quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Os Nossos Jovens


Incrível como nos anos noventa o aparecimento da Internet fez todos apostarem num crescimento retilíneo do BDSM. Era a sonhada cereja do bolo, a comunhão entre todos os estilos e o tão desejado crescimento do fetichismo por essas bandas.
Ainda me lembro dos debates do antigo grupo Nós Somos e das perspectivas das pessoas.
Porque a grande jogada para qualquer segmento crescer responde pela adesão de simpatizantes e, principalmente, pelo surgimento da juventude dando as cartas. Continuidade e renovação, sempre necessárias.
Eu estava na casa dos trinta e já me sentia veterano.
Mas o tempo passou. E lentamente fez surgir um gueto aonde quem chega com a clara intenção de abocanhar conhecimento dá de cara com pessoas há mais tempo sem a mínima noção de comportamento. E os jovens são frágeis. Acabam por sucumbir a interesses mesquinhos e não são raras às vezes em que abandonam tudo.
É o que estamos fazendo com nossos jovens.
Complicado admitir a convivência com pessoas que até se identifica virtualmente e possuem vícios nada compatíveis com o meio onde dizem pertencer. Os caras praticam uma espécie de terrorismo psicológico nas submissas novatas e, através do assédio direto, conseguem invadir o perfil e mostrar uma face do BDSM que só existe em seus pensamentos.
Isso causa a imediata retirada de quem chega. As boas vindas acabam virando uma perturbação sem fim. O BDSM passa a não prestar por culpa de uma meia dúzia que acha nesse segmento um meio de vida fácil, praticando extorsões em mulheres casadas e outros.
Os sujeitos se dizem dominadores e abordam as submissas com palavras de ordem sem saber se elas querem ouvir. Ora, quem chega tem a clara impressão que está num hospício cercada de um bando de loucos.
O BDSM é permissivo, claro, mas pra tudo existe hora e local.
O que implica em dizer que todos deveriam ser catequistas antes de pensar num bem pessoal.
Deveria ser um fato a ser comemorado a presença de jovens interessados no BDSM, mas nem sempre a entrada é descomplicada pra essa gente que tenta perceber como tudo se processa por aqui.
Alguns dirão que quem bate na porta deve saber se defender de assédios e tal. Entretanto, existe a fragilidade, como a crença em tudo que se escreve ou divulga.
Ontem surgiu uma denuncia gravíssima no Fetlife sobre pessoas agregando amigos no meio para vender festas fantasmas com pagamento antecipado. É a picaretagem aderindo ao fetichismo, à exata noção do pilantra que se cerca de pessoas com nome fincado no meio pra fazer suas lambanças. E por trás dessa denuncia existem pessoas sérias e compromissadas com o BDSM em toda a sua extensão.
É o fim dos tempos...
Os novatos se sentem perdidos em meio a tanto bombardeio. A falta de experiência os faz regredir e quem perde é quem tenta de todas as formas transformar esse gueto num lugar de convivência decente. Sites de relacionamento se transformaram em picadeiros.

Gente que chega e imagina um bando de pervertidos desesperados atrás de loucuras sexuais vinte e quatro horas por dia. Então, serve de prato cheio pra quem imagina que recebeu um ticket gratuito pro reino da putaria. Não sou eu quem diz, basta observar!
Percorro o Fetlife, falo com amigos produtores, participo de alguns fóruns lá fora e nunca vi fatos como esse em voga.
O BDSM prega antes de qualquer principio algo que se chama acolhimento. Na base da porrada senhores, nem a mais convicta masoquista sucumbe a tamanha bizarria que tenho visto por aí. Até as submissas que curtem uma humilhação consideram o pior dos sentimentos quando isso ocorre fora de contexto.
Vamos abrir as portas sim, mas com decência.

7 comentários:

Dália Negra disse...

Lendo esse post somente posso lamentar em ver e vivenciar o que o meio BDSM esta se tornando,claro não posso generalizar pois isso seria um erro de minha parte também, porém me recordo ate com certa melancolia dos tempos bons quando eu começei,e as pessoas tinham prazer em acolher os novatos sem ver neles carne pronta para o abate como ando notando nos dias atuais.
Ou quando nos aproximávamos de algumas submissas e elas não viam em nos uma rival e sim apenas alguem querendo aprender,com quem possuia uma vivencia maior...
Velhos tempos que deixam uma saudade sem igual,agora apenas podemos tentar auxiliar os que nos procuram sem assusta-los e mostrar que o BDSM tem sim pessoas normais,que não querem somente sexo e sim uma relação sadia,regada a muito erotismo sim,porém não a putaria propriamente...
Parabens pela postagem.
Saudações
dália negra

Unknown disse...

Achei mais do que adequado alguém como tu escrever este post neste desastroso momento do fetiche brasileiro. Não comentei no Fetlife porque lá já ganhou outro caráter e outras bandeiras que, tu bem sabes, não fazem parte do meu mariato...
Parabéns, como sempre...

Bjks
LV

ACM disse...

Dalia, obrigado por vir e comentar.
Acho que a tua análise é super correta. Mas por que sempre falamos nos velhos tempos?
Talvez a divulgação fosse mais seletiva e não atraísse tanta bobagem por essas bandas, ou quem sabe a seriedade de alguns ofuscasse a luminosidade parva de outros.
O certo é tentar fazer a nossa parte.
Por mais que as pessoas não queiram ouvir, como alegam alguns, estabelecer critérios é uma meta.
E deixar que essa sujeira escorra ladeira abaixo sem que seja algo tão destrutivo pra quem chega.

Beijos

ACM disse...

Lets, sempre as bandeiras...rs

Sabe, tem gente demais subindo no caixote e quando isso acontece é sinal que a casa está uma bagunça.

Entretanto, acho que isso aqui encerra pra quem quer realmente pensar no fetiche como uma subcultura decente de ser aproveitada, um capítulo ruim e diz a quem chega que nem tudo que cheira mal por aqui está podre.

Se todos os grupos tivessem a energia positiva do SAT BDSM esse meio seria bem melhor.

Beijos

ternura disse...

hummmm.....gostei do assunto bem no dia do meu niver...aha....

será que tem lugar pra uma antiga-recém-novata ou a ordem das palavras não interferem nos fatos de quem não esquece esse controverso/pervertido "Universo"...*pisc

bjs ternos
da amiga e fã
ternura

ACM disse...

Ternurinha, pra isso aquele velho ditado dá conta: quem é vivo sempe aparece, ou manda lembranças...

Blog desativado, aliás, pra convidados, e como não fui vi de longe. Perfis derrubados, enfim, que esse mundo te receba de volta como eu te recebo.

Você é o inesperado fazendo uma boa surpresa.

Welcome back!

Beijos

Simone Ana disse...

EU cheguei no "novo" e me deparei com tudo isso descrito sim!, mas dei sorte no meu caminho e só me deparei com gente séria.... o que me fez engajar logo em estudos para não ser tripudiada naquilo que desconheço! Fiz minha parte, e com um pouco de empenho é facil separar já o que não faz parte da realidade que desejo para mim (não disse certo nem errado, mas tão somente o que pretendo passar ou nao). Acredito que isso também só foi possivel por estar bem comigo mesma, muitos estão entrando com a própria "casa" desorganizada e acham que tudo cai do céu na mão e não correm atrás! Acabam sendo as tais vítimas do despreparo de muitos, dos aproveitadores. Respeito muito os velhos tempos e os experientes, e acredito que estes têm muito a contribuir nesse novo panorama. E espero acima de tudo que todos tenham fair play e e bom discernimento para saberem aquilo que é bom para eles mesmos... começa por ai