terça-feira, 30 de setembro de 2008

E aí Zé?


De repente você acorda e se vê ao lado de uma dominadora. Não haveria problema algum em se tratando de uma pessoa com tendências submissas, mas existiria apreensão se o individuo tivesse a mesma vocação. O que fazer?
A paixão não escolhe data, tempo ou idade, ela simplesmente acontece de uma hora para outra desde que o mundo é mundo, e isso está mais do que provado por todos os analistas da face da terra. BDSM é sexo quer queira ou não, porque fetiche sem conotação sexual é exibição em festa ou play-party.
Conheço casos e mais casos de pessoas que se acharam nessa vida com a mesma ótica fetichista, submissa ou dominadora não importa, isso acontece a todo o momento. Quando esse encontro ocorre fora do mundo do fetiche e ambos se descobrem aos poucos é mais fácil achar um ponto de convergência, mas se a coisa rolar já dentro do circuito fica duas vezes mais complicado. Imagine se uma ex-escrava da domme for a atual sub do mestre? Fica parecendo o samba do crioulo doido. (*)
Claro que uma boa conversa e o entendimento do que cada um leva consigo pode ser observado e serve como sinal conciliatório, desde que diferenças e egos sejam postos de lado, mas mesmo assim é um nó cego que o melhor mestre de bondage e shibari tem dificuldade de desatar.
Como praticar o fetiche nessa relação? Se existir um switcher tudo fica mais fácil, porém caso contrário, um escravo ou escrava deverá ser dividido em partes iguais, através de sessões feitas em conjunto ou mesmo em separado desde que exista respeito acima de tudo.
Ninguém é dono da verdade e esse assunto é uma questão de opinião, porque conheço pessoas que crêem que isso é humanamente impossível de conciliar, outros, entretanto, acham que com muita entrega pode ser que se consiga encontrar um equilíbrio necessário para viver uma relação assim.
Pode parecer que estou querendo colocar lenha na fogueira e atear fogo, mas isso é fato e acontece mesmo, porque ninguém está livre de gostar de alguém que tenha o mesmo tesão. Já vi funcionar bem no começo e dar muita bronca no final, soube de casos em que um se anulou em detrimento de outro e também fiquei sabendo de gente que foi e é feliz vivendo dessa forma. Portanto, nada do que foi dito aqui é novidade e cansa de haver dentro do BDSM.
Esse fato deve ser analisado de duas maneiras: se o casal for de dominadores poderiam conseguir dominar um casal de submissos e, em se tratando de um casal de submissos o mesmo poderia servir a um ou dois dominadores diferentes. A conta é mais ou menos essa, mas pode haver variantes, como um submisso ter um casal de dominadores, enfim, com jeito se chega a um lugar comum. O importante é que ninguém pode deixar o sentimento de lado mesmo que isso atrapalhe o desempenho do fetiche, e quando esse sentimento é verdadeiro fica muito mais fácil achar uma saída.
Nem sempre encontramos o par desejado e a relação pode andar certo por linhas tortas, e se não der certo de cara, pelo menos tente outra vez.
(*) Samba do crioulo doido é uma musica de 1968 de autoria de Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) que conta uma história completamente sem nexo de um autor de samba enredo de escola de samba.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

25 de Outubro


Enfim, chegou à hora.
O sonho que vem de muito tempo tem data marcada para virar realidade.
Depois de quatro meses de trabalho duro, finalmente a idéia sai do papel e torna-se real e nem sei se comemoro ou descanso, mas com muito orgulho e, principalmente agradecimento posso anunciar que o boundbrazil.com estará operativo no dia 25 de Outubro de 2008.
Em várias matérias postadas aqui no blog falei desse sonho, desse desejo visionário de implantar o primeiro site comercial de bondage produzido inteiramente com mulheres brasileiras mostrando que aqui também há o conhecimento do assunto.
São mais de nove mil fotos divididas em set’s de sessenta fotos com cerca de trinta modelos e para o lançamento oito vídeos estarão disponíveis em versões de 15 minutos cada. Tudo preparado com muito cuidado para atender a demanda do mercado nacional e internacional exatamente como foi planejado desde o primeiro momento.
Os ensaios publicados semanalmente no fotoblog amarradinhas são apenas uma pequena amostra do que vem por aí, mulheres diferentes umas das outras de distintos lugares do Brasil.
As matérias publicadas aqui vão continuar porque o que se fala no blog é diferente do que será apresentado no site, esse espaço colhe opiniões, fala de fetiches diversos, informa, passa dicas de encontros e festas, mas o boundbrazil mostrará somente soft-bondage. E o que falar para todos que de uma forma ou de outra me ajudaram a chegar até aqui? Blogueiros, interessados, amigos e amigas, gente com idéias comuns, pessoas que se aproximaram porque souberam de tudo aqui nessas páginas desde o dia dez de Junho. Como todo e qualquer empreendimento comercial, o site será pago, mas nada astronômico totalmente dentro da realidade brasileira e mundial, e a nós, outros amigos de fora virão se juntar ao redor da mesma fogueira onde arde a chama dos nossos desejos mais íntimos.
O investimento foi grande de tempo, dedicação e financeiro para suportar esse desafio. Dormiu-se pouco e coisas da vida das pessoas envolvidas com essa empreitada foram deixadas de lado em detrimento de uma realização maior, e na medida em que os dias foram sucedendo a responsabilidade foi tomando proporções inacreditáveis.
Nada nessa vida é fácil, mesmo que a distancia possa parecer muito simples, tipo uma idéia na cabeça e uma câmera na mão. Tomara fosse só isso...
Não quero com esse post criar expectativas ou alarde de que uma super atração está chegando e nem posso citar nomes que se juntaram para alcançar esse objetivo, pois seria injusto esquecer alguém e medir a participação de cada um. Queria apenas passar a alegria de estar anunciando que dessa vez o trem vai partir e não vai faltar carvão que empurre essa locomotiva ladeira acima.
Pequenos detalhes separam o hoje do amanhã e aos poucos esses pormenores serão ultrapassados de maneira definitiva. Assinam esse post todos da equipe do boundbrazil.com:
Carlos Alberto: Roteiro, argumento e direção de vídeos.
Eduardo West: Cinegrafista
Lucia Sanny: Fotógrafa
ACM: Bondage e Direção.
(Na Foto: Hanna Vitória modelo exclusiva boundbrazil.com)

