
Por Marcelo V.
Tudo aconteceu há sete anos.
As conversas pela Internet tomavam quase todo o dia. Até o trabalho estava complicado (eu trabalho com eventos). E de tanto insistir ela me enviou o que eu mais queria: as fotografias dos seus pés.
Sou podólatra, mas um daqueles muito tímidos, capaz de arranjar mil desculpas quando passo na rua e não consigo desgrudar os olhos do que me atrai. Antes desse caso, vivi relacionamentos e fui incapaz de falar sobre meu fetiche. Quando achava que ia ser a hora tentava um beijinho aqui e outro ali e sempre as malditas cócegas pra atrapalhar. Aliás, cócegas e podólatras é um caso sério, porque quando você consegue chegar perto a mulher fala: “nem pensar em tocar no meu pé, eu morro de cócegas”.
Mas com ela foi diferente, e acredite, depois de falarmos pela Internet durante quase seis meses criei coragem pra confessar que morava na mesma cidade. Até o dia em que marcamos de nos encontrar.
Ela queria um relacionamento sério e eu queria os seus pés. Nem me importava com mais nada além disso, porque via a chance de pela primeira vez encontrar com alguém que sabia o que eu queria. E quando olhei pra aquela mulher de mais de um e setenta em cima de um salto que a deixava mais alta que eu quase tive um troço. Tremia mais que vara verde e ela notou minha timidez.
Em poucos dias estávamos namorando e por conta disso eu tinha a minha disposição aqueles pés tamanho trinta e oito (ou trinta e nove) prontinhos pra mim. Ela só usava salto alto o que aumentava o meu desejo consideravelmente. Passava o dia inteiro trabalhando numa empresa na Rua Uruguaiana e sempre que nos encontrávamos no final do dia desembrulhava seus pés de dentro do sapato e saciava seu cansaço com longos beijos e massagens.
Foram quatro anos vivendo a mais pura felicidade que até hoje pude experimentar.
Guardei todas as fotos, todas as meias que ela me presenteou depois de usadas, enfim, colecionei as coisas materiais e esqueci do mais importante: a continuidade da nossa relação.
Minha vida desregrada devido ao meu trabalho e o imediatismo dela foram às razões que fizeram com que nossos caminhos seguissem rumos diferentes. Ela nunca se importou em realizar meu fetiche, jamais questionou o que eu gostava e, talvez essa seja a razão de tanto arrependimento que carrego comigo.
Hoje ela está casada, tem uma filha, vive com alguém e nem sei se ainda lembra daqueles anos da mesma forma que eu. Será que conheceu outro sujeito que gostasse de pés?
Pode parecer dor de corno, mas isso ainda insiste em martelar minhas lembranças.
Nunca mais consegui viver meu fetiche como naqueles anos. Pode ser que hoje não me falte coragem de abordar alguma mulher e lhe confessar meus desejos, mas a sensação é de que alguma coisa ficou no passado e se perdeu pra sempre, porque sinto que jamais será a mesma coisa.
Sempre que leio seu blog ACM e presto atenção nos casos que descreve aqui me dá uma vontade enorme de falar sobre esse episódio. Então resolvi escrever. Já cheguei a pensar em buscar uma terapia, em fazer uma análise, mas tenho pra mim que o problema está muito mais ligado ao fetiche do que outra coisa.

Abraços
Marcelo
(Minha opinião sobre a mensagem do Marcelo está no espaço de comentários a esta matéria)
Caro Marcelo
ResponderExcluirObrigado por sua mensagem e pelo relato correto.
Algumas vezes custamos a esquecer e em se tratando de fetiches tudo é pior.
Tentar reviver inesquecíveis momentos com outra pessoa nos faz mal e também a pessoa em questão.
Só há uma coisa a dizer: é contigo mesmo brother! O fetiche deve seguir seu curso e mais cedo ou mais tarde alguém de uma forma totalmente diferente vai ocupar esse posto. E isso acontece quando menos se espera.
A fila anda!
Abraço
ACM
Nobre amigo,
ResponderExcluirMeio angustiante a postagem de nosso colega Marcelo, não sei me pareceu mais um pedido de ajuda, algo como uma auto-analise depreciativa.
