
Há quem duvide, mas é verdade. Tem mais ou menos uns doze anos.
Em plena crise dos quarenta (a gente sabe que houve crise quando chega aos cinqüenta), conheci a Myrta. Tinha tudo pra ser uma noite perfeita.
A Myrta encarnava o real espírito da submissão. De fala mansa, cultuava a obediência acima de todos os aspectos chegando à tamanha intensidade de sentidos que espantava alguns dominadores que preferiam uma dose de rebeldia.
Porém, o que nos aproximou foi o fetiche de bondage. Encantada com as cordas e seus desenhos, ela optou pelo castigo das cordas em lugar dos açoites com boas pinceladas de sexo no final.
Esfreguei as mãos e me senti o todo poderoso diante de um sonho de consumo.
O cenário estava montado, a mulher imobilizada em cima de um lençol macio com as mãos e os pés totalmente virados para o leste e o oeste respectivamente. O tipo exato do X Rated Bondage.
Pouca luz e muita sede, os ingredientes perfeitos para uma noite larga.
E tudo ia muito bem até que minha boca encontrou com alguma coisa metálica e o inevitável choque entre os dentes e as argolas doeu na hora e fez o tesão ir direto pro saco. A mulher tinha tanto piercing na boceta que parecia uma orelha de gótico.
Me disse que seu último dom a havia obrigado a colocar as argolas, muito mais pelo sofrimento do que pelo aspecto visual. Claro que ela obedeceu, afinal elas estavam ali bem diante dos meus olhos criando um bloqueio para o ponto G.
Tal e qual um centroavante raçudo, daqueles que não fogem das divididas eu encarei brother e tentei ultrapassar aquela muralha que parecia uma divisão de tanques de guerra Panzer.
Haja língua...
Lógico que a bateria de piercing não resistiria à passagem de um pênis, mas minha sede tinha de ser saciada a todo custo o que me fez insistir até que ela sucumbisse ao orgasmo.
Com os lábios cortados e o maxilar dolorido deixei a batalha com o sentimento de dever cumprido, pra mim e pra ela. Mas desse dia em diante declarei guerra a esses enfeites quando são colocados em pontos chaves. Ou eles ou eu!
Sei que posso virar vidraça e levar pedrada de muita gente, mas piercing pendurado no meu parquinho de diversão não combina. Existem vários lugares disponíveis para que esses penduricalhos sejam acomodados, menos na área de lazer, porque definitivamente não dá pedal.

Menos mal que ela atendeu e deixou de alimentar aquele estranho sentimento que ainda nutria por um dono que já nem sabia que ela existia.
Nosso “caso” durou algum tempo, foi legal, gostoso de lembrar, e pelo menos durante esse tempo nunca mais tive que vencer a batalha contra aqueles pedacinhos de metal.
Fico pensando: talvez se fosse unzinho só, dava pra rolar um desvio estratégico, mas daquele jeito só mesmo chamando um ferreiro, e dos bons...
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