quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Noções



Soa como uma espécie de mantra citar critérios quando se fala em BDSM. Porque antes de qualquer escolha há que se ter critério. O praticante pode estar diante do seu fetiche, a dois passos da fantasia mais desejada, mas sem critério nem mesmo uma criança escolhe um picolé.  
A cultura BDSM é um campo de atração, pra quem chega e pra quem está também. Às vezes o fato de haver compartilhamento de idéias e fantasias é um estimulo. Evidente que esse compartilhamento deve ser sempre baseado em critérios. Porque gente de cabeça oca e mente em desalinho tem em qualquer lado, quanto mais num ambiente aonde se tem a impressão de que tudo é permissivo?
Mas reparem: se tem a impressão. Porque se houver o mínimo de bom senso o interessado precisa analisar até onde é permitido ou não chegar. A noção exata dos nossos limites várias vezes precisa ser testada, até por nós mesmos, mas seria insano e inconseqüente admitir que um simples convite para a pior das perversidades caberia na sua algibeira.
Cada qual que se aproxima do centro onde tudo ferve tem suas convicções. Chega admitindo e rejeitando. É fato, as pessoas trazem com elas de berço ou de apegos suas preferências, ou nem aqui estariam. Porém, existem desvios que muitas vezes passam a ser interessantes e que fazem o fetichista mudar de rumo. E ele pode mudar, sempre pode, desde que os critérios não se modifiquem.
E qual a razão de estar dissertando sobre isso?
Simples. Essa semana a mídia noticiou o envolvimento de praticantes de BDSM com uma menina menor de idade. Sabe-se lá o motivo que esta gente alega pra cometer um ato desse nível tão combatido dentro do meio. Mas como eu sempre insisto na tese de que a vida dentro do BDSM é um reflexo do que se traz de casa, essas pessoas provaram que não tem o menor critério ou noção. Porque toda prática deve obrigatoriamente ser precedida de consenso e uma pessoa fora da faixa adulta legalmente não tem.
Sim, alguém poderá dizer que esse tipo de conduta ocorre em qualquer camada social, em qualquer nicho ou comunidade. Concordo, porém, aqui, num meio aonde existe patrulhamento dos próprios condôminos quanto a esse tipo de atitude mundana o exercício da boa conduta deveria prevalecer dentro dos critérios destes praticantes.
Isso abala algum alicerce da cultura BDSM? Socialmente é um desastre. Porque nos jornais televisivos onde impera o sensacionalismo e o mundo cão as manchetes jogaram tudo pra dentro do mesmo ralo.
As práticas de BDSM receberam condenação social faz tempo e nem cabe recurso. E atos desta natureza somente colaboram para o linchamento que todos sentiram na pele. Porque ninguém prevê o desvio com a devida antecedência para que seja sugerido o banimento. Ele é sorrateiro, cretino, e vive camuflado numa masmorra qualquer. O exibicionismo pulsante o faz vir à tona e este tipo de pessoa se expõe baseado num anonimato que muito se vê por aqui. Mas todo anonimato é burro e percebível quando se faz uma grande cagada.
Claro que como tudo que se varre pra debaixo do tapete por essas bandas essa historia vai desaparecer e ficar esquecida numa pagina de internet ou nos arquivos da Record.

Mas sempre haverá uma mancha, e ainda que ela não seja lembrada dos portões pra fora, aqui dentro será assunto num fim de noite de um evento fetichista qualquer.
No exterior algumas praticas de sadomasoquismo são garantidas por contrato.
Por aqui isso foi ventilado no comecinho dos anos noventa e pouquíssima gente ainda faz uso desse instrumento. Há flagelos visíveis em algumas fotos postadas em sites, blogs ou redes sociais, que amanha poderá ser parte de um problema para quem se envolveu com isso.
Portanto, é hora de fazer uma releitura de tudo que envolve BDSM, seus praticantes e suas 

regras. Há muita migração de novos inquilinos para viver nesse condomínio. E isso faz com que o deslumbramento seja o grande inimigo da consciência.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Criando Cenas


