haja um ultraje ou desnível fetichista, apenas uma tendência que as mulheres costumam assumir quando se vêem poderosas.
A proximidade do contato com outras mulheres fetichistas trazem essas mudanças que acabam por fazer parte de um cenário e costuma ter a aceitação de quem está no jogo.
Afinal, há um tipo de submissão nos caras que têm a essa fantasia.
O que não se pode confundir de forma alguma é o fato de estar de um lado ou de outro quando o assunto é bondage. Porque muitos homens gostam de ser amarrados na fantasia, entretanto, não se travestem ou assumem toques femininos aos seus personagens. Querem a mulher, a parceira, no poder, imobilizando e comandando o jogo, mas se negam a ser a donzela em perigo, a assumir a troca de papeis.
Evidente que se trata de um assunto complexo como todos que mexem com a sexualidade.
O fetiche de Cross Dresser, popularmente chamado de CD, quando inserido numa cena de bondage comum tem esses aspectos descritos aqui, no entanto, em outras fantasias, pode funcionar como atos de humilhação ou uma simples expressão da homossexualidade.
Muitos CD’s recorrem ao BDSM onde a onda de preconceito é bem menor do que no meio social. Acabam aderindo a praticas e se acomodam no universo achando seu espaço. As redes sociais estão lotadas de Cross Dresser que se aproximam do BDSM sem, todavia, mostrarem-se adeptos de determinados fetiches.

Noves fora essas variantes fetichistas que compõem o cenário da mudança visual ou de atitudes, a prática do bondage alcança índices de diversificações intensas. Posso estar enganado ao afirmar que bondage talvez seja o fetiche com maior índice de preferências que se tem notícia. E, por conta disso, a fantasia de homens que costumam assumir o papel da garota em perigo nas mãos de suas parceiras seja algo capaz de criar um vínculo de identificação imenso entre o que se expõe na mídia e o que se pratica entre quatro paredes.
A outra face do bondage é apenas uma 

tendência ligada ao direcionamento sexual de quem gosta do fetiche.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Química


Muita gente usa a química pra definir com propriedade alguns fatos da vida.
Relacionamentos são balizados pela suposta química entre os que se aventuram ao primeiro encontro às escuras. Transportado ao fetichismo a química é fator preponderante.
Fetiche sem química se resume a imagens repetitivas e comuns.
Atos inanimados de um teatro sem palco e sem atores. Flertar é positivo, cria identificação entre quem deseja o objeto na vitrine, mas sem o toque, o detalhe, naufraga sem rumo ou direção.
Intimidade é algo que as fotografias não revelam. Ajuda, é claro, apaga um pouco a inibição de quem atende ao chamado de quem postou a beleza esperada num lugar qualquer. Mas o toque, a proximidade, são fatores que a tecnologia jamais suplantará.
Então o sujeito gosta de pés. Admira as moças exibindo seus dotes e se esbalda salvando as fotografias que colhe de sua musa preferida. Se imagina presente, sonha, deseja. Mas não há alquimia que transforme o desejo platônico em realidade sem a participação dos dois pólos.
Nesse caso, o admirador padece diante da impossibilidade e sonha um dia tocar, beijar, sentir, cheirar e ter pra ele o que almeja.
Todas as fantasias têm uma origem. Não acontecem por acaso. Algumas vezes o desejo surge do nada e o fetichista, apaixonado e dependente aprende a criar espaço em sua vida pra conviver com dramas que terá de ultrapassar. Ser diferente parece abstrato, mas a realidade é complicada quando você se sente em distorção com o mundo ao redor.
Daí, ao encontrar quem comungue da mesma mesa e ache seu desejo legitimo a entrega é imediata. Porque sempre vai existir quem ache o fetichismo do parceiro saudável e interessante. Não pense que o mundo é só desarmonia. Há uma luz no fim do túnel.
Conheço pessoas que experimentaram fantasias e se encontraram de tal forma a ponto de construir seus castelos nesse alicerce. A vida é um encontro de possibilidades capaz de exercer esse fascínio em quem se atreve a perceber a novidade.
Portanto, se de um lado alguém se nega a tentar explorar atalhos de outro haverá quem tente através do inesperado achar a química perfeita.
Costumo dizer que no fetichismo não há espasmos e delírios fictícios. Claro que existem formas diferentes que ver o fetiche. Há os que admitem o fetiche sem rosto, sem identidade, e aqueles em que sentimento e desejo precisam andar de mãos dadas pra surtir efeito. Portanto, a química é distinta. E se há diferenças ela jamais será uma só.
É importante analisar por este aspecto uma vez que as pessoas têm por bem estipular que a química é um fator comum. Tesão é algo inexplicável, transcende os desígnios da razão. Dessa forma, a química seria pessoal e intransferível, aceitável em alguns casos, desde que a fantasia não extrapole os limites de quem se arrisca a experimentar algo muito novo.
Claro que a paquera sempre será o embrião de uma relação e sabendo dos desejos de quem se conhece fica mais fácil imaginar como mexer com o âmago de quem flerta do outro lado.

Alguns fetichistas deixam a timidez se embrenhar em meio a expor seus desejos, mas se ele souber trabalhar esse lado as chances de conseguir seu objetivo serão infinitamente maiores e, talvez, possa galgar parceria de onde ele menos espera.
Porque no fundo, todos querem ser o objeto do desejo de alguém. É fato.
Ainda que esse desejo se materialize por estar em perigo numa cena de seqüestro lúdico e combinado, acorrentada numa fictícia masmorra ou apenas ter seus pés endeusados por quem os observa sem o menor pudor.
Toda fantasia é válida desde que não violente sentimentos ou cause problemas em quem se dispõe a praticar.
Resumindo, a química está nesse conjunto de fatores quando se fala em fetichismo, uma necessidade extrema e totalmente relevante de estar diante do que tanto fascina.

O artigo de hoje é em homenagem a dona da fotografia acima que ilustra a matéria!