domingo, 28 de setembro de 2008

O Banquete do Energúmeno


Desagradável, muita coisa.
Uma amiga enviou um link de um blog onde um ilustre desconhecido publicou uma matéria a respeito de BDSM. Para fazer sucesso e virar assunto o bravo descobridor dos sete mares, meteu o malho sem nenhum critério ou nenhum conhecimento nos fetiches, e assim como ele mesmo fez questão de frisar ao dizer que não quis ler meu comentário, apenas o que lhe interessa é postado em seu espaço. Então, vários habitues que acham graça em suas palhaçadas, deleitam-se em risadas e deboches.
No amontoado de lixo, é possível ler que podolatras são um bando de nojentos lambedores de pés rachados, sim porque se refere a todas as rainhas da cena BDSM como velhas gordas e mal cuidadas, que todos os bares onde se pratica fetiches são um antro de minorias, ¨uma meia dúzia de merdinhas¨, com um teto pintado de preto.
O mais interessante é que ele diz que freqüentou a cena BDSM e deve ser baseado nisso que se acha conhecedor do que acontece. Enfim, repetir as asneiras além de ser redundante seria descer ao seu nível.
O retrato disso tudo é uma coisa chamada preconceito, não desse cidadão que usa o tema como autopromoção, mas das pessoas as quais comentaram o assunto com chacotas repetidas. Não sei de onde esse sujeito é e sequer há um link para qualquer perfil detalhado, porém ninguém precisa faltar com respeito e posar como bobo em uma corte de gente ridícula mostrando que não sabe nada do que procura falar.
Os clubes BDSM no Brasil não são bares cafonas e as pessoas que freqüentam são decentes que trabalham e vivem de forma civilizada e, nem por isso andam por aí escondidas atrás de um titulo com um retrato de aparência duvidosa. Ninguém aqui acha que sabe tudo sobre BDSM porque na nossa comunidade todos se respeitam e mostram a cara praticando a humildade no aprendizado diário, trocando idéias e buscando aperfeiçoamento.
Não vou passar as pessoas que visitam a minha pagina seu link porque estaria te dando cartaz e gente como você Gravataí Merengue, deve nascer e viver no anonimato. Se você comentar aqui na pagina saiba que é livre, democrático e que nunca cortei um comentário mesmo que fosse pra me descer o sarrafo. Isso é uma coisa que você que acha que sabe tudo ainda não aprendeu: respeito.
Apenas para terminar, te explicar que Energúmeno é a pessoa que busca fazer várias coisas e não consegue ser eficiente em nenhuma delas, exatamente assim como você.
Pra você, fim de papo.
Vida que segue, amanha posto algo interessante e dentro do contexto desse blog.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A Vingança de Rosemary


Em julho de 1997 após ter produzido seis vídeos para a Harmony Concepts, resolvi ousar e editar um longa (vale esclarecer que os vídeos de bondage considerados longas têm a duração de uma hora), tarefa árdua para a época devido à escassez de recursos financeiros e logísticos.
Reuni as três melhores modelos que havia, definidas pelos critérios de beleza e desempenho realizado em trabalhos anteriores, fiz contato com uma grande amiga que tinha alguma experiência em rodagens de comerciais de televisão e algumas aparições num antigo programa de televisão chamado Cabaré do Barata. Ela me cedeu seu apartamento e entre tomadas externas e internas realizamos um dos campeões de vendas da extinta Harmony: the Revenge of Rosemary.
A trama acontece em meio a um apartamento de classe média na cidade de Niterói (*) no Rio de Janeiro onde duas jovens amigas dividem as despesas com muita dificuldade e, por absoluta falta de tempo por conta seus empregos, resolvem contratar uma empregada doméstica muito bela e charmosa chamada Rosemary. Insatisfeita com os afazeres de sua empregada, Alessandra assume a direção da casa e de tanto insistir para que o serviço fosse bem executado, perde a paciência e resoluta toma a decisão de castigar sua serviçal. Como punição, amarra Rosemary na sala do apartamento, decide que ela deveria ficar em cativeiro até que pudesse dormir sossegada e, depois, resolver seu destino. Não contava, porém que a linda empregada conseguisse se livrar das amarras e iniciar um processo de revanche, fazendo-a adormecer ainda mais através de um lenço embebido em clorofórmio de onde desperta já amarrada e pronta para o começo da sessão de tortura psicológica e física a que é submetida. Rosemary se transforma em uma dominadora, veste-se com uma roupa estilo “Ninja” capturando sua amiga de quarto e de posse do controle das duas companheiras, pune-as com autoridade até a última cena.
Alguns trechos do vídeo mereceram destaque, tanto pelo aspecto dominação e submissão como pela conotação de sensualidade. Ressalto o trabalho individual de cada uma das modelos que realizaram comigo essa obra, desempenhando muitas vezes na base do improviso necessário pela falta de infra-estrutura. Para aqueles que no passado e no presente assistiram ao vídeo, salta os olhos à parte em que Rosemary impõe a Alessandra uma seqüência de torturas através de lambuzadas de geléia por todo seu corpo e, principalmente quando sorve seus pés pincelados pela marmelada vermelha. Doses de dominação e podolatria na medida exata.
Vários aspectos quando da realização da produção devem ser enfocados nessa matéria, principalmente, porque vivi cada momento de angustia e prazer com a mesma intensidade: primeiro, o fax que recebi da então diretora da Harmony Star Chandler que a principio negou publicar o trabalho pela utilização de arma considerada letal (uma faca de cozinha havia sido usada por Rosemary para passar a geléia em Alessandra), e segundo, a cláusula contratual pela qual era exigido que todas as modelos exibissem pelo menos os seios nus (Rosemary fica vestida todo o tempo). Porém, depois de assistir ao vídeo com cuidado, concluiu que poderia passar pelos obstáculos e terminou por publicar o filme trinta dias depois.
Após dois meses em catálogo, A Vingança de Rosemary alcançou a marca de dois mil, novecentos e quinze cópias vendidas por correio em VHS (ainda guardo na lembrança esses números), equiparando-se a outras produções da própria Harmony e de monstros da cena bondage, como John Woods, Jay Edwards e Eric Holman.
No dia 25 de Outubro próximo estréia o site boundbrazil.com e nele haverá uma pasta chamada vault (saldo) onde este filme estará disponível para a venda através de distribuidor em uma versão totalmente remasterizada em formato digital (DVD).
Por absoluta falta de narcisismo em minha personalidade não posso tecer comentários ao resultado do trabalho de Revenge of Rosemary, porém, fica para mim um exemplo que agora pode ser seguido mesmo onze anos depois.
Meu agradecimento às pessoas que se uniram num único objetivo e, mesmo sem ter a noção do quanto representou para o mundo bondage, contribuíram para que novos trabalhos do mesmo porte fossem realizados durante os anos que seguiram.

(Na Foto: A propaganda do vídeo conforme era comercializado pela Harmony Concepts em 1997)
(*) Cidade de Niterói: separada por uma das maiores pontes construídas no mundo com a extensão de quatorze quilômetros, a cidade de Niterói foi Capital do antigo Estado do Rio de Janeiro até o ano de 1975 quando houve a fusão dos Estados da Guanabara (1960 – 1975) e Rio de Janeiro.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A Décima Segunda Viagem


