quinta-feira, 28 de março de 2013

Cilada


No fundo o sujeito sabia onde estava se metendo.
Evidente que nem tudo estava explícito e o que gerava os tais quilos de adrenalina era justamente o sabor do desconhecido.
Porque tudo que parte do centro da imaginação aguça sentidos.
E desejo não se explica, ele surge de onde menos se espera. Inspiração é pessoal.
Tudo que tinha era uma pagina do Google Map e um endereço no meio do nada. Do outro lado da linha e da tela uma mulher engatinhando em busca de se auto descobrir, e, ele, funcionando como um elo entre querer e realizar.
Claro que o assunto preferido girava ao redor de relações fetichistas, e havia impedimentos dos dois lados, compromissos assumidos na vida que limitavam muitas tentativas programadas. Mas dessa vez ela abusou da dose, e instaurou a cultura do medo que deveria ser a porção exata do veneno que ambos iriam experimentar.
Ela funcionava como a dona da idéia. O ponto dominante, ainda que de lado a lado não houvesse definido que papel representar no contexto. Onde estava a submissão? Em algum lugar do enredo se submeter era um estado de espírito, a aceitação da mais obvia vontade de estar envolvido completamente no que estava sendo escrito a duas mãos apenas. As dela.
Há limites nestas histórias, todo mundo está cansado de saber que o direito de alguém termina onde o do outro começa e que tudo, sem vírgulas, há de ser sempre consensual. Porém, basta que haja respeito e confiança de parte a parte pra que o rio siga seu curso e o caminho fique mais limpo, ainda que tudo comece e termine numa estrada empoeirada que vai dar numa fazenda antiga.
E os detalhes? Talvez seja a mola mestra de qualquer iniciativa que se use pra jogar, pra viver uma aventura, uma fantasia. Fetiche é detalhe, e como tal, eles foram exaustivamente discutidos, e como num pendulo, pendia pra um lado e buscava aceitação do outro.
Quando fetichistas decidem jogar a imaginação tem que estar o mais fértil possível. Apostar na fantasia e tentar de todas as formas planejar a execução com riqueza talvez seja a maneira mais simples de fazer as coisas encaixarem.
Mentes inteligentes e sãs topam esse desafio.
Por semanas as coisas se delinearam e tudo que ele naquele momento queria ler ou ouvir era a ordem pra por o carro na estrada. Sabia, entretanto, que as barreiras eram complicadas e o tamanho do enredo descrito que o faria cair na maior e melhor das ciladas ainda estava a passos de ser desenhado. Horas de angustia e um medo invisível deslizado goela abaixo criavam uma atmosfera torpe e indescritível.
E quando ela disse que tudo seria a sua maneira ele pirou. Uma piração em mono, sem poder dividir os canais, sem o eco necessário que pudesse dizer que ele era parte do plano, que sem ele nada seria possível e que sem seus desejos simplesmente estaria à deriva.
Mas apostou na própria fragilidade diante do fato a ser consumado e na inteligência e perspicácia de quem estava com a história elaborada e decidida.
Até que ouviu o sinal verde e partiu.

E foi passo a passo, tipo sem destino, embora soubesse que havia um caminho que o levaria ao lugar marcado. Mas como seria? De fato, quando se tenta criar uma aventura de uma simples idéia tudo é fácil e descomplicado enquanto é apenas um sonho e um desejo. Realizar exige critério, cumplicidade e coerência. E acreditar que tudo que estava por vir daria super certo fazia parte do seu personagem.
E cheio de pensamentos ele seguia.
A tarde caía naquele dia de outono e o mapa já apontava o ponto. O frio na barriga, o tesão, o fetiche, tudo isso latente e a sudorese inevitável somente o faziam supor.
Mas assim que o vulto de uma linda mulher entrou no carro ele gelou. Ela realmente cumprira a primeira parte do acordo e sereno atendeu a ordem de ir em frente e não olhar pro lado...

