Soa como uma espécie de mantra citar critérios quando se
fala em BDSM. Porque antes de qualquer escolha há que se ter critério. O
praticante pode estar diante do seu fetiche, a dois passos da fantasia mais
desejada, mas sem critério nem mesmo uma criança escolhe um picolé.
A cultura BDSM é um campo de atração, pra quem chega e
pra quem está também. Às vezes o fato de haver compartilhamento de idéias e
fantasias é um estimulo. Evidente que esse compartilhamento deve ser sempre
baseado em critérios. Porque gente de cabeça oca e mente em desalinho tem em
qualquer lado, quanto mais num ambiente aonde se tem a impressão de que tudo é
permissivo?
Mas reparem: se tem a impressão. Porque se houver o
mínimo de bom senso o interessado precisa analisar até onde é permitido ou não chegar.
A noção exata dos nossos limites várias vezes precisa ser testada, até por nós
mesmos, mas seria insano e inconseqüente admitir que um simples convite para a
pior das perversidades caberia na sua algibeira.
Cada qual que se aproxima do centro onde tudo ferve tem
suas convicções. Chega admitindo e rejeitando. É fato, as pessoas trazem com
elas de berço ou de apegos suas preferências, ou nem aqui estariam. Porém,
existem desvios que muitas vezes passam a ser interessantes e que fazem o
fetichista mudar de rumo. E ele pode mudar, sempre pode, desde que os critérios
não se modifiquem.
E qual a razão de estar dissertando sobre isso?
Simples. Essa semana a mídia noticiou o envolvimento de
praticantes de BDSM com uma menina menor de idade. Sabe-se lá o motivo que esta
gente alega pra cometer um ato desse nível tão combatido dentro do meio. Mas
como eu sempre insisto na tese de que a vida dentro do BDSM é um reflexo do que
se traz de casa, essas pessoas provaram que não tem o menor critério ou noção.
Porque toda prática deve obrigatoriamente ser precedida de consenso e uma
pessoa fora da faixa adulta legalmente não tem.
Sim, alguém poderá dizer que esse tipo de conduta ocorre
em qualquer camada social, em qualquer nicho ou comunidade. Concordo, porém,
aqui, num meio aonde existe patrulhamento dos próprios condôminos quanto a esse
tipo de atitude mundana o exercício da boa conduta deveria prevalecer dentro
dos critérios destes praticantes.
Isso abala algum alicerce da cultura BDSM? Socialmente é
um desastre. Porque nos jornais televisivos onde impera o sensacionalismo e o
mundo cão as manchetes jogaram tudo pra dentro do mesmo ralo.
As práticas de BDSM receberam condenação social faz tempo
e nem cabe recurso. E atos desta natureza somente colaboram para o linchamento
que todos sentiram na pele. Porque ninguém prevê o desvio com a devida antecedência
para que seja sugerido o banimento. Ele é sorrateiro, cretino, e vive camuflado
numa masmorra qualquer. O exibicionismo pulsante o faz vir à tona e este tipo
de pessoa se expõe baseado num anonimato que muito se vê por aqui. Mas todo
anonimato é burro e percebível quando se faz uma grande cagada.
Claro que como tudo que se varre pra debaixo do tapete
por essas bandas essa historia vai desaparecer e ficar esquecida numa pagina de
internet ou nos arquivos da Record.
Mas sempre haverá uma mancha, e ainda que
ela não seja lembrada dos portões pra fora, aqui dentro será assunto num fim de
noite de um evento fetichista qualquer.
No exterior algumas praticas de sadomasoquismo são garantidas
por contrato.
Por aqui isso foi ventilado no comecinho dos anos noventa
e pouquíssima gente ainda faz uso desse instrumento. Há flagelos visíveis em
algumas fotos postadas em sites, blogs ou redes sociais, que amanha poderá ser
parte de um problema para quem se envolveu com isso.
Portanto, é hora de fazer uma releitura de tudo que
envolve BDSM, seus praticantes e suas
regras. Há muita migração de novos inquilinos
para viver nesse condomínio. E isso faz com que o deslumbramento seja o grande
inimigo da consciência.
3 comentários:
Excelente texto.
Erika
"E isso faz com que o deslumbramento seja o grande inimigo da consciência."
As vezes pequenas coisas nos cegam.. deslumbramentos, vaidade acerbada e outras coisas mais..
Fugir, hj, ja não adianta mais.. Somos e estamos expostos a tudo (por opção ou não)..
Ver o BDSM associado a um crime, é triste, para quem sabe o q é de fato SM.. SSC..
Mas, maçãs podres sempre irão existir.. e essas podem estragar todo o cesto.. Infelizmente.
Deixar o meio, acredito q não seja a solução, apesar de ter visto um monte de gente se esconder... sumir..debandar..
Façamos a nossa parte.. estejamos abertos, para com seriedade, explicarmos a quem vem a nós, o que é Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sado e Masoquismo... Talvez assim, dando informações sérias, possamos resgatar algum tipo de respeito.. Afinal, o que fazemos, não é crime.. é somente prazer.. tesão.. Somos diferentes.. mas, ninguem precisa ser igual, para ser feliz.
Beijos..
Excelente
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