Quando você faz uma reflexão e descobre que está há muito
tempo lidando com alguma coisa, a tendência é que existam reminiscências, resquícios
ou fragmentos de fatos e histórias.
Muitos desses pequenos traços estão inseridos aqui em
meio as quase mil matérias que escrevi, entretanto, sempre há tempo e
possibilidade pra remexer em guardados que possam servir de base ou até mesmo
serem trazidos ao debate.
E uma das coisas que mais intriga no meio BDSM é a
relação chamada de D/S. Porque supostamente há um desejo de entrega e outro de
posse, e quando os dois se misturam a alquimia soa perfeita. No entanto, em
casos raros, durante a negociação necessária que irá conduzir a relação
aparecem percalços.
Claro que toda e qualquer negociação se faz baseada em
conceitos e, porque não dizer, regras. Mas não são regras preestabelecidas,
isso seria genérico demais e bastante impessoal. Evidente que há parâmetros sugeridos
por experiências colhidas de literatura e casos ou até de vivências anteriores
de ambos. É inegável que há influências. Mas nem toda influência é benéfica o
que acaba por abalar os alicerces de uma boa convivência fetichista. Porque é
assim: fetiches inseridos no contexto do BDSM são vias de mão dupla. O fato de
existir um pólo dominante e um teoricamente submisso em meio à relação, não significa
que venha a ocorrer uma anulação completa de quem se comove em se submeter.
Esse vínculo deve ser inserido no âmbito sexual e suas
fantasias. Mas antes de se submeter aos caprichos de alguém como requer a
fantasia, a alegação dos desejos de quem protagoniza tal ação deve estar em
pauta. Porque seria pessimista demais entender a questão da dominação e a conseqüente
submissão de alguém num ato, numa cena, mediante conceitos trazidos de épocas
remotas quando o cunho social continha esses traços. E a regrinha é básica pra
homens e mulheres.
Quem tem uma visão de fora do meio BDSM imagina que
existiu algum dia uma meia dúzia de pessoas que já bêbadas e sem critério, se
sentaram numa mesa de boteco pra escrever um monte de regras onde seres humanos
são tratados como lixo. Os exemplos devem partir do próprio nicho e o
comportamento do fetichista é fundamental. Essa imagem chula e pouco conclusiva
que se assiste em reportagens de televisão dando um tratamento subalterno às questões
fetichistas se dá em parte ao descaso que os participantes de comunidades
fetichistas em rede sociais submetem aos demais.
Qualquer valorização deve partir de quem milita nas
hostes do BDSM.
A relação D/S citada aqui serve apenas como base. Porque
ela talvez seja complicada de digerir pra quem traz no pensamento idéias
distorcidas do que se passa do lado de cá do muro. Abre aspas, definitivamente.
“No BDSM ninguém se deixa acorrentar, amarrar ou açoitar contra a vontade”. Se
isso parece ilógico ou doentio a olhares preconceituosos que se limitam a
julgar os atos alheios, que vire as costas e ache isso uma perversão idiota e
sem sentido.
Caso contrário, estude as razões que levam as pessoas a
terem interesse nesses insights pra obter a libido. Porque fantasia só faz
sentido mediante interesse de quem se dispõe a praticar.
Por isso, as regras citadas no começo do tópico são de
exclusividade de quem decide por tentar uma relação dessa natureza. Nesse caso,
eles serão os curadores e os juízes em caso de burla das suas próprias normas, num
simples ato acolhem ou desistem do que é acordado.
É aquela velha história: no BDSM um tapa na cara pode ir
de um desejo a um insulto.
O sujeito pode dizer assim: eu não curto sadismo ou
masoquismo, portanto estou fora desse critério. Veja bem; se a festa rola num
ambiente comum é normal que os pares se misturem e, por isso, o respeito aos
que juntos dividem o mesmo espaço deve ser a regra de conduta numero um para todos,
sem distinção. E ainda que escombros de pedras arremessadas lhe toquem o rosto,
imagine que alguém levou a pedrada pra preservar a nossa casa.
Um bom final de semana a todos!
2 comentários:
Un saludo y un buen fin de semana...
Gracias Luna, un saludo.
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