Um dia alguém escreveu que a vida se divide em ciclos.
Por mais que se vire as costas a tal afirmação ela sempre será verdadeira.
Talvez por conta disso há seis anos comecei um desses ciclos. Aceitei um desafio, tive coragem e determinação. Tive forças para lutar contra preconceitos, problemas na vida particular, enfim, tudo isso teve um peso e suas conseqüências.
Criar uma página na internet num gueto que reúne poucos admiradores não é tão simples. Concorrer com quem tem maiores condições tecnológicas e financeiras é mais um difícil degrau que fui obrigado a enfrentar. Mas era hora, nem sei se tardia, de dar um final ao que naquele dia, em 2008, era apenas um sonho.
Um sonho que se realizou, rendeu frutos, prêmios, algum sucesso, mas que agora como um filme chega ao epílogo.
A partir do dia 22 de Dezembro o site Bound Brazil encerra suas atividades.
Se fosse escrever aqui uma cronologia das lutas que tive que travar levaria laudas. Mas não é essa a minha intenção ao escrever esse texto. Na verdade gostaria de agradecer.
Em primeiro lugar aos que contribuíram para que esse sonho fosse possível. Seja assinando o portal ou até mesmo nos comentários a respeito do trabalho, tudo isso gerou a energia necessária para seguir. E por que não mencionar aqueles que votaram no site nos Awards 2010 e 2012 que nos levaram a receber os prêmios?
Pois é, o tempo vai passar, o ciclo termina, mas o nome do site está lá no tal hall da fama, e isso devo a todos que um dia num ato de amizade e simpatia decidiram colaborar.
Evidente que a idéia deixa um legado. Seria muito modesto a não aceitar tal afirmativa.
Alguém um dia vai contar essa história que começou há seis anos e agora se encerra. Esse é o legado. Como também a própria ousadia de estar no meio de feras da indústria expondo minhas idéias e conceitos.
Um empreendimento desse tipo é tão contundente que até na hora de ser encerrado deve ser pré-agendado. Porque aqueles que compraram os três meses de assinatura precisam ser respeitados. E, talvez, essa tamanha responsabilidade tenha contribuído para que eu tomasse essa decisão, a qual já vinha amadurecendo.
A guerra declarada do governo em me tomar o nome Brazil, problemas de ordem pessoal, exposição em demasia, tudo isso é um conjunto de fatores que me fez optar pelo encerramento das atividades.
Pra muitos esse é um momento de tristeza, mas pra mim de alegria.
Deixar uma marca é gratificante, mas inspirar pessoas é muito melhor. Saber que de alguma forma esse trabalho enriqueceu o cenário do bondage por essas bandas cria na alma o tal sentimento de dever cumprido.
Me desculpo junto aqueles que de alguma forma esperavam mais desse trabalho se não alcancei o patamar que se imaginava. Mas é complicado encenar desejos. Eles podem ser parecidos, mas jamais serão iguais, e num segmento onde o desejo está totalmente em primeiro plano, agradar se torna uma tarefa das mais complicadas.
As meninas que somaram e se desdobraram para interpretar a donzela em perigo eu aqui faço as minhas reverências. Seja em que período for sempre existiu a idéia e a realização. E nesse ponto elas conseguiram passar aquilo que eu tinha em mente em produzir. Aos colaboradores próximos, aos amigos do site, da comunidade BDSM, aqui fica um pedacinho do meu coração e gostaria que guardassem pra sempre. Foi um tempo bom...
Outro dia me perguntaram como seria minha vida sem o site. Não parei pra pensar nisso, mas se ela existiu antes do site, ela vai em frente.
Levo comigo as marcas, as boas e as ruins, mas é tudo que posso levar. O que o site me trouxe de bom e aquilo que me tirou. Tudo isso é parte da história.
Que novos “homens das cordas” sigam criando seus nós, tirando fotos e mantendo a chama acesa. Pra mim, é hora de voltar à vida.
Muito obrigado!
Bondage & Fetiches
Tudo sobre fetiches. O site Bound Brazil. Vídeos, Filmes, Crônicas, Fotos e Humor. Atualizado semanalmente. Comentem, participem.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
O Escravo
Faz tempo que navego pelo BDSM, e faz tempo que algumas coisas não me agradam.
E como não estou imune a passar em branco frente aos
recém chegados, aqui vai uma pequena contribuição de um assunto em voga.
Atualmente, a internet exibe três tipos de mulheres com
acento dominante em seus perfis. As verdadeiras Dommes, as Pro-dommes e as
Rainhas.
