sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Cientista


Na programação do sujeito estava o estudo do ser humano e seus desejos.
Estranhou quando se infiltrou num grupo de fetichistas e começou a descobrir que o paraíso pra aquela gente estava bem próximo. Porque estudar as pessoas e suas características é tão complicado como escalar o Pão de Açúcar.
Gosto é algo que se difere desde o parto. Dificilmente existirá a total cumplicidade na forma de gostar, de desejar. O que existe é o entrosamento entre os desejos quando se cruzam. Invariavelmente o cidadão sonhou de uma forma e a moça de outra, entretanto, eles se acham em algum ponto, conseguem ver um mundo muito parecido e daí aparece a química.
E se o papo descambar pra fetichismo vira um samba sem rimas.
Foi então que esse meu camarada astuto e felino resolveu se aproximar das pessoas que esbarrou nas conversas pela internet madrugada adentro e sacou a formula que tanto queria.
A psicologia explica algumas coisas. Nem tudo que surge na mente do ser humano é capaz de ser analisado por quem se dedica a esse fim. Nós mesmos temos dificuldades pra lidar com o aparecimento de desejos que pareciam ocultos ou adormecidos, de tal forma, conseguir transmitir nossas dúvidas complica a equação.
Então, para que alguém se diga um apaixonado por determinadas fantasias é preciso que isso venha de tempos, ou então, tenha surgido por impulsos obtidos através da acessibilidade ao assunto.
E o que faria meu nobre amigo farejador nesse gueto?
Procurava as suas próprias razões relacionadas com seus desejos?
Claro que alguém pode desenvolver uma tese ao se aproximar de determinados segmentos sociais sem ter a necessidade básica de pertencer a este ou aquele grupo. No entanto, se você pertence a tal nicho as chances de estar habilitado a absorver o mundo a volta é bem mais ampla e segura, por isso, se entrevista tanto, se colhe depoimentos.
Diferentes percepções garantem uma total isenção de quem se inclina a estudar um tema, mas não eximem fatores de aproximação quando se fala em prazer. E tesão não dá em árvore, em poste, acontece com pessoas, ainda que seja por uma noite apenas e nunca mais.
Flertar com o desconhecido é prazeroso. Quantas vezes alguém se viu inclinado a participar de alguma coisa diferente somente por achar interessante? Várias. O sujeito leva a namorada na casa de swing pela primeira vez e pode não ter desejos de dividir sua parceira, mas foi pra ver e mostrar que o prazer está além das quatro paredes de seu quarto.
E assim é o fetichismo para alguns. Uma paquera que deu certo e uma lasca bem tirada.
Só que o prazer em pedaços não comove, não se intera e não se reproduz.
Nesse instante, caberá ao sujeito interessado em estudar a aura fetichista ver suas necessidades como um todo, não por simples ceninhas elementares que quem está de fora aprecia num evento. O cara que se deita no chão pra ser pisado por uma mulher gostaria de levar a cena pra casa, pra vida inteira, e às vezes só consegue o flerte, o dedal no dedo mínimo enquanto segue na sua busca.
Tudo isso se deve a divulgação do fetiche e a mídia aproveita e se apodera de fatos ainda que de forma desordenada e infiel. O aparecimento dos cientistas que procuram entender as pessoas em seu meio é conseqüência disso.

Todos querem saber como tudo se processa e acham que através de incursões ou diálogos com pessoas de dentro da roda é possível descobrir todos os caminhos que se percorre nesse universo.
Ledo engano!
Se nós que militamos nestas hostes ainda carregamos nossas dúvidas e mitos, que dirá quem bate à porta a procura de informação?
Finalizando, que os cientistas e demais curiosos sejam bem vindos. Que cheguem sem pressa, entendam as pessoas, e terminem enrolados 

numa corda ou empunhando uma chibata, ou simplesmente, levem uma boa lembrança.

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