Rede Social e Internet foram duas coisas que deram certo.
Até certo ponto sim. O tal casamento perfeito. Um nasceu
pra completar o outro.
E a vida corria bem até o aparecimento de possibilidades
até então restritas a ambientes distintos. Foi então que alguém descobriu que
BDSM cairia como uma luva nesse segmento, desde os tempos do velho e
defenestrado ORKUT.
O Facebook é uma ferramenta com restrições. E isso
emputece a maioria que deseja fazer do portal um valhacouto para suas
barbaridades. E que barbaridades seriam essa? Expor seus desejos numa vitrine e
achar que eles são a única forma de expressão de BDSM que existe na face da
terra.
E assim foi, até que um dia algumas pessoas encontraram
uma página negra, bem mais atraente que uma rede social que os amigos mais próximos
utilizam, chamada de Fetlife. As imensas combinações e possibilidades foram à
senha de entrada. O paraíso, enfim, deu o ar de sua graça. Mas não era
suficiente ser apenas parte de um todo, era preciso seguir na obstinação obtusa
e sem nexo de que a opinião pessoal era o único e verdadeiro caminho,
igualzinho aos pastores ordenhando seus fiéis seguidores num púlpito bem
refrigerado.
E vieram os textos, as verdades que se tinha em mente.
Grupos, semi-grupos, panelinha, sei lá, o nome é o que
menos importa, desde que naquele gueto a verdade dita talvez em letras
garrafais no anúncio seja o único caminho.
E toda aquela velha retórica de que cada um que cuide do
seu, ou cada cachorro que lamba a sua caceta vai literalmente para o espaço.
Porque quem aparece normalmente não quer ter uma opinião contrária, ou se acaso
tenha e se expresse, vai virar vespeiro de agulha de tanta espetada que
aparecerá dos defensores de Noé e seus bichos.
E a vida segue de vento em popa enquanto o exercício de
fazer valer a verdade absoluta e falar mal da vida de quem discorda se
equivalem. “Aqui é meu clube, quem está desse lado da linha pode jogar e quem não
está que procure sua turma”.
E tome veneno...
É o cara que trai a mulher com a masoquista do sul, a
dominadora que pega o ônibus por conta própria porque o submisso se nega a lhe
pagar avião quando deveria, e assim sucessivamente. Ao tempo em que outros se
juntam e de tanta concordância aquilo vira um mantra celestial e todos que por
ali passam despercebidos acabam acreditando em todas aquelas tolices.
Sim, tolices. Porque BDSM nunca foi uma causa.
Porque BDSM sempre foi uma forma de viver e, num país
democrático, se vive da maneira que se acha conveniente. Daí se fulano é
Goreano, beltrano é litúrgico e cicrano é anarquista é um problema pessoal de
cada um. A pessoa tem o livre arbítrio de se expressar e dizer a que vem.
Ser casado, solteiro, gay, hetero, crente, macumbeiro,
nada disso vem ao caso. E isso eu não aprendi em cursos ou palestras. Isso veio
na cartilha de quem um dia deu a cara a tapa pra criar alguma coisa que hoje se
denomina BDSM num lugar onde escrevemos português.
Então eu não tenho verdades, nem grupos, e, muito menos
alicio pessoas pra acreditarem no que escrevo. Me expresso e só. Se alguém não concordar
que discorde. Debate sempre foi à mola que impulsionou o BDSM do lado de cá dos
trilhos, desde os tempos em que apenas uma meia dúzia de pessoas pensou em dias
melhores.
Por conta disso eu paro, olho e leio. Se me agrada eu
sigo, se não me agrada eu apenas levo minha vida. E não acendo vela pra mau
defunto.
Um dia, quem sabe, criar-se-á um grupo chamado DIVA
(Departamento de Informações da Vida Alheia) e eu vou aplaudir, porque ao menos
não estará camuflado debaixo da empáfia de quem se autodenomina síndico de uma
nova sociedade emergente do BDSM dentro das redes sociais.
E se isto de fato acontecer, quem quiser que dê asas à
loucura, eu, por minha parte, economizo as minhas velas...
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