Dia desses alguém me mandou uma mensagem numa rede social
falando sobre o que é lenda e o que é real entre praticantes de BDSM. Mas
depois de tanto tempo escrevendo sobre isso e vivendo as voltas com o
fetichismo confesso que passo a bola.
Porque muito do que se fala é tão surreal que acreditar
custa.
Extravagâncias e hábitos pouco comuns é literatura farta
em páginas que abordam o assunto. Daí cabe a quem ler acreditar. Eu passo em
algumas rodadas e aceito outras.
Porque quando a gente se depara com alguma coisa
fantástica demais é evidente que a comparação com a realidade se torna
inevitável. Dito isso, é hora de fazer uma reflexão e imaginar algumas cenas
que pra certas pessoas são corriqueiras e pra outras inverossímeis.
É quase unanimidade que a prática do exibicionismo
desperta ousadia. Tá legal. Há excessos, todos concordam, mas nem tudo que se
relata por aí é falácia. Um casal bem encaixado, ela a parte dominante e ele
totalmente submisso levavam suas práticas pra além das paredes de casa.
Garantem que se exibiam num supermercado movimentado da Capital Paulista
mostrando claramente a quem estivesse interessado em assistir quem manda e quem
obedece.
Eu até compreendo a necessidade fetichista de quem parte
em busca da realização, entretanto eu classificaria certas atitudes como
agressivas perante quem não tem nada com isso e sequer foi consultado se
gostaria de ver. É simples. Um casal de namorados em plena praça de alimentação
de um Shopping por mais apaixonados que estejam se esfregando e beijando com
intensidade será alvo de olhares. Alguns totalmente contrários e outros
curiosos ou até invejosos. Porém, tamanha ousadia soa a provocação.
Agora imaginem uma mulher montando nas costas de um
sujeito para alcançar a prateleira mais alta num mercado, ou transportem este
mesmo casal a uma sapataria movimentada onde ela experimenta o calçado pisando
no cidadão? Galera, exibicionismo funciona quando a platéia consente, admite,
sabe, curte. Quando não é uma afronta.
Esse papo de escancarar perante a sociedade soa a babaquice.
Se você curte suas cenas não deve ligar para o que os outros pensem, assim eu
me comporto. Mas se exibir diante de quem não pediu pra assistir o espetáculo é
quase uma baixaria.
O fetichismo ou o BDSM não precisam disso.
Por conta disso, quando me deparo com bravatas contadas
em textos em tom desafiador procuro analisar com cautela. Muitos defensores de
tais atitudes podem até questionar minha opinião, outros podem insistir que as
pessoas que não têm vergonha de se expor como fetichistas optam por produzir
essas cenas em público. No entanto, exposição pela opção de se assumir
fetichista não significa se exibir diante de platéias alheias as práticas
apresentadas. Me assumo fetichista, coloco a cara na vitrine pra bater, aqui ou
em rede social, mas me reservo ao direito de resumir minhas práticas a mim
mesmo ou a quem de direito que queira compartilhar.
Numa festa, evento ou qualquer outra reunião de pessoas
adeptas da mesma concepção não vejo nada demais. Todos estão cientes do que
pode ou não ocorrer. Fora disso é apelação.
Fetichistas com tendências a ter fantasias por risco, ou
melhor, pra ser bem especifico, a sensação do perigo iminente do flagra ficam
fora desse contexto. Os casais que curtem transar numa escada, dentro de
banheiro de ônibus ou avião é outra história. Porque normalmente eles não querem
que alguém os veja, pois o que conta é a adrenalina que derrama pela
possibilidade de serem descobertos.
Garanto que essa galera jamais se exibiria em algum local
público de forma gratuita.
Resumindo, nem tudo que reluz é ouro em se tratando de
contos e fantasias quando o assunto é fetichismo. Muito é produto de delírios e
por se espalharem rápido num ambiente minúsculo e de pouco acesso acaba virando
um mantra e se propaga com facilidade. É preciso avaliar bem antes de acreditar
piamente e sair por aí tentando fazer a mesma coisa.
Sites como o Public Disgrace do Kink não passam de uma grande montagem teatral.
Um bom final de semana a todos!
Um comentário:
Ótimo texto, faz todo o sentido! Parabéns e bjs.
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