quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A Noite de Botas


Estou começando a achar que esse blog realmente desperta um algo mais nas leitoras.
Depois de três anos e meio escrevendo nessas páginas se multiplicam as histórias de pessoas que se esbaldaram nas entrelinhas e colocaram o fetiche vida adentro.
E com essa leitora especial não deu outra.
Ela pensou assim: “hoje ele não me escapa”. E foi o bastante pra perceber que fetiche e sedução andam de mãos dadas e que basta criar uma atmosfera favorável que um leva o outro e acaba tudo numa grande festa.
Preparou o vinho, deu luz e aroma ao ambiente através de velas e colocou uma bota marrom de cano bem alto. Por cima um vestido quase transparente, deixando a mostra todas as suas intenções, e cá pra nós, não havia mortal que pudesse resistir.
Tratou de esconder duas cordinhas que vieram embrulhando umas revistas, o que aqui tem toda uma identificação com o fato. Ela conta que quando viu as cordinhas em volta das revistas ficou excitada, principalmente quando lembrou de tanta coisa que faz parte do acervo do blog.
Por isso as guardou pra uma ocasião especial.
E naquela noite ela escondeu as cordinhas embaixo do travesseiro. Ela era um misto de más intenções, ou boas, pelo menos assim eu definiria.
E não deu outra. O cara vinha de longe. Pediu um banho pra tirar a poeira da estrada e ela concedeu. Estranhamente ela sabia que aquela era a única coisa que iria conceder.
Vieram os petiscos junto com o vinho. E mais vinho.
Ela conta que começou a deslizar a bota pelas pernas do sujeito que já estava entregue a todo aquele clima fetichista que tomava conta do ambiente. Esperta e sagaz, a música também combinava com tudo.
No primeiro beijo ela tratou de deixar claro quem iria comandar a festa. Quando ele tentou colocar sua mão sobre seus ombros ela o afastou com firmeza. Tirou-lhe a blusa, abaixou as calças e mandou que se deitasse. As cordinhas deram o ar de sua graça junto com uma tira de pano preto que lhe cobriu os olhos. Depois disso, ela teve a noite fetichista que tanto sonhou viver através das leituras aqui nas páginas do blog.
Infelizmente ela parou por aí. O final está reservado pra existir dentro de um diário que ela guarda a sete chaves num lugar qualquer. Pode ser em pensamento, pode estar escrito, e isso ninguém sabe e ela faz questão de manter em segredo.
Escrever contos nunca foi meu forte. Eu relato historias que me chegam.
A grande diferença desta que hoje é motivo de matéria está na própria experiência dos personagens quanto ao universo fetichista. Ela poderia ter este tipo de idéia pra uma noite quente dentre as tantas que viveu e ainda vai viver, mas acredito que a transformação se deve aos efeitos que a leitura causou em suas divagações. Ao saber que nada disso é politicamente incorreto ela tentou e se deu muito bem.
Garanto que haverá continuidade e que ela a partir de agora irá caprichar muito mais e realizar desejos que até outro dia faziam parte de um mundo imaginário que ela apenas acreditava existir.

A moral da história é simples e cabe na medida certa para todos nós: não adianta querer que o universo conspire a nosso favor se não fizermos a nossa parte. Qualquer relação bem elaborada fica marcada, foge da rotina que aniquila relações recentes e até duradouras. É preciso ousar na medida certa, realizar coisas que coincidam com os nossos próprios desejos. Não vale ousar e praticar fetiches porque se acha bonito ou visualmente atraente. As melhores fantasias são aquelas que nos fazem plenos, realizados e acima de tudo felizes.
Ela criou uma cena de bondage da cabeça dela.

Não saiu em busca de cordas perfeitas e tão pouco ousou nós elaborados. Ela seguiu o instinto da fêmea e usou o fetiche pra seduzir, afinal, essa é a melhor parte da história.
Pena que não foi comigo...

10 comentários:

Anônimo disse...

Casos como esse, citado no texto, me fazem acreditar que sua intenção, a de mostrar a beleza existente no fetiche e propagá-la para as pessoas, está dando muito certo, ACM. Parabéns pelo seu trabalho. Continue assim!

Anônimo disse...