A imaginação liga o fetichista diretamente à sua cena.
Não fosse assim os fetiches não seriam fantasias que se tornam necessárias.
Desse modo, algumas imagens colhidas no dia a dia se transformam no nirvana dessa gente que pira em seus delírios. O bondagista convicto que observa a moça parada para atravessar a rua com os braços pra trás ou no trabalho mordendo uma caneta, o submisso que baba ao ver uma mulher de porte dando ordens ao cachorro na rua e os podos e podólatras (sim há diferenças!) que acendem o fascínio quando deparam com as mulheres e seus pés.
Porém, nem todo dia é o dia da graça e as pessoas ao depararem com alguém que lhes chama a atenção bolam cenas indescritíveis que se resume num pensamento impregnado de lirismo.
Sim, o fetiche é um lirismo, quer alguns queiram ou não.
Perguntem a qualquer podólatra se ele ao vislumbrar um rosto que lhe salta os olhos não encaminha o olhar para os pés? Dá à lógica, ele desce em linha reta. Mas de repente a moça calça um sapato fechado e ele fica distante do objeto de desejo. Nesse momento cria a cena no imaginário. Lá ele identifica seus prazeres. O contorno dos pés se molda ao rosto que ele percebeu, assim como seu gosto pessoal define como ele desejaria que cada detalhe lhe coubesse como uma fórmula perfeita.
Entretanto, esse indivíduo literalmente consciente de seus limites irá guardar sua cena para uma aventura pessoal que virá. Porque não tem a menor lógica o camarada se atirar no chão em plena via pública para saciar sua fome fetichista. Tudo tem que seguir uma regra social de comportamento e a consensualidade é obrigatória.
Da mesma forma que não saio por aí vestido de cowboy com um laço na mão dando laçadas nas moças bonitas que cruzam meu caminho. Seria o cúmulo admitir que um fetichista se porte dessa maneira. Idealizar uma situação a partir de determinada ilusão tem lógica e é isso que se coloca em questão aqui.
Uma amiga dominadora por excelência e vocação me contou que surtou num dia desses ao ver um casal num shopping em meio a uma discussão. Parece banal o fato. No entanto, o cidadão era a síntese da obediência diante dos esporros que a mulher lhe dava em altos brados. Para as pessoas sem o fetiche martelando na mente a cena conotaria uma briga de casal e a mulher, no caso, seria taxada de mal educada. Mas a dominatrix viajou na história e criou seu cenário perfeito. Diz ela: “ACM, naquele momento eu só pensava naquele cara em minhas mãos e afloraram todos os meus instintos mais rústicos.”
Então, uma cena corriqueira que para qualquer pessoa sem tendências fetichistas teria um significado, acaba se transformando numa espécie de registro que posteriormente pode gerar um roteiro de uma prática.
Mas isso tudo não procura justificar qualquer comportamento tosco. Um bom fetichista conhece seus próprios limites e não pensa toda hora no seu desejo. Quando a cena sugere ele a enquadra no pensamento e guarda para sua próxima aventura. Evidente que há casos que extrapolam, como um que contei aqui de um sujeito louco por bondage que pirou numas cordas velhas de um caminhão de mudança e negociando por um bom preço as comprou no ato.
Muitos fetichistas não se dão conta desses detalhes, outros, porém, reconhecem a sua importância. E embora algumas cenas de imediato provoquem à libido de quem as identifica, outras, como os exemplos citados aqui, tornam-se relevantes para alimentar a veia da fantasia.