Grego chegou atrasado e soltou um palavrão daqueles reclamando do tempo frio e chuvoso. Normalmente bem humorado pautava por uma educação irrepreensível o que tornava estranho tal comportamento, (apesar de concordar que um palavrão bem colocado e na situação devida soa como um orgasmo!), sentou do meu lado e começou a ladainha:
- Dia de chuva, tênis, sapatos, botas, nada de sandália e pé de fora, que merda!
Cheguei a pensar em argumentar as vantagens de um calçado mais atraente, na proteção que um pé bem cuidado necessita em dias molhados, mas nada disso convencia o irritado europeu com cara de estátua antiga. (Perdoa meu amigo, mas era assim que a galera te zoava nas entrelinhas...).
Ele nunca teve vergonha de falar do que gostava e enaltecia o seu fetiche a quem quer que fosse sem meias palavras ou rodeios. Cada tipo de pé era descrito com a perfeição de um Marchand ao vender sua obra de arte, pequenos, magros, gordinhos ou compridos, nada escapava de seu senso observador e sempre paciente com as críticas que alguém pudesse fazer ao tipo de pé enaltecido por ele.
- Gosto de olhar, imaginar, tocar com os olhos, supor o cheiro de couro misturado ao suor da fêmea que o carrega... (filosofava).
Naquele raro momento de irritação, Grego me confessou que no verão partiria para a Grécia pela décima segunda vez, porém de forma definitiva, porque seus pais assim haviam decidido. Afirmou resignado que os tempos no Brasil haviam acabado e que agora a meta era voltar para a terra natal, reaprender a pratica de seu idioma de origem, esquecer os amigos, recomeçar uma vida nova e na bagagem muitos pés de lembrança.
Enquanto seguia procurando por alguma garota que pudesse enfrentar a chuva e o frio com os pés à mostra, me disse que sua partida soava como um parto a fórceps e que jamais poderia imaginar-se longe dos amigos e de tudo. Me bateu na cabeça perguntar porque um cara com data marcada pra ir embora estava dando duro num curso de pré-vestibular. (Um aparte: para os mais jovens vale lembrar que para ingressar na universidade paga ou pública, era preciso enfrentar uma maratona de provas chamada de vestibular unificado). Eram tempos difíceis, um tudo ou nada que podia significar a entrada na faculdade ou começar tudo outra vez, uma única chance, um tiro de misericórdia dado com a derradeira bala. Mas Grego encarava tudo isso com naturalidade e não trocaria aqueles dias de convívio por nada nesse mundo.
Um dia tomei coragem e numa conversa reservada contei sobre meu fetiche por cordas, sobre bondage, o que significava, que finalidade havia e muito atento ele quis saber de tudo, detalhe por detalhe e mesmo sem imaginar como tudo funcionava e onde estava o “gatilho do fetiche” me deu apoio incondicional prometendo que manteria em sigilo por querer preservar meu segredo. Saí da conversa pensativo e no dia seguinte olhando meu amigo Grego como se fosse um espelho toquei no assunto na frente de todos e me senti sem um peso nas costas. Me olhou profundamente com orgulho e provocou os demais a assumirem seus gostos antes que qualquer piada ou critica pudesse vir à tona.
Tirei desse episódio todas as lições possíveis e daquele dia em diante nunca mais ousei esconder o meu fetiche de ninguém, ou sequer me escondi atrás dele. As atitudes do Grego foram minha luz e energia para que esse passo fosse de forma definitiva pelos anos que vieram. Até a sua partida falamos de nossos fetiches com mais alegria e liberdade, ensinamos um ao outro um pouco do que cada um sabia, rompemos barreiras e mostrei a ele que os pés que tanto lhe reluziam poderiam ficar mais lindos amarrados.
Nunca mais soube nada do Grego, se ficou ou se voltou, porém tenho a certeza de que ele trilhou o caminho da felicidade porque nunca se furtou a deixar as pessoas saberem de seus sonhos e desejos com simplicidade e coragem, por isso tenho absoluta certeza que seus dias foram e são maravilhosos.

Cinema & Fetiche

Publiquei essa matéria para o excelente site da Sociedade Kinky Sade (há um link bem aqui ao lado). Um canal muito interessante com trabalhos realizados por pessoas muito sérias. Hoje, após longos papos noturnos a respeito da relação entre o cinema e o fetiche, peço licença para postar aqui no blog esse texto de minha autoria publicado no site (www.sociedadekinkysade.com).

Quantas vezes você se viu diante de uma televisão, comendo pipoca, assistindo seu DVD favorito e deu de cara com alguma coisa que te fez engolir pedaços de milho a seco? Quando vi Império dos Sentidos (Ai no Corrida, de Nagisa Oshima – 1976) jamais imaginei que naquela época a telona pudesse exibir tantas cenas tórridas. O filme conta a história de uma ex-prostituta que pratica atos de amor e entrega total com o dono da propriedade onde ela é contratada a trabalhar. Mas a cena onde várias prostitutas dominam uma jovem e introduzem nela um consolo em forma de pássaro é de tirar o fôlego e engolir de uma só vez todos os milhos que havia, (sem nenhuma analogia ao ovo cozido sorvido pelo protagonista ao ser devidamente “botado” por sua companheira). Foi meu primeiro filme “permitido” aos dezoito anos de idade, até porque vale lembrar que naquela época a cana era dura mesmo e menor de idade ficava longe de filmes impróprios.

No ano de 1979, presenciei Sylvia Kristel interpretar Emmanuelle com muito atraso (o filme foi lançado em 1974) e me deixei levar pelo mundo fantástico das fantasias sexuais assistindo as cenas que escandalizaram a sociedade, contendo sadomasoquismo, estupro (claro que em se tratando de uma obra de ficção é um estupro consentido) e masturbação. Essa obra é o segundo filme da personagem criada por Emmanuelle Arkan no livro The Joys of a Woman. Depois deste vieram outros como "Emmanuelle in África", também exibido nos cinemas brasileiros, tendo a série de filmes alcançada à marca de cinqüenta e oito outros sem o mesmo sucesso. Sylvia visitou o Brasil no ano da liberação do filme e participou da novela Espelho Mágico da Rede Globo.

Nessa mesma época, outro grande sucesso com trilha fetichista abocanhou grandes bilheterias tornando-se sucesso na época e até hoje é muito badalado pela cena Cult. Trata-se de L'Historie D'O da obra de Pauline Réage com direção de Just Jaekin que um ano antes havia lançado o já citado Emmanuelle. O filme mostra o drama de uma fotógrafa que é introduzida ao sadomasoquismo por seu namorado que a envia à Mansão de Roissy onde ela tem um aprendizado de submissa e, na seqüência manda que ela se submeta aos desejos sexuais de seu melhor amigo. Com excelente atuação de Corinne Clery no papel de O, o filme aproxima a realidade do fetiche no enredo criado para a película, levando o espectador a cenas delirantes do início ao fim.
Outro clássico cinematográfico que marcou a trajetória do BDSM no cinema nos anos setenta foi Expensive Tastes (1978), filme de Joanna Willians que passou despercebido por essas bandas e conta a história de um grupo de jovens que resolve raptar mulheres e ter com elas (totalmente amarradas) uma série de cenas de sexo forçado com requintes sadomasoquistas, porém, há que ressaltar que as cenas que induzem estupro nada têm de pavorosas e em todas elas, invariavelmente, as mulheres assaltadas acabam por entregar-se aos caprichos de seus raptores.

Com o fim da década de setenta, os anos seguintes não acrescentaram nada de novo que pudesse criar um link entre o BDSM e o cinema, o que veio ocorrer no começo dos anos noventa quando a cantora Madonna aproveitando-se do sucesso flertou com o fetiche no filme Corpo em Evidência e em clipes do seu álbum Erótica em Outubro de 1992. Com letras que passaram entre erotismo e defesas das minorias, Madonna exibiu cenas de sadomasoquismo e lesbianismo no videoclipe da musica Erótica, tema do álbum que transformou a escandalizada carreira da cantora em bandeira de grupos homossexuais e afins.

