sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Culpa do Mordomo


E não havia mais calor onde estavam...
O afeto tinha tirado férias, a louca vontade de encontrar, de sorrir e festejar chegava agora por correio dentro de uma caixa vazia.
O tempo era o mordomo. Não pouparam o infeliz que já fora sentenciado a morrer empalado num calabouço qualquer e ter o corpo, ou as sobras, atirado num oceano. Vá lá que a convivência é um erro quando não se está preparado pra tanto, mas se os cálculos não encerram em números corretos a ponte se parte e cessa o caminho, ceifando o destino.
Meu chapa, você voltaria no tempo se soubesse. Concorda? Se ela chegou de mansinho implorando por tua bravura, mão firme e voz imponente, jamais poderia se transformar no meio do enredo. A submissa que experimentou os dois lados e depois escolheu apenas um, nas tuas barbas, diante de teus olhos agora incrédulos quando antes eram de desprezo.
Pois é brother, ela se foi. Tomou o rumo que achou por bem seguir e te deixou na mão.
Agora você vai precisar do tempo outra vez. Ele será novamente o culpado, mas dessa vez, ao contrário, por passar tão devagar, tornado os dias mais longos e as noites sem fim. Porque aquela menina que você trouxe pra dentro da festa hoje empata contigo, dá as cartas, e você sem nenhum compromisso patético com mudança de identidade jamais se submeterá a ser dominado por ela. Logo ela!
Rapaz, o universo fetichista já publicou muitas histórias parecidas com essa. Parece coisa de doido, fica meio sem pé e sem cabeça no começo, mas toma forma, sai da fase ectoplásmica pra virar realidade logo ali na esquina. É ou não é a síntese do descompasso? O dom que virou sub, a sub que virou domme, a rainha esfolada no próprio trono assistindo ao dom levando uma inversão no tapete da sala...
Pois é malandro. Junte seu orgulho e toca o barco pra frente.
Se ela rachou a moringa é porque não existia mais um gole d’água pra beber.
Anos e anos, aprendizado, ensinamento, e daí? Ela está apenas exercendo o que se chama de direito de escolha, e você brother, nesse momento, não faz parte dos planos que ela traçou.
BDSM é fantasia cara! Aqui nesse cantinho escuro a escravidão não passa de um estado de espírito. Vai ver que ela gostou tanto do que viveu que resolveu experimentar o outro lado da moeda? E como você não lhe deu a mínima chance, ou quiçá esperança de um dia pular a cerca, ela entendeu que era hora de partir. E foi!
Tira umas férias, depois volta com tudo. Quem sabe vocês se encontram na próxima festa e...
Ta legal, você não vai querer ver essa cena, já sei. Pelo menos agora, o enterro foi ontem, mas lá na frente já com outra na ponta da sua coleira a cena nem te cause tanto embaraço assim.
Abre o olho brother! Olha pra tua identidade e verifica a data de nascimento. Agora pensa bem e analisa quantas vezes na vida isso já ocorreu? Não importa se tinha algum fetiche na história ou não, porque quebra de relação é a mesma coisa, aqui dentro e lá fora.
Bom, está ficando tarde. Vou partir.
Pede a conta e vamos rachar. Olha, conheço uma moça de vida horizontal que topa umas paradas mais ousadas, tipo submissa mesmo. Um amigo já foi lá e disse que é bater e valer.
Sem trocadilhos, certo?
Quer tentar? Nessas horas ajuda, dá uma força e você vai pra casa mais aliviado...

E tem outra coisa: pára de ficar pensando nela. Com quem ela está, como está e coisa e tal, porque até uma semana atrás o senhor estava literalmente cagando pra isso, portanto, não vá agora dar uma de bom moço hein?
Ah, já ia esquecendo. Esse negócio de afirmar aos quatro ventos que relação fetichista é diferente da vida real é papo pra boi dormir, concorda ou vai insistir nessa tese? Porque quando a coisa esquenta e existem duas vidas em jogo, uma delas vai vencer a batalha. Lembre-se disso e vai na boa. Abraços!