Casos como fetiche de “dangling”, por exemplo, provocam o efeito imediato porque acontecem de forma corriqueira e as pessoas que o fazem nem imaginam as suas conseqüências diante dos admiradores. Lembrando que dangling é o fetiche que desperta quando a mulher coloca e tira o sapato sem o auxílio das mãos, e ao mesmo tempo, equilibra o calçado em alguma parte dos pés, preferencialmente nos dedos.
Portanto, se a sua cena fetichista aparecer sobreposta por qualquer situação na próxima esquina, o melhor é gravar com cuidado na memória e fazer o dever de casa para tirar nota máxima!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Bondage: conceitos e desejos


Hoje o blog conta a postagem de numero mil em pouco mais de quarto anos.
E embora muito se fale aqui em entrega, submissão e outros (dentro de um conceito de fantasia, lógico), foi muito legal chegar até aqui.
E como não poderia deixar de ser resolvi abordar um assunto que responde por grande parte das postagens em todo esse tempo: bondage.
Não vou ser repetitivo e muito menos presunçoso ao evocar o fetiche que me toca, mas grande parte das analises e correspondências que chegam abordam esse tema. Claro que muito da minha própria tendência se reflete nas paginas do blog, entretanto, vale tirar duvidas, porque fetiche sem dúvida não tem graça. Fica vazio como papel planando ao vento.
Porque ainda que algumas imagens associadas ao fetiche sejam o carro forte da expressão de bondage perante seus adeptos e simpatizantes, a mulher amarrada em perfeita simetria de nós e cordas não é apenas o conceito principal do fetiche.
O nível de prazer de um bondagista não pode estar restrito a esse conceito. O trabalho de artesão que o bondagista desenvolve e exibe não enquadra todo o significado do fetiche.
Toda técnica desenvolvida no alinhamento dos nós precede de tesão.
E esse tesão ou desejo é fruto de uma sintonia que ele adquire quando dá os primeiros passos na direção do que lhe atrai. A mocinha amarrada na cadeira num filme de velho oeste, por exemplo, pode não apresentar um exuberante trabalho de cordas, mas cria o elo entre o gostar e praticar, que leva este fetichista a buscar conhecimento suficiente pra criar sua própria identidade no fetiche.
E essa semente brota em diferentes ramos que irão representar sua vocação fetichista.
E qual a ligação entre bondage e sadismo para estarem presentes na mesma sigla? O desenvolvimento da prática após a restrição de movimentos pode ser uma resposta, embora muitos considerem uma prática sádica o ato de restringir a parceira ou o parceiro de seus movimentos. Ainda que se defenda aqui um conceito de love bondage como regra pra trocar castigos por sexo quando do aprisionamento, é fato que tolher a pessoa de sua capacidade de reação e ainda obter prazer por tal circunstancia é um ato perverso.
Ora, fantasias sexuais são explicáveis na medida em que existem vários adeptos do mesmo conceito. E bondage talvez esteja inserido num contexto altamente permissivo o que em outras fantasias não aparece tão intrínseco assim.
Por exemplo, bondage aceita a troca com naturalidade. O chamado role-play tão em voga dita isso. A troca de comando em outras práticas sugere uma mudança radical enquanto em bondage isso é tão normal quanto trocar a roupa de cama. As cordas mudam de mão, o conceito acompanha com tranqüilidade e o prazer muitas vezes se multiplica.
A teoria da servidão e submissão se desmistifica no role-play de forma imperceptível sem manchas ou arrependimentos que levem os fetichistas a tramarem contra seus próprios egos.
Por isso, bondage é muito abrangente. O fetiche pode estar presente na vida de casais que por uma vez ou duas flertaram com essa teoria. O sujeito compra um par de algemas das mais vagabundas em sex-shops  e leva o fetiche pra casa sem perceber que se trata de uma fantasia lotada de conceitos, mas que no fundo, esse apanhado de regrinhas pouco se mostra eficaz diante do desejo.

