terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Dama da Zona


Era uma cidade do interior e bem perto da estrada que levava rumo à capital havia uma Zona de Meretrício.
Três amigos resolveram um dia afogar as mágoas no bordel, mas antes pararam num boteco para tomar uma cerveja já que o preço era dobrado no destino final. Daí conversa vai, conversa vem um deles, visitante, vindo da capital com novas idéias se declarou fetichista.
Risos, perplexidade, a isso seguiram perguntas inevitáveis que o fetichista, já declarado, nem pestanejou em responder. “Você vai pagar cinqüenta pratas pra levar uns tapas e beijar os pés da mulher? “.
Se houvesse a possibilidade não sobrava duvidas de que pagaria até o dobro ou mais, porém restava a incerteza cruel e incomoda de achar um bom fetiche naquele casebre de beira de estrada. Partiram.
Cada bordel tem sua peculiaridade, mas o ambiente escuro, quase sempre com um tom avermelhado é de praxe. Na jukebox baladas românticas que fazem as meninas lembrar de amores perdidos, viajar na melodia a procura de sonhos impossíveis, bebidas, pouca roupa e meia dúzia de caminhoneiros famintos. Aliás, por que caminhoneiro gosta tanto de bordel?
Seus dois amigos anfitriões mostravam-se conhecidos naquela Zona e logo buscaram deixar o fetichista embaraçado quando a primeira mulher sentou à mesa para dar as boas vindas. De cara, o fetichista foi devidamente enquadrado como aberração e passou a ter o desdenho da moça antes solícita.
“Tem a Daisy, ela já comentou comigo algumas coisas desse tipo, mas só falando com ela”. Sorriu e se foi...
Daisy era uma mulher madura na casa dos quarenta. Longos cabelos loiros fabricados pela farmácia mais próxima, unhas compridas pintadas em tom forte e com mais de vinte anos de experiência atestados em casas de tolerância.
A mulher chegou e não causou tanto entusiasmo no fetichista, afinal se vestia como as outras e se comportava igual, bebendo, sorrindo, beijando todos os homens como velhos amigos sem demonstrar-se a tão esperada rainha de copas que o cara ansiava.
Uma vez a sós, tocou-lhe de leve o braço e em tom forte perguntou sobre o que ele estava procurando naquele lugar. Desajeitado e com medo de se expor ainda mais ao ridículo, o sujeito comeu pelas beiradas deixando escapar pequenas gotas de um assunto que deveria ser direto.

Mas aquela Dama era experiente e sentiu que o gelo no olhar e o ar cabisbaixo queriam perguntar coisas estranhas àquele mundo onde ele estava de passagem. Tomou-lhe pela mão, o fez pagar o programa e subiu através de uma escada de madeira e estreita para um quarto de pouco conforto com apenas uma pia pequena para higiene.
A música vinha do salão em baixo. O local era limpo, porém com aspecto nebuloso devido a pouca luz. Nada além de uma cama com um colchão imperfeito e uma velha cadeira onde a roupa foi estendida.
Ela pediu licença, mandou que tirasse a roupa enquanto iria se trocar.
Foram longos e intermináveis minutos até que a mulher voltou trajando uma lingerie negra que lhe cabia bem, batom vermelho nos lábios, perfume forte e um belo salto.
O cara tremeu na base quando ela sentou na beira da cama, bem em frente à cadeira onde o fetichista incrédulo assistia a tudo passivo e espantado com a proximidade de realizar sua fantasia onde sequer havia sonhado.

Ordenado a ficar de joelhos perante sua rainha, chegou bem próximo a ela que com voz firme ordenou:
“Acenda meu cigarro!”.

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