Desejo a todos um feliz 2013 e agradeço a presença por mais um ano por aqui!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A Outra


Nunca tive a intenção de transformar esse espaço num blog de reportagens, ainda que fossem fetichistas. Por outro lado, as histórias de experiências fetichistas jamais transbordaram minha cota. Adoro receber esses casos e repassar aqui. Creio que soma.
Essa não vem de uma mariposa apaixonada de Guadalupe e tão pouco de algum caminhoneiro chamado Arlindo Orlando, mas é muito legal e deixa uma pulga atrás da orelha. Quer ler?
O sujeito tinha um fetiche comum. Tão comum que era possível contar numa roda de amigos.
Gostava de assistir, como um bom voyeur, duas mulheres se pegando.
Esse é daqueles fetiches que por mais estranho que possa parecer ninguém se atreve a argumentar o contrário. É como fetiche por bunda, ainda que seja renegado jamais é enxovalhado. Ces’t La Vie...
Num dia entre Janeiro e Dezembro de um ano qualquer, nosso amigo fetichista resolveu que era hora de correr atrás de sua fantasia, e não mediu esforços para conseguir o que queria.
Começou uma cruzada sem limites na tentativa de convencer sua namorada de dois anos a participar de suas folias. Gastou baldes de saliva, comprou todos os vídeos com cenas de mulheres transando, e teve seu esforço recompensado quando sua gata aceitou “colaborar”.
Tinha tudo planejado. Instruiu sua mulher a entrar em salas de bate-papo para interagir com outras meninas em busca da tão desejada terceira pessoa.
Conta que depois de muito garimpo, com sua participação direta e efetiva, algumas garotas deixaram o mundo virtual e encontros foram marcados. Um chopinho aqui e outro ali foi o suficiente para descobrir entre três ou quatro candidatas a parceira perfeita.
“ACM, ela era um sonho. Tão bonita quanto a minha namorada e apesar de deixar claro sua escolha sexual tinha muita feminilidade aflorada”.
Das mancadas nas primeiras transas a um desenrolar perfeito nas subseqüentes, o trio esbanjava energia em cada novo encontro, que se sucediam com mais força criando uma dependência esquisita a qual o cara não estava acostumado, e pior, nada daquilo havia sido planejado.
As transas comportadas de antes desapareceram e só rolava tesão se a “amiga” estivesse no meio da conversa.
“Minha participação foi diminuindo a passei a ser literalmente um mero espectador”.
Antes que a porta do quarto fosse fechada na sua cara, o cidadão foi chamado na chincha pela namorada que lhe deu três sapatos: um em cada pé e um na bunda. Dois anos e meio de namoro foram pro espaço e o sujeito entrou numa paranóica dor de cotovelo.
Tentou demover sua ex-mulher de todas as formas e nada. A outra tomara seu lugar.
“Em pensar que fui eu quem criou todo esse cenário de terror dá vontade de me jogar da ponte Rio - Niterói. Jamais imaginei que uma mulher que sempre apregoou aversão a ter sexo com outra mulher fizesse essa opção. Meus dias ficaram nublados por mais de quatro meses e só agora começo a entender e saber onde eu errei”.
Moral da história: sinceramente, não há.
Pode ser que alguém tenha uma posição definida quanto a este episódio, mas eu fico com a idéia de que ela achou um elo perdido, alguma coisa adormecida por dentro que despertou ao primeiro chamado, ou então, partindo pra briga, o cidadão não estava “com a bola que achava que tinha”.

Alguém chegou comendo pelas beiradas e levou tudo.
Realmente a sensação de perda é horrível. Não importa se existe fetiche ou não.
Não me venham com teorias machistas de que perder para outra mulher é ainda pior. Acho que ficar chupando o dedo é ruim em qualquer situação.
Melhor deixar que cada leitor ou leitora tenha a sua opinião.
No lugar dele eu aceitaria, ainda que fosse doloroso ou levasse um tempão. Só não abriria mão do fetiche, mas teria todo o cuidado do mundo da próxima vez.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Successive Slidings of Pleasure (1974)