A década de noventa nos trouxe ainda Basic Instinct (1992) exibido no Brasil com o título de Instinto Selvagem onde a bela Sharon Stone utiliza técnicas de dominação para seduzir suas vitimas. O filme de Paul Verhoeven alcançou êxito mundial de bilheteria e público e novamente utilizou-se do fetiche para buscar as cenas ardentes que estremeceu platéias.
Ultimamente, temos notícia que Britney Spears prepara uma investida no mundo fetichista em sua mais nova aparição no cinema. O título do filme seria “The Knoxville Carjacking Party”, que em tradução literal é algo como “Festa do roubo de carro em Knoxville”. A história, baseada em fatos reais, trata de um casal de estudantes que teve seu carro roubado na estrada e depois foi seqüestrado, estuprado e morto na cidade de Knoxville, no Tenesse. „The Knoxville Carjacking Party' tem muitas cenas de sadomasoquismo e todos sabem que Britney poderia fazer sem problemas cenas de sexo comuns, mas estas são cenas fortes. “Ela teria que se preparar para agüentar algumas das cenas”, disse uma fonte ligada ao filme.
Concluindo, podemos notar que nos tempos modernos o cinema sempre aproximou a realidade da ficção, ao mesmo tempo em que todas as vezes que mesclou cenas e histórias consideradas “secretas” em seus argumentos obteve pleno e absoluto sucesso, provando que mesmo os que se colocam fora da cadeia fetichista, têm imensa curiosidade de saber o que se passa dentro desse mundo particular, e também, comprovou que o sexo apimentado quando tratado com elegância e um mínimo de conhecimento pode provocar o frisson em que está na turma do gargarejo

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

domingo, 21 de setembro de 2008

Whispering in the Dark


Acordei Sábado de manhã depois de uma noite de Sexta de dar inveja a qualquer mortal. Detalhe: Aquela vista da Baia de Guanabara, aquele vinho maravilhoso no raro friozinho carioca, a mulher maravilhosa (Cris, compreensão e apoio ninguém vende na feira e você é única e se pudesse te dava aquela vista e a noite numa foto para a eternidade), tudo isso valia uma longa espreguiçada numa manhã de Sábado de sol e céu azul.
Liguei a TV e dei de cara com Gemidos do Prazer (Whipers in the Dark de 1992) no Telecine. Pensei, bondage há essa hora? É, nada melhor pra começar um fim de semana...
Lembram desse filme? Não tem tanto tempo assim e diversas locadoras ainda o conservam em catálogo, e vez por outra a NET reprisa. Uma psicóloga ouve os relatos de uma paciente (Jill Clayburgh) onde ela conta sua relação com o namorado cheia de cenas tipo flash-back de bondage com doses de sadomasoquismo, e ela, linda, esmera-se em detalhar cada pedaço com requintes de crueldade para quem esta assistindo por conta dos malditos cortes que o diretor realiza, insistindo em nos torturar. Talvez esse procedimento seja para lembrar que todos nós temos um pouco de masoquista porque mesmo odiando Christopher Crowe seguimos de olhos grudados na tela. Dizem por aí que existe uma suposta versão sem esses cortes, mas é como cabeça de bacalhau, agente sabe que existe só que ninguém vê. Voltando ao filme, a bela Annabella Sciorra apaixona-se pelo ex-namorado de sua paciente e quando descobre essa extinta relação entre ambos, começa a imaginar que seu atual amante ainda nutre sentimentos por ela e, imagina-o como quem pratica esses jogos de cordas. Sua confusa paciente aparece morta enforcada e um experiente detetive de policia tenta acusar seu atual namorado e quer provar essa culpa buscando nos arquivos de Annabella fatos e relatos que possam criar um link com suas suspeitas. Depois de imensas doses de suspense e falsas pistas que o filme lança nos espectadores, aparece um cara latino meio doidão (John Leguizano) como um novo suspeito, seqüestra nossa heroína psicóloga e a cena bondage enche nossa tela nos brindando com Annabella totalmente amarrada em posição hogtie e amordaçada por um bom tempo até que ele a liberta e se joga da janela.
O filme ganha novos contornos e o fetiche sai de cena deixando o campo livre para que o autor desafie os nervos de quem tenta adivinhar quem é quem, até que o Professor e Mentor de Annabella aparece de onde ninguém supõe para assumir a culpa e revelar-se um psicopata tentando acabar com a bela psicóloga, mas nossa “ moçinha” é salva por seu namorado que posa de inocente no fim do trilher.
Essa premiada obra de suspense nos mantém colados até a ultima hora e vale citar as cenas fetichistas pelas boas tomadas de bondage muito bem realizadas, mostra entendimento do fetiche que é citado em vários momentos, tanto pelos analistas como pelos policiais. A amarração de Annabella é perfeita parecendo saída de algum vídeo bondagista.
Bom, já eram quase dez da matina e eu ainda estava de olhos grudados na TV por conta do excelente breakfast com pitadas de bondage. Juntei minhas tralhas, peguei a chave do carro e fui embora, pensando ainda no filme, na noite de Sexta e querendo repetir mais tarde na mesma Baia, só que do outro lado, e claro, com a Cris, sempre!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Uma Festa Portuguesa com Certeza


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso.”.
Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para casá-la com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de perdê-la como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.


Fiz menção ao intocável poema de Fernando Pessoa para abrir essa matéria e falar da Gathering Party 12 que acontece dia 15 de Novembro no Metropolis Club, numa avenida que liga dois pontos turísticos importantes na cidade de Lisboa em Portugal, a Praça Marques de Pombal e a Duque de Saldanha.
A intenção da realização desse evento foi criar um espaço de convívio e prática de BDSM, bondage e fetichismo de uma forma geral, onde todos pudessem ter uma troca de idéias e aperfeiçoamento.
Esse ano a Gathering Party dá destaque a Mistress Shane que exalta a dominação como seu estilo de vida e se diz dona e manipuladora dos seus escravos exercendo poder total sob seus corpos e mentes, podendo significar seus sonhos mais doces ou seus piores pesadelos. Possui um estúdio em Antuérpia na Bélgica onde faz treinamento de seus súditos, acredita na superioridade feminina e, termina auto definindo-se como uma expert em todos os lados do BDSM.
O evento possui regras rígidas de dress code que seus organizadores fazem questão de frisar que é um conjunto de regras relativas à roupa apropriada para a Gathering Party, e têm razão absoluta quando afirmam que a presença em uma festa fetichista significa que é obrigatório estar em plena harmonia com o ambiente local. Recomendam que sejam observados os seguintes trajes: latex, cabedal, vinil, uniformes, acessórios fetichistas (luvas, botas, saltos altos) e relacionados com a imagética BDSM (algemas, chicotes, etc.), ou, traje completamente negro. Porém, a falta de um desses complementos reserva à direção do evento o critério de franquear a entrada a quem achar correto. Indicam sites e lojas onde se pode encontrar esses assessórios mencionados, enfim, tudo é muito bem explicado e não deixa espaço às dúvidas.
O site oficial do evento (http://www.thegatheringparty.org/home.html) contém todas as informações necessárias além das descritas nessa matéria, possui um fórum onde os freqüentadores e simpatizantes podem conhecer uns aos outros, e, ainda, um espaço pra pré-inscrições e venda de ingressos antecipados.
Portanto, para essa imensa malta de Portugal que me honra com a participação nesse blog e para os muitos brasileiros que vivem por lá, a Gathering Party é uma festa imperdível e uma atração ímpar, mostrando que o fetiche do lado de cima do Atlântico é coisa levada muito a sério.
Parafraseando Fernando Pessoa de quem postei o lindíssimo poema, “O que é necessário é criar” e, pelo visto, criatividade não falta na Gathering Party 12.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Faça a diferença


Na próxima Segunda-Feira dia 22 de Setembro acontece o Encontro Cosa Nostra, e como bem define Domme Morrigan, será o primeiro evento no Rio de Janeiro organizado por duas coroas, o Grupo Nação BDSM e o Fetixe-Rio.
Conforme prometido quando anunciei o encontro passo a programação:

Início: 18 horas
Local: Estúdio Fetixe-Rio
(Para saber informações sobre o endereço ligar para: (0xx) 21. 41026615)
Preços: Confirmados previamente – R$ 10,00 - Convidados de última hora – R$ 15,00

Programação:
Workshop de Bondage com ACM/RJ
Workshop de spanking com Sra Maga
Dança do ventre com véus e adagas por Lorena
Um encoleiramento litúrgico
Bingo Master: os/as escravos/as sem Dono/a serão sorteados em bingo para cena avulsa com os/as Mestres/as que assim desejarem participar.

