A literatura costuma empreender um fascínio nas pessoas
capaz de criar um elo entre o imaginário e a realidade. E essa trilogia dos 50
tons anda causando dúvidas, principalmente na mulherada que tem subido pelas
paredes com as cenas tórridas narradas pela escritora.
O perigo reside justamente aqui.
Porque uma coisa é lidar com a fantasia como meio
experimental pra que uma noite ou duas sejam perfeitas. Outra é conviver com o
desejo toda vez que existe a possibilidade de realizar.
O imaginário é cheio de surpresas. Surpresas que causam a
inquietação das pessoas diante de fatos. Digo isso porque entender a cabeça de
um fetichista é como subir 30 andares de um prédio de costas.
Um fetichista que nasce com o desejo tatuado na alma não
tem dúvidas quanto ao que o move, ao passo que uma pessoa que se aproxima de
uma fantasia por interesse sexual momentâneo apenas, terá uma postura escapista
diante do quadro. Então, é muito vago aceitar as pistas de um romance que faz
determinado sucesso como regra. Um fetichista não abandona sua causa por amor,
ele pode deixar de lado por conveniência, entretanto, sempre haverá a
necessidade suprema de realizar suas fantasias, ainda que estejam tolhidas por
decisão pessoal. Nesse caso, o romance não imita a vida.
As pessoas que se aproximam do meio devem ter cuidado
extremo quanto às escolhas. Levar um (a) fetichista pra cama é um grande
barato. Dá liga, idéias novas, um quadro totalmente impensado anteriormente se
abre diante dos olhos e a pessoa navega na fantasia e tira lascas de prazer. No
entanto, há que medir o grau de envolvimento para não haver um rompimento
irreversível e desastroso. Tentar mudar o pensamento de um fetichista se
equivale a tentar trazer um árabe para uma sinagoga. Seria a teoria do efeito
contrário.
Nem sempre o que um romance tem como base de apoio e
objetivo principal é passível de se tornar realidade. Seria o mesmo que supor
que o super-homem voa de fato ou a Penélope Charmosa, a eterna musa dos
bondagistas, está sempre em apuros e se salvando.
Se o negócio é tirar uma onda de BDSM que isso fique a
critério de um casal sem qualquer ligação com o meio. Porque ao primeiro sinal
de cansaço ou repetição de cenas tudo volta ao normal e ninguém sai ferido da
guerra. Por isso, entendo e defendo que esse tipo de romance de alto índice de êxito
deva ser analisado por pessoas com algum conhecimento do assunto.
Soa ilógico o aparecimento de pessoas em redes sociais
criando perfis desconexos a procura de diversão fetichista. Tenho muita paciência
ao responder os emails que entopem minha caixa de correio diariamente em busca
de informação, mas procuro passar a mesma impressão que é o ponto de partida
dessa matéria de hoje.
Fetichismo é divertimento sim, entendo dessa forma, mas
deve existir respeito por quem carrega a necessidade do desejo. Do mesmo modo
que não se deve induzir pessoas a práticas pouco comuns sem prévio consenso,
também é desnecessário tirar um sarro com alguém que vive em busca do seu
próprio objetivo.
Claro que pra toda regra existe uma exceção e não é impossível
ocorrer uma total identificação com determinadas práticas de BDSM num primeiro
contato. Mas são casos raros, porém não oportunistas. A arte de seduzir é
extensa e o fetichismo é uma arma. Entretanto, é preciso saber os limites de
quem precisa e de quem tenta, assim, haverá o benefício mútuo.
E para as moças que me perguntam com certa freqüência sobre
envolvimentos fetichistas fica a dica: a necessidade do que for proposto sempre
será evidente e fundamental. Nada afasta o fetichista do seu lugar comum. Ele não
vai se contentar com cinco ou seis noites de prazer como se fosse uma terapia.
Ele vai querer sempre e mais e será vigilante todas as vezes que o desejo for
pra cima da cama. Alguns, por pura timidez, podem deixar de lado, podem até
relevar em nome da relação, mas serão tão infelizes que jamais haverá refúgio
para suas inquietações, até que ele decida procurar pelo que sempre será a sua
razão de existir.
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