O diretor Alain Robbe-Grillet no meio da década de setenta apostou no cinema surrealista totalmente baseado no começo do cinema francês de Luis Buñuel e Salvador Dali, e criou uma obra condenada por muitos críticos da época, mas que se tornou um clássico.
Successive Slidings of Pleasure ou “Glissements progressifs du plaisir”, rompeu com dogmas e trouxe a tona o complexo paradoxo que envolve os mistérios que cercam os calabouços de instituições religiosas conservadoras. Um prato cheio para ferrenhas críticas e um néctar para fetichistas que têm loucura por essas cenas.
O filme conta a história de uma jovem estudante que é questionada por autoridades policiais e religiosas, após seu companheiro de quarto ser encontrado amarrado e assassinado. Só que não fica claro se seu companheiro de quarto é realmente uma pessoa real ou apenas um manequim concebido através de uma obra de arte bizarra, e não fica claro também se realmente ela está sendo questionada antes ou depois que ela comete esse "assassinato".
O pecado está no excesso. Surrealismo demais confunde, interioriza a obra ao âmago do diretor. Mas esse era o cinema francês.
Entretanto, todo o fetichismo está bem explícito nas partes em que o diretor se atém a cenas de praticas de bondage e sadomasoquismo. Seriam perfeitas, fossem elas totalmente compreendidas e tivessem inseridas diretamente no roteiro. O melhor é dar atenção a plasticidade das cenas ao se concentrar em alguma coisa que faça sentido.
E a parte fetichista da obra de Grillet é um supra-sumo.
Além da beleza da protagonista Anicee Alvina, as cenas agradam a vários segmentos do BDSM, principalmente aos amantes de jogos de dominação e submissão. A atmosfera, o ambiente, as cores escuras de um calabouço onde freiras comandam sessões de torturas e sexo lésbico, onde cordas e correntes aprisionam mulheres lindas nuas, tudo isso é parte de um contexto que se pra muitos é sinônimo de perversão, pra outros é puro prazer e delírio.
Fetichismo é fantasia eloqüente realizada com requintes. E não faltam requintes no excelente cenário do filme.
Como vários outros cineastas franceses da época, Robbe-Grillet criou uma obra experimental, característica dos filmes não-narrativos, adicionando elementos sexploitation-softcore, mas procurou não "vender" tanto para o ângulo de sexploitation como alguns de seus antecessores – homens como Jean Rollin ou Borowzyx Walerian.
Há muito pouco sexo e generosas doses de erotismo no filme, além de uma espécie de perversidade polimorfa extrema que às vezes é bastante perturbadora.
O cinema europeu de uma forma geral sempre ousou flertar com ares inquisitórios da idade média em suas produções. O que está nos livros de história jamais mostrou uma verdade absoluta e, por isso, gerou todo esse clima de mistério que essas produções trouxeram a baila justamente nos anos setenta.
Criou-se uma antipatia entre as autoridades religiosas e os homens que produziam a sétima arte. Órgãos de censura chegaram a intervir em alguns casos e outros pela pouca divulgação passaram incólumes.

Successive Slidings of Pleasure não alcançou sucesso de bilheteria e público quando exibido nos cinemas, como tantas outras produções do gênero. Hoje é um filme rotulado de Cult como quase todas as obras desses grandes cineastas que o cinema da Europa dos anos de liberação mostrou ao mundo.
Pra os cinéfilos apaixonados por cenas fetichistas uma excelente dica pra ter na sua coleção.
O filme pode ser adquirido remasterizado em

DVD ou para quem tem muita paciência alguns sites disponibilizam o download gratuito na rede.

Fiquem com um trecho do filme.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O Amargo da Língua


Viver é um ato que precede de escolhas.
O ser humano constrói seu ciclo através do tempo. Algumas pessoas aparecem e desaparecem com extrema facilidade e outras viram cativas. Nada disso é novidade e todo mundo com alguma consciência aprendeu durante a própria existência.
Normalmente o que se espera é que estas pessoas pertençam a um grupo que aceite as suas escolhas, claro, sempre e quando essas escolhas sejam apresentadas às pessoas que fazem parte do seu convívio. Mas o fetichista é retraído quanto a isso. Não raro se vê isolamento.
Mesmo nos dias de hoje com o grande barato que é a Internet onde tudo é permissivo e quase anônimo, muita gente se mantém no escuro. Personagens criados a partir de devaneios com o desconhecido criam vida através de perfis pré-fabricados com a clara intenção de serem úteis.
E nessa onda, toda utilidade é bem vinda.
É como abrir um livro, se embrenhar pelas paginas, criar uma identificação com tudo que aparece nos capítulos e viver protegido pela estranha forma incógnita. Sim, porque diante dos amigos, do tal grupo que foi construído ao longo da existência, certas taras não existem. Dão-se em função desse tipo de esconderijo, relacionamentos sem sentido e casamentos desfeitos. Tocar na ferida é chato, mas pior é esconder.
Quem – como eu – não passou por isso levante o dedo e fique com ele em pé!
Porque é desumano conviver com duas pessoas dentro de nós mesmos. A velha síndrome do médico e do monstro é cultivada em silencio e ninguém percebe. Claro que alguns irão dizer que não existe um psicopata morando com eles, isso é fato, mas há dois caminhos e apenas uma cabeça pra decidir o destino.
Quando o sujeito traz com ele essa dúvida do berço ainda consegue ter um pouco mais de habilidade pra tentar levar adiante sua trama. Ele aprende desde cedo a ter a performance de um equilibrista e se dá bem com o arame. Entretanto, existem pessoas que por uma razão qualquer se deparam com situações extremamente atrativas sem dantes perceber, e nesses casos, estabelecer essa dualidade é bastante complicado.
Toda iniciação ao fetichismo advém de um relato bem feito ou de um foto bem postada.
Escrevi isso porque ontem alguém me chamou a atenção quando postei minha cara aqui, com um sorriso de orelha a orelha mostrando os dentes. “Poxa ACM você ficou mesmo maluco ou está gagá”. Juro que li isso hoje cedo. A essa altura do campeonato todo mundo que se liga em fetiches nessa terra atrasada e preconceituosa de nascença está cansado de saber que quem escreve esse blog tem essa cara feia que fez parte da postagem de ontem. Feia, mas feliz.
Faz alguns anos eu evacuo um quilo exato pra esse papo de exposição.
Não quero com isso, e sequer pretendo, fazer a cabeça de todos para seguirem meus passos. Cada qual tem o sagrado direito a escolher o que bem entende para sua vida. Apenas fiz essa opção e faz tempo, aliás, muito tempo. E mesmo assim ainda guardo meus monstrinhos por perto, porque nem sempre se pode exteriorizar aquilo que se pensa.
Faz mais ou menos um ano falei do blog a uma pessoa que prezo muito, uma amiga, muito religiosa e ela simplesmente me excomungou do seu rol de amigos. Engraçado que vez por outra ela me acha pela internet e pergunta se ainda estou escrevendo essas coisas esquisitas.
Vai ver que gostou, mas a demência não deixa que ela ultrapasse a fronteira que o Pastor impôs. Sempre as escolhas...