Caro Sr. ACM:
Eu fico imaginado que cada vez que eu leio um texto do senhor eu chego a conclusão que os fetichistas são pessoas de mentes doentias que demonstram condições totalmente patológicas.Trata-se de algo que beira o limite do desvio social, da parafilia fugindo assim à relação de amor/prazer que dignifica e enobrece a sexualidade humana.
Eu fico imaginando como uma pessoa pode sentir prazer com o sofrimento moral de uma outra pessoa? Sei que tem mulheres e homens que gostam dessa situação mas isso chega a ser deprimente.

ACM disse...

Srta. Anonima

Desculpe a franqueza, mas achei impressionante a sua capacidade de encontrar sofrimento e degradação no texto comentado.

Como também, me custa a acreditar que se acha tudo isso que disse a respeito de fetiches, de fetichistas e da minha própria pessoa, ainda se dê ao luxo de vir aqui ler o que escrevo.

Em pensar em desvios patológicos, creio que o seu seja mais grave do que de qualquer pessoa que goste das coisas que escrevo aqui. Pelo menos eles não andam em outros lados criticando comportamentos alheios lotados de preconceitos.

Agradeço que seus rancores sejam guardados para você mesma e evite comentarios degradantes e preconceituosos num lugar que tanto lhe faz mal, ou serei obrigado a esquecer o senso democrático e excluí-los.

Obrigado

Anônimo disse...

caro sr. ACM:
As críticas são construtivas e não destrutivas e foram feitas para serem ouvidas cabe cada um aceitar ou não.

Psicanalise e Educação disse...

Adorei!!! Tenho certeza que colherá bons frutos deste belo texto que fez.

Mister Bond disse...

Grande Brother ACM

Não me afastei, sempre te leio.
E resolvi postar esse comment pra nossa amiga que assina como anonima.

Como fetichista acho q a senhora é uma recalcada e por alguma razão tem ou teve problemas com alguma pessoa que gosta de fetiches. Vejamos se adivinho? Se me permite divagar algum colega a deixou em maus lençois, mentiu ao dizer que eram uns tapinhas e lhe deu uma boa sova. Merecida por sinal, devido ao seu comportamento inadequado num ambiente ao qual não se identifica.
Outras hipoteses são possíveis, mas fico com apenas essa. Se quiser terminar a sessão feita pela metade posso te dar meu telefone ou email, assim termino o serviço do parceiro que te deixou na mão.
E se nada disso for o que quer vá pentear macaco na esquina. Doente é a senhora porque a nossa enfermidade dá tesao e não fal mal a ninguem.

Bond

kafira { K@ } disse...

Olá meu eterno insano senhor,

Tempos que não passo por aqui, não é mesmo?
Minha última visita ainda foi sob as vestes de uma doce pequena dama... Bem saudosismo a parte, sabes bem que adoro dialogar, bóra bater um papinho?
Adorei o texto - como sempre - e adoro fazer pequenas reflexões.
Não vejo nada degradante quando falamos em desejo, o homem (e me refiro ao ser humano) é um animal e ao meu ver, o sexo é sem dúvida a maior manifestação deste traço.
Sem querer ofender e entrar em mimimis românticos ou pseudo-moralista, ninguém faz sexo para contemplar a natureza: faz-se sexo por prazer (dar e receber) e não existe nada mais delicioso do que este prazer sexual.
Acho bacana as pessoas classificarem fetiches como sendo parafilias, gosto de sentar e debater: falemos de parafilias!
Parafilia é um termo adotado por Freud - pai, qse Deus da psicanálise, salve salve - que além de muiiiito preconceituoso (o cara dizia que mulher que goza é histérica) tem um pensamento literalmente do século passado (ok fui redundante)!
O camarada em questão escreveu apenas um artigo sobre fantasias sexuais relacionadas ao SM chamado
“Bate-se numa criança” (FREUD, 1919/1969 e com isso ganhou o direito de virar o papa do mundo fetichista.
Ok, talvez um dia ele fosse, hoje ao ver não é.
Lacan em Kant com Sade faz um diálogo bastante interessante sobre estes traços eróticos, fetichistas e sádicos - aconselho a sua amiga Anônima a ler.
Reconhecer o fetiche e ter "culhão" para transformá-lo em uma fantasia real não é coisa para qualquer um.
Usando as palavras de Freud, nós - a sociedade - sublimamos tudo o que fomos adestrados para tal.
Sou fetichista, sou sadomasoquista, sou livre. Permito-me viver uma fantasia de modo real e intenso.
Talvez as pessoas de fora não entendam, aconselho a se permitirem algo mais do que fechar os olhos e imaginar...
Críticas são sempre bem vindas, concordo. Só não concordo com uma coisa, não sabemos o gosto do jiló até experimentar né?
Saudações SM, beiiiijos karinhosos desta pequena dama e sempre amiga.

