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sexta-feira, 30 de março de 2012
Plebe Rude
Nos anos oitenta eu gostava de punk rock, do som das bandas de Brasília e de bondage.
Curtia o cinema e grudei os olhos na tela quando assisti a História Oficial, mas foi quando conheci a Márcia do Itaim que a cada desembarque no Rio trazia na mala histórias que eu amava duvidar que consenti falar de fantasias sem pudores e receios.
Ela tinha muitas. Carregava um rótulo de ex-combatente, fazia questão de afirmar que a vida horizontal fora deixada de lado na terra da garoa e as visitas que freqüentemente fazia ao Rio tinha por único objetivo encontrar as amigas e uma prima que morava aqui.
Dava pra acreditar. Ela era habitue das noites de sextas e sábados numa discoteca onde eu colocava as pessoas para dançar e os horários seriam conflitantes com a profissão que ela havia abandonado. Como também acreditava em partes nas histórias que ela contava de suas aventuras com os “ex-clientes” em tempos idos.
Fetiche era coisa pra pouca gente no hemisfério sul e a geração academia e corpo sarado que surgia estava mais preocupada em malhar do que ser feliz. E as fantasias da Márcia do Itaim chocavam pela lógica aos que jamais se deram conta de que fetichistas existiam por aqui, ainda que escondidos em ternos e gravatas e atrás de mesas de empresas multinacionais.
Era preciso ter grana no bolso e pagar pela fantasia.
Quem dava a cara por aqui sofria horrores e quase uma perseguição social. Quem vem de longe conhece essas histórias e tem noção da saga de quem ficou na vitrine.
E havia duas coisas que me faziam ter um fascínio pela Márcia: ousadia pra falar de tabus de forma aberta e direta e o fato de não ter vergonha de sua própria história recente. Menina de postura!
Certo dia ela levou a tal prima e duas amigas com ela ao Pub. Alguns amigos travaram quando deram de cara com aquela Deusa Loira e suas amigas interessantes e na hora se juntaram na roda. Mas engana-se quem pensa que a Márcia travou ou mudou o comportamento. Contou sua história com um cidadão de classe alta que gostava de ser algemado e levar umas boas coças com vara de marmelo. A galera surtou, inclusive as pessoas que estavam com ela.
E não houve o famoso passo atrás e sequer a moça ruborizou as bochechas.
Contou o enredo em detalhes e deixou claro que levava uma grana pra realizar as fantasias do moço consorte. Claro que deixava explícito que aquilo era parte de um passado não muito distante, porém não descartava a possibilidade de viver todas aquelas coisas numa relação sem fins comerciais.
Num dado momento meus amigos imaginaram que estaríamos vivendo algo como o sujeito de bunda pra cima levando varada na bunda, afinal, estávamos tendo um caso ainda no começo, mas algo a olhos vistos. Não fiz questão de desmentir ou confirmar, apenas estabeleci as diferenças do que era prazer e do que nem passava pela minha cabeça, entretanto assumindo que fantasias eram coisas que me agradavam muito.
Acredito que esse pequeno romance com a Márcia e esse papo animado antes da noite começar tenha sido meu primeiro ensaio público com o fetiche. Na verdade, ninguém me perguntou nada a respeito depois, talvez por pensarem que o interesse pela loira fosse tanto que jamais a contestaria em público, mas posso garantir que entre nós algumas fantasias fizeram bastante sentido até ela não dar mais o ar de sua graça em terras cariocas.
Interessante é que algum tempo depois alguns parceiros chegaram a pensar em apedrejar a Márcia e suas atitudes, passadas e recentes. Era o reflexo da plebe rude e ignorante que pela pouca informação prefere a crítica sem nexo a analise dos gostos distintos dos seus.
Lembrei dessa história porque alguém hoje me falou em coragem, em fantasias e escutei uma música que pra mim sempre fez uma grande diferença.
Deixo pra vocês um clipe e uma homenagem a essa mulher corajosa e cheia de decência que infelizmente nunca mais vi.
Um excelente final de semana a todos!
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Historias Fetichistas
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