Claro que o manuseio das cordas não se aprende da noite para o dia e é preciso praticar, errar, acertar e aprender para se tornar um mestre na arte de nós. Entretanto, esteticamente pode agradar a praticantes que enxergam na beleza de uma imobilização planejada a fonte do desejo.
Por outro lado, o ato simples de restringir movimentos e tomar as rédeas quando o assunto é sexo também promove o mesmo efeito, principalmente se quem está envolvido na fantasias buscar apenas a obtenção do prazer.

Que venham mais mil artigos...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Cientista


Na programação do sujeito estava o estudo do ser humano e seus desejos.
Estranhou quando se infiltrou num grupo de fetichistas e começou a descobrir que o paraíso pra aquela gente estava bem próximo. Porque estudar as pessoas e suas características é tão complicado como escalar o Pão de Açúcar.
Gosto é algo que se difere desde o parto. Dificilmente existirá a total cumplicidade na forma de gostar, de desejar. O que existe é o entrosamento entre os desejos quando se cruzam. Invariavelmente o cidadão sonhou de uma forma e a moça de outra, entretanto, eles se acham em algum ponto, conseguem ver um mundo muito parecido e daí aparece a química.
E se o papo descambar pra fetichismo vira um samba sem rimas.
Foi então que esse meu camarada astuto e felino resolveu se aproximar das pessoas que esbarrou nas conversas pela internet madrugada adentro e sacou a formula que tanto queria.
A psicologia explica algumas coisas. Nem tudo que surge na mente do ser humano é capaz de ser analisado por quem se dedica a esse fim. Nós mesmos temos dificuldades pra lidar com o aparecimento de desejos que pareciam ocultos ou adormecidos, de tal forma, conseguir transmitir nossas dúvidas complica a equação.
Então, para que alguém se diga um apaixonado por determinadas fantasias é preciso que isso venha de tempos, ou então, tenha surgido por impulsos obtidos através da acessibilidade ao assunto.
E o que faria meu nobre amigo farejador nesse gueto?
Procurava as suas próprias razões relacionadas com seus desejos?
Claro que alguém pode desenvolver uma tese ao se aproximar de determinados segmentos sociais sem ter a necessidade básica de pertencer a este ou aquele grupo. No entanto, se você pertence a tal nicho as chances de estar habilitado a absorver o mundo a volta é bem mais ampla e segura, por isso, se entrevista tanto, se colhe depoimentos.
Diferentes percepções garantem uma total isenção de quem se inclina a estudar um tema, mas não eximem fatores de aproximação quando se fala em prazer. E tesão não dá em árvore, em poste, acontece com pessoas, ainda que seja por uma noite apenas e nunca mais.
Flertar com o desconhecido é prazeroso. Quantas vezes alguém se viu inclinado a participar de alguma coisa diferente somente por achar interessante? Várias. O sujeito leva a namorada na casa de swing pela primeira vez e pode não ter desejos de dividir sua parceira, mas foi pra ver e mostrar que o prazer está além das quatro paredes de seu quarto.
E assim é o fetichismo para alguns. Uma paquera que deu certo e uma lasca bem tirada.
Só que o prazer em pedaços não comove, não se intera e não se reproduz.
Nesse instante, caberá ao sujeito interessado em estudar a aura fetichista ver suas necessidades como um todo, não por simples ceninhas elementares que quem está de fora aprecia num evento. O cara que se deita no chão pra ser pisado por uma mulher gostaria de levar a cena pra casa, pra vida inteira, e às vezes só consegue o flerte, o dedal no dedo mínimo enquanto segue na sua busca.
Tudo isso se deve a divulgação do fetiche e a mídia aproveita e se apodera de fatos ainda que de forma desordenada e infiel. O aparecimento dos cientistas que procuram entender as pessoas em seu meio é conseqüência disso.