Não sou eu quem criou essa nomenclatura, isso está nos
perfis pra quem quiser ver.
E não raramente deparo com postagens em redes sociais em
que algumas moças escrevem coisas do tipo: “necessito de um escravo motorista”.
Apenas pra citar um exemplo.
Ora, nos comentários sempre aos borbotões, dezenas de
pseudos escravos se habilitam a tal tarefa. Uns lamentam por morarem distante,
outros alegam compromissos e outros pedem para marcar a hora.
Claro que ninguém vai aparecer pra isso. Porque essa moça
não quer um Escravo, ela quer um Esparro. E aqui residem as diferenças básicas,
gritantes e fundamentais.
Porque esta moça, que pode alegar ser uma pro-domme ou
apenas uma dessas Rainhas de Podos que está em voga nos diversos grupos
espalhados na rede, não tem a menor idéia do que significa ter um escravo. E se
vale uma leitura atenta pode ser que essas palavras façam sentido, ou podem me
chamar de idiota mesmo, porque eu não ligo. Ando evacuando um quilo exato pra
esse tipo de mi-mi-mi.
Um sujeito que se presta a ir fazer um favor a alguém que
escreve uma postagem desse tom na certa estará imaginando ter algo em troca
pelo ato. E se tal fato realmente se confirmar será uma relação pro-domme de
momento, com um valor estabelecido, ainda que não seja dinheiro, grana, cacau,
mas uma pisada, um beijo no pé etc. Mas se nada rolar ele será um “esparro” por
um dia.
Digo isso amparado em experiências de vida. Não tem
nenhuma teoria de “chutágoras” aqui.
Uma relação “Master/Slave” denota muito mais que uma
tarefa de levar uma moça a um shopping, ou a compra de um par de sapatos
enviado pelos correios. Se fosse assim, estaríamos diante de um reducionismo
absoluto do se resolveu chamar de BDSM.
Toda a responsabilidade que compreende a lisura do
relacionamento de uma domme e seu escravo está muito além de uma dessas muitas
conversas tolas que assisto todos os dias passando por minha timeline.
Uma verdadeira domme pode ter cinco escravos pendurados
em sua corrente, desde que saiba ter atitude e conhecimento de causa para
atender as responsabilidades que isto exige.
Então, se a onda é descolar um par de sapatos, uma
lingerie, uma “carona” até o shopping mais próximo, ou distante, não use
palavras das quais não tem o menor embasamento para proferir.
Fetichismo é muito bem vindo. Muita gente gosta de pés,
pescoço, xereca fedida, o que for. Mas fetichismo não tem nada a ver com BDSM,
com relação D/S. Fetichismo é fetichismo e pronto moças.
Seus pés podem ser lindos, seu sucesso incontestável. Eu
mesmo curto muitas.
As fotos dos seus cabelos são magníficas, a bunda de
parar uma partida de futebol. Você pode ser a gostosa da hora, a musa que deu
certo. Pode ter um séquito de podólatras escrevendo palavras que te massageiem
o ego, mas ser uma domme, uma rainha, ou até uma pro-domme exige muito mais que
todos esses predicados relacionados aqui.
Ainda que o cidadão imbuído de sua autodeterminação
alegue que ser um “esparro” é uma tarefa de humilhação condizente com os
desejos de um escravo eu rebato, veementemente.
Porque para se humilhar diante de uma Senhora o
cavalheiro disposto a tanto tem que pertencer a esta Mulher, de corpo e alma,
não através de um avatar com foto falsa de uma rede social pautada pelo anonimato.
Fica a dica!
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Cordas e DiD
“Difícil é expressar por gestos e atitudes, o que realmente queremos dizer...” (Carlos Drummond de Andrade)
Desde muito jovem a minha veia pulsou vendo a mocinha em perigo nas telas de TV. Era um vilão típico, ousado, mas tudo isso acontecia nos sonhos de moleque. Era o mar que batia com força no imenso litoral.
Mas esse sonho cresceu comigo e essa historinha bem mais tarde chegou com muita força e atende pelo nome de DiD.
E o que seria DiD? Damsels in Distress. Assim os intrépidos americanos descobriram guiados por um cara de mente aberta e sagaz chamado Irwing Klaw que recortar fotos de gibis com heroínas seqüestradas dava uma grana. E então nasceu a lenda e assim construí meu sonho.
E o que bondage tem a ver com isso?
