terça-feira, 13 de março de 2012

Rumos


Arlene dava um duro danado.
Dois filhos pra criar, um marido se matando num taxi pra trazer grana pra casa e ela costurando pra fora. Com trinta e poucos anos se via sem tempo de reclamar da vida complicada e seguia as regras impostas por ela pra ser feliz.
Um dia uma cliente apareceu num carrão. Trazia um tecido de couro negro e por indicação de alguém se aproximou dela em busca do traço perfeito e da roupa sob medida. Ela topou pela possibilidade de ganhar mais alto e pela simpatia da tal mulher.
Conta que começou a delirar com o traçado da roupa e não fosse de um numero bem maior teria experimentado algumas vezes. Até que a mulher voltou pra uma prova e Arlene sentiu algo mais forte ao ver a mulher esbelta dentro daquela armadura de dominatrix.
Houve recíproca, e naquela tarde Arlene se viu com desejos lésbicos pela primeira vez na vida.
Passaram a usar as tardes livres para encontros sorrateiros. As duas eram casadas e Arlene começou a se entregar cada vez mais aos caprichos daquela mulher e se viu submissa dos desejos dela.
Muitas vezes o fetichismo permanece adormecido nas pessoas até que se mostra mais tarde, mas nesse caso, além das diabruras fetichistas havia o fato do homossexualismo batendo na porta. Por isso, Arlene achou o desejo e dele não queria se livrar nunca mais. Os dias ficaram longos, o trabalho passou a lhe fazer companhia nas madrugadas em claro e o sexo em casa cada vez mais ficava em segundo plano.
Ela queria servir, pertencer, mas dessa vez o alvo usava saias como ela e tinha uma racha no meio das pernas. Chegou a olhar outras mulheres no espaço destinado ao provador de suas costuras, mas não havia lógica que a fizesse gostar simplesmente de estar com uma mulher. Pra ela, a homossexualidade estava na submissão.
Cuidava pra não dar bandeira e aparecer em casa com marcas do prazer arrancado a força. Dona de uma situação financeira confortável, sua parceira fetichista lhe enchia de presentes. Nada de grana, somente objetos, saltos e roupas. Ela os levava pra casa e juntava com tudo que se relacionava com suas costuras pra ninguém perceber.
Certa vez num desses encontros de fim de tarde a mulher apareceu com uma surpresa a apresentou Arlene a outra mulher. Juntas foram ao Shopping, tomaram um café e rumaram para o Motel de costume. A dona da festa algemou Arlene numa poltrona junto à cama e se deliciou com a garota querendo nitidamente causar ciúmes em sua parceira. Ela surtou e através de um escândalo sem fim esbravejou a plenos pulmões contra a condição que fora submetida sem o devido consentimento.
Por conta do feito, foi castigada perante o riso da mulher que parecia uma meretriz.
Apavorada Arlene deu o fora. Entrou no primeiro coletivo que passava por perto e desapareceu. Sofreu com a atitude e segurou a barra da maneira que deu. Exibia um mau humor tremendo em casa e o sorriso deixava sempre guardado.

Depois de tentar de todas as formas uma reaproximação a mulher reapareceu do nada, sem prévio aviso. Arlene foi pega de surpresa com a visita inesperada e endureceu. Deixou claro que a humilhação daquela forma não fazia parte de sua cartilha fetichista, mas ante o apelo insistente e o pedido de desculpas da mulher chegou a fraquejar.
Hoje ela busca conhecimento sobre seu próprio fetiche e está as portas de tomar uma decisão.
Usou esse espaço daqui do blog pra enviar um email com uma história de prefácio e um apelo como epílogo. Ela vive uma dúvida que vai desde o perdão, passa por sua própria convicção e termina no casamento.
Há muita coisa em jogo e não faltam analises a serem feitas.
Normalmente quem abre o jogo ainda que no anonimato precisa de uma palavra de conforto, incentivo ou o que for. Ela tenta se achar nesse imbróglio que se envolveu e tem uma decisão a tomar.
E precisa dos amigos pra ajudar na sua própria reconstrução.

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