Desde muito cedo aprendi a conviver com a imperfeição.
Sim, me achava imperfeito justamente por ser diferente,
ter gostos exóticos, por trazer o erotismo muito cedo pra minha própria vida. E
acho que muitos fetichistas natos pensam da mesma forma.
E aos poucos, tendo senso crítico, é possível entender um
pouco do que chamo imperfeição.
Noutro dia alguém comentou aqui anonimamente que todo
fetichista é egoísta. Talvez ela até esteja certa em sua lógica, tomando por
base que quando se tem um objetivo claro a ser estabelecido numa relação isso
tem uma dose de egoísmo. Entretanto eu me pergunto: e quem não tem?
É comum estabelecer critérios quando se pensa em ter um
relacionamento. Ainda que esse critério venha após o que se chama “paixão cega”,
em algum ponto ele vai aparecer. Por mais abnegado que seja o ser humano faz
suas apostas e ainda que de forma discreta tenta moldar quem dele se aproxima
para conviver. Porque todos, fetichistas ou não, têm as suas preferências.
E dentro dessa miscelânea de dúvidas e celeumas a coisa
complica quando fetichistas e não fetichistas imaginam se relacionar. Porque a
primeira impressão que fica é a do fetichista egoísta obtendo vantagem, se
aproveitando do momento e imbuído do mais puro chauvinismo realizar seus desejos
eróticos. Por outro lado, caberia o pensamento da suposta curiosidade de quem
se aproxima de um fetichista pra buscar umas lascas de adrenalina e
experimentar algo inusitado. Nesse caso, os dois conceitos se enquadram e até
se admitem em determinadas situações.
Entretanto, tudo é um simples conceito. Porque há
relações e relacionamentos.
O pior acontece quando a ruptura entre fantasias e
relacionamento se dá com vidas em enlace. Misturou sentimentos ferrou. Mexer
com isso não é tarefa simples, porque normalmente fetichistas vivem de emoções e
toda fantasia tem a facilidade de tocar no âmago da questão que ele tanto busca.
Por isso, eu falo em imperfeição. Porque se para um
fetichista a fantasia é essencial, pra quem não tem essa necessidade latente é
apenas mais uma aventura que pode ou não ficar guardada pra sempre. Mas isso
faz parte do jogo e mesmo que existam vários epílogos manjados o fetichista
sempre aposta em correr esse risco.
Alguém pode considerar tudo isso um absurdo ou uma grande
viajem. Na verdade, relações e sentimentos são sempre os mesmos, com fetiches
ou não. No que concordo, porém, uma vez quebrado esse cordão umbilical que une
o fetichista e sua parceira, as conseqüências são totalmente diferentes. Então
voltamos ao velho papo da cumplicidade.
Se já é complicado construir um castelo imagina vê-lo
desmoronar?
É quando o fetiche que beirou a perfeição atinge a imperfeição
total. Porque expõe quem dele necessita pra viver seus melhores dias, uma vez
que quem sai da relação e não vai precisar mais dele o descartará. E o que fará
falta ao fetichista se tornará belas lembranças para quem dele se aproximou e
colheu boas doses de aventura de tudo isso.
Seria válido então ser pretensioso a ponto de afirmar que
é admissível se relacionar pra realizar as fantasias do parceiro sem se
envolver emocionalmente?
Penso assim: toda forma de prazer vale a pena... E se alguém
já disse isso foda-se: copiei.
No entanto, quando há a conjunção de idéias e a fantasia
funciona como um elo capaz de unir as duas partes num todo, tudo fica muito
mais intimo e necessário. Talvez isso estreite os laços de tal forma a criar
uma dependência sadia que termina por sedimentar a relação, tornando-a
perfeita. Nesse caso a imperfeição inexiste.
Mas até chegar aqui brother é tão complicado quanto
convencer teu patrão a te dar duas férias por ano. Concorda?
Por isso, sigo convivendo com a minha imperfeição...
4 comentários:
Adorei o texto. Realmente, esse ponto dos sentimentos é algo muito complicado, (con)viver é complicado em qualquer situação.
Abraços.
Interessante...A única coisa que vejo em tudo isso não é a imperfeição, é o desejo de ser feliz em meio a encontros e desencontros de desejos. E isso não aontece só com os fetichistas. Em geral, o povo tá perdido e nem sabe o que quer direito... É torcer pro universo conspirar a favor de todos: fetichistas ou não.
Marcelle, realmente as situações definitivamente não se isolam com o conteúdo fetichista.
A tendência é que tudo siga o mesmo curso
Bjs e obrigado
C, a imperfeição se mostra quando o fetichista nato se sente pressionado pelo mundo onde vive.
Encontros e desencontros existem, o fetichista tramita na vida, apenas a bordoada dói mais em quem faz a aposta maior...
No mais, to contigo, sempre
Bjs
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