sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Original


Tenho fixação por esse texto, por isso, peço licença pra repostar.

Gosto de bondage faz tempo.
Desde os tempos em que as mulheres eram – digamos – mais naturais, talvez originais.
Os seios eram reais, a bunda era idêntica como veio ao mundo e não havia traços musculosos excessivos nas coxas e pernas.
Um tempo em que não se dava muita bola se a simetria das cordas era perfeita, e tão pouco se notava uma qualidade detalhada de iluminação nas fotografias. Tudo era mais simples como fosse feito dentro de casa e servido numa página de revista com esmero aos nossos olhares atentos.
Os filmes em VHS chegavam pelo correio em envelopes pardos forrados com plástico bolha.
Uma hora de belas imagens e um bom roteiro. A gente guardava as histórias na cabeça.
Um tempo em que o sonho de consumo era amarrar a musa do calendário, de ficar na fila pra ver o próximo filme do Zé do Caixão e torcer pra que o Mojica mostrasse duas belas mocinhas amordaçadas e em perigo.
Dias em que se comprava cordinha de algodão, dessas de levantar secador de roupa e pra ter dez metros era preciso fazer um nó pra se chegar à medida. Tempos em que ninguém sabia ao certo o que significava “bondage” e não era comum conhecer fetichistas, por isso, era possível achar que além de nós existiam poucas pessoas em todo o planeta com as mesmas idéias na cabeça.
O fetiche se apresentou a mídia e a mulher que pra nós bondagistas é a razão de existir da brincadeira escolheu novos visuais. Nunca perderam a beleza, mas esqueceram de ser originais, genuínas.
Época de parcerias inenarráveis com os azulejos do banheiro, verdadeiras testemunhas de bronhas homéricas em homenagem à mulher comum que vivia na vizinhança, que passava todo dia e embalava a imaginação. Dias difíceis, porém saudosos, um tempo de muitos conflitos, de sonhos perfeitos e desfeitos, demônios vivos atentando pensamentos juvenis.
Anos de magia...
Hoje as fotografias que esse tempo não apaga trazem de volta todo o fascínio e renova a insanidade de ter o fetiche na veia. Estas linhas não são devaneios de um saudosismo vazio e não significam fechar os olhos às mutações tão naturais como os novos tempos. Gostar do passado e admitir a beleza que os olhos fotografaram não traduz mediocridade. São apenas razões e inspiração.
Nada retrata melhor a saudade do que uma foto, um aroma, um sabor ou uma canção. Feliz daquele que pode admitir sentir saudade, porque se existe esse tipo de sentimento é a prova fidedigna de um amor incondicional. O mesmo amor que não desaparece com o tempo, que enxerga no futuro tudo que o passado ajudou a construir.
E lá se vai o tempo...
O que hoje está na moda um dia será relíquia dentro de um pensamento fetichista, clandestino ou não, o que não lhe tira a graça desde que seja sincero. Não é preciso exteriorizar aquilo que sentimos, por isso, a sinceridade pode ficar trancada dentro das gavetas que nosso “HD” armazena.
Andam dizendo por aí que é Cult gostar de “vintage”. O fetiche não envelhece e muito menos as nossas idéias com relação a ele. O que produzimos, profissionalmente ou não, leva a nossa marca, o carimbo em forma de assinatura. Se publicado corre o risco de virar arquivo de alguém e um dia se transformar em saudade. Se guardado é uma parte da nossa própria história de vida, a qual podemos nos espelhar mais adiante ou simplesmente saber que existiu.

Talvez esse tempinho escroto me tenha deixado um pouco sensível e me guiado por uma viagem “meu eu” adentro, ou pode ser que eu não esteja satisfeito com alguma coisa que tanto planejei, quem sabe...
Na verdade, senti falta de algo que sinceramente não sei o que é ou onde está.
Melhor admitir que a chuva junto com as fotos me trouxe uma puta lembrança e resolvi dividir com todos aqui.
É muito melhor.

Um excelente final de semana!

2 comentários:

Anônimo disse...

Que texto lindo, ... "Feliz daquele que pode admitir sentir saudade, porque se existe esse tipo de sentimento é a prova fidedigna de um amor incondicional." Amei e amo!!

ternura disse...

Nossa querido ídolo,

há tempos não via refletido em seus escritos as nuances de seus quereres e desejos, tão intensamente.

o importante de tudo isso é voltar a nascente de suas origens lascivas e nelas se embebedar de coragens para vivenciar toda a gama de desejo com muito prazer....*pisc

bjs ternos