Caro Marcelo tenho uma visão diferente sobre fetiche, veja bem, não comecei agora a trilhar essa delirante estrada, porém não sou “uma Matusalém” do SM, no entanto, já tive relacionamento que me deixaram muitas lembranças, mas eu as tenho como agradáveis, sabe me angustia pensar em meu extasiante fetiche como lamúria, como algo triste..nãooo, não posso aceitar essa idéia, afff..meu fetiche é algo que me alegra, que me orgulho e olhe eu já passei maus bocados, aff.. cabeçadas inúmeras..rss, mas sempre tive e muito orgulho de meu fetiche
Ahhh Marceloo, olha, não veja assim não com tristeza e nem como algo que o envergonhe ou como lamentações, acredite em mim, opss, nada de conselhos, apenas minha experiência para te deixar mais animadinho...eu penso assim: “a honra em ser submissa é assumir-me como tal, para que eu possa deleitar-me em minha fantasia” (by {ternura}_L.B.),
então colega, a alegria e a honra só dependem de ti...*pisc
bjs incentivadores
ACM nobre amigo, suas palavras sempre perfeitas e pontuais..*pisc
bjs de amiga
{ternura}_L.B.
Minha Amiga Ternurinha do LB
ResponderExcluirSempre participativa...
A comunidade do blog agradece.
O relato é tão sincero que resolvi publicar inteiro, sem cortes, com minha ressalva aqui nos comentários.
O que ele diz acontece com muitos fetichistas. A insegurança causada pela timidez excessiva deixa a impressão de que o que se passou jamais se repetirá.
Sei de outros casos idênticos.
É preciso que ele siga o que você falou, que encare o fetiche como continuidade e consiga enxergar através de outras experiências que venha a ter tudo de outra forma.
Fossa existe, dentro e fora do BDSM. Só é preciso conviver com ela e deixar tudo ir embora.
Uma nova relação e o tempo são os melhores remédios.
Agradeço em nome do leitor sua ajuda sempre simpática.
Grande Beijo do Amigo
ACM :)
Caro Amigo
ResponderExcluirJá vivenciei a mesma experiência que você (só tive uma mulher que compartilhava meu fetiche), e cheguei a procurar um psiquiatra por isso.
O que ele disse, foi que a psiquiatria não considera ter fetiches como uma doença, porém se ele atrapalha-se a minha vida que ele tentaria ver o que poderia fazer por mim.
Nunca mais voltei e não sei te dizer qual é a melhor solução.
O ideal é encontrar uma pessoa que você ame e que curta o fetiche, mas às vezes amamos pessoas que não gostam do fetiche, ou poderemos achar pessoas que curtam o fetiche e a gente não ama.
Me encontro hoje na opção do meio, qual seja , a de amar uma mulher que não curte o fetiche.
O nosso grande problema no fetiche (pelo menos era o meu), é ser um pouco de egoísta, afinal existem milhares de formas de ter prazer e a gente muitas vezes não quer saber de experimentar outras formas, tendo prazer “unicamente” através de seu fetiche.
Eu gosto de amarrar ou ser amarrado e confesso a você que até este relacionamento, eu só tinha prazer se fosse desta forma. Não adiantava a mulher tirar a roupa e ficar nua, que meu prazer só vinha se tivesse a ajuda das cordas. (era ou não egoísmo meu?)
Neste relacionamento, o amor falou mais forte e para mantê-lo, fui obrigado a me interessar por outras formas de ter prazer também.
Não, não deixei meu fetiche de lado. Morro de tesão ao ver uma mulher amarrada ou de ser amarrado.
O que aprendi, foi a não depender só disso para me estimular.
vh carioca
Grande VH
ResponderExcluirVocê, como sempre, compartilha daquela tese: amigo é pra essas coisas...
Pois é, o Marcelo precisa de apoio.
Eu me enquadro no seu caso VH. Tenho uma relação de mais de quatro anos com uma pessoa chamada de baunilha, que até aceita certas coisas, mas nitidamente não gosta, ou não liga.
O que fica evidente quando a gente faz a opção de escolha é colocar a relação na frente do fetiche, deixar o egoísmo (como você disse) de lado e apostar que também existem outras maneiras de ter prazer, respeitando também o interesse de quem está ao lado.
Acho que o Marcelo pelo relato até consegue exercitar o fetiche por outras bandas. É bem mais simples que o nosso - diga-se de passagem - mas lendo com atenção dá pra perceber que ele associa o fetiche a ex-namorada, e toda vez que tenta praticar não consegue se ver livre das lembranças.
Assim como nós resolvemos nossos conflitos ele deve enfrentar e resolver os dele, caso contrário será infeliz tentando ou não tentando viver a fantasia.
Prezado amigo de sempre e de longos anos: agradeço sua colaboração em nome do Marcelo.
Um abraço!
ACM :)