No fundo o sujeito sabia onde estava se metendo.
Evidente que nem tudo estava explícito e o que gerava os
tais quilos de adrenalina era justamente o sabor do desconhecido.
Porque tudo que parte do centro da imaginação aguça
sentidos.
E desejo não se explica, ele surge de onde menos se
espera. Inspiração é pessoal.
Tudo que tinha era uma pagina do Google Map e um endereço
no meio do nada. Do outro lado da linha e da tela uma mulher engatinhando em
busca de se auto descobrir, e, ele, funcionando como um elo entre querer e
realizar.
Claro que o assunto preferido girava ao redor de relações
fetichistas, e havia impedimentos dos dois lados, compromissos assumidos na
vida que limitavam muitas tentativas programadas. Mas dessa vez ela abusou da
dose, e instaurou a cultura do medo que deveria ser a porção exata do veneno
que ambos iriam experimentar.
Ela funcionava como a dona da idéia. O ponto dominante,
ainda que de lado a lado não houvesse definido que papel representar no
contexto. Onde estava a submissão? Em algum lugar do enredo se submeter era um
estado de espírito, a aceitação da mais obvia vontade de estar envolvido
completamente no que estava sendo escrito a duas mãos apenas. As dela.
Há limites nestas histórias, todo mundo está cansado de
saber que o direito de alguém termina onde o do outro começa e que tudo, sem vírgulas,
há de ser sempre consensual. Porém, basta que haja respeito e confiança de
parte a parte pra que o rio siga seu curso e o caminho fique mais limpo, ainda
que tudo comece e termine numa estrada empoeirada que vai dar numa fazenda
antiga.
E os detalhes? Talvez seja a mola mestra de qualquer
iniciativa que se use pra jogar, pra viver uma aventura, uma fantasia. Fetiche é
detalhe, e como tal, eles foram exaustivamente discutidos, e como num pendulo, pendia pra um lado e buscava aceitação do outro.
Quando fetichistas decidem jogar a imaginação tem que estar
o mais fértil possível. Apostar na fantasia e tentar de todas as formas planejar
a execução com riqueza talvez seja a maneira mais simples de fazer as coisas
encaixarem.
Mentes inteligentes e sãs topam esse desafio.
Por semanas as coisas se delinearam e tudo que ele
naquele momento queria ler ou ouvir era a ordem pra por o carro na estrada.
Sabia, entretanto, que as barreiras eram complicadas e o tamanho do enredo
descrito que o faria cair na maior e melhor das ciladas ainda estava a passos
de ser desenhado. Horas de angustia e um medo invisível deslizado goela abaixo
criavam uma atmosfera torpe e indescritível.
E quando ela disse que tudo seria a sua maneira ele
pirou. Uma piração em mono, sem poder dividir os canais, sem o eco necessário
que pudesse dizer que ele era parte do plano, que sem ele nada seria possível e
que sem seus desejos simplesmente estaria à deriva.
Mas apostou na própria fragilidade diante do fato a ser
consumado e na inteligência e perspicácia de quem estava com a história
elaborada e decidida.
Até que ouviu o sinal verde e partiu.
E foi passo a passo, tipo sem destino, embora soubesse
que havia um caminho que o levaria ao lugar marcado. Mas como seria? De fato,
quando se tenta criar uma aventura de uma simples idéia tudo é fácil e
descomplicado enquanto é apenas um sonho e um desejo. Realizar exige critério,
cumplicidade e coerência. E acreditar que tudo que estava por vir daria super
certo fazia parte do seu personagem.
E cheio de pensamentos ele seguia.
A tarde caía naquele dia de outono e o mapa já apontava o
ponto. O frio na barriga, o tesão, o fetiche, tudo isso latente e a sudorese
inevitável somente o faziam supor.
Mas assim que o vulto de uma linda mulher entrou no carro
ele gelou. Ela realmente cumprira a primeira parte do acordo e sereno atendeu a
ordem de ir em frente e não olhar pro lado...
Um bom final de semana a todos!