Mas se nem tudo são flores ainda restam belos ramos a serem colhidos por quem curte a vida de forma diferente. Quem quer enxotar de vez a monotonia de seus dias e evitar o marasmo da mesmice. Se engana quem pensa que todo fetichista é poligâmico. Isso é uma opção, e a monogamia é muito bem compreendida por quem consegue encontrar a pessoa certa pra viver os melhores capítulos de um livro que pode ser escrito a quatro mãos.
O que prova que nem sempre a língua tem um sabor amargo.

Um bom final de semana todos!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O Embrião


Foi num fim de tarde em junho de 2010.
Sabe essas coisas que dão um estalo? Pois. Vinha tramando, conspirando e formatando idéias pra criar um site nacional. Mulheres brasileiras em poses de bondage... O público era reduzido, apostei isso com a Monica de forma até pouco usual na época, mas se isso iria aparecer em cena algo deveria ser dito.
Sentei pra escrever um blog com compromisso de por quatro anos funcionar como um diário, tirando finais de semanas e feriados porque ninguém tem lombo de burro. A idéia era falar de bondage e esperar a aceitação dos caras escondidos detrás das telas ávidos pela novidade.
Foquei as primeiras matérias na explicação do fetiche. Afinal, que porra é essa de do nada aparecer uma mulher toda amarrada numa cadeira, numa mesa, numa cama ou até mesmo no chão, se contorcendo e fazendo cara de vitima de algum algoz? Esse era o pano de fundo!
Mas a galera foi chegando e outras taras se juntaram à ceia dos bondagistas.
Passou a fazer mais sentido dar nome ao blog incluindo a palavra fetiches. Claro que dentro de bondage existem fetiches relacionados com a própria fantasia. Inúmeras são as nuances que levam os apreciadores de cenas desse segmento a escolher determinados critérios. Porém, o fetiche que apareceu no blog era mais amplo e chegavam pessoas de todos os lados com diferentes visões fetichistas e era preciso explicar a que universo essa galera pertencia.
O bloguinho então tomou corpo e forma.
Vieram os gringos. No começo, fascinados pelas primeiras imagens de donzelas em perigo Made in Brazil, através dos recursos do tradutor do Google iniciaram uma garimpagem pelas paginas que se multiplicavam no dia a dia e passaram a ser presença constante. Diversos portais fetichistas davam link ao blog e isso atraía muita gente de fora querendo saber o que rolava nessa terra tupiniquim.
O movimento cresceu. Outros blogs foram aparecendo e se juntando criando uma blogosfera com um perfil próprio. Estava formada a conspiração.
Sem muita pretensão e passados mais de quatro anos desde a criação do espaço, apresentei o blog na lista de candidatos ao Bondage Awards 2012. Não houve campanha alguma, muito menos lobby para pedir votos ao bloguinho. A pretensão era curta. Mas no fim das contas, de roupa nova atendendo a pedidos de leitores que consideram o preto um fundo complicado para a leitura, reservei um espaço à direita da página aonde está a medalha recebida na noite de ontem e que agora faz parte da história desse pequeno portal exatamente como contei aqui.
E eu que de Junho pra cá diminui consideravelmente a quantidade de matérias postadas me sinto muito orgulhoso de receber esse prêmio. Porque escrever um blog não é uma tarefa tão simples, principalmente quando você tem a intenção de estabelecer um critério elucidativo ao tema. Da mesma forma que as idéias brotam elas às vezes se escondem, e postar diariamente por quatro anos seguidos não foi tão fácil.
Mas cá pra nós, tem muita coisa boa dentre as mais de mil postagens em arquivo.
Momentos dos mais diversos, fases da minha vida que se misturam com as linhas escritas. Lembro que certa vez viajei numa loucura de reunir todo mundo ao redor de uma fogueira e falar de fetiches. Talvez tenha sido esse sentimento que me moveu durante todo esse tempo a digitar os assuntos e dividir com quem me deu a honra de prestar a atenção no que quis dizer.
O tempo voa é verdade...

