Tudo começou com um anuncio num site na internet.
Seis meses se passaram desde que ela optou pela vida de
garota de programas. Então descobriu através de experiências com aqueles que
faziam parte de seus encontros, que era possível fazer diferença num mundo
muito igual.
As fantasias eram as mais diversas. Coisas que até então
nem sonhava que existiam.
Confessa que na maioria das vezes fazia os caras de
capacho ou os fazia de fêmea, como ela faz questão de dizer. No fundo, aquela
mulher bonita vendia ilusões junto com seu corpo, mas não vendia a alma, assim
ela afirma.
De tanta identificação com o tema resolveu inserir suas
habilidades junto ao anuncio que já fazia sucesso entre alguns. E o negócio ia
de vento em popa fazendo a mocinha colecionar clientes e tendo que recorrer à
literatura pra aprender um pouco sobre o que ela própria fazia.
Veio parar aqui no blog por conta dessa busca...
Aos poucos passou a ter mais interesse por tudo e ao
julgar pelas horas de práticas constantes já se imaginava uma dominadora.
Entretanto, a diferença estava na realização das fantasias, e por isso, ela me
pediu pra explicar. Porque uma dominadora, por mais que consensualmente se permita
dividir as fantasias com seu parceiro submisso, jamais será uma fantasy maker,
ou seja, uma mulher que simplesmente realiza desejos.
Faltava-lhe estilo e liturgia, sobravam-lhe práticas. Mas
nada lhe restava a fazer a não ser seguir na mesma balada, fantasiando os
desejos alheios e aumentando os lucros. No entanto, sua curiosidade sobre tudo
que envolvia BDSM e seu universo a atraía cada vez mais.
Certo dia marcou um programa e apareceu um sujeito de
cabelos compridos e uma mala na mão. Muitos traziam seus brinquedos, mas o
sujeito era diferente. Conversou bastante, se disse praticante e quis inverter
a ordem em que ela costumava gerenciar as fantasias. Ofereceu o dobro da grana,
tentou de todos os modos, mas ela segurou a onda. Não havia dinheiro que a
fizesse correr riscos.
Pensou bastante naquela oferta nos dias que seguiram. Me
garantiu que não foram os Reais a mais que a fizeram querer experimentar a
outra face do BDSM, diferente da que ela até então conhecia. Dessa vez o
cliente era real, representava o fetiche que ela absorvia através da leitura,
das fotografias, e trazia consigo um glamour totalmente diferente das vezes em
que ela realizava as fantasias por puro capricho de quem pagava.
E ele só pagou no primeiro dia. Aos poucos a levou a um
extremo de sentir prazer através da dor, dos açoites, da humilhação de ter que
implorar por qualquer desejo. Conta que era surrada todas às vezes e o prazer
que tanto desejava vinha em gotas de merecimento dentro de um critério que ele
trazia dentro da mente.
Aos poucos perdia o prazer pelos programinhas sem graça
com clientes banais e apostava suas fichas numa nova aventura. Trocava qualquer
saída remunerada por um chamado quando ele a solicitava. Rastejava por um
momento e se masturbava feito louca pensando naquelas tardes com ele.
Não deu a mínima quando ele se confessou casado e foi em
frente. Pra ela o pouco era muito. A insanidade do desejo castrava qualquer
tentativa de pensar duas vezes.
Com o desaparecimento do parceiro ela passou dias de
penitencia. Seu número estava desconectado e ela ficou no ar. O BDSM
experimentado era naquele momento um vício sem cura.
Depois de um tempo retomou sua rotina e conseguiu juntar
seus cacos. Hoje segue na sua tocada forte dominando seus clientes com muito
mais know-how. Viveu na pele o gosto
pela humilhação e navega numa grande dúvida que a corrói quando tenta entender
tudo que se passou. Sentiu muito a falta do parceiro, mas não tem vontade de
tentar viver tudo de novo da
mesma maneira.
No ultimo email ela me disse algo assim: nunca mais vendo
minha alma... Apenas realizo fantasias.
Um comentário:
Belíssimo texto.
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