quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Mau Defunto


Rede Social e Internet foram duas coisas que deram certo.
Até certo ponto sim. O tal casamento perfeito. Um nasceu pra completar o outro.
E a vida corria bem até o aparecimento de possibilidades até então restritas a ambientes distintos. Foi então que alguém descobriu que BDSM cairia como uma luva nesse segmento, desde os tempos do velho e defenestrado ORKUT.
O Facebook é uma ferramenta com restrições. E isso emputece a maioria que deseja fazer do portal um valhacouto para suas barbaridades. E que barbaridades seriam essa? Expor seus desejos numa vitrine e achar que eles são a única forma de expressão de BDSM que existe na face da terra.
E assim foi, até que um dia algumas pessoas encontraram uma página negra, bem mais atraente que uma rede social que os amigos mais próximos utilizam, chamada de Fetlife. As imensas combinações e possibilidades foram à senha de entrada. O paraíso, enfim, deu o ar de sua graça. Mas não era suficiente ser apenas parte de um todo, era preciso seguir na obstinação obtusa e sem nexo de que a opinião pessoal era o único e verdadeiro caminho, igualzinho aos pastores ordenhando seus fiéis seguidores num púlpito bem refrigerado.
E vieram os textos, as verdades que se tinha em mente.
Grupos, semi-grupos, panelinha, sei lá, o nome é o que menos importa, desde que naquele gueto a verdade dita talvez em letras garrafais no anúncio seja o único caminho.
E toda aquela velha retórica de que cada um que cuide do seu, ou cada cachorro que lamba a sua caceta vai literalmente para o espaço. Porque quem aparece normalmente não quer ter uma opinião contrária, ou se acaso tenha e se expresse, vai virar vespeiro de agulha de tanta espetada que aparecerá dos defensores de Noé e seus bichos.
E a vida segue de vento em popa enquanto o exercício de fazer valer a verdade absoluta e falar mal da vida de quem discorda se equivalem. “Aqui é meu clube, quem está desse lado da linha pode jogar e quem não está que procure sua turma”.
E tome veneno...
É o cara que trai a mulher com a masoquista do sul, a dominadora que pega o ônibus por conta própria porque o submisso se nega a lhe pagar avião quando deveria, e assim sucessivamente. Ao tempo em que outros se juntam e de tanta concordância aquilo vira um mantra celestial e todos que por ali passam despercebidos acabam acreditando em todas aquelas tolices.
Sim, tolices. Porque BDSM nunca foi uma causa.
Porque BDSM sempre foi uma forma de viver e, num país democrático, se vive da maneira que se acha conveniente. Daí se fulano é Goreano, beltrano é litúrgico e cicrano é anarquista é um problema pessoal de cada um. A pessoa tem o livre arbítrio de se expressar e dizer a que vem.
Ser casado, solteiro, gay, hetero, crente, macumbeiro, nada disso vem ao caso. E isso eu não aprendi em cursos ou palestras. Isso veio na cartilha de quem um dia deu a cara a tapa pra criar alguma coisa que hoje se denomina BDSM num lugar onde escrevemos português.
Então eu não tenho verdades, nem grupos, e, muito menos alicio pessoas pra acreditarem no que escrevo. Me expresso e só. Se alguém não concordar que discorde. Debate sempre foi à mola que impulsionou o BDSM do lado de cá dos trilhos, desde os tempos em que apenas uma meia dúzia de pessoas pensou em dias melhores.

Por conta disso eu paro, olho e leio. Se me agrada eu sigo, se não me agrada eu apenas levo minha vida. E não acendo vela pra mau defunto.
Um dia, quem sabe, criar-se-á um grupo chamado DIVA (Departamento de Informações da Vida Alheia) e eu vou aplaudir, porque ao menos não estará camuflado debaixo da empáfia de quem se autodenomina síndico de uma nova sociedade emergente do BDSM dentro das redes sociais.
E se isto de fato acontecer, quem quiser que dê asas à loucura, eu, por minha parte, economizo as minhas velas...

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