Muita coisa aconteceu nesses quatro anos e meio de existência do Bondage e Fetiches.
Entretanto, a essência é a mesma. O pensamento segue cartesiano e a medalha é apenas um ponto comum que une a perseverança e a vontade de ser cada vez mais autêntico e mostrar amor pela causa.
Por fim, dividir essa medalha. Não com elenco como no filme, no site, mas com vocês que durante todo esse tempo estiveram aqui, sem importar em que época, em que fase, porém ao lado criticando ou aplaudindo. 

Muito obrigado de coração!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Reconhecimento

Recontar histórias não faz parte das minhas predileções.
Quando resolvi encarar as feras da indústria fetichista lá fora e lançar uma produção por conta própria, sabia exatamente o tamanho do desafio. Tá certo que já existia uma reciprocidade com o publico consumidor desse tipo de produto através do feedback do nosso site. Imaginava que uma volta ao tempo das produções longas poderia recriar um cenário.
Cheguei a segurar uma ansiedade louca pra criar uma nova peça desse tipo por conta do resultado que o filme The Resort alcançou em dois anos. Foram inúmeras menções de aceitação recebidas de todas as partes do globo.
Claro que toda grana é bem vinda e as vendas respondiam ao que foi calculado. Aliás, foram além, muito além. E na madrugada de hoje quando saiu o resultado do Premio Bondage Awards 2012 e conferiu ao nosso filme o primeiro lugar foi inevitável uma volta no tempo. A origem sempre é a causa mais importante, a que dá sustentação a tudo que se ousa fazer.
Hoje eu talvez tenha uma visão mais consistente do quanto foi duro estabelecer um critério para um desafio. Isso se pode medir ao mesmo tempo em que não se deve mensurar os méritos de todos que se envolveram de corpo e alma no projeto. Quem apareceu na tela e mostrou o fetiche real e sem truques, um dos fatores que contribuíram para o sucesso do triler, e aqueles que estiveram por trás dando suporte, comprando uma ideia visionária e meio transloucada de um doido fetichista cinquentão.
Nosso trabalho foi premiado num todo.
O site subiu e levou a quarta colocação dentre muitos. A construção do site e das cenas, que cabe a este escriba aqui, levou desta vez o terceiro lugar com o que eles chamam de “Rigger”. A Terps ficou como a quarta melhor modelo/atriz de bondage e, esse bloguinho aqui, esse pedaço de tela que dividimos há quatro anos e meio levou um primeiro lugar que sinceramente nem eu mesmo esperava. E sobre isso prometo falar amanhã.
Evidente que vale um agradecimento mais que especial a todos que apoiaram a campanha. Aqueles que perderam um pouco do seu tempo fazendo registro e dando seu voto. Foram muitos amigos e amigas em incansáveis tentativas de ajudar votando. Ao júri que confirmou o resultado e de certa forma referendou uma vontade popular, aos assinantes do site que votaram de todas as partes do planeta e aos amigos que me deixaram e estão deixando mensagens no Fetlife de congratulações.
Essa é uma divida que tenho a qual pago com o meu reconhecimento.
Fiz questão de focar o artigo no filme The Resort pelo que li hoje após a publicação dos resultados no fórum do Bondage Awards. Incontestável, assim as pessoas que movem esse universo dos sites comerciais encararam o resultado do prêmio. E isso me enche de orgulho.
E a concorrência era pesada. Basta conferir os resultados finais.
Por isso, se alguém me perguntar hoje quais são os planos para o futuro eu não saberei dizer.
Nesse momento há um entrave entre o site e o Governo sobre o nome utilizado. Uma longa briga em tribunais se anuncia porque não aceito a pecha que o Governo quer me fazer engolir de que há divulgação de material pornográfico por um portal usando um nome que afirmam pertencer a eles. Na verdade, o país é de todos, o Brasil é de todos, o nome é nosso.
Em consequência desses acontecimentos a alegria não é completa.
Aqui não se reconhece iniciativas desse porte porque tudo está camuflado em mentiras históricas, em hipocrisia de uma sociedade que vive num mundo de fantasia contado por meia dúzia de políticos corruptos e religiosos neuróticos com pavor de perder o controle do rebanho.

