quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sobre Nascer e Crescer


Num dia desses alguém me questionou sobre o fato de algumas pessoas nascerem fetichistas e outras somente encontrarem com esse estranho desejo anos mais tarde. Confesso que minha resposta teria necessariamente que passar por minha própria historia de vida.
Porque dentro do meu conceito tudo passa pelo desenvolvimento ao longo dos anos de um desejo que chegou aos primeiros lapsos de consciência.
Desde as brincadeiras infantis que a inocência escondia a fantasia latente, quase inconsciente e às vezes inconseqüente, aos primeiros contatos com uma aventura em preto e branco que aparecia na TV. Qual bondagista não gostaria de ser o vilão num filme de Hollywood? A mocinha amordaçada na cadeira e a índia amarrada numa árvore no meio do deserto inspiravam a velha teoria de Shakespeare: ser ou não ser.
Realmente, a idéia de ter o santo e o profano por dentro delimita a adolescência de qualquer um. Os dias e noites se alongam a propagam a velha dúvida que se carrega no peito. O fato de “não ser normal” amedronta e renegar é sempre a primeira medida. Afinal, seria muito mais simples descobrir certos gostos diferenciados quando se tem plena consciência dos sentimentos. É quando aparece a pergunta comum a um subconsciente corrompido de desejos esquisitos: por que eu sou diferente?
Na verdade, ser diferente é bom demais, é direito, legitimo, mas isso só fica claro quando os anos mostram um horizonte definitivo, quando nada é tão escondido e a fantasia já não se mostra no escuro. Mas enquanto tudo é um delírio disfarçado entre brincadeiras inocentes o sentimento tem mão única, é indivisível e muitas vezes ineficaz.
Qualquer fetichista que carrega consigo um desejo vive a sombra da dúvida até encontrar um rumo. Seja qual for à fantasia que o atrai, ele percebe que de fato o caminho que o trouxe até aqui, ao pleno entendimento, vem desde a maternidade.
A grande vantagem – talvez a única – que o fetichista que traz nas entranhas o desejo leva sobre os demais é justamente o caminho percorrido que vai se somar aos anos de experiência que virão a seguir. A utilização de fantasias oriundas dos sonhos que ao longo do tempo habitaram os pensamentos em segredo aflora anos mais tarde através das práticas. A criatividade tem uma razão de existir.
A lógica atesta que não há diferenças entre quem tem o fetiche marcado na certidão de nascimento e os que encontram esse sentimento muito tempo depois. São fatos isolados e que diferem apenas pela questão cronológica como um todo. O que pode existir é um acumulo de cultura fetichista capaz de transformar quem está a mais tempo na estrada num conhecedor pleno do que gira em torno dos seus próprios desejos, no caso de haver interesse pela pesquisa, porque a sabedoria se toma em doses diárias e o tempo não tem tanta influência assim.
No frigir dos ovos acho que respondi a pergunta de como tudo isso apareceu do nada pra um dia vir parar aqui nessas linhas. Do fetiche embrionário passando por experiências que marcaram e ainda em busca do que considero a cena perfeita. E essa procura não inclui datas e nem pessoas, é algo que trago comigo e ainda consigo dividir com quem durante anos troquei segredos: a minha própria consciência.

E dentro desse critério, o mais importante é ter pleno entendimento do que representa a razão maior do desejo e não abrir mão dos planos em hipótese alguma, mesmo que isso represente horas de procura ou até mesmo alguns dissabores.
A vida não é uma ciência exata e por conseqüência os sentimentos também não serão.
Porque se ainda a pouco falei na tal cena perfeita significa dizer que por mais perfeccionismo que haja no próprio desempenho, sempre haverá lugar para saborosas variações que façam com que algo que vem de tão longe realmente valha a pena.

2 comentários:

MrZ disse...

Quem é fetichista já nasce fetichista. Penso que, por causa de nossa criação religiosa oriunda de nossos pais e de nossas origens, somos tolhidos... Mais tarde, descobrimos o que perdemos por tanto tempo. Simples assim.

ACM disse...

Grande MrZ

Faz sentido, alías, vindo esse comentario do amigo sempre fará sentido.

Obrigado e Abraço