ESTE EVENTO É TOTALMENTE PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS.

Portanto, fica o convite para quem mora no Rio de Janeiro ou quem estiver de passagem comparecer a esse interessantíssimo evento e conhecer pessoas que como todos nós são tão normais quanto parece. Chegou à hora de fazer a diferença.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O Universo Bondage


Muito já se discutiu a respeito de bondage, porém, vale acrescentar que trata-se de um fetiche extenso e de criatividade sem fim. Como toda e qualquer atividade fetichista tem seus limites, entretanto como fantasia é quase infinito. Bondage reúne preferências de seus praticantes que são parte do processo litúrgico que muitos fetichistas sequer supõem que bondage possua. Ouso passar através dessa matéria um pouco de cada detalhe, esperando que meus amigos bondagistas e shibaristas me ajudem postando seus comentários e indicando suas preferências, estejam elas aqui ou não.

IMOBILIZAÇÃO: cordas (algodão, nylon, cânhamo, juta, sisal), algemas, fitilho, lenços de seda (scarf), ataduras, bandagens médicas, tiras de couro, borracha e fios elétricos são as mais comuns;

MORDAÇA: hand gag (utiliza as mãos), cleave gag (lenço por dentro da boca), over the mouth ou detective (lenço cobrindo os lábios e a boca), ball gag (bola presa por tira atrás da nuca), bit gag (como arrio de cavalo), knotted (uma mistura entre cleave gag e ball gag, é dado um nó na tira de pano e colocado dentro da boca), muzzle gag (tiras de couro que atam na nunca e ao longo da face), tape gag (feito com fita adesiva), tube gag (um tubo de couro ou plástico metido dentro de uma tira de pano) e outras que podem surgir de acordo com a imaginação de cada um;

POSIÇÕES: balltie (as mãos às costas, pernas amarradas encolhidas e joelhos tocando nos seios), breast bondage (bondage de seios e peito), crotch rope (muito utilizado na prática do shibari, amarrando através do quadris passando pelos lábios vaginais onde imprime pressão), frogtie (braços para trás e os tornozelos atados na parte superior das coxas), hogtie (braços para trás amarrados nos tornozelos), lotus tié (tornozelos amarrados atrás dos joelhos, muito usado em shibari), over-arm tie (pulsos atados atrás da nuca), prayer position (mãos espalmadas atadas nas costas), rope harness (cordas desenhando o corpo – técnica do shibari), spreadeagle (mãos e pernas abertas atadas nas extremidades), strappado (mãos atadas nas costas e presas em suspenso) e outras técnicas de shibari como shrimp tie;

PÉS: descalços (pés limpos ou sujos), sandálias, botas, calçados fechados tipo festa ou escolares, tênis ou meias tipo soquete, meias de seda e outros. O fetiche bound-feet é parte das práticas de bondage para alguns;

CABELO: solto, preso tipo coque ou rabo de cavalo, curtos ou longos;

VENDA: blindfold (pode ser de pano, couro ou tipo daquelas que se usa para blackout durante o sono);

Os procedimentos para uma boa prática de bondage requerem conhecimento da doutrina que é ampla e muito atraente, tanto no campo visual como no apelo sexual que é marca registrada do fetiche. Ninguém nasce sabendo, por isso é impossível tornar-se um expert no assunto sem que haja estudo das terminologias e uma prática constante par alcançar o objetivo pretendido. Existem sites, blogs e vários workshops nos grandes centros onde se pode conhecer cada detalhe do que foi explanado através dessa matéria. O importante é saber que nunca é tarde para começar a aprender nada e que não existe limite para onde a imaginação nos possa guiar.
(Na Foto: Demonstração de uma "Hand gag". Crédito: www.fmconcepts.com)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

InBondage! TV

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O Rio de Janeiro ganha um novo espaço


Quando foi anunciado o encontro Cosa Nostra que acontece no Rio de Janeiro dia 22 de Setembro próximo, deu inicio uma correria desenfreada contra o tempo, para que o estúdio da Fetixe-Rio estivesse pronto após a remodelação a que foi submetido para abrigar o evento.
Havia uma vontade que perdurava a algum tempo de ampliar o estúdio em razão das produções do site Fetixe-Rio que acontecem ali, ao mesmo tempo em que apesar de relutar contra a idéia de fazer nas dependências um espaço para realização de alguns eventos, bateu na Nefer e na Lucia a chama empreendedora que fez ambas começarem uma guerra particular contra o cansaço e ir em frente sem se importar qual obstáculo teria que ser ultrapassado primeiro. Foram com a sede dos marujos que cruzaram o Atlântico há séculos atrás, deixaram tudo de lado para dedicarem-se a um único objetivo, e colocar a cidade do Rio de Janeiro na rota de calendário fetichista nacional, mostrando que com força e luta nada é instransponível.
Me sinto orgulhoso de ter colocado um pedaço da pulga atrás de suas orelhas e ser parte do impulso que as levou a enfrentar esse desafio. Se já existia de minha parte uma admiração intensa, brotou uma amizade e senso de união que o tempo parece contribuir para que seja longínqua e, porque não dizer, eterna. Como parte integrante desse projeto, sou grato por ter tido a chance de contribuir e ter a consciência de que em cada pedaçinho haverá uma pequena gota da minha dedicação.
Hoje à noite, após mais uma gravação dos vídeos do site boundbrazil.com, Nefer me mostrou toda a sua criatividade que a cada dia que passa fica mais visível no que esta sendo construído e idealizado. É de admirar sua competência para distribuir o espaço em relação a tudo que pode ser aproveitado, o carinho com que me contava detalhes da obra já em fase final e o esmero com que idealiza pequenos arremates onde fica flagrante seu conhecimento do que faz.
Prefiro não adiantar aqui o que espaço poderá produzir a partir do dia 22 de Setembro, acho melhor que cada um que possa comparecer veja de perto o quão bonito e acolhedor será o que se pode chamar de Fetixe-Rio Estúdio & Club, (não importa o titulo e sim o conteúdo).
Entretanto, tenho a certeza absoluta de que esse local será de grande beneficio para quem reclama de não existir nessa cidade um cantinho não mutante, onde cada um possa discutir o que gosta e assistir o que lhe é de desejo. Que ali aconteçam dezenas de festas Fetixe, milhares de encontros e seja parada obrigatória para fetichistas veteranos ou iniciantes, e motivo de orgulho para quem um dia pensou e fez tudo isso virar realidade.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pride por Isaac W.


