quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Café com Pimenta


“Passa aqui na empresa e vem tomar um café comigo”.
Café é sempre uma boa pedida, mas na verdade o que rolava no pensamento libertino era o que possivelmente poderia acontecer depois daquele café.
A conversa vinha de tempos. Certas coisas comuns através de cartas trocadas. Estava diante da chance de dar um cheque-mate.
Numa agencia de empregos como outra qualquer, encravada no meio da doideira absoluta na capital paulista ela sorriu e convidou pra sentar bem ao lado da sua mesa. Num vestido azul claro que parecia uniforme de aeromoça, levantou para buscar o café.
Daí a mente começa a trabalhar e você imagina como será o ataque. É sempre assim brother, o homem pronto para o combate e a mulher tentando de tudo pra resistir. Não tem jeito.
E se esta gente toda fosse embora e pudéssemos ficar sozinhos aqui? – Pensei.
Acho melhor não, quem sabe um convite para um lugar a meia luz, musica suave tocando... Não, nada disso. Ficaria muito romântico e de repente ela quer experimentar as loucuras de alguma coisa mais selvagem, com adrenalina e o tal lugarzinho pode melar tudo...
Essa confusão de idéias passou pela cabeça enquanto o café estava a caminho.
E finalmente a madame chegou com a xícara na mão exalando charme.
O coreto balança, passando a impressão de que cada minuto perdido entre sorrisos e papo sem graça é uma eternidade e fatalmente irá atrapalhar os planos mais sórdidos.
Melhor começar a encurtar a conversa e encurralar a vitima com a clara intenção de dar o bote final, o tudo ou nada. De que adianta ficar trocando cartas quando o que interessa é ganhar a partida?
Bom, lá fui eu. Olhando para o café tratei logo de colocar uma boa pimenta naquela xícara.
Sem rodeios, olhos nos olhos, tipo: fodam-se os aviões, porque eu não sou o piloto! – Pensei de novo.
Estava frio, chuvoso, por isso fui com um casaco. Nada pesado demais, apenas um casaco comum. Comecei a me embaralhar no jogo e senti que estava deixando que ela dirigisse o ensaio. Sem que eu pudesse parar para pensar, a mulher abriu o bolso do meu casaco enfiando alguma coisa lá dentro, a qual trazia na mão. Pediu para que eu olhasse depois, quando saíssemos.
Com essa decisão, a idéia de rolar alguma coisa ali mesmo tinha ido para o espaço.
Ela juntou as coisas, pegou a bolsa, se despediu dos poucos que ainda estavam por lá e saímos. Sem planejar nada, sem saber o destino paramos diante do elevador. Minha mão coçava pra tirar do bolso o que ela havia colocado lá.
Enquanto aquele elevador descia abarrotado de gente tentei pensar no que fazer. Uma vez na rua ela podia alegar que teria que ir embora, que já estaria fora do seu horário, sei lá, foi quando me toquei que só coisas negativas passavam pelo meu inconsciente.
Chega! – Bradei. Se ela quiser ir embora adeus. Volto pro Flat e penso na vida.
Na porta do prédio ela me puxou no canto e perguntou onde eu estava hospedado. Disse que estava com o carro e poderia me levar. Topei e como estávamos sozinhos meti a mão no bolso para matar a minha curiosidade. Senti o tecido e tirei uma calcinha vermelha bem sexy.

Gostou? – Ela sabia que aquilo era um convite VIP para uma festa que há mais de um mês estava dentro dos meus planos.
Me lembrei dessa história revendo algumas coisas de tempos atrás.
Como tudo na vida que deixa uma marca gostosa, dá pra recordar cada pedacinho e chegar a uma conclusão: essa foi para o currículo.
O que rolou depois?
As fotos do texto falam por mim.
Saudades da Elisa!

(Arte da primeira foto: Evandro Ynno)

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