O cinema costuma pregar peças.
Não me refiro aos espectadores de uma forma geral, mas alguns diretores têm o hábito de brincar com os críticos, principalmente quando suas obras são apresentadas em exibições oficiais. Mostras e festivais são o palco predileto.
A atriz Maria Bello é daquelas inquietas. Normalmente as atrizes de sucesso não aceitam determinados papéis, ainda mais quando se trata de temas controversos, mas ela apostou na idéia do diretor Johan Renck e estrelou Downloading Nancy.
O roteiro fala numa mulher que quer ser ouvida dentro de um casamento fracassado. Mas ao mesmo tempo ela não se esforça e acaba falando com as paredes. Daí o diretor inicia a brincadeira porque joga com o fato de Maria Bello ser esposa de um milionário com um perfil totalmente submisso ao poder do marido.
Esse filme é bem denso, não fica nos poros e nem na pele, ele entra no músculo e nos tecidos.
Também não é um dramalhão qualquer, ele tem pedigree BDSM. Dá pra estranhar pelo começo da conversa? Pois dá.
Entretanto a nossa heroína resolve brincar com coisas reais, com sede de morte e devido a sua vida sem sentido resolve se matar. Mas não pense que ela está prestes a estourar os miolos. Ela quer uma morte lenta e encomenda o serviço a um sujeito que se apresenta para o trabalho cheio de taras que vão confundir a cabeça da personagem, dos espectadores e, principalmente dos críticos.
Porque Nancy começa a experimentar um sentimento estranho ao qual nunca foi apresentada, e descobre o prazer adormecido e sepultado por toda a desilusão de sua vida através da dor.
Isso mesmo. Ela se vê hipnotizada quando é abusada sexualmente por seu algoz antes do golpe fatal.
A trama chega ao seu clímax quando Nancy percebe que está totalmente apaixonada por seu assassino e vive um caso real cercado de ações de bondage e sadomasoquismo. O que vem depois é melhor não contar e estragar a brincadeira
Invariavelmente o cinema abusa de ações as quais denominamos fetichistas. O BDSM pra alguns diretores é uma terra desconhecida que eles habitam e tiram doses de sucesso surpreendente, com o agravante de fazer com que estas produções resistam ao tempo. O cinema considerado “Cult” sobrevive.
Gozar com a dor é sinônimo de sofrimento? Até onde sofrer é igual a doer? Quando isso se mistura, qual o gozo que se tira disso? Amar é sofrer?
Quando se aprende a amar por uma via é preciso muito esforço pra conseguir conhecer outras vias possíveis. Tudo depende do sofrimento. Só decidimos mudar se estamos sofrendo muito, não há outro antídoto. E se você pensa dessa forma deve estar assumindo certa predileção por um masoquismo essencial. O amor e o sofrimento na história de Renck andam de mãos dadas e não se desgrudam até que o personagem faça definitivamente a sua escolha.
Por isso, para os que apostam em levar fantasias de jogos de BDSM para suas transas o filme é altamente recomendado. Ele não fotografa apenas o BDSM como fetiche que é, mas ele brinca com dor e prazer de forma totalmente metafórica. Vale o esforço pra comprar esse DVD e arranjar um lugar de destaque na sua coleção, mesmo que seu fetiche não alcance a linha que o diretor resolveu traçar como parâmetro.
Downloading Nancy foi produzido em 2008 e estreou por aqui um ano depois sem muito alarde. A crítica acompanhou o que os gringos andaram escrevendo sobre o trabalho de Johan Renck e viu um cenário muito confuso.
Pode ser que muitos praticantes de BDSM não vejam o filme como um divisor de águas, e tão pouco coadunem com a teoria de Renck, mas as cenas sem sombra de dúvida chamarão toda a atenção possível e poderão funcionar como uma razão pra refletir cobre certos aspectos.
Fiquem com uma bela edição de uma parte do filme e tenham um ótimo final de semana!
Um comentário:
Interesante.
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Abrazos
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