sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Successive Slidings of Pleasure (1974)


O diretor Alain Robbe-Grillet no meio da década de setenta apostou no cinema surrealista totalmente baseado no começo do cinema francês de Luis Buñuel e Salvador Dali, e criou uma obra condenada por muitos críticos da época, mas que se tornou um clássico.
Successive Slidings of Pleasure ou “Glissements progressifs du plaisir”, rompeu com dogmas e trouxe a tona o complexo paradoxo que envolve os mistérios que cercam os calabouços de instituições religiosas conservadoras. Um prato cheio para ferrenhas críticas e um néctar para fetichistas que têm loucura por essas cenas.
O filme conta a história de uma jovem estudante que é questionada por autoridades policiais e religiosas, após seu companheiro de quarto ser encontrado amarrado e assassinado. Só que não fica claro se seu companheiro de quarto é realmente uma pessoa real ou apenas um manequim concebido através de uma obra de arte bizarra, e não fica claro também se realmente ela está sendo questionada antes ou depois que ela comete esse "assassinato".
O pecado está no excesso. Surrealismo demais confunde, interioriza a obra ao âmago do diretor. Mas esse era o cinema francês.
Entretanto, todo o fetichismo está bem explícito nas partes em que o diretor se atém a cenas de praticas de bondage e sadomasoquismo. Seriam perfeitas, fossem elas totalmente compreendidas e tivessem inseridas diretamente no roteiro. O melhor é dar atenção a plasticidade das cenas ao se concentrar em alguma coisa que faça sentido.
E a parte fetichista da obra de Grillet é um supra-sumo.
Além da beleza da protagonista Anicee Alvina, as cenas agradam a vários segmentos do BDSM, principalmente aos amantes de jogos de dominação e submissão. A atmosfera, o ambiente, as cores escuras de um calabouço onde freiras comandam sessões de torturas e sexo lésbico, onde cordas e correntes aprisionam mulheres lindas nuas, tudo isso é parte de um contexto que se pra muitos é sinônimo de perversão, pra outros é puro prazer e delírio.
Fetichismo é fantasia eloqüente realizada com requintes. E não faltam requintes no excelente cenário do filme.
Como vários outros cineastas franceses da época, Robbe-Grillet criou uma obra experimental, característica dos filmes não-narrativos, adicionando elementos sexploitation-softcore, mas procurou não "vender" tanto para o ângulo de sexploitation como alguns de seus antecessores – homens como Jean Rollin ou Borowzyx Walerian.
Há muito pouco sexo e generosas doses de erotismo no filme, além de uma espécie de perversidade polimorfa extrema que às vezes é bastante perturbadora.
O cinema europeu de uma forma geral sempre ousou flertar com ares inquisitórios da idade média em suas produções. O que está nos livros de história jamais mostrou uma verdade absoluta e, por isso, gerou todo esse clima de mistério que essas produções trouxeram a baila justamente nos anos setenta.
Criou-se uma antipatia entre as autoridades religiosas e os homens que produziam a sétima arte. Órgãos de censura chegaram a intervir em alguns casos e outros pela pouca divulgação passaram incólumes.

Successive Slidings of Pleasure não alcançou sucesso de bilheteria e público quando exibido nos cinemas, como tantas outras produções do gênero. Hoje é um filme rotulado de Cult como quase todas as obras desses grandes cineastas que o cinema da Europa dos anos de liberação mostrou ao mundo.
Pra os cinéfilos apaixonados por cenas fetichistas uma excelente dica pra ter na sua coleção.
O filme pode ser adquirido remasterizado em

DVD ou para quem tem muita paciência alguns sites disponibilizam o download gratuito na rede.

Fiquem com um trecho do filme e bom final de semana a todos!

2 comentários:

C. disse...

Fico imaginando o tipo de crítica que esse filme. Se ainda há tabus hj em dia, imagine há quase 40 anos!
Plasticamente, é atraente.
A fotografia é boa e a iluminação perfeita levam a construção da atmosfera fetichista.
Deve ser considerado como uma obra da arte fetichista.
E ao fim da leitura de seu texto temos a ilhusão de termos visto o filme integralmente.
Bj

C. disse...

Não completei a primeira sentença...Seria assim: "Fico imaginando que tipo de crítica esse filme sofreu...(Só pra corrigir a postagem anterior)