Uma das obras que foram comercializadas em VHS e até hoje provocam frisson em quem assiste no conforto de sua casa é o filme Pride, do produtor e ator Isaac W. a quem tive o prazer postar uma entrevista aqui no blog. Produzido no ano de 2003 e dirigido por Isaac para a sua produtora Centaur Celluloid, Pride tem no papel principal sua atual esposa Natasha Flade e como coadjuvantes as belas Connie Sims e Miranda Capulet verdadeiras divas de vídeos da cena BDSM produzidos nos anos noventa.
O filme com uma hora de duração, conta a história de uma mulher muito religiosa de nome Faith (fé em Inglês) que encontra sua amiga Rachel utilizando de meios pornográficos em sua casa. Inconformada, decide castigar sua amiga tomando medidas extremas as quais chama de purificação espiritual, fazendo com que ela desmaie por meio de sonífero colocado em um drinque e acorde totalmente amarrada na cama. Em seguida, Faith queima suas roupas através de um ritual onde ela exorciza os “demônios” que supostamente tomaram o corpo de sua amiga e, não satisfeita, consulta seu mentor, um Padre chamado Mitchel (interpretado pelo próprio Isaac) que resolve fazer o trabalho de exorcismo pessoalmente, levando a amiga da religiosa para um porão onde pratica atos sadomasoquistas como forma de purificar a linda Rachel. Natasha Flade, a grande estrela do filme, aparece no final no papel de uma Freira chamada Angélica que tenta salvar Rachel e tirá-la das mãos do Padre Mitchel, porém tudo que ela tem na cabeça é apenas vingança.
Essa produção desafiou conceitos religiosos utilizando-se de vestimentas oficiais de membros da igreja, levando Isaac W. a enfrentar processos e perseguições que terminaram somente anos mais tarde. Pride é mais um das dezenas de filmes realizados com material caseiro numa época de pouca entrada de recursos na Centaur Celluloid e mostra a capacidade de criação desse gênio de Chicago, que tirou leite de pedra transformando roteiros inocentes em apimentadas obras de BDSM.
Pride é um dos êxitos remanescentes das produções as quais podemos classificar como longas de filmes com conteúdo fetichista, porque produtoras como a Centaur realizam hoje pequenos “teasers” que oscilam entre os cinco e dez minutos e são devorados pelos internautas mundo afora. É muito mais fácil baixar um vídeo pequeno no computador e assistir tranquilamente do que receber um pacote de correio que tardava vários dias para chegar. O público hoje acompanha o instantâneo que não requer vasta capacidade de produção e de atuação de quem participa, não precisa de um roteiro elaborado minuciosamente e nenhuma direção vigorosa, é mais ou menos como os curtas acontecem no cinema, se levarmos a termos de comparação extrema.
Isaac W defendeu-se de todas as acusações a que foi submetido utilizando-se do argumento de que nenhum Padre ou Freira em sã consciência agiria da forma como foi desenvolvido Pride. Disse, ainda, que foi criado em berço católico e utilizou-se desse roteiro como um falso clichê, tratando como pirados seus personagens. Entretanto, fica a obra e como em vários casos semelhantes que o cinema profissional mostrou, alguns filmes pela força de expressão exibidas em seu conteúdo, transformaram-se em lendas que até os dias de hoje são cultuadas em sessões privadas.

German Fetish Ball Weekend 2008


Seguindo a linha das grandes festas fetichistas ao redor do mundo, falamos hoje da GFB (German Fetish Ball) um evento muito conhecido em toda a Europa e que aconteceu no mês de Maio na cidade de Berlim, Alemanha. Comparado a outros eventos do gênero, a GFB é muito mais um encontro de moda e estilo do que uma celebração, embora existam apresentações de performances BDSM em horários pré-determinados.
O Fetish Ball acontece desde o ano de 2003, quando dois amigos acostumados a promover festas fetichistas em velhos castelos e palácios abandonados na região de Berlim, decidiram colocar a Alemanha na cena do fetiche mundial, sem repetir o que já era tido como padrão de eventos desse nível por toda a Europa.
As atividades começam sempre as Sextas e têm o ponto alto no Domingo seguinte, por isso essa festividade é conhecida como o fim de semana fetichista na Alemanha. O local tem capacidade para 1500 pessoas e os cinco andares ficam lotados todos os dias durante o evento.
As últimas GFB’s obtiveram lucros e sucesso absoluto de todos os patrocinadores e expositores, com milhares de Euros em contratos de venda e exportação de seus produtos como em qualquer grande evento de moda.
Para quem estiver interessado em atualizar-se e saber tudo sobre o GFB, basta dar uma olhada no site da GFB: German Fetish Ball Weekend 2008

É bom lembrar que para o próximo ano espera-se que esta feira renda o dobro em arrecadação para produtores que queiram expor seus produtos. Portanto, para quem tem interesse na área de trajes e artigos fetichistas e sexuais, fica aqui uma grande oportunidade de quem sabe dar um salto de qualidade em suas atividades.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Eu quero ter um milhão de amigos


O que parecia apenas um delírio aos poucos toma ares de realidade. Nas últimas semanas, na medida em que mais e mais pessoas descobriram esse cantinho na internet, venho recebendo inúmeras participações de antigos e novos amigos trazendo uma consistência ao trabalho que era inacreditável há alguns meses atrás. Cheguei a falar nas primeiras matérias e em particular num tópico chamado “sonhos com nós” de coisas que naquela época me pareciam impossíveis de acontecer que agora é fato, e me enchem de orgulho de um dia ter pensado assim.
Acho que na vida as pessoas se juntam e apegam-se ao que lhes é de interesse e, também, onde são bem vindas. E aqui isso acontece com freqüência, a cada novo comentário sinto cada vez mais essa união e participação de todos através das sugestões que não param de chegar. Claro que nada é por acaso e a congregação existe porque todos que estão me dando essa honra e incentivo sempre comungaram do mesmo sonho, embora em tempos e locais distintos. Hoje formamos uma comunidade que se torna mais populosa e agregada onde à parcela de contribuição de cada um estará visível no que está prestes a ser apresentado. Todos nós entendemos um pouco do que é discutido aqui de Segunda a Sexta nas linhas desse blog, temos nossa visão do fetiche e, principalmente, colocamos nossas preferências como prioridade quando nos aproximamos de um objetivo.
Devemos entender que cada fetiche tem a sua particularidade e certas “regras” não são passiveis de modificação, porque a proposta apresentada e hoje desenvolvida é parte de um segmento, que não aceita mudanças justamente por ter sido elaborado dessa forma. Portanto, se a sugestão for parte desse segmento ela será de grande valia e possivelmente terá lugar de destaque quando da confecção de ensaios fotográficos ou de vídeos, sempre atendendo ao que é estabelecido pelo ou pelos autores.
Há que fazer uma separação entre o trabalho que é realizado pelo boundbrazil.com e o que é discutido no blog bound-brazil.com. A diferença não está apenas no traçinho, ela caracteriza-se pela diversificação de ambos, aqui no blog discute-se a respeito de fetiches ligados ao BDSM, enquanto no site apresentar-se-á um trabalho de soft-bondage que significa apenas a letra B na sigla supra citada. E onde está esta diferença? Em vários aspectos e que desde o dia 10 de Junho vêm sendo apresentados aqui e várias matérias falam a esse respeito. Não existe polemica, somente uma preferência por determinado conceito que por natureza é independente dos demais, uma questão muito mais de gosto do que de ótica. Em soft-bondage as cordas castigam, não o chicote, a posição de imobilização e as ameaças torturam, jamais o açoite.
Abdicamos de cenas de nudismo em nosso site porque embora tenhamos um conteúdo adulto achei que as meninas mostrariam muito mais o lado artístico com as roupas tão comuns de nosso dia a dia. Gosto de passar a idéia de apresentar “uma caixa de bombons” para ser aberta sem mostrar seu conteúdo, pelo menos esse é o meu entendimento do conceito – damsels in distress.
Com o tempo e no momento em que alcançarmos o know-how necessário, buscaremos outros caminhos desde que nunca desviados da mesma estrada, assim, atenderemos as dominadoras na questão dos rapazes sendo vitimas de mulheres, bem ao estilo “men in bondage” e os homens poderão raptar as mulheres também, isso tudo quem sabe muito em breve.
No mais, apenas agradecer o que cada um tem feito para tornar esse sonho o mais real possível e deixar as portas abertas para cada novo amigo ou amiga que quiser fazer parte dessa apaixonada comunidade que cresce a cada dia.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

What a difference a way made...


