quinta-feira, 9 de junho de 2011

Radiografia da Herengracht


O Arjan é um amigo. Uma pessoa que conheço há bastante tempo, e embora não nos vejamos há cerca de nove anos, jamais deixamos de trocar palavras, seja por telefone ou pela Internet.
Aprendemos juntos o que muitos chamam de técnicas de bondage.
Hoje, temos sites comerciais que mostram nossos trabalhos. O meu, todos aqui conhecem, e o do Arjan, que também é recente, merece uma visita: http://www.strugglingbabes.com/
Deixei Amsterdam no final de 1992. O Arjan seguiu seu caminho fetichista em sua cidade natal.
Trouxe comigo boas lembranças e algumas delas vieram parar aqui nas páginas do blog.
Ele costuma dizer que desde esse tempo em que deixei Amsterdam muita coisa mudou. Segundo o Arjan, as pessoas se tornaram menos receptivas e agora andam amedrontadas devido a toda essa onda de terror que se espalhou pelo mundo. Entretanto, ele garante que aquela cidade hospitaleira e fetichista na essência, ainda guarda espaço para grandes atrações.
E por conta dessas conversas, dessa troca de recordações, o Arjan resolveu elaborar um trabalho através de textos que relatam as experiências vividas nas diversas play-parties que marcaram época na Rua Herengracht.
Como material fetichista estes escritos são de grande relevância.
Um apanhado de histórias reais vividas por pessoas comuns que se tornavam astros para uma platéia sedenta por cenas fetichistas numa rua à beira de um canal e suas casas tortas. Os eventos da Rua Herengracht não exerceram fascínio numa mente sul-americana a procura de um mundo novo apenas. Eles ensinaram, significaram evolução para antigos praticantes e, por fim, criaram uma atmosfera íntima entre pessoas que com o passar do tempo, e o fim destes encontros, seguiram seus rumos.
A idéia do Arjan além de revelar como tudo se passava naquele sobrado do século dezessete, é tentar reconstruir um cenário através das pessoas que participavam dos eventos. Sem se importar com o tempo, com possíveis mudanças de comportamento daqueles que viveram momentos inesquecíveis, a divulgação dos personagens e suas práticas pode ajudar no crescimento dentro do BDSM daqueles que por qualquer razão não puderam pertencer àquele grupo que por mais de três anos plantou sementes e colheu frutos.
A Herengracht foi a nossa escola. Não só de iniciação ao bondage, aos nós perfeitos, mas como uma aproximação definitiva e um encontro com o universo BDSM do qual nunca mais fizemos a mínima questão de sair.
Ao regressar ao Brasil naquele final de 1992, senti uma lacuna aberta como uma ferida ao me afastar de forma definitiva das festas da Herengracht. O Arjan, alguns anos mais jovem, seguiu até o fechamento do sobrado. Novas festas surgiam na região ainda no tempo em que eu era freqüentador dos eventos de Madame Laarsen, o que aos poucos representou a derrocada do lugar e seus habitués.
Todo esse material, essa radiografia cibernética de um templo do BDSM estará em breve à disposição de todos que gostam de boas histórias sobre práticas fetichistas diversas. As passagens mais interessantes serão traduzidas e publicadas aqui. Democraticamente todas as práticas serão abordadas, e será uma regra, assim como funcionava no velho sobrado.

Este presente que a vida me concedeu de poder ter vivido esse tempo com aquelas pessoas, tem a chance agora de virar o enredo de uma grande história. Ainda que jamais tenha sido um grande protagonista nas noites de segunda-feira na Rua Herengracht, minha pequena parcela de contribuição se juntará a outras tantas que me serviram como um aprendizado e que me capacita a escrever alguns conceitos nas páginas do blog ou em qualquer lugar onde me convidam. Ansioso espero a abertura desses arquivos secretos de coisas que vi e das que não pude presenciar por compromissos que me fizeram regressar.

Portanto, melhor estar bem preparados pra viver cada uma dessas histórias que um dia foram fatos reais.

A Rua Herengracht em Amsterdam segue como um importante pólo fetichista e até hoje abriga ótimas festas como a Obsession, todo primeiro Sábado de cada mês.

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