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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
O Dia em que o Fetiche (quase) Morreu
Dizem que o que nasce conosco se manifesta na infância. Infelizmente, depois de meio século algumas dessas memórias se foram. O que lembro de fetiches remonta o tempo que os pelos cresciam no corpo, na inquietação adolescente.
E nessa época, cercada de medos e incertezas, tudo que se tem é a tentativa de fazer pulsar e viver algo que provoca as primeiras ereções autênticas através de simples brincadeiras que para os que estão em volta nada mais são que ecos infantis. O fetiche sobrevive no escuro.
O tempo passa e o fetichista como qualquer outro ser humano colhe as primeiras paixões. A timidez o esmaga por dentro e ele deixa de lado a própria essência por simples opção. Se entrega pela metade, dá o corpo e reserva a alma, e pela primeira vez tenta desesperadamente matar o que o acompanha desde que abriu os olhos na maternidade.
O fetiche morre pela primeira vez.
Entretanto, dentro de um contexto kardecista ele pode renascer. A eternidade conspira a favor e se consegue extrair pequenas doses de prazer quando o cinema ou a TV mostram que ainda existe sepultado dentro da própria consciência. Mais tempo passa, a maturidade chega e com ela vêm as lembranças. Amores partidos, relacionamentos pela metade e uma enorme vontade de assumir as diferenças. Invejas bondosas de quem dá a cara e vontade de ser livre.
Lentamente o fetiche começa a tomar forma e, finalmente, renasce. O fetichista já consegue controlar seus impulsos e aceita uma verdade imutável de que terá que conviver com ele pra sempre. Convive com dias de altos e baixos, com sonhos que se realizam em bordéis escuros e guarda todos os seus segredos dentro de um cofre inexpugnável. Já não sente vergonha diante do espelho, combate a timidez com bravura e se torna um guerreiro em prol de seus próprios sonhos.
Enfrenta tédios que duram dias intermináveis e luta pela vida arrastando sua própria razão de existir sem dividir. Consegue orientação por seus méritos e não desiste. O futuro é encarado sempre com bons olhos. Se reinventa, recria cenários perdidos e aposta sempre no que vem pela frente. Flerta com imagens que colhe e nelas vê traduzida sua própria semelhança.
Segue o instinto. Fareja parcerias e inventa casos que jamais e tornaram reais. Descobre nichos e guetos, transita em meio a pessoas de senso comum e desabrocha reescrevendo contos que alinhavou nos tempos idos.
Consegue enxergar o óbvio e passeia por caminhos distintos fazendo a separação exata das coisas como deve ser. Cria um personagem, dá vida a um ser que não tem identidade e faz dele sua imagem e semelhança. Ele é aquilo que o fetichista queria ser. Porque ninguém sonha com agonia, com angustia e desprazer.
O fetichista se fortalece. Consegue suplantar ironias, verbaliza suas virtudes e não somatiza decepções. Valoriza seu gosto apurado e começa a partir desta fase a se orgulhar com a própria sofisticação de suas fantasias. Vive dias de cumplicidade total.
Entretanto, um artista não pode se separar de sua obra e quando isso acontece ele se torna vazio. É preciso recomeçar pra não ver tudo murchar em morte lenta e agonizante. Entender as voltas da vida e, principalmente as pessoas que vêm e vão. Num planeta globalizado, totalmente diferente em que se viu nascer à harmonia de sentimentos, faz-se obrigatório compreender a chegada de novos habitantes nessa grande avenida chamada fetichismo.
Nesta etapa é necessário ter a consciência de que toda a experiência faz com que o fetichista deixe de ser um recém chegado para se tornar um exemplo para quem se aproxima.
Compreender as misturas de elementos, o aroma que se acentua forte num insosso sabor baunilha quando há a conjugação de fatores que atraem quem está chegando.
O planeta fetiche é como uma estação de trem, aonde pessoas chegam e partem sem critério especifico. Uns marcam sua passagem outros simplesmente desaparecem sem deixar vestígios. Mas o verdadeiro fetichista que carrega
a chama acesa no peito há de perseverar por todos os meios para que não tenha que renascer outra vez.
Um bom final de semana a todos!
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6 comentários:
Tu sempre farás parte do 'meu vagão' e nessa minha 'estrada', és uma das paradas mais interessantes que tive, do tipo das que se tem vontade de sempre retornar...
Um beijo com muitas saudades
FELIZ NATAL!!!!
Cheio de paz, harmonia e confraternização!
É o que desejamos...
Abraços cordiais e Beijos carinhosos,
JUN ZURIK e ÍsisdoJUN
Lets, a vida cada vez que dá voltas mais me faz gostar de você.
Beijaço!!!
{ÍsisdoEgito}JZ - Tua, somente tua disse...
Obrigado, retribuo e desejo em sobro.
È AMIGO
A gente as vezes até tenta imaginar que esta sensação possa acabar, mas não é fácil e ela as vezes adormece, mas não desaparece.
Perfeitas suas palavras
Abraços
VH
Pois é meu grande amigo VH
Nossos medos, traumas, e tudo o mais, cria esse vácuo, mas sobrevivemos, sempre...
Abraço
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