terça-feira, 23 de outubro de 2012

Alma Tatuada


A literatura costuma empreender um fascínio nas pessoas capaz de criar um elo entre o imaginário e a realidade. E essa trilogia dos 50 tons anda causando dúvidas, principalmente na mulherada que tem subido pelas paredes com as cenas tórridas narradas pela escritora.
O perigo reside justamente aqui.
Porque uma coisa é lidar com a fantasia como meio experimental pra que uma noite ou duas sejam perfeitas. Outra é conviver com o desejo toda vez que existe a possibilidade de realizar.
O imaginário é cheio de surpresas. Surpresas que causam a inquietação das pessoas diante de fatos. Digo isso porque entender a cabeça de um fetichista é como subir 30 andares de um prédio de costas.
Um fetichista que nasce com o desejo tatuado na alma não tem dúvidas quanto ao que o move, ao passo que uma pessoa que se aproxima de uma fantasia por interesse sexual momentâneo apenas, terá uma postura escapista diante do quadro. Então, é muito vago aceitar as pistas de um romance que faz determinado sucesso como regra. Um fetichista não abandona sua causa por amor, ele pode deixar de lado por conveniência, entretanto, sempre haverá a necessidade suprema de realizar suas fantasias, ainda que estejam tolhidas por decisão pessoal. Nesse caso, o romance não imita a vida.
As pessoas que se aproximam do meio devem ter cuidado extremo quanto às escolhas. Levar um (a) fetichista pra cama é um grande barato. Dá liga, idéias novas, um quadro totalmente impensado anteriormente se abre diante dos olhos e a pessoa navega na fantasia e tira lascas de prazer. No entanto, há que medir o grau de envolvimento para não haver um rompimento irreversível e desastroso. Tentar mudar o pensamento de um fetichista se equivale a tentar trazer um árabe para uma sinagoga. Seria a teoria do efeito contrário.
Nem sempre o que um romance tem como base de apoio e objetivo principal é passível de se tornar realidade. Seria o mesmo que supor que o super-homem voa de fato ou a Penélope Charmosa, a eterna musa dos bondagistas, está sempre em apuros e se salvando.
Se o negócio é tirar uma onda de BDSM que isso fique a critério de um casal sem qualquer ligação com o meio. Porque ao primeiro sinal de cansaço ou repetição de cenas tudo volta ao normal e ninguém sai ferido da guerra. Por isso, entendo e defendo que esse tipo de romance de alto índice de êxito deva ser analisado por pessoas com algum conhecimento do assunto.
Soa ilógico o aparecimento de pessoas em redes sociais criando perfis desconexos a procura de diversão fetichista. Tenho muita paciência ao responder os emails que entopem minha caixa de correio diariamente em busca de informação, mas procuro passar a mesma impressão que é o ponto de partida dessa matéria de hoje.
Fetichismo é divertimento sim, entendo dessa forma, mas deve existir respeito por quem carrega a necessidade do desejo. Do mesmo modo que não se deve induzir pessoas a práticas pouco comuns sem prévio consenso, também é desnecessário tirar um sarro com alguém que vive em busca do seu próprio objetivo.
Claro que pra toda regra existe uma exceção e não é impossível ocorrer uma total identificação com determinadas práticas de BDSM num primeiro contato. Mas são casos raros, porém não oportunistas. A arte de seduzir é extensa e o fetichismo é uma arma. Entretanto, é preciso saber os limites de quem precisa e de quem tenta, assim, haverá o benefício mútuo.

E para as moças que me perguntam com certa freqüência sobre envolvimentos fetichistas fica a dica: a necessidade do que for proposto sempre será evidente e fundamental. Nada afasta o fetichista do seu lugar comum. Ele não vai se contentar com cinco ou seis noites de prazer como se fosse uma terapia. Ele vai querer sempre e mais e será vigilante todas as vezes que o desejo for pra cima da cama. Alguns, por pura timidez, podem deixar de lado, podem até relevar em nome da relação, mas serão tão infelizes que jamais haverá refúgio para suas inquietações, até que ele decida procurar pelo que sempre será a sua razão de existir.

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