Assim sendo, fica um hiato. O site fora das nossas fronteiras é muito bem quisto, o filme arrebatou pessoas de corações fetichistas e tudo isso me remete a pensar que estou no lugar errado fazendo a coisa certa.
Mas é dia de festejar e agradecer. Os lorpas que se tranquem em suas salas lotadas de ignorância e mentes vazias e preparem o próximo passo. Enquanto isso, eu prefiro ganhar meia dúzia de medalhas e dizer a todos o quanto vale a pena fazer um trabalho sério e sendo

reconhecido, ainda que bem longe da porta de casa.
Muito obrigado a todos!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Falta que faz


Ando com saudades de pessoas.
Principalmente aquelas que de alguma maneira marcaram minha vida quando o assunto é fetiche. Tá legal, que seja BDSM. Porque tem leitor(a) aqui exigente demais nesse aspecto. Dizem que falo muito em fetiches e pouco em BDSM.
E de algumas dessas pessoas que me fazem falta sempre é valido pegar alguma lição de vida, um exemplo.
Porque BDSM é igual à roda de capoeira. Tem muita gente pra dar banda e pouca pra cair.
Acha exagero? Faz uma reflexão, fim de ano chegando... Sempre é bom.
E essas pessoas as quais me referi sempre trouxeram algo a somar nos meus dias fetichistas. Desde comportamentos, teorias e outros exemplos mais, até o fato de assumir certas tendências. Porque não é fácil assumir algumas fantasias no universo BDSM. O fetichista nasce envergonhado. Desde cedo convive com diabinhos que o atormentam e o fazem dar um passo atrás toda vez que ele pensa seguir um rumo. Estou errado galera?
Daí o sujeito pra vir a público, ainda que no anonimato, e assumir que gosta de inversão, fio terra e algumas coisas bizarras é complicado. Da mesma forma que eu assumo que mulher amarrada pra mim não é paisagem e tão pouco uma cena de dar dó em novela de TV. É tesão na veia brother e não dá pra ficar de esconde-esconde.
Admiro o podólatra que gosta de pé imundo e assume. Qual o problema? Se as pessoas acham nojento, anti-higiênico é problema de quem pensa assim. Se o sujeito gosta, vamos respeitar. O tesão é dele, o problema é dele, o chulé quem vai cheirar é ele...
Voltamos, então, ao assunto da roda de capoeira. Começo a ter um pouco de razão.
Porque basta fuçar e sempre haverá uma historinha que condiz com o fato. Já está na hora de parar com essa babaquice bucólica de olhar pro fetiche alheio e torcer o nariz. E isso pega mais que gripe de inverno. Atravessa cidades e se funde numa imensa nuvem de fofocas. O jogo do dominó que um leva o outro até o destino final.
Porque fulano é isso, fulana é aquilo, e por aí vai. Antigamente um munch fetichista era um lugar de discussão de práticas, de cultura e até quando se marcava plays e festas. Hoje, salvo alguns casos, é lugar de meter o sarrafo na vida alheia na cara de pau.
Já ouvi pérolas tipo: “essa festa vai ser uma merda, só tem podolatria”. Ótimo, se não agrada não vá mesmo. Mas sentar o sarrafo em quem se esmera pra promover um evento é uma burrice cósmica, sem nexo.
O grande barato é que o fetichista não se rende. Vejo gente jovem chegando e metendo a cara sem medo. Os caras mandam ver, chegam a infestar sites de relacionamento com festas, leilões de pés de musas e isso me anima. Porque começo a vislumbrar uma nova fase no nicho.
Lembro de um tempo não tão remoto onde as coisas aconteciam numa surdina tremenda e até a divulgação era pouca ou quase nenhuma. Se resumia a um imenso boca a boca.
Está mais que na hora de dar uma bola pra essa galera que chegou com força e não desanima.
Gente que não tem medo de entrar na roda e levar banda. Gente que divulga o que gosta e dá o exemplo a quem não se identifica de criar seu próprio espaço e canal e sair por aí em cima de um caixote nas redes sociais, nos blogs, alardeando que tem uma festa tal acontecendo ali.
O universo fetichista não tem dono e as coisas acontecem pra quem chega na frente, já dizia Barbara Reine há muito tempo atrás.