Durante a gravação dos vídeos para o site boundbrazil.com, me chamou à atenção a observação de algumas modelos que já vêm fazendo um trabalho fotográfico, quanto à padronização e simetria de nós juntamente com o efeito artístico e que nas filmagens não está ocorrendo. Há de se ressaltar, porém, que no caso das fotos existe um trabalho por detrás das lentes que é feito para efeitos de imagem, onde tudo pode ser pré-preparado e medido alcançando o resultado visto aqui em outras matérias publicadas, enquanto no vídeo a imobilização é feita ao vivo e pelas próprias modelos às quais não possuem, ainda, embora um dia possam atingir esse padrão, capacidade para criar amarrações mais detalhadas e dentro do conceito de bondage.
Por isso, muitos não assistirão nas produções de filmagem o mesmo design que a fotografia mostra, pela simples razão do quesito donzela em apuros onde a simulação do rapto deve ser totalmente realizada por quem está atuando.
As produções de vídeo contêm um enredo que é estudado com antecedência, ensaiado e construído numa metragem pós-edição de aproximadamente trinta minutos, onde uma estória é contada e vivida pelas personagens que ao vivo realizam a imobilização em tempo real.
Mesmo sendo produzido em estúdio, esse trabalho várias vezes precisa ser refeito o que inviabiliza toda e qualquer tentativa de se buscar nós e posições mais clássicas dentro do padrão de bondage, somente em casos onde não exista uma estória a ser contada poderia ser elaborada este tipo de produção, o que diversos sites americanos e ingleses costumam fazer. Nesses casos, os produtores dessas obras procuram enaltecer a si mesmos mostrando a perfeição de seu trabalho artístico com as cordas também nos vídeos, mas como em meu caso busco contar uma estória de uma mulher sendo imobilizada por sua raptora no estilo damsels in distress, deixo de fora a possibilidade de repetir nas produções de vídeo o que já é desenvolvido nas fotografias.
A força e dedicação das pessoas envolvidas diretamente com esse projeto chega a emocionar, tanto dos colaboradores e roteirista, o pessoal da Fetixe-Rio, cinegrafista e modelos, todos lutando comigo e vestindo a camisa para que tudo saia muito perfeito, esquecendo-se do cansaço nas inúmeras repetições extremamente necessárias porque isso é feito por pessoas amadoras sem o mínimo preparo artístico, para que todos possam desfrutar de vídeos feitos com esmero e primazia.
Tenho confiança de que isso tudo valerá muito à pena pra mim e com absoluta certeza para todos que arregaçaram as mangas, acreditaram na minha maluquice e cada vez mais vem uma árvore nascer de uma semente plantada com muito amor ao que está sendo produzido.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Bondage Chile


Há três anos atrás Christián Leiva idealizou e criou um site interessantíssimo que me serviu de incentivo para estar aqui agora, escrevendo matérias e às portas de lançar o meu portal tão esperado. O site www.bondagechile.cl ou www.bondagechile.net entra de novo no ar em questão de dias e todo mundo pode estar antenado no que acontece pelos lados da belíssima cidade de Santiago.
Hoje, é possível encontrar matérias e algum material remanescente no fotolog (pode ser acessado através do endereço eletrônico acima) que tem um editorial onde ele conta os dias para poder mostrar toda a arte de bondage que se pratica no cone sul.
Com excelente trabalho de cordas e no padrão que um site sério de bondage exige, Bondage Chile prima por uma ótima qualidade fotográfica e com lindas modelos que ampliam o campo que ele buscou atingir. Sempre com temas de fácil entendimento e discussão é de lamentar que por problemas de provedor o site tenha ficado tanto tempo sem brindar seus membros e freqüentadores das ótimas matérias que se podia acompanhar.
Inúmeros encontros foram marcados sob a chancela de Bondage Chile, centenas de pessoas se conheceram através do forum, trocaram idéias e material de bondage, viajaram nos contos BDSM e deliciaram-se com os excelentes ensaios fotográficos e os vídeos publicados.
Essa página deseja a Christián toda a sorte do mundo em sua nova empreitada, e como ele mesmo diz, que renasça das cinzas um novo Bondage Chile porque como apresentado no slogan, um lugar de prazer nunca morre, ele apenas vive.
Na Foto: Claudia (modelo exclusiva: bondagechile.cl)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Encontro Cosa Nostra


Dia 22 de Setembro próximo acontece no Rio de Janeiro o primeiro encontro de fetiche Cosa Nostra. Uma jogada de gênio, reunindo pela primeira vez duas vertentes do BDSM carioca, o grupo Nação BDSM da Domme Morrigan e a Fetixe-Rio da Rainha Nefer. Por trás dessa idéia e na organização do evento estão a Senhora Maga e Mistress Bela do Clube Dominna. Você gosta de BDSM? Se gosta e conhece o que se faz nesse país, me responda o que vai pintar nesse encontro. É bruxaria demais pra um corpo santo!
Tudo isso rola no Estúdio da Fetixe-Rio que está sendo devidamente ampliado e totalmente remodelado para hospedar esse acontecimento. Ainda não tenho a programação que está sendo preparada, mas assim que chegar às minhas mãos passo direto aqui no Blog e, desde já, convoco todo mundo para sair detrás do monitor e ver tudo ao vivo e a cores. Sei que fui convidado para realizar um workshop de bondage no evento e já estou me preparando para apresentar o melhor a quem comparecer.
Mas a razão dessa matéria não é somente divulgar o encontro Cosa Nostra, mas sim parabenizar a iniciativa de união em torno de um assunto tão comum a todas as partes envolvidas e que agora dá sinais de que com boa vontade e relevância se chega a qualquer objetivo. O local é de excelente acesso e a festa começa às 18 horas. Portanto, dia 22 de Setembro todos que amamos o BDSM e o queremos cada vez mais forte e unido, temos um compromisso: Encontro Cosa Nostra no Rio de Janeiro, imperdível!
Maiores informações e reservas pelo email: morrigan_oconnor@yahoo.com.br
Não deixe seu lugar vazio...

