Tá certo que fetiches assustam pessoas que não estão
acostumadas a lidar com eles.
Concordo que nem tudo é tão simples e que existem coisas
bizarras e que tudo faz parte de um mesmo universo, embora ninguém esteja
obrigado a tocar a mesma música.
Mas tratar fetiche com deboche é dose!
Acho que esse fantasma é o que mais atormenta a turma que
gosta de uma coisa pouco comum. Porque ninguém agüenta ser exposto ao ridículo,
ainda mais por um desejo.
Já vi fetichista pirando por causa disso, blasfemando
contra a própria fantasia e jurando nunca mais abrir o jogo a alguém. É como se
um mundo onde cabem todos os sonhos estivesse vagando pelo cosmo e
desaparecendo aos poucos sem que se perceba.
E que atire a primeira pedra na minha vidraça quem nunca
passou por isso.
Quem está na chuva fica sujeito a se molhar. É mais ou
menos isso. Por aqui vez por outra eu topo com um negócio desses. Muitos emails
chegam e dentre tantos não é tão difícil encontrar deboches quanto às fantasias
alheias. Não me refiro somente as minhas já que escrevo para todos, sem distinção
ou apelos.
Entretanto, o tempo e a vivência me ajudaram a lidar bem
com isso.
Muito da timidez dos fetichistas está ligada ao deboche,
ao pouco caso. Preconceito existe claro, seria hipocrisia não admitir, mas
quando isso acontece de forma velada não atenta tanto contra ninguém. A pessoa não
admite ironia preferindo até mesmo o desprezo.
Outro dia me perguntaram se há exclusão social quanto ao
fetichismo. Pode não ser tão alarmante, mas existe sim. Há casos que vão parar
na justiça de mães e pais que ao descobrirem o lado fetichista do marido ou
esposa, se negam a deixar os filhos sob os cuidados de quem tem essa veia
latente. Em pleno século vinte e um isso ainda está em voga.
Então, por receio que isso possa acontecer as pessoas não
se revelam publicamente. E se isso não for exclusão que mais será? Tolher
desejos em benefício de regras sociais para ser aceito no meio não deixa de ser
uma exclusão. Isso acontecia com os homossexuais há algum tempo e com negros.
Foi preciso muita luta para quebrar essa barreira.
Hoje, alguns fetichistas lutam contra decisões de
conselhos de medicina que a cada cinco anos listam as parafilias e dentre elas
muito do que se pratica no universo fetichista está taxado como tal. Por aqui,
no hemisfério sul onde essa sub-cultura ainda engatinha, poucas manifestações acontecem
nesse sentido. Devido a pouca informação de pessoas que lidam com os famosos desvios
de conduta isso não se torna um assunto de extrema relevância.
Com as redes sociais bombando é comum o aparecimento de
guetos onde os fetichistas se agrupam. A descoberta desse caminho faz o
fetichista lidar com pessoas iguais de forma direta, evitando o fenômeno do
deboche com freqüência. A colocação de qualquer assunto ligado à fantasia
pessoal fora dessas hostes na certa levará o fetichista a ter que lidar com
esses acontecimentos e assumir seu papel no meio em que tornou isso público.
Para quem faz dessas práticas um objetivo e está
começando a caminhar nesse universo o melhor é ficar restrito ao convívio de
pessoas, que mesmo de maneira virtual comungarão do mesmo tema ainda que os
desejos e fetiches sejam totalmente desiguais.
Evitar o embate gratuito é se auto-preservar e cabe aos
mais experientes orientar.
Esse artigo surgiu após receber um email de um leitor que
recentemente passou por um dissabor. O sujeito é podólatra e numa roda de
amigos deixou claro desejos de ser pisoteado e por lamber solas de sapatos
sujos. A inevitável ironia se fez presente e ele se sentiu diminuto perante
todos numa mesa de bar.
Por ser jovem e ainda ter dúvidas de sua normalidade
mental precisa entender que esse fato não é recente e tão pouco exclusivo de
seu fetiche. Normalmente aqueles que mais debocham de desejos esquisitos são os
que se atêm a situações super escondidas de sexo mais que bizarro que para o
chamado meio
social não nocivo é considerado tão natural como tomar um sorvete.
Daí, da próxima vez que debocharem de suas fantasias
pense: pior pra eles!
4 comentários:
Sr. ACM
Acho engraçado que pessoas tão egoístas pensem em deboche como uma forma desestabilizadora.
O fetichismo é um egoismo.
Porque o sujeito que pensa só em sua realização é um egoista.
Alem disso lidar com deboche não é uma exclusividade dos fetichistas. Pessoas gordas, feias e magras demais aprendem a lidar com isso e não enclouquecem por conta disso.
E cá pra nós, o cara que lambe a sola de um pé imundo tem desvios, não acha?
Por mais que eu encare sexo com naturalidade e o admita de várias formas, vejo alguns fetiches como este de uma otica pouco compreensiva.
Não se pode admitir uma nojeira dentro de uma relação. Concorda?
Sra Anônima
Obrigado por seu comentário, embora eu o considere inoportuno e desinformado.
Primeiro: o fetichismo não é egoísta como afirma. Qualquer fantasia depende de duas pessoas, ou até mais, se for o caso. Egoísmo existiria se a parceira realizasse a fantasia de alguém por puro interesse de satisfazer a vontade alheia.
E ademais, se você aceita o sexo de todas as formas como diz, haverá de concordar que existem coisas bem mais nojentas que lamber a sola de um pé sujo, não?
Por acaso quando você pratica o sexo anal sai doce de leite de seu
ânus?
Esssa nojeira, como você diz, eu não aceitaria de forma alguma, ainda que parecesse um fetichista totalmente egoísta como quer.
Abraço
Mais uma vez um texto coerente e extemporâneo.
Grande brother MrZ
A nossa coerência às vezes assusta!
Obrigado por vir
Abraço!
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