Um bom final de semana a todos!

terça-feira, 12 de março de 2013

Intolerância


Preferência sexual é coisa particular. O nome já diz: eu prefiro isto àquilo.
Daí, em certos casos, algumas dessas preferências se tornam práticas repetitivas e por conseqüência passam a ser consideradas um fetiche.
Alguns exteriorizam esses desejos outros não. Preferem o segredo.
Mas quando a preferência é pouco comum nem sempre a compreensão da sociedade é bem vinda. Porque é mais fácil admitir quem goste de bunda a quem goste de pés, por exemplo.
Muitas vezes o politicamente correto é preconceituoso.
E exclusão nesse modelo de sociedade latino infestado de dogmas e paradigmas é regra. Basta mencionar que você tem tendências a gostos diferentes dos considerados normais pelos gênios da intolerância e o tempo fecha. Porque todo mundo considera Freud um gênio, incontestável, e o que ele viu há cem anos atrás ainda é regra num lugar onde já existe luz elétrica.
E pior do que os especialistas são os entendidos. Pessoas que nunca flertaram com um assunto desses e quando batem de frente recorrem ao Google, a Wikipedia, na ânsia de achar um mísero significado sem saber que qualquer mortal pode postar o que quiser nesses lugares sem ao menos ter a noção básica exigida. E tome porrada!
As manifestações fetichistas não devem ser encaradas com desprezo, apenas com respeito.
Isso acontece invariavelmente quando alguém tenta convencer quem nunca experimentou uma fantasia a tentar. E por que não escolher pessoas do meio para esse tipo de jogo? Porque muitas vezes os encontros acontecem do lado de fora do circulo, justamente porque as pessoas que gostam de fetiches têm uma vida tão normal como de qualquer outro ser humano. Elas trabalham, estudam, se dedicam a projetos de vida nem sempre ligados a este tipo de atividade.
A sociedade impõe códigos de conduta em todos os sentidos. É midiático, moderno, cultural às vezes. As mulheres cheinhas hoje não têm vez diante da magreza assoberbada que preenche as páginas de revistas masculinas. Mulher pra ser gostosa e fatal nos tempos modernos tem que malhar seis horas por dia e tomar bomba. É a moda. E fodam-se as gostosas gordinhas porque elas têm uma barriguinha protuberante e estão fora de padrão.
Porém, acredita nisso quem quer. Os “maria-vai-com-as-outras”, os pobres de espírito, os que seguem as receitas da Ana Maria Braga e dão ouvidos as recalcadas do Saia Justa.
Meu desejo escolho eu, não a mídia.
Meu prazer é assunto pessoal e intransferível e nem tem na mão de cambista pra vender. Pra mim tanto faz, magra ou gordinha, se for mulher e gostar do que gosto é bem vinda. Mas não me venham com esse papo de perna dura ou perna mole, porque o que tem que estar duro é outra coisa, não as pernas.
Portanto, a intolerância social nos dias de hoje é algo a ser discutido. Não pode haver conformismo e ninguém deve fazer o papel de vaca de presépio a quem tenta impor o que é certo ou errado. Quem trepa sou eu, não esses críticos idiotas ou fotógrafos metidos a besta que criam esse tipo de banalização da mulher e do sexo. Porque alguns, nem de mulher gostam. Nada contra o homossexualismo, entretanto, há que haver reciprocidade do lado de lá com quem é hétero.

Por isso, eu sigo a minha receita que vem dando resultado faz mais de meio século. E pasmem, as fantasias sexuais têm tido boa penetração no universo baunilha. Cada vez mais é comum ver pessoas que não têm acesso a glossários fetichistas admitindo interesse em algumas práticas. O resultado disso é a divulgação, porque embora alijado da mídia que só se interessa quando uma celebridade lança mão de cenários fetichistas pra ganhar grana, o fetiche é atrativo pra quem quer mudar de ares, experimentar coisas novas e mandar a mesmice de vez pro espaço.



Então, dou as boas vindas aos novos habitantes desse universo que recebe quem chega sempre com os braços abertos e um sorriso no rosto. A intolerância aqui é assunto encerrado!