quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Efeitos Colaterais


O cara era tímido demais, mas mesmo assim foi se chegando e achou seu lugar.
Numa noite de Sexta colocou a roupa preta e saiu pela primeira vez atendendo a um flyer para uma festa fetichista.
Louco por pés deparou-se com muitos que tinham o mesmo fetiche. Olhou, observou e foi embora blasfemando contra o que achou um absurdo. Jamais se imaginaria em uma luta corpórea disputando a chance de beijar uns pés lambidos por outros e jurou nunca mais voltar.
Com a antena ligada naquele mundo, decidiu dar uma passada no mesmo lugar alguns meses depois, nem que fosse para tomar umas e voltar pra casa com a mesma impressão. Naquela noite chuvosa com pouca presença de público, surpreendeu-se num papo alegre e demorado com uma dominadora e ficou amigo.
As trocas de emails começaram e ele viu as nuvens se abrindo para um novo horizonte que jamais supôs existir. Aprendeu bastante, ouviu demais e viu-se envolvido.
Ele queria apenas podolatria, sequer consentia pensar em outra coisa que passasse além da linha imaginaria que impôs como fronteira.
Ela ansiava por iniciar alguém, não admitia nada que viesse com um passado fetichista para dentro de seus muros, desejava a virgindade.
Se encontraram em outras festas, depois das festas e nos dias sem festa.
Ela ensinou a liturgia das práticas fetichistas, falou de sua vida, das expectativas, das experiências, dos bons e maus momentos, do âmago de uma relação desse tipo.
Foram longas noites a partir de então sempre comandadas pelas mãos firmes daquela mulher serena e dona das ações. Aos poucos ela ultrapassou as fronteiras e colocou cordas e algemas em cima da cama.
Suas longas botas matavam-lhe a sede pelos belíssimos pés que exibia sempre com um tom diferente na coloração das unhas, sugava-lhe em pequenas doses pra dentro de seu dungeon e o fazia engatinhar atrás da oportunidade de lhe lamber os pés.
Introduziu pequenos castigos toda vez que ele passava dos limites e passou a ser a dona da fronteira que não mais lhe pertencia daquele dia em diante.
Com claras e más intenções foi seduzindo até chegar ao bote felino, amarrando-lhe, açoitando a quem renegava um dia na vida estar em tal condição.

Um dia chegou austera, com os lábios pintados de negro da cor de suas botas. As ordens foram diretas, sem subterfúgios e o levaram a ser amarrado e submetido a severos castigos seguidos de afagos demorados, beijos por todo o corpo e os pés de sua dona a seu dispor.
Ao final, lubrificou-lhe o ânus e aos poucos o possuiu com os dedos até a dura penetração lateral com um pênis de silicone. Ele gemeu abafado pela mordaça aceitando aquilo na forma mais pacata que podia parecer, até que ela percebeu que seu pênis perdera a ereção por completo e resolveu parar por ali.

Ele juntou suas roupas, cabisbaixo, e desapareceu sem nunca mais dar notícias.
Ela me conta que jamais aceitou tal situação com normalidade e isso custou caro trazendo-lhe efeitos colaterais que hoje ainda a afastam de qualquer grupo ou reunião fetichista. Só de pensar em ter feito algo de errado a uma pessoa a faz desmontar, e o único consolo que ainda a mantém com esperanças de encontrar um novo caminho nas vielas fetichistas é o fato de ter conversado com seu ex-parceiro sobre tudo que poderia ocorrer.
Quem sabe a timidez e a vergonha de ter sido penetrado o tenham afastado ou, simplesmente, não tenha compreendido até onde iriam os desejos de sua parceira, pecando por não deixar claro o seu próprio limite.

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