
Reza a lenda que com quatro anos de idade meu maior sonho era amarrar a Branca de Neve.
Se é verdade ou mentira confesso que não me lembro, mas vá lá que as más (boas) línguas tenham razão, me faz rever aquela velha teoria que diz: pau que nasce torto morre torto.
De fato, nos meus sonhos pervertidos da infância a Snow White era a malvada da fita e com um chicote em punho torturava belas princesas após seguir os passos da Bruxa malvada.
Será?
Certo é admitir as coisas estranhas que povoavam a minha mente no limiar da adolescência, quando já havia libido rondando a minha porta. É Zé, a perversão começa por aí...
Meus sonhos impossíveis por muitos anos ficaram trancados, mas nunca perderam a graça ou a esperança de serem reais. Se admitir era difícil a convivência se fazia necessária, porque eles perseguem e sufocam.
O pior é ter que dividir o tesão com transas comportadas ao longo dos anos, escutar um quilo de putaria de todos os amigos, saber de sacanagens impublicáveis sem ter o direito de soltar o verbo em favor do seu próprio fetiche. O cara conta que enfiou o dedo numa bunda e você não pode dizer que gosta de mulher amarrada.
Então, onde está a perversão? Nos meus desejos?
E assim você passa os dias acreditando que aparecerá a tábua da salvação. E sabe que um comercial de televisão antigo (alguns devem lembrar) me chamou a atenção e, talvez, tenha contribuído para minha redenção pessoal? Pois é, havia um sujeito chamado Apolônio que dizia assim: “um dia eu chego lá...”.
Foi duro e é pra todo mundo, porque não me venham dizer que o fetiche batia na porta em plena adolescência e era fácil sair por aí pregando idéias como um revolucionário em cima de um caixote em praça publica. O buraco é literalmente mais em baixo.
Mas chega o dia da graça e pequenos impulsos trazidos por confissões tímidas entre quatro paredes na hora do “vamos ver”, acabaram gerando uma usina de força otimista a tal ponto de me revelar, pra mim e pra todos.
Hoje meus sonhos são maduros e bem mais reais. Já não beiram o impossível, embora reconheça que alguns continuam sendo impublicáveis, principalmente por serem pessoais. Penso sempre em evoluir e tenho conhecimento e experiência para entender que essa evolução tem um preço.
E foi tanta porrada que nada mais me assusta, chego a brincar com certas coisas. Outro dia, alguém me enviou um email sentando o sarrafo me chamando de velho libertino. Achei do cacete, deu até pra tirar uma onda, afinal ser libertino tem mesmo as suas vantagens e não me considero um velho. Se for por conta de algumas rugas nem me incomodo, porque se ruga fosse velhice meu saco era pré-histórico!
Noves fora a doce realidade, ser fetichista é bom demais. Devo me considerar alguém diferenciado, com um gosto refinado, talvez excêntrico, vai saber, levando sempre em conta que um bom fetichista sedimentado em suas origens e consciente de seu tesão demora a perder a libido e, por conseqüência, não gasta grana com Viagra.

Aceito minha convivência com o fetiche pelo lado profissional por uma questão de escolha, apesar de admitir a ligação extrema entre ele e o sexo.
Namoro há três anos uma mulher baunilha, convivo bem com isso aproveitando outras coisas que ela me transmite de bom, porque nem só de fetiche vive um ser humano. Mas como bom caçador continuo apostando que um dia o vento mude e ela perceba o real valor de certas taras e manias de um coração pervertido.
Quem sabe um dia eu ainda chego lá...
Certo Apolônio?
Um comentário:
Todos têm seu lado pervertidos. Embora não tão aflorados.. Mas creio, que conversar... fazer certas revelações.. Às vezes, ou melhor, na maioria das vezes, é melhor ficar calado! Parabéns querido, por mais este excelente texto! Sempre aprendo algo a mais vindo te visitar aqui! Mil beijos!!!Fabby Lima
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