Evidente que essas mocinhas dos filmes apareciam em perigo, e, uma vez seqüestradas elas se mostravam amarradas nas telas. Daí vem à intuição. Afinal, como fazer uma imobilização segura em que a sua donzela em perigo permaneça prisioneira?
Criou-se um estilo, o chamado por muita gente de bondage americano.
Aqui me dedico a falar desse estilo. As técnicas e teorias orientais seriam outro caso.
E este bondage americano acompanhou a evolução reaparecendo no começo dos anos sessenta após a morte de Irwing Klaw e a extinção do processo que lhe moveu o governo por violação de correspondência em tempos de guerra fria. Nesse período, os recém-chegados criaram as primeiras revistas especializadas no assunto, as famosas Detectives Magazines.
Mas toda essa retórica tem um sentido: até que ponto a simetria dos nós e o bom acabamento de uma imobilização atrai os aficionados por DiD? Seria uma clara influencia das imobilizações orientais que primam pela beleza dos nós interferindo no que foi retratado pelo cinema norte-americano?
É evidente que a beleza de uma imobilização atrai olhares curiosos e atentos. As pessoas curtem as fotografias de centenas de produtores e artistas de acordo com essa identificação entre a imagem e o espectador. Muitas mulheres com claras tendências a serem dominadas anseiam por uma cena de bondage realizada com esmero, precisão cirúrgica e, com isso, suas fotos teriam a plasticidade esperada.
Eu assumo essa tendência em meu próprio portal.
Mas os milhares de amantes de DiD espalhados pelo mundo afora estariam interessados nessa precisão?
Numa recente pesquisa realizada por portais especializados no assunto ficou claro que um grande percentual de admiradores de bondage de certa forma não prioriza esse critério. Imobilizações realizadas com duct tape – ou silver tape, como preferem alguns, apesar de nem sempre serem de cor cinza as fitas adesivas – ou algemas, têm um mesmo apelo, porque numa cena de DiD a participação da modelo e de quem a dirige em cena é responsável pela eficácia do trabalho no portal.
Portanto, acho muito bacana realizar um trabalho e ler elogios quanto ao aproveitamento das cordas de forma simétrica e perfeita dentro de uma cena, mas existem outras formas de mostrar o DiD em que as cordas ficam em segundo plano. E há que atender a demanda quando se trata de um trabalho com fins comerciais.
O artigo tem como premissa explicar aos que não possuem esse conhecimento as razões das diversidades que podem ser vistas no Fetlife ou outras redes sociais.
No Brasil a preferência pelo fetiche chamado de DiD é muito pequena, o que explica a pouca penetração do portal por aqui. No entanto, em países como Estados Unidos e boa parte da
Europa a procura é muito grande e a assiduidade bastante significativa de assinantes que bsucam o segmento.
Desde muito jovem a minha veia pulsou vendo a mocinha em perigo nas telas de TV. Era um vilão típico, ousado, mas tudo isso acontecia nos sonhos de moleque. Era o mar que batia com força no imenso litoral.
Mas esse sonho cresceu comigo e essa historinha bem mais tarde chegou com muita força e atende pelo nome de DiD.
E o que seria DiD? Damsels in Distress. Assim os intrépidos americanos descobriram guiados por um cara de mente aberta e sagaz chamado Irwing Klaw que recortar fotos de gibis com heroínas seqüestradas dava uma grana. E então nasceu a lenda e assim construí meu sonho.
E o que bondage tem a ver com isso?
Evidente que essas mocinhas dos filmes apareciam em perigo, e, uma vez seqüestradas elas se mostravam amarradas nas telas. Daí vem à intuição. Afinal, como fazer uma imobilização segura em que a sua donzela em perigo permaneça prisioneira?
Criou-se um estilo, o chamado por muita gente de bondage americano.
Aqui me dedico a falar desse estilo. As técnicas e teorias orientais seriam outro caso.
E este bondage americano acompanhou a evolução reaparecendo no começo dos anos sessenta após a morte de Irwing Klaw e a extinção do processo que lhe moveu o governo por violação de correspondência em tempos de guerra fria. Nesse período, os recém-chegados criaram as primeiras revistas especializadas no assunto, as famosas Detectives Magazines.
Mas toda essa retórica tem um sentido: até que ponto a simetria dos nós e o bom acabamento de uma imobilização atrai os aficionados por DiD? Seria uma clara influencia das imobilizações orientais que primam pela beleza dos nós interferindo no que foi retratado pelo cinema norte-americano?
