terça-feira, 4 de junho de 2013

A Porta dos Fundos


Nos tempos idos a onda era comer a empregada do vizinho. Em caso de flagra, a porta dos fundos era a saída mais próxima. Que me perdoem as domésticas, das quais tenho muito apreço e respeito, ainda mais pela minha secretária de todas as horas, afinal, cuidar de homem que mora sozinho é ter vida dura.
Mas a porta dos fundos não é o caminho mais curto apenas pra escapar de possíveis flagrantes. O perigo pré-estabelecido nas praticas fetichistas sugere a porta dos fundos como uma possível entrada sorrateira de um (ou uma) raptor (ou raptora) a procura da vitima que consciente lhe espera.
Quem se dispor a fuçar dentre as mais de mil matérias aqui do blog saberá que tenho como princípio admitir que uma fantasia pra ser bem concebida precisa de total dedicação.
E o que é isto? Os personagens da trama, no caso os praticantes, devem estar cientes de que a aventura só tem graça se o teatro de sonhos estiver montado. Ora, se eu sou o algoz e ela é a vítima precisa haver a química, a entrega de ambos pra que tudo saia de forma perfeita.
Um sorriso, uma possível volta à realidade, uma frase mal colocada, qualquer ato deste tipo é o prenuncio de uma grande cagada. Neste caso, o ponteiro baixa de cem a zero num mísero segundo...
E se isso acontecer brother, a porta dos fundos poderá ser também a serventia da casa.
Por isso a necessidade extrema de tudo ser acertado antes. Como num filme fetichista em que cada ator ou atriz sabe exatamente o que vai fazer pra que tudo saia correto.
Não dizem que a vida imita a arte? Pois então, a regra aqui se aplica na totalidade.
Claro que contando causos há passagens hilárias.
Um amigo a pedido da parceira se vestiu de Batman, o homem morcego, para simular um ataque consentido que terminasse numa noite perfeita. O sujeito foi atrás, alugou a fantasia e correu o sério risco de ser flagrado pela câmera de segurança do prédio onde ela morava. Tudo ensaiado, combinado, enfim, a moça de camisola assistindo televisão e o intrépido super-herói mascarado entrando pela porta de serviço.
Ela não o tinha visto antes com o traje, o que foi o problema. Porque ao ver o parceiro vestido de Batman a mulher soltou uma gargalhada infinita que pôs tudo a perder. Foi-se a noite, e, por fim, o relacionamento.
Imagine a cara de tacho do cidadão vestido de Batman ante um sorriso descontrolado da parceira? É de doer.
Há casos, porém, em que o acaso conspira contra. Uma amiga me disse que combinou uma cena com o parceiro de estupro consentido. Até aí tudo certo. Roupa rasgada, a mulher atirada na cama, tudo indo de vento em poupa até o momento que já com o drops encapado ela percebeu que a camisinha tinha furado. Aqui a falta de sorte foi à questão.
Exemplos existem aos montes e cada um pode contar uma dessas historias em que nada dá certo. Os finais nem sempre têm o mesmo sentido. Podem terminar em lamentações entre ambos e a conseqüente promessa de tentar outra vez ou até mesmo num rompimento definitivo, quando uma das partes percebe ironia e descaso de quem deveria estar também inserido num mesmo contexto.
Uma exposição ao ridículo pode fazer do fetichista uma pessoa grosseira ou arrasada. Grosseiro se ele apontar a porta dos fundos como o caminho para que a parceira se retire, e arrasado se ele tomar esse rumo cercado por um sentimento de vergonha absoluta.

A solução pra isso é bem simples: problemas e neuras devem ficar do lado de fora.
Feito isso, a possibilidade de tudo dar certo aumenta consideravelmente e o fetichista poderá, enfim, usar a porta da frente, pra entrar e sair com o mesmo pensamento e satisfação.
Porque se alguma coisa não sair como foi combinado, basta uma conversa pra que tudo se ajeite e noutro dia se pratique mais uma vez.
Lembrando sempre que a fantasia só se torna um fetiche quando praticada várias de vezes, e, por essa razão, passe a ser essencial para que o prazer seja alcançado na totalidade.

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