terça-feira, 30 de março de 2010

Um Piauiense em Antuérpia


Não. Um masoquista não sente prazer quando acerta uma martelada no dedo ou prende a mão numa porta fechando. É necessário todo um contexto para que tal tesão aconteça.
Mas é melhor ficar por aqui quanto a esse assunto, afinal já estou cansado de levar cacetada de psicólogos e não tenho nada de masoquista pra ficar apanhando.
Nosso papo de hoje é pra contar as aventuras de um sujeito com um parafuso a menos na cabeça, que um belo dia resolveu juntar o que tinha pra se arriscar pelo Velho Mundo.
Em plena virada do século, esse nordestino com jeitão carioca, soube por um amigo que vivia em Paris da abertura do Fetish Café na bela Antuérpia, e resolveu se entregar aos caprichos de uma dominadora dos Países Baixos que lhe desse todas as surras que cabiam na sua imaginação masoquista.
Arranjou um daqueles vôos de promoção que parece um trem parador. É tanta escala que não se percebe o momento da chegada ao destino. Mais amassado que tomate em fim de feira perambulou por um aeroporto imenso sem falar uma palavra de Francês, e contou horas intermináveis até dar de cara com o amigo no saguão de espera.
Nunca se viu tão feliz.
Experimentou Paris e suas delicias, tentou convencer o amigo fetichista que ir ao Fetish Café era melhor que ganhar na loteria, mas o máximo que conseguiu foram duas noites grátis no pequeno apartamento que o colega alugava com o pouco que recebia de um emprego secundário e uma carona até a estação ferroviária.
Partiu, com a mesma coragem que o levou a viajar tão longe na direção da sua terra prometida.
Batendo cabeça aqui e ali, conseguiu se hospedar numa espelunca de segunda categoria e à noite bateu na porta do Fetish Café. Trazia nas mãos um pequeno dicionário daqueles se usa em viagens, com frases feitas, onde normalmente quem pergunta alguma coisa nem imagina o significado da resposta. Tentou sem sucesso aproximar-se das dominadoras, sempre com as perguntas marcadas nas páginas de seu livrinho de bolso.
Já cansado em sua busca inglória de se fazer entender, encontrou um Espanhol que com muita paciência e devido à proximidade do idioma conseguiu compreender o que queria o viajante. Mesmo com a ajuda providencial foi impossível descolar uma cena e ele voltou ao hotel desolado.
Sua grana agüentava mais dois dias em Antuérpia e ele insistiu em tentar. No final, já sem se importar com a cena perfeita debaixo das botas de uma domme qualquer, ele resolveu desafiar as regras munido de uma máquina fotográfica para registrar sua presença no Fetish Café em seu currículo.
Corrido pelos seguranças por pouco não vive uma sessão de spanking na saída forçada e foi embora sem realizar sua fantasia, embora tivesse vivido uma grande aventura.
Ao amigo em Paris contou as mais incríveis mentiras que se podia supor, e claro, devidamente comprovadas pela seqüência fotográfica que quase lhe custou hematomas e outras escoriações.

Fez o caminho de volta e aos que deixou aqui resolveu contar a verdade. As fotos lhe valeram o cartaz de estar num lugar onde os sonhos de muitos fetichistas se tornam reais, e isso já era o suficiente para justificar o tamanho da aventura que esse Piauiense destemido resolveu viver em apenas uma semana.
Nos encontramos há algum tempo atrás e por isso resolvi contar essa história, tão verdadeira quanto as fotografias sacadas numa noite de outono, dentro de um dos lugares mais badalados da Europa.

Para quem quiser conhecer o Fetish Café anote o endereço eletrônico: http://www.fetish-cafe.com/
As fotos que ilustram esse artigo são das dependências do Fetish Café e devidamente permitidas.

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