quinta-feira, 19 de julho de 2012

A Mulher que Realizava Fantasias


Tudo começou com um anuncio num site na internet.
Seis meses se passaram desde que ela optou pela vida de garota de programas. Então descobriu através de experiências com aqueles que faziam parte de seus encontros, que era possível fazer diferença num mundo muito igual.
As fantasias eram as mais diversas. Coisas que até então nem sonhava que existiam.
Confessa que na maioria das vezes fazia os caras de capacho ou os fazia de fêmea, como ela faz questão de dizer. No fundo, aquela mulher bonita vendia ilusões junto com seu corpo, mas não vendia a alma, assim ela afirma.
De tanta identificação com o tema resolveu inserir suas habilidades junto ao anuncio que já fazia sucesso entre alguns. E o negócio ia de vento em popa fazendo a mocinha colecionar clientes e tendo que recorrer à literatura pra aprender um pouco sobre o que ela própria fazia.
Veio parar aqui no blog por conta dessa busca...
Aos poucos passou a ter mais interesse por tudo e ao julgar pelas horas de práticas constantes já se imaginava uma dominadora. Entretanto, a diferença estava na realização das fantasias, e por isso, ela me pediu pra explicar. Porque uma dominadora, por mais que consensualmente se permita dividir as fantasias com seu parceiro submisso, jamais será uma fantasy maker, ou seja, uma mulher que simplesmente realiza desejos.
Faltava-lhe estilo e liturgia, sobravam-lhe práticas. Mas nada lhe restava a fazer a não ser seguir na mesma balada, fantasiando os desejos alheios e aumentando os lucros. No entanto, sua curiosidade sobre tudo que envolvia BDSM e seu universo a atraía cada vez mais.
Certo dia marcou um programa e apareceu um sujeito de cabelos compridos e uma mala na mão. Muitos traziam seus brinquedos, mas o sujeito era diferente. Conversou bastante, se disse praticante e quis inverter a ordem em que ela costumava gerenciar as fantasias. Ofereceu o dobro da grana, tentou de todos os modos, mas ela segurou a onda. Não havia dinheiro que a fizesse correr riscos.
Pensou bastante naquela oferta nos dias que seguiram. Me garantiu que não foram os Reais a mais que a fizeram querer experimentar a outra face do BDSM, diferente da que ela até então conhecia. Dessa vez o cliente era real, representava o fetiche que ela absorvia através da leitura, das fotografias, e trazia consigo um glamour totalmente diferente das vezes em que ela realizava as fantasias por puro capricho de quem pagava.
E ele só pagou no primeiro dia. Aos poucos a levou a um extremo de sentir prazer através da dor, dos açoites, da humilhação de ter que implorar por qualquer desejo. Conta que era surrada todas às vezes e o prazer que tanto desejava vinha em gotas de merecimento dentro de um critério que ele trazia dentro da mente.
Aos poucos perdia o prazer pelos programinhas sem graça com clientes banais e apostava suas fichas numa nova aventura. Trocava qualquer saída remunerada por um chamado quando ele a solicitava. Rastejava por um momento e se masturbava feito louca pensando naquelas tardes com ele.
Não deu a mínima quando ele se confessou casado e foi em frente. Pra ela o pouco era muito. A insanidade do desejo castrava qualquer tentativa de pensar duas vezes.

Com o desaparecimento do parceiro ela passou dias de penitencia. Seu número estava desconectado e ela ficou no ar. O BDSM experimentado era naquele momento um vício sem cura.
Depois de um tempo retomou sua rotina e conseguiu juntar seus cacos. Hoje segue na sua tocada forte dominando seus clientes com muito mais know-how.  Viveu na pele o gosto pela humilhação e navega numa grande dúvida que a corrói quando tenta entender tudo que se passou. Sentiu muito a falta do parceiro, mas não tem vontade de tentar viver tudo de novo da 

mesma maneira.
No ultimo email ela me disse algo assim: nunca mais vendo minha alma... Apenas realizo fantasias.    

Um comentário:

Narcisa disse...

Belíssimo texto.