quinta-feira, 7 de agosto de 2008

24/7: Verdades e Mentiras


Um dia, quando eu ainda morava em Amsterdam, voltando do trabalho numa madrugada de verão (coisa rara mesmo!) costumava cortar caminho pela ultima Rua do Red-Light District, popularmente conhecido como Bairro da Luz Vermelha, dei uma olhada na única janela acesa e me chamou a atenção uma mulher magra, esguia com a aparência oriental. Confesso que desde que havia chegado há uns seis meses, nunca ousei parar para nenhuma conversa com as “damas” que exibiam seus corpos e dotes pelas vitrines dos Países Baixos. Aquilo já não era diferente pra mim porque o tempo se encarrega de fazer tudo que parece estranho virar normal, mas aquela mulher de preto, envolta entre algemas, colares e chicotes ainda de “serviço” lá pelas cinco da matina era de fazer uma pulga andar atrás da orelha. Fiz o “approach” como qualquer próximo cliente da meia hora e lhe fiz algumas perguntas: primeiro, o porquê de ser a única janela ainda aberta àquela hora e segundo, se haveria alguém interessado numa noite ardente naquele horário. Ela gentilmente me disse que estava ali, ainda aberta, por conta de uma relação totalmente D/S e cumpria à risca as determinações de seu mestre. – Será o cafetão? (Pensei...) Eu não tinha naquele tempo a noção exata de uma relação de dominação e submissão absoluta, mas ela me fez ver que estava cumprindo o que seu mestre determinara à risca, porque tudo era parte de uma relação intensa onde quem se submete tem o dever de executar o que é determinado por quem domina. Mesmo com a experiência acumulada ainda no Brasil no campo do fetiche, apesar da pouquíssima informação que havia sem a internet e, com o que já entendia por estar morando na Capital Mundial dos Fetiches, não havia enfrentado uma situação daquelas a qual eu apenas tinha ouvido comentários. Ali estava o que todos costumam chamar de uma relação de dominação e submissão 24/7, ou seja, vinte e quatro horas diárias durante sete dias da semana. Há os que podem até atribuir essa sigla de outra maneira, mas essa é a forma que vi pela primeira vez num lugar onde muita gente fala e, por incrível que pareça pouco se vê na prática. Depois de mais alguns meses vivendo em Amsterdam e estreitando amizade com os nativos daquele encanto de cidade, pude conhecer as normas e regras do Red-Light District e me fizeram saber da impossibilidade de existir qualquer tipo de rufianismo por aqueles lados. Por conseqüência, naquela noite a bela chinesinha da última Rua me dissera a verdade e me esclarecera uma relação 24/7 na sua essência, sem mais nem menos, contando cada detalhe de como tudo acontecia entre eles. Os dias foram passando e Amsterdam se encarregou de desvendar muitas outras coisas e quebrar muitas barreiras na minha vida, mas resolvi postar essa história na certeza de colaborar no conceito de uma relação onde a entrega absoluta é via de regra, e não existe nenhuma verdade inviolável ou nenhuma mentira inadmissível. Uma relação só existe se houver entrega e compreensão de ambas as partes e se falarmos em uma doação durante vinte e quatro horas por sete dias numa mesma semana, a coisa só funciona se houver uma determinação enorme de quem se envolve sem medo. Muita gente não suporta a idéia de viver o fetiche durante um único dia, quanto mais pelo largo de uma semana. Há que haver limites e por mais exibicionismo que se coloque como ingrediente, creio que o fetiche deve ser encarado como prazer e nunca como forma de afronta ou ofensa a quem está de fora do bafafá. O melhor é que isso venha aos poucos, tomando corpo bem devagarzinho até que a própria vida a dois mostre que o caminho está livre pra quem gosta dessa grande aventura. Poderá haver crítica ao que escrevo, muitos irão concordar e outros tantos vão discordar, porque tudo que envolve uma relação entre duas pessoas adultas a elas deve pertencer. Entretanto, a opinião é válida e cada uma que possa e queira compartilhar esse assunto fica desde já convidado a postar junto comigo os prós e contras sobre essa matéria que sempre foi e será motivo para muita controvérsia. (Na foto, o Red-Light District de Amsterdam)

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei da matéria! Muito boa! Parabéns pelo conteúdo!
Roge