
Se admitir é uma virtude posso dizer com todas as letras que é hora de reciclar.
Reciclar conceitos, padrões e até mesmo idéias. Por que não? Acho digno pra cacete fazer uma análise do que você se dispõe a produzir e encontrar uma brecha onde você vislumbre que poderia estar melhor. Se tudo na vida é assim com o fetiche não é diferente.
Dois anos e meio produzindo fetiche ininterruptamente. Não há como deixar de existir um hiato, uma horrível sensação de que alguma coisa anda em falta.
A Internet não é uma caixa de surpresas. Quem navega tem em mente um destino e se você é o alvo deve estar preparado para ser um lugar onde tudo aconteça de modo a manter o território conquistado. O site Bound Brazil inegavelmente se transformou em dois anos de existência. No começo era uma idéia apenas, virou uma aposta e hoje está sólido, firme, com uma fluência de tráfico e assinantes superior às minhas próprias expectativas.
Mas o problema reside na busca, essa comichão incessante que um bom geminiano não descarta.
Influencias existem e o novo em algum momento é somente uma releitura do passado. Até gosto dessa idéia, porque admiro os conceitos dos antecessores da mesma forma que não descarto novas tendências. E por falar em tendência, na minha ótica aqui está o xis da questão.
O aparecimento das redes sociais criou um universo paralelo que aproximou as pessoas. Todos os segmentos sentiram esse efeito. Porém, ao invés de criar o debate estes nichos serviram como uma vitrine, um imenso painel onde cada um posta seu trabalho exibindo como uma pura propaganda gratuita.
Os sites de busca onde era possível enxergar o fetiche que era produzido na grande rede hoje está em desuso. O sujeito prefere criar uma página no Fetlife, no Facebook, para ter acesso às milhares de imagens que os produtores e modelos atualizam diariamente como forma de atrair consumidores. Em pequenos clipes ou simplesmente fotografias, o amante do fetiche é cobiçado de forma avassaladora. Existem produtores com mais de mil fotos postadas.
Ao mesmo tempo, criou-se uma disputa sem sentido onde somente a construção do fetiche está em voga.
Mas nesse caso nem só a beleza é fundamental. O fetiche é mais que simples amarrações simétricas, desenhos e espirais milimetricamente concebidos. O fetiche é ação, é interpretação e, principalmente, encenação.
Estamos falando especificamente de bondage. E bondage é um pouco mais que uma imagem em que a modelo aparece amarrada. Deve existir uma lógica para que a cena tenha sentido.
Confesso que andei desligado do meu próprio conceito fetichista e, por isso, esse artigo fale em reciclagem. Talvez me tenha escapado um pouco da inspiração, ou o lugar comum esteja sobrepondo meu próprio conceito.
Acho que o fato de reconhecer o deslize é o primeiro passo rumo à retomada.
Quando plantei a semente do Bound Brazil o fiz pensando em sair do trilho em busca da união entre o velho e o novo, entre o igual e o inusitado, ainda que alguém já tenha visto em algum lugar, mas de forma diferente.

O artigo de hoje embora possa parecer, não é apenas um desabafo. Serve para todos os fetichistas e seus conceitos, porque mesmo entre quatro paredes sempre é tempo de rever os conceitos do que fazemos, ainda que os espectadores sejam apenas você e mais alguém.