Os braços do fetichismo são amplos. Abraçam e acolhem sem
escolher.
Quem chega e sabe buscar um rumo normalmente encontra um
mapa pra trilhar. Mas às vezes a curiosidade é tamanha que as opções se tornam
cruéis. Dilemas.
Porque na verdade há dois tipos de curiosos: os que
querem mesmo levar o que existe para suas vidas e os que dão uma passadinha e
ficam com retratos e lembranças. A experiência e o tempo de estio me fizeram
vivenciar os extremos.
Normalmente o BDSM não perdoa deslizes. Embora não haja
uma linha de governo existem algumas eminências pardas que costumam pregar
peças em quem se arrisca na trilha. Os novatos devem estar atentos a essas
pegadas que seguem pra não cair na armadilha que os leve ao cadafalso da desistência.
A regra é simples e imutável: quem é experiente já foi
novato e assim a banda toca e tocará.
É fato que recém chegados ou curiosos piram quando
deparam com práticas plasticamente perfeitas. O atrativo visual do fetichismo é
sempre um aditivo. Muitos chegam atraídos por belas imagens e fazem disso seu
combustível. Escolhem um lado – ou ficam com ambos – e partem resolutos na direção
do que os trouxe aqui.
Há, então, a extrema necessidade da leitura correta do
que está em voga.
Concordo que a liturgia é extensa e rodeada de conceitos
que nem sempre aplacam a ânsia de quem chega à procura de prazer. Mas alguns
tutoriais são essências. Comportamento, segurança e outros, vão se tornar
fundamentais quando o prazer for intenso. Porque a fantasia uma vez assimilada
e adquirida pode ser tornar uma necessidade pulsante na vida de quem chega.
Não é demérito não saber. Estar próximo de quem sabe o be-a-bá
de trás pra frente agrega.
Me lembro que lá atrás quando tudo era um mar de
incertezas sobre como aprender a prática que carregava comigo desde a
maternidade, minha ansiedade atrapalhou bastante. Com literatura parca a
proximidade com pessoas experientes foi meu único caminho. Talvez tenha colhido
conhecimento o bastante que me possibilitou escrever quase mil artigos dos
mais variados assuntos fetichistas, justamente por me cercar de pessoas que
tinham capacidade pra gerir minhas dúvidas. Lógico que meu faro contribuiu, da
mesma forma que meu senso fetichista não me deixou sair dos trilhos.
Hoje, quando converso com pessoas que aparecem na janela
do fetichismo procurando um lugar pra depositar seus sonhos, procuro
materializar minha própria busca e através de experiências próprias passar um
pouco do que aprendi.
Daí eu escuto algo assim: “eu levaria horas pra fazer com
as cordas o que você consegue fazer em poucos minutos”. Porém, eu talvez tenha
levado muito mais tempo do que esse alguém possa supor. Porque simplesmente a
prática é o elo entre o embrionário e a plenitude.
O que deve nortear a presença do novato no universo
fetichista é o estabelecimento dos seus próprios limites. Os limites são
atenuantes quando se fala em BDSM. Através de uma linha imaginária pode-se
conceder ou interromper. A ultrapassagem da fronteira deve se dar de forma
lenta e consciente sem a necessidade de provar nada a ninguém ou a si mesmo.
Dessa maneira, é possível alcançar o entendimento entre o
que se procura e aonde é possível chegar. Porque toda atividade fetichista
começa no tesão e termina na prática.
A chamada cartilha do BDSM é genérica, mas a do
praticante deve ser limitada.
E por mais que seu desejo sobreponha sua razão essa cartilha
precisa estar guardada num canto qualquer pra te lembrar que todo prazer está
dentro de nós, e por maior que seja a entrega a alguém ou ao próprio universo
ela há de ser soberana e definitiva.
Dica
literária: Techniques of Pleasure (Margot Weiss)
Um bom final de semana a todos!
4 comentários:
FETICHE-BONDAGE, muito prazer , usando a palavra nos dois sentidos.
Un saludo y feliz fin de semana.
Chris, nos dois sentidos dá mais prazer...rs
Gracias Luna, que tengas una linda semana. Besos
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