Todos querem saber como tudo se processa e acham que através de incursões ou diálogos com pessoas de dentro da roda é possível descobrir todos os caminhos que se percorre nesse universo.
Ledo engano!
Se nós que militamos nestas hostes ainda carregamos nossas dúvidas e mitos, que dirá quem bate à porta a procura de informação?
Finalizando, que os cientistas e demais curiosos sejam bem vindos. Que cheguem sem pressa, entendam as pessoas, e terminem enrolados 

numa corda ou empunhando uma chibata, ou simplesmente, levem uma boa lembrança.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Pro Resto de Nossas Vidas


86.400 segundos por dia. É nesse compasso que nossa batida toca.
Cada passo representa uma conquista. Pouco importa o valor que possua, mas é uma conquista. Um ato simples que seja, uma ação.
Ninguém está obrigado a entrar para a história, mas deve saber viver a sua própria. Carregar suas lendas, desmistificar o óbvio e fincar raízes. Pois quando alguém fala em BDSM, uma espécie de liga que reúne gente que abraça fantasias quando resolve transar tem-se idéia de um clubinho fechado, onde alguns síndicos criam atas, elaboram proclamas e distribuem selos de conduta.
Mas não é nada disso. BDSM se pratica até em casa, sem a menor necessidade de aderir a algum grupo, algum conselho. A adesão permite interação e isso ajuda no crescimento e estudo das práticas, mas a leitura e conhecimento também são essenciais e qualquer um tem livre acesso.
Basta apenas ter o desejo de levar algo novo pra própria existência, escrever uma nova historia e vive-la intensamente, como se fosse o primeiro dia do resto de nossas vidas.
Porque quem se encontra nesse mundo, nesse desejo, deve preservar o que tem em mãos. Não é tão simples admitir as nossas próprias loucuras senão pra nós mesmos, e quando há recepção os dias ficam azuis. É fato, o fetichista é gênio pra quem por ele se interessa e louco pra quem lhe renega. E não precisa ser um dinossauro, ter 300 anos de BDSM pra perceber isso.
Daí alguém aparece e me fala de ética, conduta e outros mais. Claro que tem relevância, principalmente quando o fetichista se envolve com o meio, seja de forma virtual ou real. No entanto, alguns conceitos não se modificam quando da entrada das pessoas num meio social, porque tudo, até a educação se traz de fora. Somos espelho dos nossos próprios atos e pensamentos, e isso se refletirá dentro do BDSM ou em qualquer outro meio participativo.
Então, todo esse papo xarope de movimento daqui e de lá, de gente querendo implantar ordens disso e daquilo é conversa pra boi dormir. Algumas pessoas têm o hábito de tentar formar uma opinião e que essa opinião alcance eco nas mentes alheias.
BDSM é sexo, é prazer, é fantasia, e não há quem coloque na cabeça de alguém a forma correta de sentir tesão.
E por se tratar de um nicho social aonde as pessoas têm o hábito de se encontrar, ainda que de forma totalmente virtual a principio, as conversas ecoam e tomam proporções avassaladoras. O que é totalmente desnecessário. Perder tempo com bobagens é esquecer que a vida é curta, os desejos estão na pele e viver as melhores coisas da vida ainda é a grande sacada.
Posso postar aqui, na ordem, diversos cadernos de conduta no BDSM. Servirá como base, como fonte de consulta ou até como aprendizado para os que chegam, mas cada qual deverá ser sempre patrulheiro de seus próprios atos ao se aproximar de alguém e buscar o que procura.
Por isso, quando escrevi no começo do artigo que cada um tem que escrever sua história no BDSM me referia justamente a quem não abre mão de estar plenamente identificado com o fetiche que carrega. Arrependimentos e culpas são dolorosos e às vezes causam feridas em quem tem profunda identificação com tudo isso.

