terça-feira, 7 de outubro de 2008

Trinta Segundos


A campainha da porta tocou alto.
Corre daqui, corre de lá, e agora?
- Por que eu usei essas meias de seda, o nó não desata!
Ela olhava assustada com as pupilas saltando a face, a mordaça de fita adesiva apertava-lhe os lábios e um pedaço de pano lhe segurava a língua. Mexia a cabeça de um lado pra outro, tentava balbuciar uma simples palavra, apontava com a cabeça entre os braços atados acima da cama para tentar mostrar que havia uma tesoura na gaveta à esquerda, e nada.
A campainha insistia, era estridente e o nervoso aumentava e nada daqueles malditos nós darem uma pequena ajuda e soltassem por conta própria.
Otávio tentava, puxava com a unha (era curta demais) e cada vez que o dedo lá fora seguia apertando aquele estúpido botão, o suor lhe escorria e as mãos ficavam cada vez mais tremulas.
- Quem será? Pensou alto, imaginou a irmã da Soninha... O que eu digo? Como explico isso?
Soninha escutava e só emitia um som parecido com um gemido de vaca.
Inconformado Otávio largou Soninha com os braços abertos sem uma peça de roupa que pudesse esconder a sua intimidade e partiu em direção à cozinha para buscar uma faca.
Ela movia-se, literalmente estrebuchava saltando como podia, tomando impulso com a região glútea, mas a força da gravidade a empurrava de volta.
No meio do caminho a dúvida: alguns segundos para decidir se atendia a porta ou procurava pela faca e deixava esperando quem insistentemente não parava de chamar.
Tomou a decisão, fechou a porta do quarto ante o espanto de Soninha e resolveu atender à campainha.
Dentro do quarto a pobre coitada nem mais gemia, conformada com a decisão de seu namorado resolveu entregar-se ao destino, assumir perante quem entrasse sua “perversão” sexual, porque pelo menos assim alguém iria livrá-la das amarras e da desconfortável mordaça que a impedia de decidir junto com Otávio seu próprio futuro.
Pensou no embaraço da situação, na explicação vazia que teria que dar a respeito daquela inusitada cena na qual estava envolvida, visualizou num canto qualquer a cara de espanto que alguém faria ao vê-la totalmente indefesa em cima de uma cama que sequer lhe pertencia.
Imaginou todas as pessoas possíveis que pudessem chegar naquele horário. A irmã, mais velha e extremamente conservadora que jamais entenderia tal “brincadeira” entre os jovens namorados, ainda mais em cima da própria cama, que maçada! Se ela viesse acompanhada do namorado então, móveis e objetos iriam pelos ares com o sopro dos gritos horrorizados com a patética e incrédula visão. Conformou-se mais uma vez e suspirou, afinal quem quer que estivesse detrás da porta do quarto e aparecesse de estalo seria o anjo da bondade ou o do juízo final.
O silencio era ensurdecedor.
Alguns segundos mais e a maçaneta girou, o que esperar?
Otávio calmamente entra com uma faca na mão, corta-lhe as finas e retorcidas meias de seda que a prendiam, retira a mordaça e após dar-lhe um beijo soletra:
- Era o porteiro, afinal esqueci os faróis do carro aceso e ele veio me avisar...
Soninha cuspiu pedacinhos do pano que lhe estufava a boca e só conseguiu dizer uma palavra:
- Quase!

4 comentários:

Anônimo disse...

Que susto heim... mas sera que ela no gostou???
Bem ncom que mostra ao fim da hisoria ela quer outra... rsrs

Anônimo disse...

excelente relato com doses de suspense e perfeita visao do assunto. O melhor que já li até aqui. Parabéns

Anônimo disse...

isso dá um belo filme.

Anônimo disse...

E depois AC?
Achei fantástico, afinal sou fãzoca mesmo dos teus textos. Dá vontade de ler até a ultima linha e seguir por aí. Posso te dar uma sugestao? Segue com a história, confio na tua capacidade. Independente é uma situaçao que pode acontecer mesmo, a qq hum!
Beijocas e ST (Vamos que dá!)