sexta-feira, 9 de março de 2012

A Primeira Pedra


O universo chamado de BDSM é cercado de questionamentos.
Se tais questões aparecessem apenas de fora pra dentro até que seria bastante óbvio, pois trata-se de hábitos e costumes pouco comuns praticados por um grupo seleto de pessoas. Porém, existem algumas questões que insistem em sobreviver dentro do próprio nicho.
E uma delas, a qual me referir em alguns artigos aqui, dá conta da escolha da submissão.
Nada é tão complicado de entender como a submissão.
Tudo isso porque existem vários fatores que compõem a servidão sexual em se tratando de fantasias e desejos. A submissão pode ter dois caminhos: da pura servidão ou com doses de masoquismo. Porque existem pessoas submissas que não aceitam a dor, ou melhor, não precisam da dor pra encontrar prazer. Da mesma forma em que outras aceitam a dor e suportam castigos como forma de oferecer aos seus parceiros (sádicos) uma prova de dedicação e entrega total.
É complicado isso. Um autêntico coquetel de gostos, embora signifiquem algo bastante comum. E por se submeter sexualmente aos caprichos de quem procura por isso no universo BDSM, as pessoas com tendências submissas não podem sofrer preconceitos de nenhuma espécie, porque isso faz parte do tesão e tal comportamento não se faz pressente em suas atitudes fora da fantasia.
É preciso parar com esse papo de que quem é submisso – ou submissa – tem ares de subalterno. Estamos diante de uma tendência sexual apenas, nada mais que isso. É hora de separar bem as coisas e entender de uma vez por todas que a submissão se dá em busca do prazer somente. Já vi gente falando e escrevendo besteiras na rede a esse respeito.
Aliás, como tem gente sem noção criando espaços onde supostamente seriam abordados temas de BDSM. Valha-me! Salta aos olhos frases esquisitas invocando até paradigmas comparando pessoas fetichistas a lixo social. Santa ignorância cretina...
Noutro dia alguém vociferou que a pessoa submissa gosta de ser usada. Sim, gosta é verdade, mas numa relação e de preferência bem sólida, o que não significa que este termo “usada” seja algo conotativo a passar de mão em mão qual garrafa de cerveja em boteco. Se a pessoa quem ela se entrega a usar garanto que ela ficará plenamente satisfeita.
É bem verdade que admitindo o BDSM como uma imensa vidraça eu jamais apostaria em dizer que alguém em se sentindo ofendido com tudo isso atirasse a primeira pedra. Porque a nossa cabeça já está cheia de pedradas que nem cabe mais um galo protuberante. Pessoas que comumente gostam de julgar acham nos fetichistas seu alvo predileto. Portanto, se não nos cabe aceitar esse suposto complexo de vira-latas também não é factível achar que a submissão é o crepúsculo do BDSM.
Minha intenção não é plantar flor nos jardins das submissas com esse discurso e sim tentar estabelecer um critério que coloque as coisas em seus devidos lugares. Pode parecer redundante pra quem já é do meio, mas tem alcance em que pega senha pra entrar na roda. Até porque e pensando bem, como um bom bondagista não me toca a submissão feminina como condição básica pra minha prática. Concordam?
E ademais, enche o saco essa lengalenga de que submissa é isso ou aquilo.

Recebi um email hoje de alguém que anda flertando com o fetiche metendo o malho no marido por ter descoberto no sujeito ares de submissão e podolatria. A moça relata que o sujeito anda pirando com seus pés imundos e sua predileção é limpá-los com a língua de baixo pra cima, ou melhor, bem ao estilo submisso.
Ao responder que era normal e coisa e tal, ela me manda em réplica que não suporta mais tal atitude por considerar o cidadão um porco imundo.
Talvez ela dê atenção as minhas palavras ou

enxote o cara de sua vida pra sempre, vai saber. Na verdade, deveria aceitar a posição do marido percebendo que a submissão sexual em sua vida apareceu como uma simples opção, como a de tantos outros que a intolerância ainda insiste em esculachar.

Um bom final de semana a todos!

4 comentários:

ternura disse...

bom diaaaa nobre e delicioso escritor,

hummm....interessante a prosa dessas "cumadres" sobre BDSM, suas vertentes e suas deliciosas nunces...

eu como submissa um tanto masoquinha por opção de escolha, porém mui consciente, íntegra, inteligente e responsável (deixemos isso bem claro, ora pois) venho aplaudir suas palavras, como sempre repletas de sabedoria e livre de preconceitos, amém...*pisc

amo ler-te, cada dia mais!!!

bjs convictos

DySil disse...

Querido ACM feiticeiro, em tempos de fluidez das relações, o fetiche vem solidificar a relação entre os parceiros, afinal a maioria não sai espalhando aos 4 ventos suas preferência, é necessário confiança, cumplicidade e amor.Na minha opinião o fetiche pode ser o "plus" que fará com que o casal viva bem!! Parabéns!!!

ACM disse...

DySil

Gostei do feiticeiro...rs
Levando-se em conta que a palavra fetiche é oriunda de feitiço tua explanação tem total sentido.

Confiança é tudo, concordo plenamente.

Beijos
ACM :)

ACM disse...

Ternurinha

Diria que o BDSM tem duas correntes de submissas: as autênticas, ou de alma como preferem, e as genéricas.

Concorda?
Solta a voz.

Beijos
ACM :)