É evidente que a beleza de uma imobilização atrai olhares curiosos e atentos. As pessoas curtem as fotografias de centenas de produtores e artistas de acordo com essa identificação entre a imagem e o espectador. Muitas mulheres com claras tendências a serem dominadas anseiam por uma cena de bondage realizada com esmero, precisão cirúrgica e, com isso, suas fotos teriam a plasticidade esperada.
Eu assumo essa tendência em meu próprio portal.
Mas os milhares de amantes de DiD espalhados pelo mundo afora estariam interessados nessa precisão?
Numa recente pesquisa realizada por portais especializados no assunto ficou claro que um grande percentual de admiradores de bondage de certa forma não prioriza esse critério. Imobilizações realizadas com duct tape – ou silver tape, como preferem alguns, apesar de nem sempre serem de cor cinza as fitas adesivas – ou algemas, têm um mesmo apelo, porque numa cena de DiD a participação da modelo e de quem a dirige em cena é responsável pela eficácia do trabalho no portal.
Portanto, acho muito bacana realizar um trabalho e ler elogios quanto ao aproveitamento das cordas de forma simétrica e perfeita dentro de uma cena, mas existem outras formas de mostrar o DiD em que as cordas ficam em segundo plano. E há que atender a demanda quando se trata de um trabalho com fins comerciais.
O artigo tem como premissa explicar aos que não possuem esse conhecimento as razões das diversidades que podem ser vistas no Fetlife ou outras redes sociais.
No Brasil a preferência pelo fetiche chamado de DiD é muito pequena, o que explica a pouca penetração do portal por aqui. No entanto, em países como Estados Unidos e boa parte da
Europa a procura é muito grande e a assiduidade bastante significativa de assinantes que bsucam o segmento.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Os Efeitos do Nylon
Meias de nylon…
Um fetiche, um objeto de desejo extremo, de sedução ou elegância?
Um acessório que é idolatrado por podólatras, bondagistas, sadomasoquistas, enfim, alcança vários segmentos de todas as formas possíveis e imaginárias.
Como os amantes dos pés lidam com o nylon? Alguns adeptos do sweat foot fetish (experimente digitar essas palavras no Google), enlouquecem quando as meias de nylon atuam retendo o suor nos pés das meninas. O efeito para esse grupo é bombástico. Quanto mais molhados os pés maior o tesão. Mas há casos de podólatras que gostam da beleza que as meias de nylon produzem quando apresentam combinações com os calçados. Estes ignoram os efeitos do suor e do cheiro e se esbaldam com a imagem sedutora da mulher.
Outra combinação interessante diz respeito à bondage e nylon.
Parte desses fetichistas é alucinada por mulher amarrada trajando meias de nylon. A viagem vai desde lingeries tipo sete oitavos a meia calça. Existem sites especializados nos quais a imagem de uma mulher descalça ou sem as meias é quase impossível, mesmo que inseridas num contexto de mais de quinze mil fotografias.
Claro que existe uma ligação intensa entre o fetiche de bondage e podolatria. É inegável essa proximidade, e porque não dizer, parentesco. O tesão por mulheres amarradas com meias de nylon vai desde a utilização das meias como ligadura, ou seja, como elemento imobilizador, até imagens onde as meninas aparecem apenas trajando as meias. Nem calcinhas são permitidas.
Daí o “ritual” segue de acordo com a imaginação de cada fetichista. Uns optam por fitas adesivas, outros por cordas, tiras de couro, enfim, tudo que possa criar uma imagem que dê vida as meias cor de pele. Assim como os podólatras, alguns bondagistas colecionam as meias de nylon utilizadas durante uma cena.
Mas não pára por aí.
Esse objeto de desejo de fetichistas também faz parte de sessões de sadomasoquismo. Não é difícil conseguir imagens de mulheres sendo flageladas com as meias de nylon rasgadas durante cenas em calabouços ou masmorras.
Normalmente, nestes casos, o interessante é conseguir acabar com a elegância da mulher aos poucos, despindo à força, peça por peça, até que sobrem apenas as meias de nylon semi destruídas.
Em sites de sadomasoquismo é comum a associação das meias de nylon com cordas de sisal. A união desses materiais se encarrega de causar o impacto que a cena necessita. As meias vão se deteriorando aos poucos até serem rasgadas com violência pelos praticantes.
Não podem ser ignorados os sites especializados em exibir mulheres colocando e retirando essas meias e lingeries. Há vários, alguns com cenas de bondage também, mas o foco central é por este material sintético.
Como dizem por aí, a mulher já nasce sabendo seduzir um marmanjo.