Se não der pra juntar cinqüenta ou cem pessoas bola uma play que absorva todos os pares que comungam de uma mesma linha de pensamento. Como nos tempos da Mandic, em que uma galera se juntava em São Paulo e tudo acontecia pra poucos e éramos muitos.
Hora de sair da toca, colocar a roupa mais bonita e tentar a sorte onde seu fetiche fala mais alto deixando de lado essa postura imbecil de falar mal apenas pra se mostrar diferente.

Porque nós já somos diferentes.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Original


Tenho fixação por esse texto, por isso, peço licença pra repostar.

Gosto de bondage faz tempo.
Desde os tempos em que as mulheres eram – digamos – mais naturais, talvez originais.
Os seios eram reais, a bunda era idêntica como veio ao mundo e não havia traços musculosos excessivos nas coxas e pernas.
Um tempo em que não se dava muita bola se a simetria das cordas era perfeita, e tão pouco se notava uma qualidade detalhada de iluminação nas fotografias. Tudo era mais simples como fosse feito dentro de casa e servido numa página de revista com esmero aos nossos olhares atentos.
Os filmes em VHS chegavam pelo correio em envelopes pardos forrados com plástico bolha.
Uma hora de belas imagens e um bom roteiro. A gente guardava as histórias na cabeça.
Um tempo em que o sonho de consumo era amarrar a musa do calendário, de ficar na fila pra ver o próximo filme do Zé do Caixão e torcer pra que o Mojica mostrasse duas belas mocinhas amordaçadas e em perigo.
Dias em que se comprava cordinha de algodão, dessas de levantar secador de roupa e pra ter dez metros era preciso fazer um nó pra se chegar à medida. Tempos em que ninguém sabia ao certo o que significava “bondage” e não era comum conhecer fetichistas, por isso, era possível achar que além de nós existiam poucas pessoas em todo o planeta com as mesmas idéias na cabeça.
O fetiche se apresentou a mídia e a mulher que pra nós bondagistas é a razão de existir da brincadeira escolheu novos visuais. Nunca perderam a beleza, mas esqueceram de ser originais, genuínas.
Época de parcerias inenarráveis com os azulejos do banheiro, verdadeiras testemunhas de bronhas homéricas em homenagem à mulher comum que vivia na vizinhança, que passava todo dia e embalava a imaginação. Dias difíceis, porém saudosos, um tempo de muitos conflitos, de sonhos perfeitos e desfeitos, demônios vivos atentando pensamentos juvenis.
Anos de magia...
Hoje as fotografias que esse tempo não apaga trazem de volta todo o fascínio e renova a insanidade de ter o fetiche na veia. Estas linhas não são devaneios de um saudosismo vazio e não significam fechar os olhos às mutações tão naturais como os novos tempos. Gostar do passado e admitir a beleza que os olhos fotografaram não traduz mediocridade. São apenas razões e inspiração.
Nada retrata melhor a saudade do que uma foto, um aroma, um sabor ou uma canção. Feliz daquele que pode admitir sentir saudade, porque se existe esse tipo de sentimento é a prova fidedigna de um amor incondicional. O mesmo amor que não desaparece com o tempo, que enxerga no futuro tudo que o passado ajudou a construir.
E lá se vai o tempo...
O que hoje está na moda um dia será relíquia dentro de um pensamento fetichista, clandestino ou não, o que não lhe tira a graça desde que seja sincero. Não é preciso exteriorizar aquilo que sentimos, por isso, a sinceridade pode ficar trancada dentro das gavetas que nosso “HD” armazena.
Andam dizendo por aí que é Cult gostar de “vintage”. O fetiche não envelhece e muito menos as nossas idéias com relação a ele. O que produzimos, profissionalmente ou não, leva a nossa marca, o carimbo em forma de assinatura. Se publicado corre o risco de virar arquivo de alguém e um dia se transformar em saudade. Se guardado é uma parte da nossa própria história de vida, a qual podemos nos espelhar mais adiante ou simplesmente saber que existiu.

