quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sobrevivemos


É fácil morder uma maçã se você tem dentes.
Como também é fácil externar seu desejo sexual quando existem claras oportunidades pra tanto. O desejo sexual sempre existiu desde que o mundo é mundo. Não dá pra negar.
Porém a humanidade viveu e vive um ciclo de gerações.
Hoje em dia o acesso é total. O mundo globalizou e com isso abriu-se um horizonte capaz de transmitir em tempo quase real aquilo que interessa a quem sai à procura.
E quando tudo se torna mais acessível às fantasias sexuais se acomodam no mesmo processo.
Imaginem um fetichista diante de seus desejos em 1910?
A única diferença está no tempo, nas oportunidades, porque o desejo é o mesmo, não muda.
Assim as gerações sobreviveram e sobrevivem. Porque será lógico imaginar que este cenário que nos dias de hoje empolga e aproxima pessoas num mesmo canal em mais alguns anos estará totalmente obsoleto. O mundo evoluiu em cem anos muito mais do que em dois mil.
Dos bens mais preciosos que a vida nos permite estão incluídas as lembranças.
Seria uma insana tolice afirmar que a minha geração teve as mesmas regalias que hoje é a marca da atual geração, como também soaria como imbecilidade não ser parte desses dias atuais. Mas o enfoque está no tempo que existe entre um momento e outro, ou seja, dos que assistiram a passagem do tempo e sobreviveram até chegar aqui.
Um jovem fetichista adolescente hoje em dia tem todo um arquivo visual que na juventude da minha geração não existia.
Muitas vezes imaginávamos os cenários através da leitura. Não tínhamos imagens disponíveis e através do pensamento um quadro era pintado nas cores que a imaginação produzia.
Não é raro encontrar fetichistas que atingiram a metade de um século de vida que não tenham tido este tipo de experiência. A literatura era o primeiro passo.
Então senhores fetichistas que já ultrapassaram a barreira dos quarenta, preparem-se para uma longa viagem através do tempo para voltarmos ao passado recente e lembrarmos os famosos “bolsilivros”. Isso mesmo. Livrinhos que cabiam no bolso da camisa e se tornaram o passatempo preferido nas viagens de ônibus ou trem após um dia de estudo ou trabalho.
Quem não se lembra da Giselle, a espiã que abalou Paris? Das famosas séries chamadas de ZZ7, onde belas espiãs eram seqüestradas por terroristas com planos sórdidos e ousados? Ou das séries de faroeste quando a mocinha aparecia na capa do livrinho com uma mordaça de pano e amarrada com cordas de sisal?
Nestes pequenos livretos com páginas de papel jornal escondemos nossos sonhos e desejos.
A Editora Monterrey, localizada até hoje aqui na Tijuca no Rio de Janeiro ainda guarda um grande acervo dessas obras, assim com a minha própria coleção é ampla. Fui um fanático por estas historinhas e vira e mexe ainda pratico esse hábito.
Por ser sobrinho do proprietário da editora participei de alguns desses capítulos, ora traduzindo o que chegava da Espanha para o português ou até escrevendo alguns contos recheados de heroínas em perigo.

Meus primos hoje tomam conta do negócio e conservam em arquivo quase todas as séries.
Os desenhos do Benício que coloriam as capas dos bolsilivros até hoje me servem de inspiração, não nego. Ele não errava o traço e sabia como criar uma capa que fosse capaz de provocar a curiosidade do leitor para as páginas que se abriam em seguida.
Quantos segredos aquelas páginas guardaram...
Dezenas? Centenas? Milhares? Todos!
Dizem que em breve os livros em papel cairão em desuso. Hoje vende-se arquivos para serem armazenados em HD. Os “tablets” e os celulares cada vez mais evoluídos num futuro próximo irão decretar o fim definitivo do livro impresso em papel.
O que hoje se guarda numa estante amanhã será peça de museu. Talvez eu não esteja mais aqui para ser testemunha desse fato e o que guardo e conservo comigo desapareça numa fogueira qualquer, porém, antes que este dia chegue ainda é tempo de abrir um bolsilivro para voltar ao passado e ler meus desejos impressos no velho papel amarelado

2 comentários:

Unknown disse...

Você resumiu em um post a justificativa central da minha tese de doutorado... Adoro!!!
Saudades de ti, meu querido!
Bjks
P.S. Estamos te esperando na play de SC, hein!

ACM disse...

Lets

A saudade vez por outra bate na porta, daí vale o resumo de coisas que nem o tempo apaga.

E por falar em saudade...

Olha, eu vou a SC quse com certeza.
Mas não te perdoo por vir ao Rio e passar batida.

Love U
ACM:)