Tanto é verdade que as que sequer se imaginam fetichistas, utilizam lingeries para encantar seus pares. Flertam com o fetiche sem admitir qualquer proximidade. Coisas da vida...
Os efeitos do nylon em atividades fetichistas ou até baunilhas são intensos.
O prazer obtido com estes objetos enquanto estimulantes sexuais por determinado grupo de pessoas é muito grande, o que faz com que a matéria seja relevante.
Ainda que podólatras, bondagistas e sadomasoquistas tenham preferência por pés descalços um belo par de meias provocantes é sempre um fator interessante e sedutor.
Sobram questionamentos: você, amiga e freqüentadora desse espaço, em algum momento admitiria usar meias de nylon para provocar suor em seus pés a pedido de seu parceiro?
Com a palavra, as moças.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Química
Muita gente usa a química pra definir com propriedade
alguns fatos da vida.
Relacionamentos são balizados pela suposta química entre
os que se aventuram ao primeiro encontro às escuras. Transportado ao fetichismo
a química é fator preponderante.
Fetiche sem química se resume a imagens repetitivas e
comuns.
Atos inanimados de um teatro sem palco e sem atores.
Flertar é positivo, cria identificação entre quem deseja o objeto na vitrine,
mas sem o toque, o detalhe, naufraga sem rumo ou direção.
Intimidade é algo que as fotografias não revelam. Ajuda,
é claro, apaga um pouco a inibição de quem atende ao chamado de quem postou a
beleza esperada num lugar qualquer. Mas o toque, a proximidade, são fatores que
a tecnologia jamais suplantará.
Então o sujeito gosta de pés. Admira as moças exibindo
seus dotes e se esbalda salvando as fotografias que colhe de sua musa
preferida. Se imagina presente, sonha, deseja. Mas não há alquimia que
transforme o desejo platônico em realidade sem a participação dos dois pólos.
Nesse caso, o admirador padece diante da impossibilidade
e sonha um dia tocar, beijar, sentir, cheirar e ter pra ele o que almeja.
Todas as fantasias têm uma origem. Não acontecem por
acaso. Algumas vezes o desejo surge do nada e o fetichista, apaixonado e
dependente aprende a criar espaço em sua vida pra conviver com dramas que terá
de ultrapassar. Ser diferente parece abstrato, mas a realidade é complicada
quando você se sente em distorção com o mundo ao redor.
Daí, ao encontrar quem comungue da mesma mesa e ache seu
desejo legitimo a entrega é imediata. Porque sempre vai existir quem ache o
fetichismo do parceiro saudável e interessante. Não pense que o mundo é só
desarmonia. Há uma luz no fim do túnel.
Conheço pessoas que experimentaram fantasias e se
encontraram de tal forma a ponto de construir seus castelos nesse alicerce. A
vida é um encontro de possibilidades capaz de exercer esse fascínio em quem se
atreve a perceber a novidade.
Portanto, se de um lado alguém se nega a tentar explorar
atalhos de outro haverá quem tente através do inesperado achar a química
perfeita.
Costumo dizer que no fetichismo não há espasmos e
delírios fictícios. Claro que existem formas diferentes que ver o fetiche. Há
os que admitem o fetiche sem rosto, sem identidade, e aqueles em que sentimento
e desejo precisam andar de mãos dadas pra surtir efeito. Portanto, a química é
distinta. E se há diferenças ela jamais será uma só.
É importante analisar por este aspecto uma vez que as
pessoas têm por bem estipular que a química é um fator comum. Tesão é algo
inexplicável, transcende os desígnios da razão. Dessa forma, a química seria
pessoal e intransferível, aceitável em alguns casos, desde que a fantasia não extrapole
os limites de quem se arrisca a experimentar algo muito novo.
Claro que a paquera sempre será o embrião de uma relação e
sabendo dos desejos de quem se conhece fica mais fácil imaginar como mexer com
o âmago de quem flerta do outro lado.
Alguns fetichistas deixam a timidez se
embrenhar em meio a expor seus desejos, mas se ele souber trabalhar esse lado
as chances de conseguir seu objetivo serão infinitamente maiores e, talvez,
possa galgar parceria de onde ele menos espera.
Porque no fundo, todos querem ser o objeto do desejo de
alguém. É fato.
Ainda que esse desejo se materialize por estar em perigo
numa cena de seqüestro lúdico e combinado, acorrentada numa fictícia masmorra
ou apenas ter seus pés endeusados por quem os observa sem o menor pudor.