Talvez esse tempinho escroto me tenha deixado um pouco sensível e me guiado por uma viagem “meu eu” adentro, ou pode ser que eu não esteja satisfeito com alguma coisa que tanto planejei, quem sabe...
Na verdade, senti falta de algo que sinceramente não sei o que é ou onde está.
Melhor admitir que a chuva junto com as fotos me trouxe uma puta lembrança e resolvi dividir com todos aqui.
É muito melhor.

Um excelente final de semana!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Todas as Dores do Mundo


Se existe um tema no BDSM que ao mesmo tempo intriga e assusta muita gente ele se chama masoquismo. As razões desse tipo de prazer todos estão carecas de saber, até porque o tesão através da dor ou por atos de humilhação sempre aconteceram bem antes do escritor austríaco Leopold Ritter von Sacher-Masoch falar sobre isso de forma direta.
No entanto, entender um masoquista não é uma tarefa tão simples. Não que seja um fetiche incompreensível ou sobremaneira, mas existem percepções que são capazes de dar ao masoquista o perfeito entendimento do próprio prazer.  
É válido esclarecer porque noutro dia alguém me mandou um email se auto-afirmando masoquista porque gostava de sexo anal com o marido e aquela dorzinha de leve no coito significava uma forma de prazer. Mas nada disso faz sentido.
Um masoquista convicto precisa de muito mais pra sentir o prazer pleno. A tal do dor no sexo anal é a ponta do iceberg. Mas ele também não sente prazer espremendo o dedo na dobradiça da porta, porque precisa da cena, do conteúdo, do segmento. Ao longo da minha caminhada no BDSM conheci masoquistas e troquei muitas idéias a respeito.
Engraçado que tem fetichista, ou pessoas que se dizem fetichistas, que apregoam ojeriza a masoquistas de forma taxativa. Acham o cumulo do absurdo uma mulher ou um cidadão sentir prazer mediante um flagelo. E pior é que isso vem de pessoas que freqüentam o meio, sendo que alguns tiram lascas de prazer intenso lambendo solas de pés imundos de chão da rua.
Não é preciso comungar do mesmo prazer pra ter respeito pelo sentimento alheio.
Talvez o masoca tenha antipatia por algumas práticas da mesma forma que alguém jamais se permitiria participar de uma sessão de espancamento. Entretanto, conviver é preciso.
Porque se alguém levantar o dedo e falar em parafilia e escolher os fetiches que compõem tal grupo seleto de praticantes, vai faltar dedo. Todos estão num mesmo cesto diante dos estudos científicos comprovados ou não.
Quando as pessoas aparecem num meio ou evento fetichista pela primeira vez costumam tomar sustos com aquilo que vêem. E as reações do masoquista assombram num primeiro momento, principalmente a quem sempre ouviu algo a respeito, mas jamais comprovou. Criam uma falsa impressão das cenas e chegam a afirmar: “bater eu bato, mas apanhar não apanho”. Legal, como se para um masoquista fosse simples. Andaria com a bunda virada pro alto em qualquer lado esperando a primeira porrada.
Assim como na vida fora do BDSM o masoquista precisa de envolvimento pra ter seu desejo atendido.
É possível existir pessoas dentro do BDSM com tendências submissas predispostas a castigos, mas não seriam totalmente masoquistas. Erroneamente elas mesmas se descrevem como tal, mas o fato de gostar de um puxão de cabelos, uns pingos de velas, uns tapas, até mesmo açoites leves e rasos, não as torna com um percentual aceitável de masoquismo. Porque o auge do tesão do masoca é no extremo, no ápice da dor, em todas as dores que couberem em seu planejamento. E quanto mais ele cria resistência a essas dores, alcança um crescimento no próprio contexto.

Costumo dizer a algumas pessoas chegadas que o verdadeiro masoquismo não é simples, ele é composto. Por um conjunto de fatores, é verdade, sem os quais ele não tem eficácia.
Poucas pessoas com esses desejos conseguem prazer na autoflagelação, justamente pela falta do conceito que deu origem ao binômio sadomasoquismo. Daí é fácil entender.
Sem um sádico parceiro não há dor eficiente.
E por se tratar de uma pratica extremamente delicada e até perigosa, aconselha-se a quem tem interesse tanto de um lado quanto de outro, um profundo estudo sobre causas e efeitos e muito respeito às regras de segurança que devem pautar envolvimentos dessa natureza.
Existem relatos espantosos de gente que ousou experimentar e saiu chamuscado.
Em se tratando de BDSM tudo que se espera é bom senso. 

E segue a votação para o prêmio do Bondage Awards 2012.
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