O que não proíbe ninguém de pensar e agir por impulso, de forma diferente do que a liturgia prega, afinal, como eu disse, não há donos ou síndicos nesse meio capaz de regular o que se passa dentro das mentes das pessoas que resolvem viver suas fantasias.
Em resumo, a ética está dentro de nós. Está em cada proposta e negociação, ou até, antes e depois de cada envolvimento dentro do meio.
Todo debate é válido, mesmo que não seja conclusivo. Isso mostra a divergência de opiniões e pensamentos, que se alinham ou tornam-se 

desconexos na medida em que não contribuem para o crescimento dentro do BDSM.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O Que a Mente Produz


Quando alguém fala em fetichismo imediatamente uma palavra deve ser associada: imaginação. Parece metafísica a coisa. O pensamento produz causas e efeitos que mais tarde, uma vez materializado, será o resultado perfeito. E quem sabe correto?
O fetichismo admite tudo, ou quase tudo, enquanto fica trancado na mente. Engana-se quem pensa que a perversão está apenas nos gestos. Ela tramita, sofre mudanças e rumos até se tornar realidade.
É comum ver fetichistas elaborando suas cenas através de fotografias em redes sociais, principalmente aquelas destinadas ao assunto. O gueto se forma, as pessoas alinham-se por afinidades e compromissos, e cada um descreve seus sonhos por frases ou imagens.
Evidente que vencer barreiras, preconceitos e timidez não é tarefa simples e muitos acabam por se tornarem prisioneiros de suas próprias idéias. É o barco que não zarpa e o carro que custa a pegar. Porque o fato de ser um fetichista assumido não elimina entraves constituídos ao longo da vida.
O fetichista precisa entender seu fetiche como uma necessidade. Por mais anormal que possa parecer aos olhos do mundo, não é desastre alguém admitir que uma fantasia é capaz de transformar a inércia em atitude. Por isso, é tão complicado entabular uma relação que parte do fetichismo com alguém que simplesmente ignora a existência desse elo. Para as pessoas em que o fetichismo não faz o menor efeito, o fato de admitir uma relação com alguém com essa característica é encarado apenas como uma mania simples, que pode ou não se tornar lugar comum.
Obviamente, a mente dessas pessoas que simpatizam com o fetichismo não será capaz de criar a mesma ligação entre a imaginação e a necessidade, como é comum em quem tem o fetiche como uma marca de nascença.
O que faz a roda girar, e por sua vez, é passível de acomodar pessoas com o mesmo interesse é justamente essa harmonia de pensamento. Cada vez mais pessoas se descobrem abraçando causas que irão representar seu próprio bem estar. E se às vezes falta união sobram idéias.
E o fetichismo é claro, límpido e cada dia mais universal. Não existe um idioma comum, um Esperanto que possa servir de base para diálogos e debates, entretanto, as imagens resumem interesses. Certamente, se uma imagem aparece num portal na China e te salta os olhos, o idioma fica em segundo plano, prevalecendo sempre à interação entre o criador da cena e o atento espectador.
Porque a mente fetichista produz o que olhos anseiam por ver. A internet ajudou a globalizar o que era restrito a currais escondidos e cercados por preconceito. E aproveitando esse evento, desde que exista respeito por tudo que o fetichismo coloca a disposição na rede a convivência sempre será pacifica.
Certa vez alguém me perguntou de onde tiro idéias pra ajudar a construir um portal de apelo comercial onde as cenas não podem ser repetitivas. No meu entendimento rola uma mescla do que eu absorvo como fetiche e daquilo que outros apresentam em suas páginas e causam a melhor impressão quando atento observo.

Resumindo, tudo que o fetichista precisa pra conviver com seus desejos e sonhos está na forma simples de lidar com os próprios segredos. De nada adianta criar um perfil, freqüentar festas e eventos e manter-se apenas como um observador das virtudes alheias. É necessário tentar, viver o que a mente é capaz de gerir como a fantasia perfeita.
Eu nunca tratei meu fetiche como uma pecha, pelo contrário. Muitas vezes é complicado admitir como seriam meus dias sem essa roda que me deu e dá tanta satisfação. E dessa forma todos, sem exceção, deveriam pensar, e, simplesmente, deixar que as fantasias passem 

do imaginário à realidade com naturalidade, apostando sempre na próxima cena.