segunda-feira, 14 de março de 2011

Na Manhã Seguinte...


Parecia que um trator lhe esmagara as costas. Doía tudo.
Uma bela espreguiçada, o olhar que percorreu o teto espelhado até notar aquele corpo perfeito ao seu lado. Esfregou os olhos e relembrou cada minuto de uma noite longa.
Fazia tempo, muito tempo.
Deixar o fetiche guardado e esquecido causa angústia que se transforma em dores.
Foi como ver a ferrugem ir embora aos poucos. Mas de onde vinham as dores? O fetiche era bondage e ela tinha sido amarrada a noite toda... E de onde vinham as dores?
Ela olhou de banda, respirou forte e sorriu. Naquele momento o prazer foi tamanho que doses de endorfina liberaram metade das dores.
Aquela garotinha com cara e olhar de mulher vinte anos mais jovem era a causa das dores. Destravou todas as energias e liberou os músculos aprisionados pelo tempo sem prática. Uma fêmea fetichista de coração e comportamento baunilha. Vai entender...
- Posso tirar uma foto tua acordando? – foi direto.
- Não, tenho vergonha. Deixa eu me ajeitar – ela disse.
Ducha, beijos e sorrisos. A felicidade morava ali.
Mas pairava a dúvida cruel. Ele tinha que colher impressões, afinal, o que ela tinha achado daquilo tudo? Um cara doidão, maduro, experiente e com um mundo totalmente oposto ao que ela entendia como prazer. Era preciso saber.
Pensou: “melhor perguntar. Ela é só sorrisos e não estranhou a manhã seguinte. Tocar no assunto ou cagar e andar?”
- Quer almoçar comigo? Hoje é Sábado – foi à única coisa que conseguiu falar.
- Tenho que ir em casa, trocar de roupa, colocar algo mais dia. Dá pra ser?
Sem jeito pra tocar no assunto do fetiche tocou-lhe as marcas que as tiras de roupão tinham deixado, e embora quase imperceptíveis elas ainda estavam por lá como um troféu conquistado depois de tanto esperar.
Ela notou que ele olhava as marquinhas e apenas sorriu. Continuou tomando o café.
Pensou pela segunda vez: “quer saber? Deixa essa porra pra lá. Melhor não dizer nada e deixar o barco seguir seu rumo.”
A ansiedade trouxe de volta as dores nas costas. Insinuou uma tentativa de arrastá-la pra cama outra vez e ela pediu pra ir embora. Encucou. Mas pensando bem, eram quase onze da manhã e se iam almoçar era hora mesmo de deixar a maloca e seguir em frente.
- Tá sentindo alguma coisa? – ela notou que as costas o incomodavam.
- Nada, só uma dorzinha de nada nas costas. Estive gripado semana passada. Te disse, lembra? E acho que por ter ficado dois dias deitado meu colchão me pregou uma peça...
Começaram a se vestir, mas não desgrudavam os olhos um do outro e muito menos perderam o sorriso constante. Ele terminou primeiro, acendeu um cigarro e ficou estático admirando cada detalhe de como ela se aprontava pra tomar o rumo de casa. Martelava a cabeça a vontade de tocar no assunto, falar do fetiche improvisado, argumentar que podia ser ainda melhor, falar de técnicas, experiências, qualquer coisa que pudesse ajudar a manter a chama acesa e dar a certeza de que era possível começar tudo outra vez.
De repente ela deu falta do relógio. Procurou aqui e ali e nada.
Num segundo ele lembrou que lhe havia tirado o relógio do pulso para evitar que a tira pudesse machucá-la. Correu até a cama, revirou o lençol, travesseiros e encontrou o que ela já aflita buscava.

Mostrou-lhe o relógio e pediu que ela esticasse os pulsos para que ele o colocasse no lugar.
Novamente as marquinhas deram o ar de sua graça. Alisou-as com carinho e outra vez ela sorriu. Naquele instante viu que não tinha como ser diferente e perguntou:
- A cordinha machucou você?
Ela lhe olhou séria e disse:
- Vou contar pra minha mãe!

Sorriram e foram embora para viver felizes até hoje...

13 comentários:

princess kitty disse...

Olá ACM

Ah, que lindoooo! Me senti lendo um conto de fadas fetichista rsrs

Você tem o poder de conduzir muito bem as histórias que conta e nos surpreender com os caminhos do fetiche.

Miauamei!

Um bom dia a ti :D

Miaubeijos =^.^=

princesa do SenhorWZ® disse...

Ai que delicia, adorei ,não tem como não projetar e imaginar aqui o que ela estaria pensando rs, beijos

Club Privé Sex Shop disse...

Nós adoramos BDSM!!! Esse blog é demais!

ACM disse...

{princess kitty}龍戦士

Seu amigo agradece de coração as suas palavras. E vida longa ao fetiche!

Beijos
ACM :)

ACM disse...

princesa do SenhorWZ®

Olha, muito bom te ver por aqui.
Mas deixa eu te confessar uma coisa: isso tudo foi real!

E um daqueles "segredos de Estado".

Beijos
ACM :)

ternura disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ternura disse...

amigoo querido,

adorei seu conto-relato, nossa tbm viajei nas lembranças, ahhh delicia vivenciarmos nossos desejos..tbm como vc : amo muito tudo isso!!....

espero que essa sensação lhe acompenhe por mais alguns bons anos, acredite a dor some rapidinho...*pisc

bjs de boa sorte
{ternura}_L.B.

ACM disse...

Ternurinha do LB

Pois é, de vez em quando bate um negócio esquisito e a cabeça apronta algumas boas.

Mas tava doendo sim e era o resquício de uma gripe daquelas de moer...

Beijos
ACM :)

Lollis Riviera disse...

Boa noite Nobre Senhor,

Linda postagem.
Aaah uma cordinha, era quase tudo o que eu queria...
Adorei, beijos de uma Pequena Dama, Lollis Riviera

ACM disse...

Lollis, devo ter mais ou menos uns 100 kilometros de cordas aqui.

Serve?

Beijos
ACM :)

Lollis Riviera disse...

Só as cordas ... não.
Serve se o dono vier junto e fizer o serviço completo.
;)

ACM disse...

Lollis, acho que amanha cedo vou planejar melhor meu final de semana...

Beijos :-)

Lollis Riviera disse...

Planeje... eu deixo, rs. =)