quarta-feira, 9 de junho de 2010

E por Falar em Saudade…


Houve um tempo em que as fotos fetichistas eram em preto e branco, traziam mulheres de cílios grandes pintados de negro, meias sete oitavos com ligas que abraçavam cacinhas de renda largas.
Vinham estampadas nas páginas de revistas em papel couchê, mostravam mulheres amarradas em desenhos nada simétricos e mordaças improvisadas, lenços brancos ou até estampados sem nenhum cuidado em guardar posição firme na face.
Engana-se quem pensa que estou me referindo a fatos e imagens dos anos sessenta ou setenta, porque em plena década de oitenta era tudo o que se tinha. O mundo girava a cem por hora lá fora e aqui as coisas aconteciam a trinta. A conta era simples e não dava pra fugir ou fingir que aqui era o País das Maravilhas. Era fácil proibir.
Noves fora todo esse atraso, é legal olhar pra trás e perceber um pouco do encanto que essas imagens ainda causam em quem conviveu com elas. Imaginem a evolução: pra quem era obrigado a curtir o fetiche inventando fotografias de mulheres em poses de bondage, desenhando cordas com caneta e mordaça com liquid paper em garotas seminuas nas páginas das revistas masculinas, ter a cena real em preto e branco, com cordas de verdade e situações reais de perigo era um verdadeiro paraíso.
Talvez daqui a trinta anos as imagens de hoje totalmente digitalizadas, apoiadas em bases tecnológicas capazes de transformar o feio em bonito sejam olhadas por um mesmo prisma, ou quem sabe não resistam ao avanço que virá. O papel cada dia que passa afunda em desuso e se torna vitima da reciclagem impiedosa, então os discos rígidos que hoje representam a febre do consumo serão tão obsoletos que não haverá lugar onde seja possível fazê-los reviver.
Lembram do VHS? Quem ainda possui um Vídeo Cassete?
Preparem-se senhores fetichistas para as novidades que o milênio tem pela frente e a principal delas será a punheta cibernética sem lógica, afinal o adolescente não terá uma folha de papel que possa olhar e derramar sua volúpia emergente, ou então levará um palm top ou um Iphone para dentro do banheiro.
Simples, num passo de mágica. Mas onde está a magia? Onde está o prazer de burlar o que é proibido? Afinal, desafiar o perigo é uma onda que todo adolescente gosta de ter.
Dizem que não se deve brincar com o futuro ou desafiar a tecnologia. Sabe que isso faz sentido? Eu, por exemplo, jamais imaginaria que no meu cinqüentenário estaria escrevendo essa matéria e num simples toque em algumas teclas ela apareceria numa tela de computador que pode ser compartilhada em todos os lugares do mundo. Aliás, faz tempo que eu não sei o que é escrever uma carta...
Porém, a idéia desse texto não é desafiar o futuro ou tentar estabelecer um elo entre o passado e o presente. É melhor ficar na linha da comparação e valorizar aquilo que um dia fez parte da minha vida e me ajudou a construir um caminho que me fez chegar até aqui.

Por isso, é hora de valorizar quem descobriu a pólvora quando tudo ainda era um grande vazio. Entrar na onda retrô e tentar entender os segredos de quem bancou tudo isso lá atrás, sem saber se seria possível construir uma roda capaz de transformar corações e mentes, levando ao conhecimento de muita gente tudo àquilo que era um simples desejo.
Detesto levar um rótulo de saudosista, acho que o melhor está sempre por vir e acredito piamente na eterna juventude da alma como ponto de partida para meu vôo diário, mas não posso deixar de falar de coisas que me fizeram tão feliz que chega a ser quase impossível descrever num simples artigo de um blog.
Tecnologia, cenários, paixões e desejos. Tudo isso pode mudar, para melhor ou pior, mas somente a essência há de prevalecer enquanto existir o fetiche e as razões que o façam sobreviver pra sempre.

2 comentários:

Lizandra disse...

Belo texto.
Apropriado
Parabéns!

BELMAR disse...



:p