Toda fantasia é válida desde que não violente sentimentos
ou cause problemas em quem se dispõe a praticar.
Resumindo, a química está nesse conjunto de fatores
quando se fala em fetichismo, uma necessidade extrema e totalmente relevante de
estar diante do que tanto fascina.
O artigo de hoje é em homenagem a dona da fotografia acima que
ilustra a matéria. (Maria Carolina)
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
O Mau Defunto
Rede Social e Internet foram duas coisas que deram certo.
Até certo ponto sim. O tal casamento perfeito. Um nasceu
pra completar o outro.
E a vida corria bem até o aparecimento de possibilidades
até então restritas a ambientes distintos. Foi então que alguém descobriu que
BDSM cairia como uma luva nesse segmento, desde os tempos do velho e
defenestrado ORKUT.
O Facebook é uma ferramenta com restrições. E isso
emputece a maioria que deseja fazer do portal um valhacouto para suas
barbaridades. E que barbaridades seriam essa? Expor seus desejos numa vitrine e
achar que eles são a única forma de expressão de BDSM que existe na face da
terra.
E assim foi, até que um dia algumas pessoas encontraram
uma página negra, bem mais atraente que uma rede social que os amigos mais próximos
utilizam, chamada de Fetlife. As imensas combinações e possibilidades foram à
senha de entrada. O paraíso, enfim, deu o ar de sua graça. Mas não era
suficiente ser apenas parte de um todo, era preciso seguir na obstinação obtusa
e sem nexo de que a opinião pessoal era o único e verdadeiro caminho,
igualzinho aos pastores ordenhando seus fiéis seguidores num púlpito bem
refrigerado.
E vieram os textos, as verdades que se tinha em mente.
Grupos, semi-grupos, panelinha, sei lá, o nome é o que
menos importa, desde que naquele gueto a verdade dita talvez em letras
garrafais no anúncio seja o único caminho.
E toda aquela velha retórica de que cada um que cuide do
seu, ou cada cachorro que lamba a sua caceta vai literalmente para o espaço.
Porque quem aparece normalmente não quer ter uma opinião contrária, ou se acaso
tenha e se expresse, vai virar vespeiro de agulha de tanta espetada que
aparecerá dos defensores de Noé e seus bichos.
E a vida segue de vento em popa enquanto o exercício de
fazer valer a verdade absoluta e falar mal da vida de quem discorda se
equivalem. “Aqui é meu clube, quem está desse lado da linha pode jogar e quem não
está que procure sua turma”.
E tome veneno...
É o cara que trai a mulher com a masoquista do sul, a
dominadora que pega o ônibus por conta própria porque o submisso se nega a lhe
pagar avião quando deveria, e assim sucessivamente. Ao tempo em que outros se
juntam e de tanta concordância aquilo vira um mantra celestial e todos que por
ali passam despercebidos acabam acreditando em todas aquelas tolices.
Sim, tolices. Porque BDSM nunca foi uma causa.
Porque BDSM sempre foi uma forma de viver e, num país
democrático, se vive da maneira que se acha conveniente. Daí se fulano é
Goreano, beltrano é litúrgico e cicrano é anarquista é um problema pessoal de
cada um. A pessoa tem o livre arbítrio de se expressar e dizer a que vem.
Ser casado, solteiro, gay, hetero, crente, macumbeiro,
nada disso vem ao caso. E isso eu não aprendi em cursos ou palestras. Isso veio
na cartilha de quem um dia deu a cara a tapa pra criar alguma coisa que hoje se
denomina BDSM num lugar onde escrevemos português.
Então eu não tenho verdades, nem grupos, e, muito menos
alicio pessoas pra acreditarem no que escrevo. Me expresso e só. Se alguém não concordar
que discorde. Debate sempre foi à mola que impulsionou o BDSM do lado de cá dos
trilhos, desde os tempos em que apenas uma meia dúzia de pessoas pensou em dias
melhores.
Por conta disso eu paro, olho e leio. Se me agrada eu
sigo, se não me agrada eu apenas levo minha vida. E não acendo vela pra mau
defunto.
Um dia, quem sabe, criar-se-á um grupo chamado DIVA
(Departamento de Informações da Vida Alheia) e eu vou aplaudir, porque ao menos
não estará camuflado debaixo da empáfia de quem se autodenomina síndico de uma
nova sociedade emergente do BDSM dentro das redes sociais.
E se isto de fato acontecer, quem quiser que dê asas à
loucura, eu, por minha parte, economizo as minhas velas...
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