
Preocupada por ter um incrível instinto de submissa, uma amiga resolveu dar ouvidos a algumas pessoas e procurou um analista. Uma velha colega de Faculdade recomendou um terapeuta formado em psiquiatria, Dr. Mancebo Palhares.
Após o fim de seu relacionamento com um fetichista de tendências totalmente dominantes, ela se viu em palpos de aranha para conseguir se firmar noutra relação. Contou que o fetiche lhe fazia tanta falta que chegava ao cumulo de se auto-flagelar durante o ato sexual com seu novo parceiro às escondidas, sem que o cidadão pudesse notar. Buscava na dor o prazer que não tinha nas noites mal resolvidas.
Mínimos detalhes eram relatados com extrema riqueza e devidamente anotados pelo Dr. Palhares que prestava bastante atenção ao que sua paciente dizia. Ouvia e perguntava, principalmente sobre seu relacionamento passado.
Minha amiga estava feliz com as consultas. Tinha no analista um aliado confidente e aquela altura conseguia entender a razão de sua submissão total e sobre sentir prazer com a dor. Convencida de seu masoquismo extremo restava encontrar um novo parceiro que a levasse de volta ao caminho do qual se perdera.
Passou então as práticas solitárias. Através de relatos colhidos pela Internet experimentou sessões secretas que terminavam em marcas profundas e longas masturbações finalizadas com orgasmos intensos. Faltava-lhe, porém a relação carnal, a chamada coisa de pele, o sabor e o cheiro do macho dominador para se sentir completa.
Tentou daqui e dali, mas não apareceu nada que fosse capaz de mudar o panorama.
No final de uma das rotineiras consultas, recebeu do Doutor Palhares o convite para uma conversa fora do ambiente médico-paciente. A confiança era tanta que sequer pestanejou em aceitar tomar uma bebida e ampliar seus horizontes.
Livre das formalidades e da conduta de ética necessária a qualquer profissional, o Doutor Palhares procurou aprofundar o papo fetichista e minha amiga viu-se diante de alguns conselhos ousados, que soavam como experiências de quem tinha amplo conhecimento do assunto.
Não foi difícil perceber a certa altura que o Doutor Mancebo Palhares era um fetichista.
E além de fetichista possuía as mesmas tendências submissas da minha amiga e há um bom tempo convivia com a procura de uma dominadora que pudesse realizar seus desejos.
Ela a principio foi obrigada a assumir o impacto que a revelação lhe causou, mas aos poucos foi entrando na roda e descobriu que daquela forma se sentia bem melhor em discutir seus problemas. Estava diante do “ombro amigo” que tanto lhe faltava, embora tivesse sido providencial as sessões de análise a que fora submetida.

Um dia uma dominadora chegou de outra cidade para um evento e levou com ela o coração do Doutor Palhares. Os encontros ficaram raros e aos poucos desapareceram.
Minha amiga contou que continuou recebendo mensagens do ex-analista onde pedia noticias, mostrava-se preocupado com ela e falava de sua relação cada vez mais sólida e intensa.
Confessou que sentiu ciúmes no começo, embora no fundo do ego desejasse ao amigo toda a felicidade do mundo. Lamenta até hoje que uma amizade sincera e sadia tenha terminado da forma que eles mesmos previam, nos tantos chopinhos de fim de tarde na praia do Leblon.
Vida que segue...
E ela ainda está à procura de seu par perfeito.
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