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terça-feira, 2 de setembro de 2008

Scarlet


Um metro e setenta e seis muito bem distribuídos em um corpo esbelto, cuidados extremos que deixam seus cabelos como seda, um olhar de menina que esconde desejos sádicos onde ela controla a mente de seus escravos e manipula cada passo num frenesi hipnótico que os leva ao delírio. Hoje, ela ainda debuta como domme, mas em pouco tempo será uma Rainha ou uma Deusa perante seus súditos. Scarlet me conta que manuseia a mente humana com o cuidado de não causar-lhes danos futuros, tem plena consciência disso assim como do principio consensual que deve nortear toda e qualquer relação SM. O prazer é remunerado quando sente que está causando a dor e a humilhação em seus dominados, quando os tem como marionetes na palma da mão. Ela adora brincar com todos os sentidos de quem se submete aos seus domínios, os aceita e os transforma em troca da gratidão que devem demonstrar por estar lhe servindo. Seus lindos e bem cuidados pés calçam sandálias que adoram pisotear seus “tapetes” em uma sessão de trampling, pode fazer inversão para sentir-se poderosa e até satisfazer aos desejos pequenos de seus escravos, deixando claro, porém, que não se importa em dominar homens que não se submeteriam a esse tipo de fetiche. A entrevistei num ambiente fora do circuito fetichista e pude ter a real noção de seu comportamento e entendimento do que faz. A juventude ajuda e ela se esforça para entender cada passo necessário para tornar-se o que almeja ser. Pessoa de caráter elevado e personalidade forte, Scarlet tem o sadismo no sangue, revela que para ser seu escravo é fundamental que o candidato tenha absoluta certeza de ser masoquista, caso contrário à máquina emperra. Apesar do pouco tempo de militância nas hordas fetichistas, ela acumula alguma experiência que a credencia a buscar vôos mais longos dentro do que ela considera seu ideal, não aceita o fato de jogar de dois lados e procura estar atenta aos procedimentos que a possam transformar na Rainha almejada. Sabe da responsabilidade que deve ter em todos os sentidos, principalmente com quem a ela se submete, entende que as criticas que possam surgir serão como contribuição e aprendizado que todos devemos ter, independente da idade ou do tempo de prática. Scarlet afirma categoricamente que foi se chegando bem devagar, aprendendo daqui e dali, observando e levando para o lado prático em pequenas doses até ter essa noção que assombra num primeiro contato, mas que mostra a metamorfose que o mundo do fetiche nos ensina dia após dia. Ela é parte da renovação iminente a que tudo na vida se submete e, claro, que com o fetiche jamais poderia ser diferente. Seus olhos demonstram um brilho intenso e profunda identificação com o assunto e me fizeram por algumas horas regredir a algum lugar num passado nem muito distante e perceber que o que nos aproxima independe de tempo, mas fica condicionado à nossa razão. O mundo de Scarlet é particular assim como o de muita gente que enxerga o prazer na dominação e na submissão. Haverá de acontecer dias longos e noites solitárias, mas nada disso abala esse alicerce quando está calçado na força que só o desejo pode sustentar, quando tomamos o caminho certo, mesmo que diversas vezes nos pareça o mais difícil a seguir. O fetiche costuma apresentar as duas faces da moeda e nessa dança é que ansiosamente esperamos que novas Deusas como Scarlet possam ocupar o trono de uma Rainha, sem necessariamente ocupar o lugar sagrado que pertence a tantas outras, porque na ótica do BDSM sempre haverá espaço para quem quiser buscar o seu lugar de destino. Que essa procura seja incessante e que Scarlet mostre em sua trajetória toda a alegria demonstrada no seu sorriso encantandor.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Daquilo que eu quero


Havia há alguns anos atrás um provedor de internet e nele umas salas de bate-papo bem interessantes. Quem ainda se lembra do Mandic? Pois é, coisa de dez anos atrás mais ou menos numa daquelas salas de fetiche conheci muita gente bacana e que me deu a possibilidade de encontrar outras pessoas legais, as quais travo certa relação até os dias de hoje. O pessoal (a grande maioria de São Paulo) costumava se reunir num bar chamado América lá pelos lados da Alameda Santos (quem é de São Paulo que me ajude porque nem sei se ainda está no mesmo lugar...). Bom, conheci na sala de bate-papo uma pessoa bem especial, Mônica, seu nome verdadeiro, uma paulista com ares nipônicos, publicitária, excelente nível cultural e de relacionamento fácil. A coisa rolou pelo computador e no primeiro encontro no América nos conhecemos ao vivo (face to face). Ela tinha idéias submissas, falava em bondage e muita coisa em comum nas conversas que iam e vinham atrás de taças de vinho. Me contava algumas histórias que nada tinham de ficção e traziam um enredo bem desenvolvido por alguém que se dizia iniciante nas teias do fetiche, mostrava segurança ao falar no que seus mestres lhe haviam ensinado, parecia sempre ligada nas coisas que aconteciam ao redor e, reluzia um olhar profundo que me dava a confiança de gozar de sua amizade e confidencia a todo instante. Lá pelo terceiro ou quarto encontro acabamos por nos envolver o que já era aposta de todos que estavam nos observando. É ilógico pensar que de um encontro de fetichistas não saia um envolvimento sem nenhuma prática, e, portanto, dessa evolução anunciada começaram a brotar alguns frutos e fui parar dentro de uma relação afetiva. Naquele momento garanto que não era aquilo que eu queria e tão pouco imaginava, mas os dias foram sucedendo e o compromisso ficou evidente a tal ponto das conversas telefônicas tornarem-se obrigatórias pelo menos duas vezes ao dia. No começo passava-lhe tarefas por email (porque segundo sua sugestão deveria haver dominação em todos os sentidos) e posava como seu mestre aos olhos e conhecimento de todos que seguiam freqüentando a sala de bate-papo. Ela mandava relatos dos nossos momentos íntimos e não satisfeita, contava aos amigos nossos mais tórridos encontros o que me causou uma irritação tremenda. Desculpou-se, passou a guardar nossos encontros a sete chaves, mas exigia demais a cada nova viagem que eu fazia nos finais de semana que se tornavam cada vez mais corriqueiros, até que em dado momento me peguei perguntando quem comandava aquela relação. Descobri então que ela dava as cartas e me fazia realizar todos os seus desejos e vontades, chegando a sugerir pequenas sessões de espancamento leve o que não me dava prazer. Tentei mudar o curso do rio, mas já era tarde, ela era dona e senhora de todos os momentos que podíamos estar juntos, querendo mais e mais aquilo que lhe dava prazer. Meus argumentos eram ineficazes e sua vontade cada vez mais soberana tentando tornar-me dependente daquela relação que havia começado comigo no controle. Pela primeira vez experimentava ser dominado mesmo sendo eu o mestre, sentia na pele o que sábias Rainhas me falavam de suas relações com seus escravos, quando perdiam o controle sobre suas vontades no momento em que realizavam seus desejos de forma desmedida. Meus nós antes eficientes e cheios de arte, eram meros instrumentos imobilizadores para que ela pudesse na condição de dominada impor suas vontades através de pequenos castigos que aos poucos ficavam mais fortes a ponto de me fazer perder o interesse naquela mulher bela e fascinante que me parecia caída do céu. Pensei em desistir aos poucos, achei que seria importante preservar seu fetiche em detrimento do meu, mas resolvi assumir a decisão de uma vez, levar a culpa e sair à francesa. Alguns amigos entenderam a minha posição, outros me entreolharam esquisito e Mônica, nunca mais a vi. Fica a pergunta: até que ponto quem domina deve satisfazer as vontades de quem se submete?