kafira { K@ }

Ps.: Leiam Lacan, vale muiiiito a pena! Pisc*

ternura disse...

Ahhh meu idolatrado, honrado, nobre e querido amigo, opaaa..e lascivo escritor,

Nunca duvide das delícias que esse blog é capaz de despertar nos dignos leitores e seguidores...

simmm, quem realmente entende dessa “ARTE” , sente-se um privilegiado em poder absorver a beleza e a sensatez que vc tão sublimemente nos oferece...

Bem, não vou entrar no mérito de doenças e afins, pois aqui, essa não é minha intenção e mesmo pq, considero doente, quem fica julgando os outros por meio virtual, sem nunca ter se dado a oportunidade de vivenciar nada além de um entediante sexo procriatório, quiçá existente....simplesmente patética e digna de pena, tal pessoa.

Pobres almas que teimam em arder de inveja pela felicidade do outro!!

Acorda menina, saia detrás desse pc e vá viver sua vida , permita-se sentir muito prazer..affff....é delicioso, eu viro os olhinhos e tremo que é uma beleza praticando e vivenciando minhas cenas sadomasos..ai meus sais...

Mas voltemos ao seu extasiante trabalho meu delicioso escritor, voltemos a arte de nos fazer delirar com histórias reais...

Pois bem, a menina sabiamente pegou carona nos seus escritos e se entregou a magia de ser feliz, foi lá e com simples cordinhas praticou aquilo que deixava em chamas seu ser, com a voraz diferença, as chamas iriam se transformar sabiamente em labaredas de prazer..*pisc

bjs ardentes e felizes em entender o que vc escreve...ui

Anônimo disse...

Caro Sr. ACM:
Pelo visto o senhor não lida bem com as críticas e acaba tendo que chamar os seus seguidores para ir em prol de sua defesa.
Pensei que nesse blog o escritor fosse aberto aos elogios e as críticas. Como pelo visto o senhor não gosta muito de críticas não vou mais postar nenhuma opnião.
Em relação a Lacan conforme é citado por uma de suas seguidoras, eu conheço porém cada um trabalha coma sua linha de pesquisa como tb conheço e outros psicanalistas como Melanie Klein. Winnicott. Bion. Freud (pai da psicanálise). Jacques Lacan. Ana Freud. Carl Jung entre outros.

ACM disse...

Cara Anonima

Assim como você as pessoas também tem por cultura ler o blog, e da mesma forma têm uma visão do assunto, pelo visto, totalmente contrária a sua.

Não vou entrar em detalhes, porque isto aqui é um blog público que trata de um assunto em particular que é do interesse de pessoas que lidam e gostam do tema.

As críticas se forem dirigidas diretamente ao que escrevo, a minha forma de expressão são um assunto meu, entretanto, a senhorita tocou num tema o qual os praticantes não se sentiram a vontade com o que disse, causando algumas críticas ao que escreveu.

Novamente ao me acusar de não saber lidar com as críticas a carapuça lhe serve na medida, pois deixou claro que não sabe lidar com isso ao ser questionada por pessoas que frequentam este espaço há muito mais tempo e que não necessitam ser chamados, já que tenho a honra de ter todos aqui, inclusive você.

Finalmente, creio que o debate é util, desde que não seja baseado em preconceito e ofensas, como estava calcado seu primeiro comentário que gerou todo esse discurso.

Peço que se atenha aos assuntos em pauta se forem de seu interesse, deixando o amago da questão de lado evitando esse tipo de polemica.

Obrigado por vir

ACM